domingo, 1 de dezembro de 2024

Yello “One Second” (1987)

 Quando se fala dos pioneiros da pop eletrónica há que juntar aos primeiros experimentadores alemães os ecos imediatos que geraram no Reino Unido (através de primeiras bandas como os Human League ou Orchestral Manouvevers in the Dark) ou no Japão (sobretudo por via da Yellow Magic Orchestra). Contudo, a história da geração pop eletrónica surgida ainda antes da viragem para os anos 80 contou com outros pioneiros em diversos outros polos, sobretudo na Europa continental. E aí há que juntar nomes como os belgas Telex ou os suíços Yello. Formados em 1979, os Yello são um dos nomes mais marcantes (e longevos) da primeira geração pop electrónica. Contudo, muitas vezes, injustamente esquecidos… Dupla suíça constituída por Dieter Meier e Boris Blank, na origem contando ainda com Carlos Perón (que deixou o grupo em 1983), os Yello demarcaram cedo um terreno muito próprio ao estabelecer, além de um trabalho vocal baseado na exploração rítmica dos sons, um diálogo, de personalidade sempre vincada, entre as electrónicas e um evidente interesse por músicas de geografias menos comuns, dos grandes universos das culturas latinas ao mundo árabe e outros. Tudo isto, mais um inevitável tempero de algum nonsense e bom humor… Os Yello devem muito do seu carisma (e identidade) à conjugação das personalidades do vocalista e conceptualista Dieter Meier (industrial milionário e membro da equipa nacional de golfe do seu país) e do compositor e arranjador Boris Blank e, sobretudo na década de 80, criaram algumas das mais desafiantes composições pop definidas sobre ferramentas electrónicas do seu tempo.

Depois de um conjunto de três álbuns “Solid Pleasure” (1981), “Claro Que Si” (1981) e “You Gotta Say Yes to Another Excess” (1983), pelos quais tatearam os fundamentos de uma linguagem e da identidade que esta ajudou a demarcar, revelaram em “Stella” (1985), o primeiro momento de afirmação plena de um caminho encontrado. O álbum, que representou o primeiro após a saída de Carlos Perón, iniciou uma etapa que, sem a carga mais exploratória dos discos anteriores, mas firme na afirmação de uma série de elementos que esses três primeiros álbuns tinham ajudado a encontrar, aproximou a música dos Yello de formas mais próximas da canção pop, usando a seu favor nova tecnologia e as potencialidades de um estúdio digital. O álbum incluía “Oh Yeah”, canção (re)descoberta pouco depois em bandas sonoras de vários filmes, entre os quais a comédia “O Rei dos Gazeteiros,” de John Hughes (com Mathew Broderick como protagonista). Editado em 1987, um ano depois do filme, o quinto álbum dos Yello não só aprofundou os caminhos experimentados em “Stella” como aprofundou o desejo do grupo em alargar a paleta de vozes nas suas canções, contando com presenças como as de Shirley Bassey (no elegante “Rhythm Divine”), Billy McKenzie (dos Associates, em vários momentos) ou Farida (a voz falada em “Le Secret Farida”). O álbum abre em clima latino com “La Habanera”, baralha geografias em “Santiago”, sugere climas cinematográficos em “Hawaian Chance”, mergulha num inesperado twist hardcore em “Si Senor The Hairy Grill”, brilha com eloquência em “Call It Love” ou o já citado “The Rhythm Divine” e encontra em “Goldrush” o mais perfeito desenho de canção pop à la Yello. A música dos Yello tinha evoluído, com sucesso, de um terreno mais experimental para, sem cedências descaracterizadoras, evoluir para um novo patamar que os colocou sob atenções de uma plateia mais alargada. Na verdade só por uma vez, e no álbum seguinte (“The Flag”, em 1988), os vimos num Top 10 de singles no Reino Unido. Mas, em vários terrenos da Europa continental, os Yello alargaram e cimentaram então uma base de admiradores que, ainda hoje, 45 anos depois dos primeiros passos, ainda os acompanha. 



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