Banda: Diablo Swing Orchestra
Álbum: The Butcher's Ballroom
Ano: 2006
Gênero: Metal Avant-garde
O metal é um gênero que acumula preconceitos, lendas urbanas, mitologias, amor, ódio e muitas subdivisões.
Todo mundo já teve um colega de classe cabeludo que, não raramente, aparecia com uma camiseta de banda de metal. Quem não teve, era o próprio cabeludo (inclusive este que vos fala). O gênero tem tantas subdivisões que geram atrito entre os fãs desse ou daquele estilo: heavy, thrash, glam, death, black, white, funk, prog, nü, groove, doom, industrial e muitos outros.
A cultura do metal é tão peculiar que existem rótulos para aqueles que só escutam e gostam de determinado estilo - os true - e para aqueles que fingem que gostam - os posers. Existem bandas que levam isso tão a sério que viram inspiração para bandas-sátira, como o Manowar para o Massacration. E essa atitude de true e poser é o que faz com que os fãs de metal sejam vistos como bitolados pelas pessoas mais ecléticas.
Quando os preconceitos são deixados de lado e as bandas resolvem agregar elementos alheios ao estilo, porém, geralmente o resultado traz discos marcantes e muito originais - o álbum Roots dos brasileiros do Sepultura, por exemplo, misturou música indígena dos Xavantes com o groove metal herdado do disco anterior, Chaos A.D.. É considerado por críticos e por muitas outras bandas como um dos álbuns mais influentes dos anos 90, embora alguns fãs mais tradicionais da banda torçam o nariz pelo caminho tomado pela banda após o também clássico Arise.
Essa conversa toda foi para chegar ao disco aqui resenhado: o ótimo The Butcher's Ballroom da banda sueca Diablo Swing Orchestra.
A história "oficial" da banda é cercada de mitologia. Diz a lenda que no século XVI, na Suécia, existia uma orquestra que tocava hinos que desafiavam o poder da Igreja (teoricamente Protestante) que dominava o país. Ao provocar a ira dos religiosos, os integrantes dessa banda tiveram que viver escondidos nas casas dos camponeses. Por anos a orquestra tocaria para o prazer de seus anfitriões, mas ao ver que a recompensa oferecida por suas cabeças era alta demais, os músicos concluíram que seriam capturados e, em uma despedida triunfal, fizeram um espetáculo maravilhoso e inacreditável antes de serem executados. Os membros da Diablo Swing Orchestra (ou DSO) seriam descendentes desses mártires da música.
Fantasia à parte, o DSO é formado por Daniel Håkansson (guitarra/vocal), Pontus Mantefors (guitarra/efeitos), Annlouice Lögdlund (vocal lírico), Andy Johansson (baixo), Johannes Bergion (violoncelo), Andreas Halvardsson (bateria, posteriormente substituido por Petter Karlsson), Daniel Hedin (trombone) e Martin Isaksson (trompete). Essa formação - nada ortodoxa para uma banda de metal - é um dos motivos pelos quais o DSO é tão diferente das demais bandas. E ao ouvir The Butcher's Ballroom fica óbvio o motivo.
O disco abre com a poderosa Balrog Boogie, um cruzamento preciso de metal com boogie -woogie (como o título sugere). A primeira vez que se escuta a voz da soprano Lögdlund é um choque, principalmente no meio de uma música nada lírica como essa. Difícil não se deixar levar pelo ritmo, e é possível até imaginar muitos dos true se segurando para não sair dançando. Isso sem contar a peculiaridade da letra ser em latim.
Heroines começa tranquila, com um ritmo gostoso no violoncelo e na bateria. Os vocais calmos de Lögdlund logo dão lugar à uma ponte interessantíssima com direito a um dueto com ela mesma, e um urro gutural faz a música explodir com as guitarras distorcidas. Tem um belíssimo refrão e é uma das que mais me chamou a atenção na primeira audição.
