Banda que revelou em 1987 a cantora, compositora e ativista paulistana Vange Leonel (1963 – 2014), morta há quatro anos, a Nau tem lançado um disco gravado em 1988 que ficara perdido há 30 anos.
Para entender a perda, é preciso voltar nos anos 1980. Com a abertura do mercado fonográfico brasileiro para o rock, a partir do estouro da banda carioca Blitz em 1982, era comum grupos recém-surgidos serem contratados por gravadoras multinacionais como apostas dos executivos.
Foi nessa onda que a banda de rock Nau ancorou na gravadora CBS em 1986, um ano após ter sido formada em 1985 na cidade de São Paulo (SP) por Vange Leonel (voz), Zique (guitarra), Beto Birger (baixo) e Mauro Sanchez (bateria).
Em 1987, na sequência da edição das gravações das músicas Madame Oráculo e Sofro na coletânea Não São Paulo II (gravada em 1986, mas lançada em 1987 pelo selo indie Baratos Afins), a banda lançou com toda a pompa e circunstância da CBS o primeiro álbum, Nau, gravado com o toque heavy da guitarra de Zique, a levada funky do baixo de Beto Birger, a voz singular de Vange Leonel e alguma dose de psicodelia.
Só que, embora produzido por Luiz Carlos Maluly (que dera forma aos discos do então massivo RPM) e incensado por boa parte da crítica, o álbum Nau naufragou.
Em 1988, a banda Nau – com Kuki Stolarski no posto de baterista que era de Mauro Sanchez no primeiro álbum – entrou em estúdio para gravar a demo do que seria o segundo álbum do quarteto.
Com músicas letradas sobretudo pela jornalista Cilmara Beldaque, como Blues da felicidade e Cinco sentidos, o disco chegou a ser concluído no paulistano Big Bang Studio, mas a CBS não gostou do que ouviu e, com base no pífio resultado comercial do álbum de 1987, decidiu rescindir o contrato da Nau, precipitando o fim da banda em 1989.
Vange Leonel saiu nos anos 1990 em carreira solo inicialmente bem-sucedida por conta do êxito da música Noite preta (Vange Leonel e Cilmara Beldaque), hit do álbum Vange (1991).
A história teria terminado em 14 de julho de 2014, com a morte da cantora, se Cilmara – viúva de Vange – não tivesse encontrado em 2017 na casa da artista, dentro de caixa, o registro do disco gravado e perdido em 1988.
"A fita estava toda melada e eu não sabia se conseguiria recuperá-la. Levei então para o Carlinhos Freitas, do (estúdio) Classic Master, que havia trabalhado no primeiro álbum da banda. Ele conseguiu limpar, digitalizar e masterizar a fita para que esse disco chegasse ao público", conta Cilmara.
Com capa criada pelo baixista Beto Birger com montagem com fotos, credenciais e ingressos para shows da banda, O álbum perdido do Nau– como foi intitulado – está sendo lançado neste mês de novembro de 2018 somente em edição digital, pela gravadora Deck, 30 anos após ter sido gravado.
Com músicas como Pequenos erros e Lobo mau, gravadas com o peso da banda, O álbum perdido do Nau dá continuidade a uma história que talvez poderia ter sido outra se o disco não tivesse sido desprezado pelo mercado fonográfico da época, embora o repertório ressurja após 30 anos sem potencial pop.
2. Lobo Mau
3. Viagem Ao Fundo Do Mar
4. Cinco Sentidos
5. Nas Dobras Do Universo
6. Amor Em Tempo De Guerra
7. Me Pega
8. Blues Da Felicidade
9.Mistérios
10. Séculos & Séculos
11. O Caminho
12. Tua Fúria
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