sábado, 1 de março de 2025

Ave Colosseum, Morituri te Salutant

 Ave Colosseum, Morituri te Salutant

Quando Roma mandava no mundo, os bretões não passavam de bárbaros. Na segunda metade dos anos 60 do século XX, porém, quando a Inglaterra mandava no mundo do rock, um dos maiores símbolos da civilização romana, o Coliseu, serviu de inspiração para alguns bretões oferecerem ao povo o pão da boa música e o circo da performance irresistível. Plateia alguma seria capaz de permanecer indiferente diante do som produzido com sangue e muito talento pelos gladiadores do Colosseum.

Uma banda é uma coleção de pessoas: se juntar as forças certas, você tem um todo muito forte… mas tem que tirar o melhor dessas pessoas e só usar as melhores partes de cada uma. Se tentar fazer com que elas toquem o que não são capazes, você não vai a lugar algum… o Colosseum é uma coleção de forças…

O autor das palavras acima é Jon Hiseman, e ele sabe muito bem do que está falando porque frequentou duas das mais importantes escolas de liderança do rock inglês nos anos sessenta: a de Graham Bond e a de John Mayall.

Hiseman nasceu Philip John em 1944 no distrito londrino de Woolwich. Estudou piano e violino quando criança e foi descobrir que amava a bateria no começo de sua adolescência. Seu gosto pelo jazz já se manifestava nessa época e dos 13 aos 15 anos, junto com seus amigos Dave Greenslade ao piano e Tony Reeves no baixo, formou um trio que ganhava todos os concursos patrocinados pela igreja metodista local.

Nos primeiros anos da década de 60, os três já tocam semiprofissionalmente em várias bandas de rhythm’n’blues e de jazz londrinas, como o The Wes Minster Five e o The New Jazz Orchestra. Em 1964, Greenslade já é um dos Thunderbirds de Chris Farlowe.

The New Jazz Orchestra era uma espécie de big band onde Jon Hiseman tocava bateria bem o suficiente para que, em um ensaio, chamasse a atenção de Graham Bond, que procurava justamente um substituto para a saída de ninguém menos que Ginger Baker da sua Organisation. Estamos entre 65 e 66 e Baker e Jack Bruce haviam abandonado Graham Bond para formar o Cream junto com Eric Clapton. Neste meio tempo, Tony Reeves já dava seus primeiros passos na produção de discos, trabalhando para a Decca e depois para o selo Pye.

Hiseman toca um ano com a Organisation, época em que estreita a amizade com o saxofonista Dick Heckstall-Smith, que entrou para a banda anos antes no lugar de John McLaughlin. Ao sair e depois de passar quatro meses tocando com Georgie Fame, Hiseman recebe um telefonema de Graham Bond dizendo que foi deixado na mão por seu baterista e que precisava de seus serviços para uma apresentação no lendário Klook’s Kleek. Na noite do show, quem estava na plateia era John Mayall, que ficou impressionado com a performance do baterista. Algumas noites depois, ao voltar para casa após um show com a banda de Georgie Fame, Jon encontrou Mayall à sua espera na porta de sua casa. Naquela noite ele se tornaria membro dos Bluesbreakers (no lugar de Keef Hartley), cuja nova formação contava com seus colegas Heckstall-Smith e Tony Reeves.

Estamos na segunda metade de 1967 e esta seria a última formação dos Bluesbrakers de John Mayall: Hiseman na bateria, Reeves no baixo, Heckstall-Smith, Chris Mercer e Henry Lowther nos metais e violino, Mick Taylor (substituindo Peter Green) na guitarra e Mayall nos vocais, harmônica, teclados e guitarra. Em abril de 1968 a banda entra em estúdio para a gravação do álbum Bare Wires que, entre outras façanhas, seria o primeiro álbum de John Mayall a fazer sucesso nos Estados Unidos.

Hiseman diz que foi logo após o lançamento do álbum, enquanto Mayall estava em férias nos EUA e o resto da banda aproveitava suas 3 semanas de folga, que ele começou a desenhar o que viria a ser o Colosseum. Ele já havia conversado algumas vezes com Heckstall-Smith e para eles a banda ideal teria que ter membros cuja identidade musical agregasse força ao conjunto. Nada de músicos drogados ou do tipo disperso ou de passagem. Quando a folga acabou, Hiseman fala da nova banda com Reeves, Heckstall-Smith e Dave Greenslade (que por essa época estava no grupo The Remo Four). E como Londres tinha uma acústica natural para propagar fofocas, quando Mayall voltou de férias já sabia que seu baterista estava deixando a banda e levando boa parte dela consigo.

VENI

Formar uma banda na Londres de 1968 era quase tão corriqueiro quanto o chá das cinco. Mas uma cidade que havia fornecido o contingente para a famosa British Invasion – e que vivia ainda em plena revolução sonora e de costumes da Swinging London – já não se impressionava com qualquer coisa que surgisse. Hiseman e Heckstall-Smith eram músicos de reconhecido gabarito e a princípio tinham planos de levar adiante aquela mistura de rock, jazz e blues que eles aprenderam a gostar na passagem pela banda de Graham Bond, mas já intuindo o fusion e acrescentando algo a mais: a música clássica.

