sexta-feira, 8 de novembro de 2024

CRONICA - GRATEFUL DEAD | Anthem Of The Sun (1968)

Depois de um LP homônimo em março de 1967, Grateful Dead tornou-se uma das atrações dos shows realizados no âmbito do Summer Of Love, cujo ponto culminante foi o festival pop de Monterey. Evento onde Grateful Dead está em cartaz com The Mamas & The Papas, Jefferson Airplane, the Who, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Otis Redding…

O grupo de São Francisco continua em turnê pelos Estados Unidos. Nesse ínterim, o baixista Phil Lesh, o baterista Bill Kreutzmann, o organista Ron “Pigpen” McKernan e os guitarristas Jerry Garcia e Bob Weir recrutaram Mickey Hart como segundo baterista. Assim, no palco, a seção rítmica ocupa cada vez mais espaço.

Resumindo, Grateful Dead está muito mais na estrada do que no estúdio onde no caminho os músicos são presos pela polícia que revista a casa do combo em busca de posse ilegal de entorpecentes. Isso irrita o produtor David Hassinger, que acredita que o segundo álbum do Dead está muito atrasado. Impaciente, ele bate a porta.

Profissional da improvisação sem fim com drogas psicotrópicas, é preciso dizer que o sexteto enfrenta um sério problema. Como fazer a magia do live onde ele se sente confortável no estúdio? 

A solução seria combinar os dois. Utilizando um sistema de colagem, os integrantes mesclam momentos do show com algumas gravações feitas em estúdio. Com a ajuda do pianista Tom Constanten, Grateful Death imprimiu Anthem of the Sun em julho de 1968 em nome da Warner Bros.

Um segundo Lp com letras delirantes, completamente malucas, experimentais feitas em mais que segundo estado, feitas sob LSD para uma busca cósmica, mística e para cruzar as portas da percepção. Contudo, não podemos negar que os agenciamentos entre o vivo e o estúdio têm um aspecto artesanal, até mesmo instável, onde por vezes passamos de uma dimensão para outra de forma grosseira. Obviamente este sistema ainda não está pronto. Não importa, quem procura emoções não ficará desapontado.

Composta por 5 peças que muitas vezes se sucedem sem tempo, iniciamos esta viagem alucinatória com “É isso para o outro” distribuída por 7 minutos e em 4 partes. Encontramos esta qualidade melódica já vista na obra anterior com este órgão perturbador, esta guitarra sensível e também este canto frágil e emocional. Melodias que muitas vezes serão intercaladas com sequências que chegam sem aviso prévio. O que se segue é uma passagem apressada, estratosférica e rodopiante, vestida com guitarra, órgão e bateria frenéticos. Como um relógio dilapidado, mais adiante é caótico e tempestuoso onde tocam alguns efeitos eletrônicos e música concreta. Não é à toa que Tom Constanten e Phil Lesh admiram Edgar Varèse.

A sequência, “New Potato Caboose” é mais tranquila, descolada, com um cenário irreal, com suas incursões jazzísticas e quase religiosas. Num cenário caleidoscópico, The Dead acelera o ritmo onde Jerry Garcia esculpe refrões longos e vertiginosos. Vertigo que nos leva direto ao breve “New Potato Caboose”, para um rock nervoso e extravagante onde aparece um trompete mariachi lembrando-nos que Phil Lesh era trompetista de formação.

Entre coros kazoo e angelic acid surgem os 15 minutos de “Alligator” que rapidamente descolam numa atmosfera tropical, estimulante e tribal. Aqui novamente Jerry Garcia fará um excelente trabalho com suas seis cordas elétricas amplamente influenciadas pelo blues. À espreita, este órgão com o seu groove alucinógeno e este trigêmeo rítmico que nos coloca em transe antes de terminar numa atmosfera nebulosa e metronômica onde os músicos em plena fumaça aceleram as bandas. Sem perceber, “Caution (Do Not Stop on Tracks)” chega à conclusão para um final dissonante e de tirar o fôlego à jornada feita de feedbacks e feedbacks aterrorizantes.

Não tenho certeza se voltaremos ilesos dessa experiência.

Faixas:
1. That’s It For The Other One         
2. New Potato Caboose         
3. Born Cross-Eyed   
4. Alligator    
5. Caution (Do Not Stop On Tracks)

Músicos:
Jerry Garcia: guitarra solo, vocais
Phil Lesh: baixo, vocais
Bob Weir: guitarra base, vocais
Ron “Pigpen” McKernan: órgão, gaita, vocais
Bill Kreutzmann: bateria
Mickey Hart: bateria
+
Tom Constanten: piano, efeitos eletrônicos

Produção: Grateful Dead, David Hassinger





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