quinta-feira, 14 de novembro de 2024

FADOS do FADO...letras de fados...

 



A tendinha

José Galhardo / Raul Ferrão
Repertório de Hermínia Silva

Junto ao Arco do Bandeira
Há uma loja, a Tendinha
De aspeto rasca e banal
Na história da bebedeira
Aquela casa velhinha
É um padrão imortal

Velha taberna 
Nesta Lisboa moderna
És a tasca humilde e terna 
Que manténs a tradição
Velha Tendinha 
És o templo da pinguinha
Dos dois brancos, da gimbrinha 
Da boémia e do pifão

Noutros tempos, os fadistas
Vinham já grossos das horas
P'ró seu balcão, caturrar
Os fidalgos e os artistas
Iam p'ra ali horas mortas
Ouvir o fado e cantar


A todos o que é de todos

Fernando Farinha / Carlos da Maia *fado perseguição*
Repertório de Fernando Farinha 


Sempre que me vou deitar
Antes do sono me dar
Trago o mundo à minha mente
E sem sabê-lo entender
Sofro por ele não ser
Igual para toda a gente

E perante tal visão 
Que me aperta o coração
Choro quem, por mal estranho
Cumpre uma sina daninha 
Sem ter cama como a minha
E uma casa como eu tenho

Sempre que à mesa me sento 
Na hora em que me alimento
Logo a ideia me salta
Que embora simples manjar 
Estou eu a saborear
Aquilo que a muitos falta

Neste mundo sem sentir 
Não deviam existir
Situações tão desiguais
Nem grandes nem tão pequenos 
Nem tantos terem de menos
Nem outros terem demais

Onde está o nosso Deus 
Que é p’lo bem dos filhos seus
Que não quer fome nem guerra
Porque andará Deus assim 
o esquecido, sem pôr fim
Às desgraças que há na terra

Ó Deus se és tão milagroso 
Põe no mundo ambicioso
A tua divina mão
Traz à terra o doce bem 
De não faltar a ninguém
Casa, paz, amor e pão


A tristeza do Roberto

João Dias / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Manuel Domingos
Gravado por Rodrigo com o título *Epigramas*

A verdade é como o pão
Conquista de quem de esforça
Quem faz da força razão
Nunca tem razão de força

Mil dias me julguei certo 
De ser livre um certo dia
A tristeza do Roberto 
No meio da feira vazia

Meu corpo de grão de areia 
Que de montanhas sonhaste
Prometeram-te uma ceia 
E nem migalha agregaste

Ai está raiva de ter 
Apenas cinco sentidos
Num corpo que quer viver 
Sem sentidos proibidos

Já fui arado na terra 
No mar fui rede vazia
Só não fui arma de guerra 
Nem mesmo de guerra fria




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