quinta-feira, 27 de março de 2025

Paul Simon “Seven Psalms”

 Disco diferente, pensado como uma peça dividida em sete segmentos, “Seven Psalms” apresenta reflexões sobre a fé e a mortalidade num espaço sobretudo dominado pela voz e pela guitarra acústica, com algumas outras discretas contribuições. 

Ideia nascida depois de acordar a meio da noite, como que sugerida por sonhos, a ‘suite’ acústica, com 33 minutos de duração (em sete segmentos distintos, mas interligados), “Seven Psalms” é um álbum meditativo no qual Paul Simon não só reflete sobre transcendência, religiosidade e mortalidade, mas onde, e se escutarmos o final “Wait”, encontramos o que perece ser também um olhar sobre o tempo que está pela sua frente. Aos 81 anos, o homem que em tempo já havia refletido sobre o passar do tempo em “Still Crazy After All These Years” (editado há precisamente 50 anos) e que em 2011 encarou, numa canção, pensamentos sobre que pode existir depois da vida (“The Afterlife”), partilha agora connosco uma reflexão feita de linha discretas e frágeis, bem distante do fulgor que atravessava “Stranger to Stranger”, o álbum de 2016 que completava um ciclo de olhares sobre outras músicas e outras geografias iniciado em “Graceland” (1986) e depois continuado em “The Rhythm of The Saints” (1990). Depois de “Stranger to Stranger”, de novo, Paul Simon havia-nos dado a escutar um álbum ao vivo gravado no Hyde Park e novas gravações de canções menos conhecidas em “In The Blue Light” (2018).

Descrito já pelo próprio Paul Simon, o processo criativo que o conduziu a “Seven Psalms” começou com sugestões de ideias que lhe chegaram em sonhos, tendo acordado a meio da noite para fixar as palavras das quais nasceram os sete segmentos que, agora, surgem de forma interligada, tanto que as edições em CD e digitais os juntam indexados em apenas uma faixa. Entre “The Lord”, que abre o percurso, e “Wait”, que o encerra, o protagonismo dos acontecimentos surge essencialmente dividido entre a voz de Paul Simon e o dedilhar da sua guitarra acústica. Escutam-se ecos da folk, até mesmo dos blues… Mas há sobretudo, em volta das palavras, uma noção de suave cenografia que junta discretas participações de outros timbres e depois acolhe o coro Voces8 e, na rela final, a colaboração de Edie Birckell. 

Sinos anunciam a chegada e despedida deste breve ciclo meditativo no qual Paul Simon observa e questiona. Haverá algo mais adiante? Sem querer dar respostas, porque as não tem, lança olhares e questões que juntam assim notas com destino desconhecido a um trilho do qual as memórias são os únicos alicerces que reconhece como firmes. A captação da voz (quase no limiar do sussurro) e da guitarra acústica não escondem marcas da respiração e das mãos, escutando usina o silêncio ao seu redor, vinca um sentido de realismo que contrasta com o artifício que tantas vezes é língua franca na canção pop. No final fica a sensação de quer acabámos de escutar uma nota de despedida… Será mesmo? Ou apenas uma tomada de consciência sobre o facto de estar cada vez mais curto o tempo que vem pela frente?  

“Seven Psalms”, de Paul Simon, está disponível em LP, CD e nas plataformas de streaming numa edição da Owl Records/ Sony Legacy.



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