Com Greenslade nos teclados e Reeves no baixo, faltava ainda um guitarrista e o primeiro a ser adotado foi Jim Roche. Isso não impediu, porém, que a banda colocasse um anúncio no Melody Maker procurando músicos para a vaga. Poucas semanas depois já haviam trocado Roche pelo novato James “Butty” Litherland, que daria conta também dos vocais.

O Colosseum seria conhecido como uma das bandas que mais tocaram ao vivo em toda a história do rock. Foram três anos de excursões e apresentações praticamente  ininterruptas, muitas vezes gravando seus álbuns de dia e se apresentando à noite. Sua estréia ao vivo aconteceu em Newcastle e logo chamou a atenção de John Peel que agendou uma apresentação da banda no seu programa Top Gear, na BBC Radio One.

O sucesso foi tanto que os críticos saíram espalhando elogios pela mídia e não demorou quase nada para que o selo Fontana acenasse para eles um contrato para a gravação de seu primeiro LP.

Those Who Are About to Die Salute You

Those Who Are About To Die Salute You foi lançado em março de 1969 e alcançou a 15ª colocação na parada inglesa. Nesta estréia, Hiseman e Heckstall-Smith prestam seu tributo a Graham Bond através da fantástica versão de “Walking in the Park”. Mas é em “Beware the Ides of March” que a banda apresenta o cartão de visitas, com seu fusion de jazz-blues-rock-clássico alcançando altos graus de energia e já prenunciando o som progressivo que iria ser a marca do rock nos primeiros anos da década de 70.

VIDI

Com a agenda de shows começando a lotar e a babação de ovo dos críticos virando lugar comum, a banda recebe novamente um convite da BBC, desta vez para ser uma das atrações do seu programa Super Sessions, ao lado de Led Zeppelin, Modern Jazz Quintet, Jack Bruce, Eric Clapton, Stephen Stills, Juicy Lucy e Roland Kirk Quartet. Numa jogada ousada e premonitória, eles decidem mudar de selo e aceitar o convite da Philips para serem o carro chefe do seu novo selo Vertigo, dedicado aos grupos que estavam surgindo no novo cenário do rock, já batizado de progressivo.

Valentyne Suite

Valentyne Suite, o novo álbum do Colosseum, recebeu a numeração VO 1 e foi o primeiro LP a ser lançado pela Vertigo, em novembro de 1969. Para muitos é a obra-prima do grupo e isso se deve, principalmente, à faixa homônima que ocupa todo o lado 2 e onde Hiseman, Greenslade e Heckstall-Smith simplesmente arrasam: o primeiro mostrando que a bateria já tinha registrado em cartório o estilo Hiseman de tocar, o segundo apresentando suas credenciais de grande rival de Keith Emerson na época e o terceiro fazendo o ouvinte jurar que John Coltrane estava vivo e morando dentro do seu saxofone. Em seu lançamento, Valentyne Suite também repetiu o sucesso do álbum de estreia, chegando à 15ª posição nas paradas.

O Colosseum neste momento excursionava por toda a Europa e se viu diante de um problema quando James Litherland resolveu sair da banda (formaria a seguir o Mogul Trash). Eles não estavam perdendo apenas um guitarrista, mas também um vocalista afinado com a proposta do grupo. A solução foi convencer Dave “Clem” Clempson a abandonar o Bakerloo (o que acabou definitivamente com este fantástico power-trio inglês) e juntar seu talento ao Colosseum.

Capa de The Grass is Grenner lançado nos EUA

Com esta formação é lançado o terceiro álbum do grupo, The Grass is Greener, mas apenas nos Estados Unidos e com características muito peculiares: a capa é a mesma do Valentyne Suite, variando um pouco a coloração; o conteúdo do álbum é uma espécie de híbrido, pois traz apenas duas músicas novas e diferentes versões de músicas já gravadas. James Litherland aparece ainda nos créditos já que é dele os vocais na canção “Elegy”, mas o cantor mesmo é Clem Clempson que, apesar de ser um magnífico guitarrista, demonstra não ter voz suficiente para segurar uma banda de tamanho quilate.

Enquanto isso, na Europa, Tony Reeves decide abandonar a loucura diária que é o Colosseum para se dedicar à produção de discos. Hiseman então recrutou Louis Cennamo para assumir a banda e um mês depois o substituiu por Mark Clarke. Clarke ainda era um novato e segundo Hiseman afirmou em uma entrevista anos mais tarde (e em tom de brincadeira) “tinha uma bela voz, mas ainda não sabia disso”. Ciente de que Clem Clempson deveria se dedicar apenas à guitarra e fazer as vezes de segunda voz, Greenslade procurou Hiseman e comunicou que Chris Farlowe estava disponível no mercado. A amizade de Greenslade com Farlowe já vinha da época dos Tunderbirds e isso facilitou e muito a vinda desse superstar para assumir os vocais do Colosseum.

