segunda-feira, 29 de julho de 2024

Peter Michael Hamel – Hamel (1972 / Vertigo)

 

Formação acadêmica clássica em sua cidade, Munique. Estudou composição, psicologia e sociologia. Amante do free jazz (colaborou com Don Cherry), da improvisação, da música étnica e meditativa......Em 1970 fundou a banda Between. Não é surpresa que ele tenha sido convidado para a estreia do Agitation Free, o essencial “Malesch”. Trabalha com John Cage, Morton Feldman e Terry Riley (seu ídolo absoluto), entre outros. Agora ele aplica tudo isso à sua perspectiva peculiar como organista-sintetista em seu primeiro álbum solo, “Hamel”, pelo selo Vertigo. Álbum duplo tocado ao vivo em estúdio. E com Anatol Arkus como sintetizador convidado. História pura do rock kraut cósmico. Além de todas as múltiplas influências citadas.



"Storm Over Asia and Calm" (4'10) reflete aqueles ecos orientais e meditativos e uma profunda reflexão interior. Minimalismo espiritual obsessivo, fruto das suas viagens pela Ásia e pela Índia. Comparável ao Popol Vuh, Embryo ou Deuter.  Sonoridade misteriosa que vem do seu piano preparado, órgão, eletrônica de modulação ao vivo ou sua própria voz. Técnica vocal hindu, o khyal. É aí que continua com "Believe I" (5'10), uma reiteração evolutiva do seu admirado Terry Riley ou LaMonte Young, que se faz notar. Soa estranhamente tribal e como um transe hipnótico para a psique. Teclas percussivas que prendem você em uma estranha teia sonora em "Believe II" (8'22). Na verdade, o mesmo tópico em sua segunda parte. Tão influenciado por Stockhausen quanto por Bartok ("Mikrokosmos"), Hamel já estabeleceu sua própria voz dentro do gênero kosmische, possuindo seu próprio mundo imaginário.

Segundo lado com "Fogo dos Olhos Sagrados" (9'55), agora com um órgão estranho (também sinto o cheiro "afinado"!), criando atmosferas de indiscutível pureza esotérica-xamânica. O melhor Terry Riley brilha em sua maneira de sobrepor frases de repetição metamórfica mutante. Pulsar infra-som e voz humana como outro instrumento. Hamel abre portais. Ele os expande e molda de acordo com seu gosto pessoal e restrito.

“Canção dos Golfinhos” (7'30), com uma lógica temática aquática, (“Aqua” é de 1974!), imita o som destes lindos anjos dos mares. Em mais uma viagem subaquática, desta vez às profundezas insondáveis. Eles procuram alienígenas e nós os temos aqui, submersos. A música acompanha e descreve perfeitamente. Fechando a cara está o sombrio “Sinking Sangsara” (3’55), com sintetizadores ameaçadores. 

O lado C é inteiramente ocupado por "Aura" (20'05). Majestoso exercício kosmische com o órgão disparando ondas drônicas de irrealidade palpável.  Mestre Riley ficaria mais do que satisfeito. No entanto, de forma semelhante, será Mike Oldfield quem dominará o mundo. Sorte injusta.  Linhas melódicas precisas, típicas de um atirador eletrônico experiente. Quem sabe criar no momento, com total individualismo. Esta é uma peça que irradia magia improvisada e qualidades de reflexos mentais atléticos. 

Última quarta equipa com "Gomorraga" (8'45) e "Catedral em C" (9'20). Peças próximas do teclado progressivo de vanguarda de Bo Hansson, Franco Battiato, Piero Milesi ou Musica Elettronica Viva, (com quem colaborou).



Música sem prazo de validade, que sempre revela novidades. O que faz você pensar. O que faz você viver. Um clássico para a eternidade.


Temas
00:00:00 Storm Over Asia And Calm
00:04:59 Baliava I
00:10:15 Baliava ll
00:18:41 Fire Of Holy Eyes
00:28:24 Song Of The Dolphins
00:36:20 Sinking Sangsara
00:40:16 Aura
01:00:31 Gomorrhaga
01:09:21 Cathedral On C

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