Entre 1985 e parte de 1986 a vida dos Duran Duran conheceu um período de convulsões internas que, se por um lado terminou com o quinteto “clássico” reduzido a três elementos por alturas da edição do álbum “Notorious”, por outro correspondeu a uma considerável ampliação dos espaços de trabalho dos músicos que, além de terem criado um dos maiores êxitos da banda (desta vez ao serviço do agente secreto 007), se dividiram em dois projetos em paralelo (Power Station e Arcadia), sendo ainda de assinalar neste mesmo período a estreia a solo de tanto John como Andy Taylor, isto tudo além da criação do acima referido quarto álbum de estúdio do grupo, no qual teve um papel muito ativo o guitarrista e produtor Nile Rodgers (que mantinha uma relação próxima com todos eles desde “The Reflex”, em 1984) e no qual foi encetada uma colaboração (que seria aprofundada mais adiante). Uma das mais inesperadas coincidências deste período tem a ver com a criação de quatro canções para o cinema. Assim, ao sobejamente conhecido “A View To A Kill” dos Duran Duran (1985), para o derradeiro filme com Roger Moore no papel de James Bond, este período na história da banda envolveu ainda “Someday, Somehow, Someone’s Gotta Pay”, uma canção dos Power Station assinada e cantada por Michael das Barres para “Commando” (1985) de Mark L. Lester, com Arnold Schwarzenegger como protagonista, “I Do What I Do”, de John Taylor para “9 1/2 Weeks” (1986) de Adrien Lyne, com Kim Basinger e Mickey Rourke e ainda um inédito dos Arcadia entregue à banda sonora de “Playing For Keeps”, um quase esquecido teen movie realizado por Harvey e Bob Weinstein que assinalou a estreia no cinema de Marisa Tomei.
“Say The Word”, assinada por Simon Le Bon e Nick Rhodes, sob produção de Alex Sadkin em conjunto com os dois músicos, deverá corresponder (pela aparente ausência de Roger Taylor), a uma gravação posterior às sessões das quais nasceu o álbum “So Red The Rose”, dos Arcadia, editado na reta final de 1985. Há entre esta canção afinidades claras entre a cenografia complexa e a própria sonoridade (em grande parte moldada pela presença do Fairlight de Nick Rhodes) face ao que se escutara no álbum dos Arcadia, embora aí a presença de timbres adicionais (e as várias parcerias e colaborações) levadas a estúdio tenham dado a canções de maior fôlego rítmico como “Keep Me In The Dark” ou “El Diablo” ou a peças como “Missing” ou “Lady Ice” uma ideia de artes finais mais delicadas e elaboradas. “Say The Word” é, todavia, uma canção desafiante na medida em que se afasta mais ainda do que eram os caminhos da escrita (e sobretudo arranjos) que encontramos tanto no anterior “Seven and The Ragged Tiger” (1983) como nos posteriores “Notorious” e “Big Thing” (1988), acabando assim como experiência one off que, até ver, não conheceu continuidade… Mas aqui nada como esperar por uma eventual edição DeLuxe de “So Red The Rose” que possa revelar o que aconteceu no longo período vivido estúdio durante a criação deste álbum.
Com um percurso que começou em alta com “Election Day” (ainda em 1985), mas logo mostrou uma divisão estratégica no single seguinte, com “The Promise” escolhido na Europa 2 “Goodbye Is Forever” nos EUA e Canadá, a discografia dos Arcadia em 45 rotações envolveu ainda a edição, já em 1986 de “The Flame” (em cujo teledisco surgia, como convidado, num cameo, John Taylor, anunciando a reunião iminente dos Duran Duran). “Say The Word” chegou mais adiante, ainda em 1986, todavia numa etapa em que Simon Le Bon e Nick Rhodes haviam já fechado o dossier Arcadia e estavam focados na criação e comunicação de “Notorious”. O single, editado pela Atlantic Records, teve apenas edição nos EUA e Canadá e surgiu com uma capa que mostrava uma foto de Dean Chamberlain (que trabalhara na criação do teledisco de “Lady Ice”) e deixava clara a sua relação com a banda sonora de “Playing For Keeps”. No lado B surgia uma mistura instrumental, revelando ambas as contribuições de Michael Hutchinson e Shep Pettibone. Nenhuma destas versões correspondem à que surge no LP da banda sonora. Nos EUA houve ainda um máxi promocional com duas remisturas mais. O single obteve resultados bem discretos e não figurou nas tabelas de singles dos EUA nem do Canadá. “Say The Word”, nas duas várias versões, foi integrado depois numa reedição em CD, com extras (mas sem inéditos), de “So Red The Rose”.
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