VICI

Cennamo, Clarke, Clempson, Farlowe, Greenslade, Heckstall-Smith, Hiseman e a saxofonista Barbara Thompson (esposa do baterista), todos eles aparecem na ficha técnica do quarto LP do Colosseum, lançado pela Vertigo em dezembro de 1970. Daughter of Time apresenta uma banda muito mais pesada, consistente e com todos os atributos para assumir finalmente a sua condição de super grupo, transformando prestígio em cifras gigantescas por toda a Europa.

Daughter of Time

Depois de nove meses encabeçando festivais na Inglaterra, Itália, Alemanha e Escandinávia, a banda planeja gravar algumas apresentações para o lançamento de um álbum ao vivo. Hiseman havia gostado tanto de uma apresentação que a banda fizera na Universidade de Manchester que resolve marcar um show gratuito no mesmo local no dia 18 de março e gravá-lo para o disco. Um outro show gravado teve lugar no Big Apple de Brighton no dia 27. Colosseum Live marca a estréia da banda no recém criado selo Bronze e saiu como álbum duplo em setembro de 1971. É tido por muitos como um dos maiores discos ao vivo da história do rock, uma verdadeira aula de uma banda capturada no auge de sua existência.

Colosseum Live

Para surpresa geral, entretanto, essa banda no auge da carreira resolve encerrar suas atividades no final daquele ano, logo após a saída de Clem Clempson para substituir Peter Frampton no Humble Pie. Segundo Hiseman, depois da gravação do álbum Live, eles sentiam que não poderiam mais evoluir e não seria interessante para ninguém continuar repetindo aquilo que já fizeram. Precipitada ou não, a decisão de encerrar com o Colosseum reflete também uma mudança no cenário musical da época, onde uma banda com sonoridade tão sofisticada começava a perceber que seu espaço (e o seu público) seria em breve ocupado por grupos com apelo mais pop e shows super produzidos.

Após a separação, Dave Greenslade e Tony Reeves formaram o Greenslade; Chris Farlowe partiu para o Atomic Rooster; Dick Heckstall-Smith preferiu seguir carreira solo; Mark Clarke deu uma passadinha pelo Uriah Heep, mas logo juntou-se a Jon Hiseman na formação do Tempest; e o selo Bronze, que provavelmente achou que tinha ouro nas mãos quando assinou com o Colosseum, não perdeu tempo em colocar na praça a coletânea Collectors Colosseum, com algum material inédito junto com os clássicos da banda.

The Collector’s Colosseum

Em 1975, Hiseman ainda formaria o Colosseum II juntamente com o guitarrista Gary Moore. Apesar do nome, a idéia não era resgatar a antiga banda, uma vez que foi batizada originalmente de Ghosts, e Colosseum II surgiu por uma exigência de Gerry Bron para empresariar a banda. O Colosseum, mesmo, só ressurgiria em 1994, mas isso já é uma outra história.



Discografias Comentadas: My Chemical Romance

 

Discografias Comentadas: My Chemical Romance

O cenário do rock por vezes se mostra uma grande contradição de si mesmo. Ao estilo, herdeiro do canto de dor dos escravos nas plantações de algodão americanas no início do século passado, coube nascer e “amadurecer” por muito tempo relegado ao caráter marginal. De suas mais variadas vertentes, separadas cronológica e ideológicamente, do “Flower Power” da Psicodelia e da libertação sexual do Glam Rock, ao imediatismo anárquico do Punk, das blasfêmias do Black Metal ou apenas da necessidade de diversão pura e simples do Hard Rock “farofa” oitentista, há um grande ponto comum que é a representação de grupos excluídos. Eles precisavam ser ouvidos e faziam da música a sua voz para transformar a sociedade. Esse é o conceito do Rock desde a sua gênese e, por mais que a arte venha seguindo caminhos cada vez mais mercantilistas, sua essência se mantém.

b4b7474ecce20c482d78e405a31ad9e8Todavia, constantemente presenciamos inversões desse conceito, quando oprimidos viram, injustificadamente, opressores. Há uma inexplicável “rivalidade” entre [sub]gêneros, permeada por críticas e ataques que depreciam artistas que, muitas vezes, abordam os mesmos temas apenas de formas diferentes. E, não, isso não é algo novo. Em alguns casos, fala-se de ideologia, como o Black Metal e suas “regras” para ser um “TRUE” (sic) representante do estilo. Noutros, aborda-se técnica (a exemplo das inúmeras tretas entre representantes do Thrash Metal e do Rock Progressivo). Contudo, o que acaba pesando mais como argumento em boa parte dos casos, é o direcionamento comercial que determinado estilo emprega.

O foco no mercado, visto por muitos como um verdadeiro demônio (o que, convenhamos, não faz o menor sentido), é argumento padrão para muitos puristas que procuram reduzir a importância de determinado grupo ou estilo. Muito sofreram com isso, por exemplo, os grupos de Glam/Hair Metal, recebendo a alcunha (utilizada acima) de “rock farofa”. Tudo bem, nessa fase, boa parte do direcionamento musical era determinado pelas gravadoras, muitas vezes exaltando o visual em detrimento à própria música. Entretanto, esse preconceito cria barreiras que apelam a uma generalização preguiçosa, impedindo que se busque conhecer e, filtrando, separar grupos e artistas extremamente relevantes ao cenário musical como um todo.

