quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Amoral: Crítica de Fallen Leaves & Dead Sparrows (2014)

 



Mesmo estando na ativa desde 1997, há de se admitir que os holofotes voltaram-se para os finlandeses do Amoral apenas em 2008, quando anunciaram que o seu novo vocalista seria Ari Koivunen, o jovem vencedor do programa “Ídolos” em seu pais (e coincidentemente um dos artistas que mais vendeu discos na história da Finlândia). Até aí tudo bem, mas o que realmente chamou a atenção foi como a banda, que até então era praticante de um técnico death/thrash metal em seus três primeiros álbuns, mudou drasticamente o seu som para aquele power metal de formato padrão, causando revolta entre seus seguidores extremos.

Desde então, com Show Your Colors (2009) e Beneath (2011), o Amoral transitou de forma um tanto quanto genérica (mas bem intencionada) entre as escolas finlandesas e alemãs do estilo, sendo massacrado mundo afora por aqueles que julgavam essa nova fase da banda apenas como um bando de moleques tocando músicas questionáveis. E para os menos propícios ao novo rumo da banda, Fallen Leaves & Dead Sparrows pode não agradar completamente. Mas a realidade é que em seu sexto disco, lançado novamente pela Imperial Cassette, o quinteto amadureceu de forma mais do que notável – algo evidente desde os títulos das músicas, até a espetacular arte.

Apesar do sugestivo início a la metalcore americano, bastam alguns segundos para o riff de “On The Other Side Pt. I” dar passagem a um power metal mais gélido, cadenciado e climático. Interessante notar que o Amoral se afasta um pouco da bem humorada personificação germânica do estilo, presente nos dois discos anteriores, ao mesmo tempo em que tenta inserir pequenos detalhes no instrumental com o intuito de não tornar os sete minutos da faixa de abertura uma experiência maçante e interminável como o caminhar sobre uma planície tomada pela neve. Aliado a isso, Koivunen opta por um direcionamento mais contido, limpo e melódico, que se causa certa estranheza no início, termina perfeitamente casado com o tom lírico sério e com a veia mais progressiva e atmosférica da banda no novo trabalho.

No Familiar Faces” pode ter um riff guia meio híbrido entre power metal e melodic death, mas segue bem parecida com a faixa anterior, apenas mais solta e agressiva, uma escalada que atinge o seu ápice na surpreendente “Prolong A Stay”. Alternando entre momentos diretos que beiram o hardcore e outros de puro symphonic metal, o Amoral acerta novamente em não estabelecer limites a sua música, principalmente ao abrir espaço até para os contrastantes blastbeats sob uma sonoridade quase contemplativa, triunfando aonde até muitas bandas extremas perdem a mão.

A balada “Blueprints”, porém, mesmo tendo flerte com o blues e um clima meio setentista, quebra o desenvolvimento do disco de forma brutal, que volta a se recuperar em ritmos ainda lentos e ponderadamente só com “If Not Here, Where?”: uma cadenciada correnteza de mais de nove minutos que atravessa águas ora límpidas e tranquilas o suficiente para observar a paisagem, ora salobras e tempestuosas cortadas por pedras e corredeiras mortais, até a confusão de “The Storm Arrives”, um belo instrumental, mas que parece alongar-se mais do que deveria.

O mesmo ocorre com a balada “See This Through” e o seu código genético savatagiano, mas que se perde em um mar de melodias e timbres cafonas unidos de forma forçada em determinados momentos. É salvo do afogamento apenas por “On The Other Side Pt. II” e a injeção de oxigênio proporcionada pelo equilíbrio entre o prog metal e o melodeath, uma espécie de faixa colaborativa entre o Dream Theater pós-Octavarium e o Amorphis de Tomi Joutsen, ditada por um sentimento épico que se mostra inteligentemente manifestado para encerrar o  álbum.

Há de fato um amadurecimento em Fallen Leaves & Dead Sparrows. Por mais que o Amoral ainda arrisque de forma contida, o fato de darem o primeiro passo para longe da estagnação de seus discos anteriores (e veja bem, isso cabe para a fase death metal também) e tentar um novo direcionamento, novas ideias, é digno de respeito. A criatividade e capacidade de composição dos músicos não é algo que precisava ser colocada à prova, mas se manifesta aqui de forma mais experimental, livre e, principalmente, unindo vários elementos que apareciam apenas de forma dispersa anteriormente.

E são exatamente nestes momentos mais progressivos e dinâmicos que a banda demonstra como evoluiu consideravelmente, deixando para trás a simplicidade e conceitos vazios de outrora para construir uma experiência musical interessante o suficiente para, mais uma vez, talvez impressionar parcela de seus admiradores com algo que não se esperava. Claro, este disco representa apenas o primeiro passo, ainda desequilibrado em certas partes, escorregando em outras – as incompletas “The Storm Arrives” e “See This Through”, principalmente – mas ávido por manter-se em pé enquanto o fluxo passa por ele de forma vertiginosa e cada vez mais violenta. 

Faixas:
1. On The Other Side Pt. I
2. No Familiar Faces
3. Prolong A Stay
4. Blueprints
5. If Not Here, Where
6. The Storm Arrives
7. See This Through
8. On The Other Side Pt. II




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