quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Kim Deal “Nobody Loves You More”

 Pode ser uma frase feita e até mesmo gasta. Mas ao escutar as canções do álbum de estreia a solo de Kim Deal fez sentido voltar a enunciar aquela velha máxima que reza que mais vale tarde do que nunca. Pois é… Aos 63 anos, depois de marcantes percursos feitos entre bandas como os Pixies, Breeders ou Amps, ou até mesmo colaborando pontualmente com nomes como os Sonic Youth, This Mortal Coil ou Ultra Vivid Scene, Kim Deal resolveu gravar um álbum em nome próprio. E em “Nobody Loves You More” deu-nos a escutar uma das mais belas coleções de canções do ano, num disco pleno de marcas que cruzam a genética de algumas experiências do seu percurso, mas que, apesar de um ou outro episódio com eletricidade mais pronunciada, a revela mais frágil e polida do que nunca. 

Com um alinhamento que surpreende a cada faixa, o álbum de estreia de Kim Deal segue por pistas pontualmente sugeridas no seu percurso ora quando, com a irmã, colaborou num tributo às canções de “Hedwig and The Angry Inch” ora quando, ao lado de Tanya Donnely, cantou uma versão de “You and Your Sister”, de Chris Bell, no terceiro álbum do coletivo This Mortal Coil. O que apresenta são, acima de tudo, novos pontos de vista (mais suaves) sobre pistas pelas quais desenhara já canções noutras etapas da sua vida. E desde brisas com aromas mexicanos ou havaianos ou as visitas a diálogos elétricos para guitarra e baixo musculado, há por aqui ecos naturais de rumos outrora trilhados a bordo dos Pixies e, sobretudo, Breeders. De resto, as presenças no disco tanto da irmã Kellly Deal como de outros antigos elementos das Breeders (Jim MacPherson e Mando Lopez) acabam por sugerir naturalmente essas marcas de identidade. 

Entre reflexões bem pessoais e familiares ou olhares sobre a cultura popular (“Crystal Breath” resulta de uma submissão não aceite para uma série de televisão), “Nobody Loves You More” acrescenta à já reconhecida escrita de Kim Deal uma série de novas possibilidades cénicas. Metais, delicados arranjos de cordas, juntam-se a bordo para sugerir um episódio que pode marcar o começo de uma nova etapa na obra da antiga baixista dos Pixies. O álbum, que junta canções que Kim Deal foi criando desde que em 2013 se afastou dos (reunidos) Pixies, pode, sobretudo porque os tempos e o contexto são outros, não ter o impacte de um “Come on Pilgrim” (Pixies) ou um “Pod” (Breeders). Mas representa um momento de arranque não menos promissor. E, convenhamos, magistralmente belo.




Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

Classificando todos os álbuns de estúdio dos Tears for Fears

  Em outubro de 2021,  Tears for Fears  anunciou planos para lançar seu primeiro álbum de material novo em 17 anos. Intitulado The Tipping P...