Ao quarto álbum, os brasileiros Boogarins deixam o sol para trás e entram numa noite densa e labiríntica, com um disco difícil e claustrofóbico
Os Boogarins, uma das várias bandas brasileiras desde sempre acarinhadas pelo Altamont, estão de volta com o seu quarto disco de originais em apenas seis anos (com mais um EP ao vivo pelo meio). O regresso é feito com Sombrou Dúvida, que acaba por ser um aprofundamento do processo mental e de composição do seu antecessor, Lá Vem a Morte, de 2017.
Depois da inocência e da frescura de As Plantas que Curam (2013) e da afirmação enquanto banda de rock psicadélico de Manual (2015), o terceiro disco levou os quatro rapazes por um caminho mais sujo e mais escuro do que até então. Por ser útil para a análise deste Sombrou Dúvida, recordemos o que escrevemos então acerca de Lá Vem a Morte: “Os temas funcionam por camadas de som e ruído, há mais máquinas na mistura e, confessamos, temos saudades daqueles momentos de libertação xamânica da guitarra de Benke Ferraz, que aqui recusa, infelizmente, ser protagonista. O que se ganha em densidade e complexidade perde-se em fluidez e na capacidade de construir malhas rock que nos levem nas viagens cósmicas que tanto amamos”.
E, na verdade, esse processo só se acentuou agora. Os Boogarins estão mais complexos, mais labirínticos, mais escuros. Sombrou Dúvida é um disco mais denso, que avança e volta atrás, promete um rumo e depois vai para outro lado, entrecorta caminhos com apartes cujo sentido melódico não é sempre claro. É um trabalho desinquietante e narcotizado, que nos leva numa viagem, sim, mas uma que não será necessariamente agradável. O som dos Boogarins sempre se fez num equilíbrio entre a exploração e a melodia, entre o sufoco e a libertação. Aqui, a janela nunca chega a ser aberta: somos engolidos por este universo, sem uma luz que nos guie, uma salvação num espasmo da guitarra espacial, em tempos redentora, de Benke Ferraz.
Os Boogarins não perderam o seu rumo, parecem bem certos dele. Nós é que queríamos vê-los a correr ao sol, e não andar às voltas na noite.
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