terça-feira, 1 de abril de 2025

Patrick Wolf “The Night Safari”

 Passou por uma etapa difícil. Chegou até a pensar que a música seria uma coisa a fechar no seu passado. Felizmente venceu a difícil travessia de uma década de silêncio e acaba de editar um EP no qual propõe um recomeço, em tudo fiel à sua identidade. 

Quem é Patrick Wolf? Um violetista de sensibilidade rara, mas que gosta de contaminar a sua música com outras fontes de som? Um cantautor que partilha genéticas na música clássica e folk com um óbvio sentido pop? Um esteta à procura de porto, já com anos somados de vida nómada, os últimos quase invisíveis, a justificar os muitos caminhos até aqui experimentados? Em tempos, numa conversa, ele mesmo me contou que era tudo isto ao mesmo tempo. Discretamente revelado em 2003 com “Lycanthropy”, tendo cativado atenções maiores quando, dois anos depois, apresentou em “Wind In The Wires” uma proposta de desafio de formas, cruzando vivências folk e uma formação como violinista com uma demanda pop mais vincada, Patrick Wolf viu-se catapultado para um patamar de atenção maior em 2007, ao ver uma editora maior a integrá-lo no seu catálogo com “The Magic Position”, disco que acentuava um percurso de mergulho em linguagens pop. Agora, anos depois de um longo silêncio que se seguiu ao lançamento de um disco de revisão acústica da obra até então editada (“Sundark and Riverlight”, de 2012), ei-lo que surge a dar contra de toda uma vivência à beira do abismo que protagonizou nessa etapa, confessando que acabou mesmo por cair, somando momentos de questionamento, dependência e da consequente necessidade de fuga e libertação. O tempo passou. E eis que volta a surgir, sem a tempestade de atenções (em clima indie, claro) de outrora, propondo-nos um EP que tem o sabor de um recomeço.

Sem rejeitar a dimensão pop que aprofundara em “The Magic Position” e depois levara mais adiante nos seguintes “The Bachelor” (2009) e “Lupercalia” (2011), Patrick Wolf apresenta neste novo “The Night Safari” um conjunto de magníficas cinco canções pelas quais, mais do que procurar novos destinos, arruma antes, e de forma exemplar, as linhas pelas quais já antes havia demarcado uma identidade. O ponto de contacto mais próximo acaba por ser “Wind In The Wires”, o álbum que assim assume definitivamente uma ideia de ponto de encruzilhada do qual partira então um desafio do qual perdeu o controlo e o norte (tal como recentemente contou em entrevista ao Guardian). Esse era o disco onde, sem pressão nem expectativas maiores, preparava a sua voz e visão para um salto pop… 

Sem que implique esquecer canções belíssimas como “The Bluebells”, “Get Lost” ou o próprio tema-título do álbum de 2007, “The Night Safari” procura agora dar, com outro pulso (e maior tranquilidade) uma ideia de flirt com as linguagens da pop que “The Night Position” então representou. O EP é como uma pequena montra de possibilidades, que ora visitam a exuberância das visões pop (algo barrocas) de Patrick Wolf, ora reduz a luz e intensidade do som a encontros da voz com arranjos mais discretos em canções como “Dodona” ou “Enter The Day”. A sua voz regressa segura e profunda, o gosto pela exploração de timbres menos vulgares e a elaborada visão cenográfica que gosta de pensar para cada canção traduzem um seguro reencontro com os seus melhores momentos. Ou seja, o regresso faz-se sólido e promissor. Agora é esperar pelo passo em frente (acreditando que a proximidade do abismo agora não está mais por ali).

“The Night Safari”, de Patrick Wolf, é um EP disponível em vinil e nas plataformas digitais, num lançamento da Apport.


Patrick Wolf “The Night Sa

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