quarta-feira, 26 de março de 2025

FADOS do FADO...letras de fados...

 



A voz que eu tenho

Vasco de Lima Couto / Julio Proença *fado esmeraldinha*
Repertório de Carlos do Carmo

A voz que eu tenho como pensamento
Veio de longe, devagar e triste
Veio rasando os areais de vento
Onde a palavra amor ainda existe

Respirou com o povo as madrugadas
Soube do mar e foi beber o mar
E gritou no silencio das estradas
A solidão que eu tenho p’ra vos dar

Cresce-me a voz nesta prisão do encanto
Com a amizade que me faz viver
E sem saber se me entendeis, eu canto
A presença do amor e a dor de o ter


A zanga do fado

Letra e música Daniel Gouveia
Repertório e José da Câmara c/João Ferreira Rosa

O fado chamou-me há pedaço
Puxou-me p’lo braço e desabafou
Disse: mas que treta é esta
Sou bombo de festa, já fado não sou

Pasmei... o fado chorava
Do lenço puxava, um soluço saiu
Queixou-se que o tratavam mal
Como coisa banal, depois prosseguiu

Estou farto de salas imensas
Com luzes intensas, um som que ensurdece
Cegam-me com projetores
Nos espectadores já ninguém me conhece

Que é feito dos velhos retiros
De bairro, tão giros, com fado a rigor?
Levaram-me para o coliseu
Um dia, sei eu, talvez p’ro Jamor

Rodeiam-me de microfones
Vendem-me aos camones como souvenir
Misturam-se com folclore
Harmónio, tambor, p’ra me consumir

Por mim, desde que nasci
Sempre obedeci a uma tradição
Agora, sinto-me esquecido
Roubado, traído, vendido ao balcão

Eu disse: oiça, Sr. Fado
Quem está do seu lado sempre o adorou
Mas diga a quem bem lhe quer
O que se há-de fazer… e o fado cantou

Pede a quem me anda cantando
Que não esqueça como eu era
Que me defenda estilando
Com brio, com raça, gingando
Como em tempos da Severa

Não esqueçam a minha Hermínia
A Berta e o Correeiro
Maria Teresa, a Ercília
A minha querida Lucília
E o grande Marceneiro

Respondi do mesmo tom 
Juro-lhe do coração
Que apesar das coisas novas 
Cantaremos suas trovas
Respeitando a tradição

Foi-se embora mais feliz 
Com um sorriso aliviado
Virou-se além a acenar-me 
Foi tão bom vir visitar-me
Até sempre, senhor fado


Adolescência perdida

António Rocha / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de António Rocha


Poema da minha vida
Sem velhice nem infância
Adolescência perdida
No mar da minha inconstância

Poema da minha vida
Fogo que perdeu a chama
Caminhada resumida
A sulcos feitos na lama

Sem velhice nem infância
Vão as verdades morrer
No limite da distância
Que há entre mim e o meu ser

Adolescência perdida
Em busca de mundo novo
E da paixão construída
Com gritos vindos do povo

No mar da minha inconstância
Naufraga a causa perdida
A que tu dás importância
Poema da minha vida;
Levas nas mãos amarradas
Vontades amordaçadas



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