White Is Relic / Irrealis Mood não ficará para a história dos of Montreal como um álbum marcante da sua extensa discografia. Dos seus seis temas, apenas três são dignos de bom interesse. Deu empate, como se percebe. Desta vez Kevin Barnes não saiu em ombros.

Já todos sabemos do que Kevin Barnes e a sua turma são capazes de fazer. As loucuras psicadélico-delirantes a que nos acostumaram são a imagem de marca dos of Montreal, que nos últimos largos anos têm vindo a mostrar-se assíduos no lançamento de bons discos, uns atrás dos outros, de forma quase torrencial. Com uma “imagem sonora” bem vincada, a banda nascida na cidade de Athens tem dado ao mundo, há já mais de vinte anos, discos tremendos de inventividade, de arrojo artístico e de requintado bom gosto, como são os casos de Hissing Fauna, Are You the Destroyer? (2007), Skeletal Lamping (2008) e Lousy with Sylvianbriar (2013), para referir apenas três exemplos de trabalhos mais próximos no tempo. No entanto, também não será descabida a ideia de que, por vezes, como acontece com qualquer artista, não acertam na mouche, e quando isso se torna realidade, os predicados que lhes costumam estar associados (o seu engenhoso pendor inventivo, sobretudo, mas igualmente algum experimentalismo à la carte) são também os principais responsáveis pelos álbuns menos conseguidos, como será o caso deste White Is Relic / Irrealis Mood, saído no início do passado mês de março pela independente Polyvinyl Record, etiqueta que mantém com a banda de Kevin Barnes uma já extensa colaboração.

Kevin Barnes disse que vários fatores condicionaram o nascimento e a gestação deWhite Is Relic / Irrealis Mood, mas para que melhor se entenda a nossa opinião, destacaríamos apenas um: o seu apreço pelas “extended dance mixes that people used to make for pop singles back in the ‘80s” e a sua vontade de fazer algo semelhante. Infelizmente, faltou a essência e o ingrediente principal: bons temas que pudessem ser esticados um bocado mais para além da extensão normal das canções de cunho pop. Foi pena, mas a verdade só tem uma cara, e a que desta vez olha para nós, não é das mais apetecíveis.

No entanto, nem tudo é pouco interessante. Três temas (dos seis que constituem o disco) merecem atenção particular, sobretudo até pelo contraste existente entre eles: “Soft Music / Juno Portraits of The Jovian Sky”, o swingante tema de abertura, “Writing the Circles / Orgone Tropics”, menos excêntrico e mais introspetivo do que os seus pares, e “Sophie Calle Private Game / Every Person Is a Pussy, Every Pussy Is a Star!”, mais dançante, embora com alguma contenção à mistura. Bons e seguros momentos, sem dúvida os melhores de todo o álbum. Qualquer um deles aguenta bem o facto de terem sido alongados um pouco mais, dando lugar a ritmos mais marcados pelo baixo e pelas batidas muito eighties com algumas (embora modestas) pretensões dançantes. Quanto ao resto, o melhor que poderemos dizer é que White Is Relic / Irrealis Mood pouco nos conseguiu cativar. E nós, que gostamos dos of Montreal, não nos aborrecemos assim tanto com isso, porque sabemos que correr riscos é um argumento artístico que nada nos incomoda, antes pelo contrário. E, tratando-se de quem se trata, o melhor é seguir em frente e esperar que o disco de 2019, se vier a ser feito, venha a constituir novo e marcante momento de puro gozo e puro delírio vindos das mágicas impurezas da genial cabeça de Kevin Barnes e dos seus discípulos.