Um ótimo exemplo dessa carnificina é o Bon Jovi, grupo constituído por músicos virtuosos (muitas bandas aclamadas pela crítica dariam tudo por um Ritchie Sambora), que conseguiu aliar excelentes composições com aceitação ímpar de mercado, fazendo um som comercial e, ao mesmo tempo, se permitindo ser autêntico e, em alguns momentos, até mesmo intimista, e que é largamente tomando como referência de “farofa de baixo nível”. Se há um infeliz fato nisso tudo, é que grande parte dos detratores não chegou a sequer ouvir além das músicas mais conhecidas e, mesmo gostando, se esconde sob o véu do “eu gosto, mas tenho vergonha de admitir” sem mesmo procurar ver alguma lógica nessa vergonha de admitir que gosta (se gosta, deve ter um motivo, não?).

Trazendo, agora, a questão para um cenário atual, dentre os vários exemplos que podem ser citados, talvez o My Chemical Romance seja um dos que tenham mais evidência. O grupo, formado de 2001 pelo vocalista Gerard Way, é dos maiores expoentes do chamado “Emocore”, uma variante do Hardcore Punk, caracterizada pela expressividade de sentimentos contida nas composições e na interpretação por parte dos músicos, em especial o “vocal de choro” (como alguns costumam chamar). Os grupos integrantes do estilo, em geral, são ridicularizados por abordarem temáticas ditas excessivamente sentimentalóides, como as angústias e lamúrias adolescentes, tendo isso reforçado justamente pelo grande sucesso comercial que faz por conta de ter um público de alcance, em sua predominância, extremamente jovem.

Isso, reforçado pelo estigma do “produto comercial”, afasta muitos antes mesmo de uma primeira audição (ou de uma atenção mais profunda além das músicas mais populares). Segue abaixo uma análise da curta discografia da banda que, recentemente, anunciou o encerramento de suas atividades, deixando apenas quatro discos que, ao todo, compõem uma ótima, elaborada  e subestimada experiência musical.


I_Brought_You_My_Bullets,_You_Brought_Me_Your_Love_coverI Brought You My Bullets You Brought Me Your Love [2002] 

Lançado cerca de um ano após a fundação do grupo, o primeiro trabalho (chamado pelos fãs apenas de “Bullets”) é um álbum conceitual, marcante por mostrar uma linha de composição que seguiria nos trabalhos seguintes, onde cada disco conta uma história que se complementa com a anterior. Nas onze faixas, conhecemos os “Amantes Demolidores”, um casal de criminosos, bem como a trilha de crimes deixada por eles e seus conflitos internos, culminando em um fim trágico. A estória inicia com “Romance”, uma breve faixa com arranjos retirados de uma antiga canção espanhola chamada “Romance de Amor”, dando um aspecto que remete a trilhas ambientais de filmes antigos, criando uma atmosfera serena e, ao mesmo tempo, sombria nesse prelúdio que é cortado abruptamente pelos riffs de “Honey, This Mirror Isn’t Big Enough For The Two Of Us” e a seguinte “Vampires Will Never Hurt You”, as canções apresentação dos conflituosos personagens principais. Indo em frente, talvez “Our Lady of Sorrows” seja, em termos de sonoridade, a que mais sintetize a proposta do disco, apresentando uma bizarra e oportuna combinação de Metal e Punk, com a bateria rápida de Hardcore e o vocal “gritado” de Way embalado pelo som pesado das guitarras. O disco, aliás, é o mais pesado do grupo. Quanto às composições, é notável o empenho de Way em construir uma narrativa coesa e ampla, não só com a trama contada, mas também com o contexto em que se inserem. “Skylines And Turnstiles”, por exemplo, abordam os atentados de 11 de Setembro nos EUA, presenciados por Way que, à ocasião, era cartunista em Nova York. Segundo o mesmo declarou posteriormente, o episódio contribuiu para a elaboração do clima sombrio que o mesmo tentou imprimir à obra. O disco encerra com “Demolition Lovers“, um resumo do trajeto dos dois amantes que, separados, tentam suicidar-se, mas antes morrem num tiroteio em pleno deserto. Ao abordar a trajetória dos dois e versar sobre um amor capaz de vencer a própria, deixa um gancho ao disco seguinte, Three Cheers of Sweet Revenge, um álbum também conceitual que conta a trajetória do rapaz que recebeu uma chance de voltar do purgatório para uma missão na Terra em troca de poder reviver sua amada.


