Tudo começou numa tarde, na casa dos pais de George Michael, em 1984, num tempo em que os Wham! não eram mais nem um segredo nem uma promessa, mas sim uma das forças maiores da mais jovem geração pop britânica de então. Estavam a ver um jogo de futebol na televisão quando George tem uma ideia, larga tudo e todos, sobe ao seu velho quarto de infância e ensaia meia dúzia de ideias num teclado antes de chamar Andrew, para lhe mostrar o refrão de uma nova canção. Algum tempo depois, já nos Avidson Studios (e depois de gravado o álbum “Make It Big”), juntando sinos, chocalhos de renas e outras sugestões “natalícias” à melodia que então tinha nascido naquele súbito momento de inspiração, ficou claro que estava ali um potencial êxito de Natal. Para amplificar o “mood” do momento conta-se que George Michael terá recheado as paredes do estúdio com decorações de Natal, passando depois à etapa de gravações já numa atmosfera adequada ao espírito da canção numa série de sessões que o tiveram como único elemento em cena, já que a ele coube não apenas, a composição e interpretação vocal, como foi o próprio a gravar todos os instrumentos e a assinar a produção. Com ele estavam apenas, nessas sessões, o engenheiro de som e os seus dois assistentes.
Agendaram uma data de edição para a quadra natalícia, preparando, para acompanhar o lançamento, a rodagem de um teledisco que, de certa forma, seria um par em espelho para o tom festivo de “Club Tropicana”, embora com frio e neve em geografia suíça no lugar da praia sol e mar de Ibiza. Rumam então a um resort de ski em Saas-Fee (Suíça), acompanhados pelas coristas Pepsi e Shirley e ainda mais figurantes (entre os quais a modelo Kathy Hill) e a equipa de rodagem, contando Andrew Ridgley no seu livro “Wham! George and Me” que os dias ali passados foram algo problemáticos, com algum álcool a mais a gerar momentos complicados que, contudo, a montagem final das imagens nada sugere. Realizado por Andrew Morahan (frequente colaborador dos Wham!), o teledisco, que se tornou num dois mais populares daquele tempo, mostra uma expressão do jogo de contrastes entre a felicidade e luz sugeridas sobretudo pela estrutura rítmica, e a melancolia que a melodia e a letra vão sugerindo.
Editado a 3 de dezembro de 1984, “Last Christmas” (que apresentava uma remix de “Everything She Wants” na outra face, na verdade sugerindo um double A side), tinha tudo para ser o número um de Natal desse ano no Reino Unido (e não só). Mas, apesar do relativo vazio de canções de Natal com dimensão de sucesso maior nos anos mais recentes, calhou a Dezembro de 1984 ser palco de duas outras canções que levaram os respetivos singles a bom porto: “The Power of Love” dos Frankie Goes To Hollywood (cujo teledisco a levou a ser desde então entendida como uma canção de Natal) e “Do They Know It’s Christmas?”, single de solidariedade para financiar ações de luta contra a fome na Etiópia e no qual o próprio George Michael participava… “Last Christmas” passou então cinco semanas no número dois. Mas desde então a canção regressou mais de 15 vezes ao Top 40, em alguns casos através de lançamentos com novas capas e alinhamentos, como foi o caso de “Last Christmas 85” (apresentando no lado B uma gravação ao vivo de “Blue” captada na então recente digressão na China) ou “Last Christmas 88”.
O número um que escapou a “Last Christmas” em 1984 seria finalmente atingido em 2020 e depois novamente alcançado em 2022 e 2023, este ano com nova reedição tanto em vinil como em CD Single. Em 39 anos de história as vendas ultrapassaram já os 40 milhões de unidades. Ao longo dos anos surgiram versões de Last Christmas por nomes tão diferentes como Ariana Grande, Carly Rae Jepsen, Taylor Swift, Erlend Oye, os Backstreet Boys ou David Fonseca.
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