Uma única canção para o alinhamento de um álbum? Ou, para sermos mais precisos, um álbum inteiro feito de variações de uma mesma canção? Essa era a ideia e assim se materializou “Slave To The Rhythm”, álbum de 1985 que partilha com “Nightclubbing”, de 1981, o estatuto de ser referência maior na discografia de Grace Jones.
A ideia na verdade nascera para os Frankie Goes To Hollywood na sequência de “Relax”. E podemos aqui recordar que tanto esse single como o seguinte, “Two Tribes”, conheceram também versões e variações que sugeriam já uma possível abordagem deste teor entre o espaço de desafio pelo qual a ZTT, editora então fundada pelo produtor Trevor Horn e pelo jornalista Paul Morley e nessa altura dava também já que falar pelos discos dos Art of Noise e Propaganda.
Depois de um primeiro tríptico disco lançado em finais dos anos 70 (já lá regressaremos) e de um segundo registado nos Compass Point Studios nas Bahamas, no qual experimentou com sucesso uma nova relação com os espaços do reggae, o dub, o funk e as electrónicas, Grace Jones tinha alcançado um novo patamar de visibilidade no cinema com papéis de algum relevo na sequela de “Conan, O Bárbaro” e “007: Alvo em Movimento”, o filme da série James Bond que teve canção assinada pelos Duran Duran (ou seja, “A View To a Kill”). Foi de resto dessa vivência que terá eventualmente nascido a colaboração com o projeto Arcadia no single “Election Day”.
É assim que, no auge da fama, Grace Jones se alia à equipa de Trevor Horn para criar “Slave To The Rhythm”, uma sinfonia pop em oito andamentos – ou oito canções, se preferirem – entre elas surgindo excertos de uma entrevista conduzida por Morley na qual a cantora, atriz e modelo passa por memórias. A mesma voz surge depois em variações possíveis dos mesmos versos, entre abordagens instrumentais distintas promovidas como mais que simples manobras de remistura ou novos arranjos. Há de facto em “Slave to The Rhythm” uma busca de caminhos possíveis tendo por ponto de partida uma só canção pop – a que dá título ao disco. Ideias moldadas e unidas entre si pela a produção de fôlego épico com a assinatura de Trevor Horn e da equipa que com ele então dava forma a visões que então marcavam a identidade do som da ZTT Records.
É depois impossível não referir igualmente o brilhante trabalho gráfico concebido a partir da manipulação, pela fragmentação e repetição, de uma foto de Jean Paul Goode, que definiu aqui uma das mais icónicas imagens de Grace Jones. No fundo a imagem acolhia as mesmas sugestões de multiplicidade de visões e leituras que o álbum revelava a partir de um elemento inicial comum.
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