Three_Cheers_for_Sweet_RevengeThree Cheers for Sweet Revenge [2004] 

Apesar do primeiro trabalho do grupo ter obtido certo êxito, foi com Three Cheers for Sweet Revenge que conseguiram maior visibilidade. Apesar de não abordar uma trama contínua, como o anterior I Brought You My Bullets You Brought Me Your Love, possui em suas letras a temática comum à perda em suas diversas formas, como morte, abandono familiar, fim de relacionamentos e até abuso de drogas. Há quem diga que foram experiências pessoais de Way que inspiraram cada composição, como “The Jetset Life Is Gonna Kill You” (especula-se que ele estava tendo problemas graves com cocaína e álcool já àquela altura da carreira), apesar do mesmo só ter reconhecido que “Helena” (a canção de maior sucesso do grupo) fora escrita para sua falecida avó Elena, além da referência ao cantor Morrissey num trecho de “Thank You for the Venom” (“Sister, I’m not much a poet, but a criminal” – no caso, remetendo à canção “Sister, I’m a Poet” do cantor inglês). Sonoramente, assemelha-se muito aoBullets, apesar do ritmo mais cadenciado em canções como “The Ghost of You“, e de alguns experimentalismos, como a introdução de “Hang ‘Em High”. Apesar de ainda manter o peso em alguns riffs (“Thank You for the Venom” e “It’s Not a Fashion Statement, It’s a Deathwish“), já não soa mais tão Metal quanto seu antecessor. Essa similaridade, talvez, pode ser vista como proposital, uma vez que a faixa que encerra o álbum, “I Never Told You What I Do For a Living”, finda também o ciclo aberto em “Demolition Lovers”, do disco anterior, mostrando como os amantes finalmente morreram e, depois, vingaram seus algozes (ao fim da estória, descobrimos que ele teria de voltar à Terra para matar “mil homens maus” para que a alma dela pudesse ter paz). A partir do disco seguinte, tanto o conceito da trama como o som do grupo mudaria.


The_Black_ParadeThe Black Parade [2006] 

Lançado dois anos após seu antecessor,The Black Parade foi o maior êxito comercial do My Chemical Romance, tendo vendido (até agora) aproximadamente 6 milhões de cópias, além de ter emplacado os topos das principais paradas musicais pelo mundo. Além disso, é comumente tido como o melhor trabalho do grupo. À parte de números e críticas, é, certamente, o disco mais bem trabalhado em todos os aspectos, das composições à musicalidade em si. Mais uma vez, Way cria uma peça conceitual, dessa vez assumidamente baseada em experiências pessoais. A trama gira em torno do “Paciente”, um personagem sem nome que sofre com um câncer terminal. Novamente, temos questões como a dor da perda, abandono, conflito de gerações e a angústia da proximidade da morte, só que vistas, agora, pelo prisma das recordações. O título do álbum, segundo Way, remete a uma experiência marcante da relação com seu pai, quando ele o levou, ainda bem jovem, para ver um desfile de banda marcial. Ele acredita que a morte se manifesta como sendo a lembrança mais forte e marcante de alguém e, portanto, esse fato serviu como inspiração para o título. Musicalmente, é, como dito acima, o mais elaborado. Sai a mistura Punk e Metal e entra um ar mais Hard Rock (vide “House of Wolves“) e New Metal, ainda com guitarras pesadas, mas sem a velocidade e com alguns solos (como na balada “I Don’t Love You“). O mesmo para as baterias que, com menos velocidade, pouco soam Hardcore como nos anteriores. Há espaço até para uma música onde o vocal de Way é acompanhado apenas pelo piano (“Cancer”). Inclusive, a performance vocal de Gerard se mostra mais contida, com bem menos gritos, sem perder, entretanto, seu timbre melódico (aqui, ainda mais forte). O disco possui um tom operístico desde a sua introdução com “The End” e o soar de aparelhos de UTI, violinos e uma série de arranjos elaborados culminando na pegada Punk de “Dead!”. A faixa título, “Welcome to the Black Parade“, é talvez a melhor música da carreira do grupo, onde, tanto nas letras quanto na orquestra da guitarra, percebe-se a tentativa de montar uma ópera rock. Way declarou que inspirou-se em A Night at the Opera, do Queen, sendo esta a homenagem mais próxima que ele poderia vir a fazer de “Bohemian Rhapsody”. Possui uma faixa ocultada no encarte e no verso do disco, chamada “Blood”. Em “Mama” (música com forte influência Glam), há participação de Liza Minelli). Dentre as edições especiais, há uma tiragem limitada de 2.500 cópias em vinil, que acompanhava um pequeno livreto com curiosidades sobre a produção e algumas análises sobre cada música.


Danger_Days_-_The_True_Lives_of_the_Fabulous_KilljoysDanger Days: The True Lives of the Fabulous Killjoys [2010]

