O terceiro álbum do projeto Fever Ray reúne os irmãos Karin e Olof (The Knife), junta contribuições de Trent Reznor, Atticus Ross e da portuguesa Nídia Borges e abre novos rumos emocionais e temáticos numa obra que continua a ser desafiante.

Poucas foram as histórias de bandas com ponto final colocado relativamente cedo, mas após a edição da sua obra-prima. Aconteceu, por exemplo, com os Japan depois de “Tin Drum”. Voltou a acontecer, num outro tempo, com os suecos The Kife depois de “Shaking The Habitual”. Na verdade, em anos estes casos, houve ainda uma digressão após a edição destes dois álbuns marcantes, ambas depois com retratos fixados em áudio e vídeo, respectivamente em “Oil On Canvas” (1983) e “Live At Terminal 5” (2017). Em ambos os exemplos houve ainda carreiras a solo iniciadas antes dos momentos de separação, com Mick Karn e David Sylvian a gravar respetivamente um álbum e um single de estreia em 1982 e, no universo The Knife, Karin Elisabeth Dreijer a dar outros passos através do projeto Fever Ray, pelo qual lança um primeiro single em 2008, segundo-se um álbum no ano seguinte. A esse LP ao qual chamou “Fever Ray” fez seguir, em 2017, o sucessor “Plunge”, surgindo agora o terceiro capítulo, ao qual chamou “Radical Romantics”.
A principal surpresa do novo álbum, bem vincada no alinhamento do disco, é o reencontro entre Karin e o irmão Olof Dreijer, seu irmão e parceiro criativo nos The Knife, que mudou de ares e encontrou nova casa em Berlim. E de facto, mais do que em “Plunge”, onde se reconheciam possibilidades de alguns trilhos lançados por horizontes sugeridos em “Shaking The Habitual”, a sequência inicial de “Radical Romantics” (as quatro primeiras canções são co-assinadas e co-produzidas pelos dois irmãos) assenta num patamar que não esconde um reencontro com o espaço sonoro que poderia representar a descendência direta do que, há precisamente dez anos, se escutava no álbum de estúdio final dos The Knife. As maiores diferenças, num reencontro que não volta costas à identidade vincada pelos irmãos Deejer numa obra conjunta notável, notam-se contudo nas tonalidades emocionais de um alinhamento que, distinto do que moldava a visão crítica e ativista de “Shaking The Habitual”, olha mais agora para quem escreve, canta e faz música do que para o mundo ao seu redor e acrescenta um sentido aparentemente mais luminoso às partilhas de ideias e emoções que por aqui passam.
Além de Olof as contribuições da dupla Trent Rzenor /Atticus Ross na produção de dois temas, da DJ e produtora portuguesa Nídia Borges (que muitos certamente descobriram em edições da Príncipe) ou do produtor e compositor de Bristol, Vessel, amplificam o mapa de acontecimentos para além do que poderia ser uma sugestão eventual de segunda vida dos The Knife neste terceiro disco editado como Fever Ray. A linha da frente da criação da canção talhada com ferramentas electrónicas continua a contar, por isso, com Karin Elisabeth Dreijer como um dos talentos do nosso tempo a não perder de vista.
“Radical Romantics”, do projeto Fever Ray, está disponível em LP e CD e também nas plataformas de streaming num lançamento da Rabid.
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