quarta-feira, 31 de julho de 2024

Discografias Comentadas – Black Sabbath [Parte 1: 1970 – 1978]

 


Originalmente formada em 1968 em Birmingham, na Inglaterra, pelo guitarrista Anthony Frank “Tony” Iommi, o baixista Terence Michael Joseph “Geezer” Butler, o baterista William Thomas “Bill” Ward, e o vocalista John Michael “Ozzy” Osbourne, o Black Sabbath lançou oito discos de estúdio com essa formação inicial, que durou dez anos, pelo menos cinco deles clássicos absolutos e seminais do que hoje conhecemos por “Heavy Metal” e suas ramificações. Mesmo nos seus momentos menos inspirados, há material de inquestionável qualidade. Com a recente confirmação de uma reunião dessa formação – não por acaso, a que produziu o maior número de músicas seminais do gênero supracitado – os inúmeros fãs do grupo se preparam para um novo álbum previsto para o próximo ano de 2012, e uma turnê de divulgação do mesmo, com shows repletos de clássicos, a rodar o mundo. 

Mesmo tendo produzido músicas de imensa qualidade após a debandada do Sabbath original, é na primeira década do grupo que, sem sombra de dúvidas, encontra-se seu material mais poderoso. E é dela que iremos tratar na primeira parte do Discografias Comentadas em homenagem ao Black Sabbath, deixando para a semana que vem a segunda parte, com o período entre 1980 e 1995 (o qual foi o ano do último lançamento oficial de estúdio de um álbum do grupo), o que completará nossa análise sobre a discografia das três bandas da chamada “Santíssima Trindade” do heavy metal”, o Led Zeppelin, o Deep Purple e o próprio Sabbath.

Bem vindos ao Sabá Negro!

Black Sabbath [1970] 
Um dos mais impactantes discos de estreia da história, o disco homônimo do quarteto de Birmingham é também um dos mais importantes. Considerado o grupo que deu origem ao heavy metal, não tem como não concordar com esta afirmação. O disco é pesado não somente no som das guitarras de Iommi (com um timbre grave que funciona como um soco na cabeça) ou da cozinha da dupla Butler/Ward. O clima todo é pesado e denso, quase palpável! Tudo isso corroborado pelos vocais desoladores de Ozzy. “N. I. B.” (uma declaração de amor do capeta à sua amada), “The Wizard” (e sua Harmônica) e “Behind The Wall Of Sleep” são as mais conhecidas do disco, e presença constante nos shows do grupo (e de Ozzy solo), assim como a faixa-título, uma monstruosidade de pouco mais de seis minutos, que define com perfeição o som do Black Sabbath, com seu ruído de chuva e badalar de sinos do ínicio. 
Paranoid [1971] 
No mesmo ano de 1970, chega às lojas Paranoid, contendo uma clara evolução no som e na produção da músicas. Além disso, as letras também estão mais maduras, tratando de loucura (o hino “Paranoid“), guerra (o épico “War Pigs”, que seria, originalmente, o nome do disco, antes do mesmo ser mudado por pressão da gravadora, já que a guerra do Vietnã estava a pleno vapor), ou uma visão de um desolador – e mortal – futuro próximo em “Hand Of Doom”. Os riffs de Iommi, por sua vez estão ainda mais poderosos, cortantes e certeiros. Confira a maravilhosa “Electric Funeral”, por exemplo. Outro claro exemplo da evolução do grupo é a melancólica – e experimental – “Planet Caravan” com sua atmosfera dark e letra versando sobre uma viagem espacial rumo à marte. Considerado o maior clássico do Black Sabbath até os dias de hoje, atingindo a impressionante marca de 4 milhões de cópias vendidas (excetuando-se vendas digitais), Paranoid faz jus ao título, uma vez que todas as suas faixas possuem força e impactos únicos não só para a época, como também para o todo o parâmetro musical desde então. Obrigatório! 