Aqui, os temas existencialistas tratados de forma sombria e até pesada nos discos anteriores dá lugar a uma nova narrativa conceitual, agora, com uma mensagem ambiental. Versando sobre os quatro “Killjoys”, figuras de uma mitologia particularmente criada para o disco, representados cada um por um membro do grupo, sendo estes: Party Poison (Gerard Way), Jet Star (Ray Toro), Fun Ghoul (Frank Iero) e Kobra Kid (Mikey Way). Eles lutam contra uma corporação maligna chamada “Better Living Industries”, num futuro não muito distante (2019). Os quatro “guerreiros” têm como guia e guru espiritual um DJ de uma rádio pirata chamado de Dr. Death Defying. A sinopse é esta, mesmo. Apesar de ter sido de imediato aclamado por crítica e público, tendo vendido mais de 2 milhões de cópias em menos de três meses do seu lançamento (em alguns países, como o Brasil, chegou a passar semanas esgotado nas lojas tamanha demanda), é o trabalho que menos me agrada. As músicas continuam bem escritas, mas a temática mudou consideravelmente, o que causa certo estranhamento a quem esperava algo na linha dos trabalhos anteriores. A musicalidade, então, está ainda mais distante, com canções mais suaves, carregadas em efeitos de mixagem, e guitarras simplistas típicas do New Metal, chegando a soar até mesmo Pop e Techno, como em “Planetary (GO!)” e “The Only Hope For Me Is You“. Não há nada que lembre muito o clima sombrio de outrora e isso, apesar do estranhamento, não desagradou à maioria dos fãs. Talvez o intervalo maior de produção tenha influenciado (os anteriores foram lançados com menos de dois anos de intervalo, enquanto esse demorou quase cinco). Os singles de destaque são “Na Na Na (Na Na Na Na Na Na Na Na Na)” e a balada “Sing“, ambas bem interessantes e com ótimo desempenho nas paradas. Ademais, não há canções tão marcantes ou que tragam algo de novo.


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Em março de 2013, o grupo, por meio de comunicado em seu site oficial, anunciou o encerramento de suas atividades. Não foi apresentada nenhuma justificativa para tal, apenas o pequeno texto que segue transcrito já traduzido abaixo:

“Estar nesta banda nos últimos 12 anos têm sido uma verdadeira benção. Pudemos ir a lugares que nunca pensaríamos ir. Nós fomos capazes de ver e experimentar coisas que nunca imaginávamos ser possíveis. Nós temos compartilhado o palco com pessoas que nós admiramos, pessoas que respeitamos, e acima de tudo, os nossos amigos. E agora, tal como todas as coisas grandes, chegou o tempo para acabar. Muito obrigado pelo apoio e por serem parte da aventura.

My Chemical Romance”

Apesar do fim prematuro (e que, espero, não seja definitivo), o grupo marcou sua breve existência com quatro ótimos discos que têm muito a apresentar além do que muitos dizem. Claro que ninguém tem a obrigação de gostar, mas devem, no mínimo, ouvir antes de qualquer julgamento baseado em preconceitos costumeiros.

Discografias Comentadas: Los Hermanos

Discografias Comentadas: Los Hermanos

Surgido no final dos anos 90, mais precisamente em 1997, no meio de um turbilhão de músicas sem o mínimo conteúdo musical e totalmente apelativas, como É O Tchan, Arakêtu e Terra Samba, o grupo carioca Los Hermanos conquistou uma geração de fãs como sucesso “Anna Julia”. Porém, o então quinteto renegou a fama, e partiu para novos rumos. Como um quarteto, abandonaram a fama de “Anna Julia” e revolucionaram o rock nacional na década passada, misturando ao estilo toques de samba, jazz, blues e chorinho, e consagrando uma das mais fortes formações da música nacional, com Marcelo Camelo (guitarras, baixo, vocais), Rodrigo Barba (guitarra, baixo, vocais), Bruno Medina (teclados) e Rodrigo Barba (bateria).

São quatro álbuns de estúdio, que conquistaram uma enorme legião de seguidores. Vamos à eles.


Los_Hermanos_1999_Los_HermanosLos Hermanos [1999]

O disco que lançou o grupo ao Brasil é uma paulada, e não deve ser menosprezado pelas suas duas músicas mais conhecidas. Com letras totalmente voltadas para relações amorosas (fracassadas ou não), e ainda contando com o baixista Patrick Laplan, é um álbum bastante pesado, misturando ska com hard rock, em faixas como “Tenha Dó”, “Descoberta”, “Outro Alguém” e “Lágrimas Sofridas”. Outra mistura interessante é a marchinha de carnaval/hard rock de “Pierrot“, que se tornou um dos grandes sucessos dos fãs eternos da banda, e o cantar embriagado de Rodrigo Amarante é revelado em “Quem Sabe”, outra que se tornou um clássico. Amarante e responsável também pelos vocais da oitentista “Onze Dias”. “Vai Embora” é pesadíssima, mas com uma interessante passagem jazzística. “Aline” e “Azedume” não misturam estilos, apenas o melhor do hard rock, colocando a casa para quebrar com uma roda punk de tirar o fôlego. Roger (Ultraje a Rigor) participa fazendo os vocais da ótima “Bárbara“, e “Sem Ter Você” é a única a passar despercebida. Há ainda “Primavera”, uma canção que em nada representa a potência de Los Hermanos, e que podia muito bem ter ficado de fora, e a clássica “Anna Julia”, com clipe tendo a participação da novata Mariana Ximenes e estourando mundialmente, levando inclusive a fazer George Harrison, Ian Paice, Jim Capaldi e Paul Weller registrarem uma versão britânica para a mesma. Apesar de ser um álbum muito pesado, cercado de lindos arranjos de metais, que eram o diferencial do Los Hermanos em comparação com outros da época, como LS Jack e P. O. Box, o disco ficou marcado mesmo por “Anna Julia”. Tudo que era programa de TV, evento de igreja, rodeio e até mesmo festa de criança tinha a bendita canção sendo cantada pelo Los Hermanos. O sucesso foi enorme, e em menos de seis meses o hit figurava na primeira posição das principais rádios do país, com o álbum vendendo 300 mil cópias e com o grupo lotando estádios pelo Brasil, mas agitando as 80 mil pessoas com um único hit. “Anna Julia” inclusive levou o grupo a indicação de melhor álbum no Grammy de 2000 e, na entrega do Prêmio Multishow de 2000 para o Los Hermanos, pagou seu mico, com Camelo afirmando que jamais poderia ter ganho aquele prêmio na mesma categoria que Chico Buarque estava concorrendo, mostrando todo o descontentamento do grupo com o sucesso da canção.

