Quantas vezes descobrimos percursos de músicos e já as suas carreiras contam com alguns discos à nossa frente?… Há dois anos, por exemplo, dei por mim a acertar o passo com uma banda de Brooklyn que ia no terceiro passo mas que, naquele momento, chegava aos meus ouvidos com o sabor da descoberta. E que descoberta! Na berlinda estava então “Strange Disciple”, terceiro álbum num percurso que tomava heranças da pop electrónica e de escolas indie dos anos para, num rumo diferente aos das rotas da nostalgia, procurar definir uma identidade que procurava então juntar mais tensão, sombras e significados a uma música que então se destacava, mais do que nos dois álbuns anteriores, dos ecos diretamente herdados da new wave e da pop dos oitentas.
Convenhamos que era natural que esse tivesse sido o seu ponto de partida, até porque a ideia na base do percurso dos Nation Of Language começou a ganhar forma no dia em que Ian Devaney reencontrou uma velha cassete do pai que em tempos fazia a banda sonora das viagens de carro em família. Os OMD, que ali se ouviam, semearam então a genética que, ao convocar Michael Sue-Poi, o conduziu ao núcleo inicial do qual nasceriam os Nation of Language.
Agora seis anos depois de um álbum de estreia ainda profundamente marcado pelos ecos diretos do berço da ideia, os Nation of Language assinam em “Dance Called Memory” um álbum que confirma em pleno os sinais de transição já ensaiados em “Strange Disciple”. Sem perderem as marcas de uma identidade desenhada por um fascínio pelos sons das electrónicas dos oitentas, juntam às canções o discreto músculo de um baixo de escola Joy Division e também guitarras que por vezes emergem com maior evidência, fazendo pontes com heranças de uns My Bloody Valentine (mas com uma corrente de menor amperagem). São mais eles mesmos e não uma soma da música que os ensinou a ser quem são. A voz continua fiel às palavras que sublinham o tom melancólico que cruza o disco, em canções com cenografia mais elaborada e produção mais apurada. Elegância é palavra que se ajuste que nem uma luva a canções como “Silhouette” ou “Inept Apollo”, duas pérolas entre um alinhamento que faz deste um dos mais recomendáveis títulos vindos este ano de terreno indie.
“Dance Called Memory”, dos Nation Of Language, está disponível em LP, CD e Nad plataformas digitais, numa edição da Sub Pop

Sem comentários:
Enviar um comentário