Master Of Reality [1971] 
Menos de um ano depois do arrasa-quarteirão Paranoid, é lançado em julho de 1971, Master Of Reality. Seguindo a evolução do disco anterior – e mantendo o peso e a atmosfera característica que cada vez firmava mais a identidade única do grupo – o álbum traz mais temas clássicos do então nascente heavy metal. O instrumental cada vez mais afiado do grupo interage perfeitamente com as letras mais elaboradas. Além disso, os temas estão, de forma geral, mais diversificados ainda que no disco anterior. Se “Sweet Leaf” é uma ode à maconha, e “Solitude” é uma das mais tristes canções sobre a solidão, por outro lado temos a supreendente “After Forever” e a impressionante “Children Of The Grave”. Se a segunda é um aviso alertando sobre uma futura revolta da juventude, que irá tomar conta do mundo antes que esse torne-se definitivamente inabitável, a primeira, com letra do então Católico – hoje assumidamente Agnóstico – Butler, deixa claro que, para o baixista e compositor, esse aviso seria “Deus existe, e é bom…” Além das músicas citadas, Master Of Reality traz outros quatro temas, todos no mesmo – altíssimo – padrão de qualidade. 
Esses três primeiros álbuns foram relançados em 2009, em edições “Deluxe”, todos com CDs bônus contando com faixas inéditas e versões alternativas (no caso de Paranoid, o pacote ainda inclui um DVD-A com a mixagem Quadrifônica do álbum principal). 
Vol. 4 [1972] 
Em junho de 1972, é a vez do apropriadamente intitulado Vol. 4 chegar às lojas. Outro lançamento de qualidade indiscutível do quarteto de Birmingham, o álbum marca mais um passo em direção a experimentação (sem perder o estilo característico da banda). Entre as porradas pelos quais os fãs esperavam, como “Snowblind” e sua letra sobre cocaína – então paixão dos músicos – “Supernaut” e seu riff maravilhoso, a abertura arrasadora com “Wheels Of Confusion“, e outras, estava lá “Changes”, uma balada ao piano (sim, ao piano) destilando tristeza e melancolia, com uma letra pra lá de amarga. Se por um lado “Changes” passa longe do que convencionou-se esperar das músicas mais Sabbathianas em termo de peso instrumental, sua aura de desolação se equipara com as outras faixas da banda. Mais uma vez, o Black Sabbath presenteia os fãs de rock com outra obra digna de nota. 
Sabbath Bloody Sabbath [1973] 
Terminando o ano de 1973, o Black Sabbath lança seu quinto disco. Sabbath Bloody Sabbath é um desfile de porradas da melhor qualidade. Mesmo introduzindo sintetizadores, teclados, moog e cordas em arranjos mais complexos, novamente o grupo nao fica devendo nada aos amantes de seu peso ja bem conhecido. Assim como nos discos anteriores, Sabbath Bloody Sabbath é extremamente coeso, e mesmo assim, é impossível não citar a faixa título, “Sabbra Cadabra”, “Killing Yourself To Live” e “A National Acrobat“. Mais uma obra prima do quarteto. 
Sabotage [1975] 
Quase dois anos depois de seu antecessor, é a vez de Sabotage chegar às prateleiras. Se nos cinco discos lançados até aqui, a evolução musical do Sabbath não havia prejudicado seu som de maneira geral, e até tenha colaborado para sua afirmação enquanto banda, em Sabotage a coisa se mostrava ligeiramente diferente. Não que o disco seja ruim, ou fraco, muito pelo contrário. O melhor exemplo é a poderosíssima “Symptom Of The Universe“, inacreditavelmente pesada e agressiva, e uma das melhores e mais representativas  faixas da carreira do quarteto. “Hole In The Sky“, a faixa de abertura do trabalho, é outro puta som, digno dos melhores momentos do grupo. O problema em Sabotage, é que aqui a coisa de uma maneira geral está menos coesa e “redonda” que nos discos anteriores, tornando o álbum difuso. Apesar disso, é, sim, um ótimo disco, apenas um pouco menor, se comparado aos lançamentos anteriores. 
Technical Ecstasy [1976] 
Com brigas internas, abuso de álcool e drogas, e o egocentrismo dos integrantes corroendo a banda, em setembro de 1976 é lançado Technical Ecstasy, sétimo disco da banda até então. Com um som que se distancia em muito de sua característica musical, Technical Ecstasy guarda pouca semelhança com o Sabbath característico em termos instrumentais. Muitos teclados, sintetizadores e orquestrações descaracterizam a linha musical do quarteto. A atmosfera e as letras das canções, por outro lado, atingem aqui um grau de angústia e tristeza únicos. Exemplos são “You Won’t Change Me”, com seu andamento arrastado, e uma letra encharcada de resignação, e “She’s Gone” uma canção de despedida guiada por violinos, que faz a clássica “Changes” parecer até alegre. Há um pouco de rock em “Rock n Roll Doctor” e “Back Street Kids”, mas a melhor música do álbum acaba sendo “Dirty Women“. Destaque curioso para “It’s Alright”, balada (descartável) com os vocais do baterista Bill Ward. 
Never Say Die! [1978] 
Depois de Technical Ecstasy, Ozzy mandou a banda às favas e caiu fora para iniciar uma carreira solo, chegando a ser substituído por Dave Walker (Fleetwood Mac & Savoy Brown). Logo após o começo das composições de novo material, Ozzy retornou ao Sabbath, recusando-se a gravar qualquer material composto por Walker. Never Say Die, o disco registrado no meio dessa tempestade de egos e desentendimentos, foi lançado no segundo semestre de 1978, e reflete bem o estado em que a banda se situava à época. É fraco, instável, e com uma gravação e produção um tanto equivocadas. Algumas músicas se salvam, como a faixa título e “A Hard Road“. Algumas boas ideias podem ser ouvidas aqui e ali, em algumas passagens, mas muito pouco, em se tratando de uma entidade poderosa como o Black Sabbath. Depois do lançamento do álbum, o Sabbath ainda saiu em turnê, mas era evidente que o fim dessa formação estava próximo, o que logo se confirmou, com Ozzy saindo novamente, dessa vez para encarar a carreira solo. 
Geezer Butler, Ozzy Osbourne, Bill Ward e Tony Iommi
Finda essa fase, Osbourne engatou uma carreira solo de sucesso – e alguns tropeços – tanto musicalmente quanto figura sui generis (muitas vezes esse fator foi maior que a música em si). Já o Black Sabbath, sob as rédeas de Iommi, continuou na ativa, por vezes sendo ele o único membro original, colecionando obras de qualidade indiscutível – notadamente nas formações nas quais o falecido Ronnie James Dio era responsável pelo microfone – mas o nível de influência e o poderio da formação inicial do quarteto de Birmingham nunca mais foi – nem será – o mesmo. 
Durante os anos que se seguiram, varias tratativas de uma reunião foram tentadas, mas o mais perto que se chegou de algo realmente efetivo, em se tratando de material inédito, foi a gravação de duas músicas a título de bônus no disco ao vivo Reunion de 1998 (gravado no ano anterior na cidade natal dos músicos). Depois disso, alguns shows curtos no festival itinerante “Ozzfest”, até que, no dia 11 de novembro de 2011, foi anunciada – com toda pompa – uma efetiva reunião, com direito a disco inédito (já em processo de composição) e subsequente turnê de divulgação do mesmo. Os fãs da banda, e toda comunidade do rock, esperam ansiosamente pela volta dos verdadeiros pais do heavy metal!

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