Poetic Pitbull Revolutions começa com um violão flamenco interessantíssimo, e logo as guitarras distorcidas entram junto com os trompetes e parece que estamos em um filme onde Zorro faz parte do Metallica. O contraste dos riffs pesados com a melodia à-lá mariachi dos trompetes funciona tão bem que é difícil lembrar que, originalmente, um não tem nada a ver com o outro. Os vocais dessa vez ficam, na maior parte da música, por conta de Håkansson, mas quando Lögdlund aparece a música ganha proporções épicas. Ótima faixa.
O teclado da introdução de Rag Doll Physics poderia facilmente aparecer em um disco do Deep Purple. A música é uma bela valsa, com vários momentos minimalistas onde a banda pára e dá destaque para a voz da vocalista. Destaque para o dueto barroco de violões próximos ao fim da faixa.
D'Angelo é um momento plenamente lírico. Contando apenas com Lögdlund cantando em italiano acompanhada de um violão levemente dedilhado, é um dos momentos mais tradicionais do álbum. Nem por isso deixa de ser bela - é o tipo de música que tanto você quanto sua avó iriam achar linda.
A calmaria da música anterior dá lugar à pancada Velvet Embracer, uma bela faixa de metal sinfônico. Grandiosa e pesada, é uma faixa que os fãs de Nightwish e outras bandas do estilo certamente iriam gostar muito. Os vocais de Lögdlund novamente impressionam, e o arranjo de cordas ao fundo são a cereja no topo do bolo.
Se você não sabe o que é um didgeridoo, dê uma olhada no vídeo abaixo:
Esse instrumento, assim como o rapaz que o está tocando no vídeo, tem origem aborígene, ou seja, na Austrália pré-colonial. E é com esse som que começa Gunpowder Chant, uma faixa instrumental com pegada árabe. É muito sinestésica, com uma bateria marcante, e quando menos se percebe já começou Infralove. A transição entre as duas músicas é imperceptível, e é interessante ver como a melodia da primeira é desenvolvida na segunda música. É como se um faraó saísse de sua pirâmide em Gunpowder Chant, agarrasse uma prancha e começasse a surfar no Mar Mediterrâneo em Infralove.
Wedding March For A Bullet é uma de minhas faixas favoritas. Uma música extremamente bem construída, pesada e elaborada que consegue ser fácil de escutar ao mesmo tempo. Os riffs precisos, a bateria destruidora e o groove do refrão são irresistíveis.
Qualms of Conscience é um pequeno filler no piano, mas Zodiac Virtues passa longe dessa condição. O riff malvado que abre a música dá lugar à um vocal que me lembra Andi Deris, do Helloween, por algum motivo. Novamente Lögdlund impressiona no refrão (ela não cansa?!). As cordas e o coral dão, novamente, um tom épico à essa bela canção.
Porcelain Judas tem um tempero oriental misturado aos riffs, que por sua vez tem muita influência de música clássica no refrão. Muitas variações estilísticas nesta bela faixa.
O gran finale fica por conta de Pink Noise Waltz. Como o nome sugere, é uma valsa pesadíssima, que alterna momentos mais delicados com momentos agressivos. O final da música é um desfile de estilos e influências: música barroca em alguns interlúdios (particularmente no solo de flauta), thrash metal e, surpreendentemente, o álbum termina com um suave jazz.
Não tenho dúvidas que os true de alguns estilos de metal iriam desprezar este álbum, mas eu o recomendo por ser uma belíssima demonstração de como fazer música pesada com criatividade, qualidade e principalmente sem burocracia.
Tracklist:
1. | "Balrog Boogie" | 3:52 |
2. | "Heroines" | 5:21 |
3. | "Poetic Pitbull Revolutions" | 4:52 |
4. | "Ragdoll Physics" | 3:52 |
5. | "D'Angelo" | 1:53 |
6. | "Velvet Embracer" | 4:04 |
7. | "Gunpowder Chant" | 1:50 |
8. | "Infralove" | 4:53 |
9. | "Wedding March for a Bullet" | 3:13 |
10. | "Qualms of Conscience" | 1:15 |
11. | "Zodiac Virtues" | 4:46 |
12. | "Porcelain Judas" | 4:08 |
13. | "Pink Noise Waltz" | 6:05 |
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