Os Metallica continuaram na senda do Black Album e começaram a desiludir os fãs mais devotos do seu som inicial. A banda transformou-se num conjunto de rock sulista e houve quem não gostasse…

Se em 1991 os Metallica tinham chegado ao topo da sua carreira, pelo menos no que concerne a discos vendidos e concertos esgotados, não é menos verdade que o seu público começou a mudar. Não mais estavam apenas os indefectíveis do metal nos seus concertos, a tal mancha negra que costuma dominar os concertos deste género musical. Agora também os fãs do rock alternativo e mainstream MTV cantarolavam músicas da banda californiana. A estação de televisão aproveitou para ir buscar alguns sons antigos para vender o tal “peixe” que os Metallica estavam agora a vender. “One” passaria vezes sem conta na MTV como se de uma música nova se tratasse, com a peculiaridade de que o teledisco teria sido feito ainda na fase anti-MTV da banda. No entanto, oito anos após …And Justice For All os Metallica necessitavam do apoio MTV e similares para se tornarem, efectivamente, na maior banda do mundo. O hard rock dos Guns tinha desaparecido. O grunge de Cobain e amigos estava a dar as últimas e o rock andava a perder força a nível de grandes bandas e personalidades. James Hetfield era um dos últimos bastiões da raça.

O caminho começou a ser tratado em 1991 com músicas como “Wherever I May Roam”, “Nothing Else Matters”, “The Unforgiven” ou “Enter Sadman”. A visibilidade que a banda ganhou, juntando às inúmeras sessões de entrevistas, fotografia, concertos e tournées intermináveis fizeram que o sucessor do Black Album demorasse cinco anos para ser lançado. Uma eternidade que custa muito caro a quem quer pertencer no trono durante muito tempo, especialmente quando o público que lhes era mais devoto começou a acusar a banda de Hetfield de se estar a vender ao público pop.

Daí que quando o single “Until It Sleeps” é lançado a 21 de Maio de 1995 tenha deixado os metaleiros em choque. O teledisco, algo parecido com “Heart-Shaped Box” dos Nirvana, era puro MTV. O som, embora agressivo, era muito mais soft do que a banda vinha a fazer. Mas o pior não era isso. O pior era o aspecto dos quatro elementos da banda. Todos tinham cortado o seu cabelo. Que sacrilégio. A banda tinha vendido a sua alma e nem mais interessava ouvir o disco. Estavam perdidos e amaldiçoados para todo o sempre.

Load, e, mais tarde, Reload, hão de sofrer sempre com esta mudança física e musical da banda, aliado ao facto de se ter passado muito tempo entre 1991 e 1996. Uma geração, mais mainstream, que tinha comprado o Black Album, cresceu e abraçou outros estilos e outras bandas que vieram a surgir. Os Metallica ficaram um pouco como entregues ao seu antigo público que também não estava satisfeito com a “ex-namorada” que voltava da cidade, cheia de brilhantes e roupas de marca, nada a ver com a sua juventude simples, e rejeitaram-nos, criticando a banda, forte e feio.

Mas as relações, tal como as bandas, precisam de agitar águas, mudar aqui e ali, não se podem manter imutáveis, e foi isso que os Metallica tentaram fazer com o seu som, imagem e público. Eles queriam ser a maior banda do planeta. Não queriam apenas ser a maior banda de metal. Load não é perfeito mas é um grande disco de rock. Puro e duro. Quantas bandas se podem orgulhar de ter tantos êxitos num “disco fraco”? Um disco que começa com “Ain’t My Bitch”, com bateria e riffs poderosos e Hetfield em grande forma. Passamos por “2 X 4”, “Until It Sleeps”, “King Nothing”. Temos as baladas “Hero of the Day” e “Mama Said”, esta última com Hetfield na guitarra a falar-nos da relação de um jovem com a sua mãe, que nos remete para a sua própria história complicada com a sua própria mãe, que faleceria muito cedo. Uma balada tipicamente sulista.

O disco, que ainda contém mais alguns bons momentos como “Poor Twisted Me” ou “Thorn Within”, peca por ser mais comprido do que devia. Devia ter sido reduzido para 10 músicas ou juntar algumas de Reload e fazer um grande disco de hard rock. Assim como é, torna-se “apenas” mais um bom disco da banda. Certamente melhor do que veio após a passagem da década…