O desgaste começou a bater, e logo se viu que ou a banda mudava de atitude ou iria fechar as portas como outras. Laplan chuta o balde, alegando divergências musicais, e vai trabalhar com o ex-vocalista dos Raimundos, Rodolfo, no projeto Rodox, fundando posteriormente o Eskimo. Amarante assume o baixo (com Camelo também participando vez ou outra no instrumento) e então decidem se trancar em um sítio na cidade de Petrópolis, onde começam a conceber o segundo álbum.

Rodrigo Amarante, Marcelo Camelo, Rodrigo Barba e Bruno Medina (em pé); Patrick Laplan (agachado)
Rodrigo Amarante, Marcelo Camelo, Rodrigo Barba e Bruno Medina (em pé); Patrick Laplan (agachado)

 


los_hermanos-bloco_do_eu_sozinhoBloco do Eu Sozinho [2001]

Como uma das atrações nacionais principais do Rock in Rio III, em 2001, o novo Los Hermanos mostra uma nova postura, diminuindo o ritmo e investindo nas composições e arranjos, o que é comprovado no excelente Bloco do Eu Sozinho. A tiragem inicial trazia o encarte todo feito com papel reciclado, e hoje é catada a tapas e puxões de cabelo nos sebos. As canções pesadas são poucas, ficando a cargo de “Todo Carnaval Tem Seu Fim”, mais um clássico na carreira do grupo, “A Flor“, duelo vocal entre Amarante e Camelo, e que ficou de fora do primeiro disco para dar lugar a “Anna Julia”, “Deixa Estar” e “Tão Sozinho“, outra que foi abandonada no resultado final de Los Hermanos. As demais canções são experimentações sonoras que revelam como o agora quarteto carioca pensava além do que era possível se imaginar, criando novas formas de composição, inspiradas no sambam reggae, rock e diversos outros estilos, além de letras com mais conteúdo do que apenas as separações amorosas, apesar disso aparecer na linda balada “Sentimental” e na emocionante “Veja Bem Meu Bem“, uma das melhores letras do grupo. Amarante canta em francês na complicada “Cher Antoine”, um jazz rock empolgante, e faz a separação do cordão umbilical hard rock através de “Retrato pra Iaiá”, a canção que fez o grupo amadurecer e sair do cordão umbilical de letras ingênuas e velocidade descomunal, aplicando uma mistura de samba, reggae e ska. “Assim Será” apresenta leves pitadas de samba, junto com o samba-choro de “Cadê Teu Suín?” possui outra letra maravilhosa, fazendo se destacar o que alguns chamam de genialidade para Camelo, apesar de eu discordar disso. Ainda temos a valsa de “Mais Uma Canção”, o sucesso “Fingi Na Hora Rir”, a ótima participação de Barba em “Casa Pré-Fabricada” e a balada “Adeus Você”, que encerra o álbum com um belo arranjo de metais. O disco não vendeu tanto quanto o primeiro, mas foi importante, pois acabou fazendo com que a banda ganhasse fãs reais e não fãs de uma canção, levando o grupo a tocar em locais menores, mas com muito mais retorno da plateia.

Em 2002, o DVD Luau MTV, com versões acústicas para algumas músicas dos dois primeiros discos, chegou às lojas, e começa a surgir o mito Los Hermanos, com fãs divulgando a banda através do boca-a-boca, opondo-se a participação na imprensa e crescendo cada vez mais o número de admiradores pelo país.


117060648_1GGVentura [2003]

