sábado, 25 de janeiro de 2025

Young Marble Giants – Colossal Youth (1980)

Disco único de uma banda que ainda hoje é vista como sendo seminal, influenciando praticamente tudo o que depois se passou.

Eram tempos agitados no mundo musical. O rock clássico que dominou os anos 70 já tinha sido arrumado para canto pelo punk, mas começavam já a aparecer indícios de evolução da formula básica dos três acordes que tinham sido os alicerces do movimento. Bandas como Gang of Four, The Fall e Joy Division, bem como de novas sonoridades de uns Wire e dos Clash mostraram que o pós-punk já era uma realidade. Ainda assim, incerto era o futuro, e terá sido um pouco no meio dessa incerteza do que estava para vir, que os Young Marble Giants foram agarrados pela histórica Rough Trade, que precisou apenas de ouvir duas músicas da banda para oferecer um acordo para gravação de um disco. A banda, com muito pouca experiência de produção e gravação apostou em não complicar, utilizando quase sempre o primeiro take para a versão final no álbum. No fundo esta era a força motriz da banda – uma sonorização simples à volta da voz de Alison Statton, dos quais se destavaca a máquina de percussão, no fundo um sintetizador caseiro, fabricado por um primo dos irmãos Philip e Stuart Moxham.

O álbum arranca com “Searching Mr. Right”, uma tranquilidade de voz doce, baixo e a tal drum machine ao fundo, a dar corpo à música. Numa coisa havia semelhança com o registo punk – a duração das músicas. Em dois, três minutos, máximo, a coisa estava despachada e passa-se à seguinte. A voz torna-se mais viva em “Include Me Out”, onde também aparece o riff de guitarra soando a garage rock a compôr o ramalhete. Mas é sol de pouca dura, já que a partir daí o sintetizador assume o lugar central das músicas, ombreando com a melodiosa voz (esse instrumento tantas vezes menosprezado). Ainda assim, as músicas que opto por destacar são as que têm o corpo de banda completa, casos de “Constantly Changing”, “Salad Days” (terá sido aqui que Mac deMarco veio buscar o nome para o seu álbum?) e “Credit in the Straight World”.

As influências eram notórias – Eno, Kraftwerk, Bowie de Berlin, Lou Reed, tudo coisas que já eram um pouco vistas como ultrapassadas pelo furacão punk, mas que os Young Marble Giants conseguiram ir rebuscar, criando algo realmente diferente. Será ambicioso dizer que até hoje nenhuma banda se assemelha ao som criado pelos YMG? O que é certo é que as influências que geraram apenas com este disco são extensas, e vão desde a bandas do mesmo espectro musical a outras mais distantes, como por exemplo os Nirvana, posição assumida pelo próprio Cobain. Até para além do mundo musical, não terá sido inocente a opção de Pedro Costa ter escolhido o nome do álbum para o título em inglês do seu (enorme) filme “Juventude em Marcha”.

Parece incrível que Colossal Youth ainda soe fresco, apesar de ter sido lançado no já tão distante ano de 1980. Uma pérola produzida completamente em contra ciclo com o que se fazia na altura, mas que conseguiu resistir ao tempo e influenciar novas gerações que ali encontraram um magnífico equilíbrio entre minimalismo e contundência. Um disco que faz tudo parecer tão fácil a um olho (ou vá, neste caso ouvido) destreinado, mas que contem em si várias camadas que merecem ser apreciadas através de várias audições. Quem conhece que aproveite para os relembrar, quem não, que se atire para os descobrir.



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