sábado, 1 de junho de 2024

Gigliola Cinquetti “Non Ho L’Etá” (1964)

 A 21 de março de 1964 o Tivolis Konsertsal, em Copenhaga, acolheu a nona edição do Festival da Eurovisão num ano que, após as sugestões de modernidade da canção dinamarquesa que triunfara em 1963, voltava a afirmar sinais emergentes de juventude neste formato com a a vitória da italiana Gigliola Cinquetti, então com apenas 16 anos, tornando-se então na mais jovem vencedora da Eurovisão, estatuto que manteve até o triunfo da belga Sandra Kim em 1986. 

Natural de Verona, então já com estudos de piano e de teoria de composição, Gigliola Cinquetti apresentou-se em palco com “Non Ho L’Etá”, uma balada de orquestração elegante, que vincava pelas palavras a própria ideia de juventude que a concorrente desde logo sugeria. Vencedora semanas antes em Sanremo, a canção conquistou aquela que ainda hoje é a mais expressiva vitória de toda a história do Festival da Eurovisão, ao somar quase três vezes mais pontos que a

classificada logo a seguir (e que dava ao Reino Unido o seu quarto segundo lugar). A canção conheceu edição em discos de 45 rotações (em single ou formato de EP, dependendo dos hábitos de então em cada território) e foi depois integrada no álbum de estreia que a cantora lançou nesse mesmo ano.

Foi ainda neste ano que Portugal fez finalmente a sua estreia com “Oração”, de António Calvário, que foi a 11ª canção a desfilar entre as 16 concorrentes. Portugal chegava à Eurovisão num tempo em que era membro da EFTA (onde tinha como parceiros a Áustria, Reino Unido, Dinamarca, Noruega, Suíça e Suécia), mas numa época na qual estava consideravelmente afastado dos modelos políticos em vigor na esmagadora maioria dos restantes países representados no concurso. E se musicalmente a canção portuguesa não causou impressão maior no concurso, já a presença em palco de um primeiro representante português gerou um incidentequando um homem, que se fizera passar como alguém a trabalhar na produção, irrompeu pelo palco com um cartaz com uma mensagem contra Franco (o ditador espanhol) e Salazar. Nesse momento as câmaras desviaram a atenção para o scoreboard enquanto as forças de segurança retiravam de cena o ativista. Em casa os espectadores escutaram apenas sons inesperados, passos a correr e alguns ruídos mais, mas em poucos segundos o desfile das canções continuava, chamando ao palco a canção belga. Apesar de concorrer desde 1961 Espanha não tinha ainda sido alvo de uma crítica pública na Eurovisão, pelo que este incidente correspondeu a um episódio marcante na história (para além da música) dos dois países neste concurso e representou uma das primeiras manifestações de ativismo político eurovisivo.



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