Em 1971 o TRIP lançou seu segundo disco, "Caronte", com uma marcante capa dupla (tirada de ilustrações de Gustave Doré, do século 19, que foram reelaboradas com ironia e um toque de cor em um curioso estilo Pop Art), um álbum conceitual cheio de mitologia grega (Caronte seria o barqueiro que carregava almas dos recém mortos sobre as águas do rio que dividia o mundo dos vivos e dos mortos, segundo o livro "A Divina Comédia", de Dante Alighieri). Tornar-se-ia o álbum de maior sucesso e mais representativo deles. Ao contrário do anterior, "The Trip", ainda muito ligado ao Blues-Rock e à psicodelia dos anos 60, "Caronte" era claramente inspirado no Rock Progressivo britânico, em particular no som praticado por bandas como KING CRIMSON, THE NICE e (em proporção menor) DEEP PURPLE e PINK FLOYD. Os arranjos eram ricos e cheios de música erudita, com mudanças de ritmos, efeitos sonoros psicodélicos e harmonias complexas com predomínio dos teclados de Joe Vescovi, emulando Keith Emerson. Considerado por muitos como o primeiro álbum de Prog-Rock italiano (ainda que não fosse tão italiano e mais um decalque do Prog inglês), "Caronte" foi uma joia criada por Arvid "Wegg" Andersen (vocais/baixo), Billy Gray (guitarra elétrica, violão), Joe Vescovi (vocais, órgãos, mellotron e demais teclados) e Pino Sinnone (bateria). A abertura instrumental "Caronte I" (quase 7 minutos) começava com linhas de baixo pulsantes, ondas sombrias de órgãos e golpes espectrais de guitarra que levam o ouvinte ao submundo, através do rio da aflição, onde era possível embarcar na balsa de Caronte, junto com Dante e Virgílio. A jornada ao inferno começava... "Caro Caronte, obrigado pelo convite para testemunhar para a condenação de almas. Conosco estão alguns escolhidos que gostaríamos de observar..." (texto do encarte). Depois vinha a faixa "Two Brothers" (mais de 8 minutos) que abria com barulho de freios de pneus no asfalto (inspiração na cena final do filme "Easy Rider"), tiros e uma motocicleta voando pelo ar, um homem tentando desesperadamente escapar de seus assassinos, a estrada coberta de sangue, fogo/chamas/aço/couro... a atmosfera fica sombria enquanto baixo e órgão teciam um réquiem para os mortos. Então, o ritmo aumenta, enquanto a canção e as letras evocam os protagonistas em seu caminho para o inferno. O lado 2 abria com a balada sonhadora e delicada "Little Janie" (4 minutos, dedicada à Janis Joplin, evocando seu destino trágico). Em seguida, vinha a longa e complexa "L'ultima ora e Ode a Jimi Hendrix" (mais de 10 minutos) evocando a sombra cambaleante do guitar hero numa curiosa mistura de padrões de órgão erudito, passagens de Hard Rock poderosas e solos de guitarra chorosos. A curta instrumental "Caronte II" (pouco mais de 3 minutos) encerrava essa viagem ao inferno deixando à sua imaginação o resto da história.
Tracks:
01. Caronte 1 (6:45)
02. Two Brothers (8:15)
03. Little Janie (4:00)
04. L'Ultima Ora e Ode a J. Hendrix (10:18)
05. Caronte 2 (3:32)
Time: 32:50
Musicians:
- William Gray: electric & acoustic guitars, vocals
- Joe Vescovi: Hammond organ, piano, church organ, Mellotron, arrangements, lead vocals
- Arvid "WEGG" Andersen: bass, lead vocals
- Pino Sinnone: percussion
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