Por motivos até hoje inexplicáveis, esse álbum estourou na internet antes mesmo do lançamento oficial, com o nome de Bonança. A expectativa ficou lá em cima, pois a qualidade do que “vazou” era enorme. A banda fez algumas pequenas alterações nas músicas e na ordem das canções e lançou, em 2003, o magnífico Ventura, para muitos, o melhor disco da banda. É a partir dele que Amarante e Camelo passam a dividir democraticamente as letras e as vozes das canções, e mostra um crescimento individual de cada membro do quarteto. Várias tornaram-se clássico, com destaque para “O Vencedor”, “Além do Que Se Vê”, abrindo espaço para o coral de vozes dos fãs cantarem pelo país, “Cara Estranho” e seu crescendo destruidor, “Um Par” e “Último Romance”, as duas cantadas por Amarante, sendo “Último Romance” uma das melhores faixas dos cariocas. Amarante é o grande nome do álbum, assumindo a guitarra e fazendo interpretações assombrosas em “Do Sétimo Andar” e “Deixa o Verão”, mas Camelo não fica atrás, tocando os fãs com um lado sentimental, através de “A Outra”, “Do Lado de Dentro” e “De Onde Vem a Calma“, outra pertencente ao hall de melhores canções do grupo. Há espaço para o samba de “Samba a Dois”, o clima viajante de “O Velho e O Moço”, o peso de “O Pouco Que Sobrou” e simplicidade de “Tá Bom” e “Conversa de Botas Batidas”, todas eternizadas nos diversos shows que o grupo fez pelo país, inclusive próximo a minha cidade natal, em Pelotas, quando conferi o quarteto pela primeira vez ao vivo, em um show inesquecível no Teatro Guarani lotado.

A turnê de Ventura contou com shows na Europa (Portugal e Espanha), e foi registrada no DVD Ao Vivo no Cine Íris, lançado em 2005. Foi nela também que Gabriel Bubu, Valtecir Bubu, Mauro Zacharias e Marcelo Costa cravaram sua espada como membros do baixo e do naipe de metais respectivamente. Com o crescimento da internet, surgem diversas comunidades e blogs dedicadas exclusivamente para o grupo. Ao mesmo tempo, Camelo consolida-se como compositor, tendo três músicas gravadas por Maria Rita em seu álbum homônimo: “Santa Chuva”, “Cara Valente” e a citada “Veja Bem Meu Bem”.


los-hermanos-44 [2005]

Após Camelo envolver-se em uma briga com o falecido Chorão (ex-Charlie Brown Jr.), que levou o vocalista santista a agredir covardemente Camelo no aeroporto de Fortaleza, chega às lojas 4, O DISCO do quarteto, mantendo a homogeneidade deVentura, alternando músicas mais trabalhadas com temas simples, porém com um elo muito forte à MPB, destacando bastante os metais e sendo a despedida essencial para os fãs. O álbum é considerado arrastado e depressivo, por conta de suas canções de abertura, a linda “Dois Barcos“, cantada arrasadoramente por Camelo, “Primeiro Andar”, essa com os vocais de Amarante e um interessante riff de guitarras, e a bossa-psicodélica “Fez-se Mar”, uma mistura de Elis Regina e Tom Jobim na melodia vocal de Camelo e nos acordes do violão. “Os Pássaros”, cantada por Amarante, chega a causa arrepios, tamanha a agonia e sofrimento expressas pela canção. “Morena” faz Camelo revisitar João Gilberto em um ótimo samba-choro, e “Sapato Novo“, com João Moraes no xilofone, tem sua pegada típica de Chico Buarque. Por outro lado, a latina “Paquetá” destoa bastante do clima denso do álbum, assim como “O Vento”, que inclusive foi tema de abertura do programa Malhação da TV Globo, e a barulheira infernal de “Condicional”. “Horizonte Distante” é uma das mais intrincadas peças do grupo, falando sobre disco voador e com Medina criando uma atmosfera muito sombria para os vocais de Camelo. “Pois É” tornou-se uma das favoritas dos fãs, com um clima bem leve, e “É De Lágrima” mantém a tradição de encerrar os álbuns do grupo com uma canção leve. O melhor álbum nacional dos últimos vinte anos, e que ainda está para ser descoberto pelos preconceituosos que torcem o nariz para o nome Los Hermanos.

los-hermanos (1)
Los Hermanos em 2012

O grupo saiu em uma longa turnê de divulgação de 4 e, em abril de 2007, anunciou um recesso por tempo indeterminado nos trabalhos, alegando acúmulo de projetos pessoais. Os dois últimos shows da banda foram realizados na Fundição Progresso, no centro da Lapa (Rio de Janeiro) em julho de 2007, shows esses que foram mixados e lançados em CD e DVD Na Fundição Progresso, 09 de junho de 2007, em fevereiro de 2008. Camelo partiu para uma carreira solo, enquanto Amarante fundou o Little Joy, lançando um único álbum em 2008. Medina virou escritor em revistas e blogs, exercendo a profissão de publicitário, e Barba participou dos projetos Latuya e Canastra.

Em 2009 o grupo se reuniu para fazer a abertura dos shows de Kraftwerk (Rio de Janeiro, 20 de março) e Radiohead (São Paulo, 22 de março), e em 2012, o Box Los Hermanos, e mais uma série de shows pelo país. Em 2014 , a banda se reúne para 2 shows que celebravam os 450 anos de Rio de Janeiro e aproveita para fazer algumas apresentações. A turnê de 2019, ocorrida por conta dos 20 anos de seu primeiro álbum, ficou na cabeça dos fãs por conta dos shows no Maracanã (RJ) e Allianz Parque (SP), além do lançamento de um novo álbum ao vivo e de uma canção inédita, “Corre Corre”, seu primeiro lançamento desde o álbum de 2005. E assim se conclui (ao menos, por enquanto) a carreira de uma das melhores bandas do rock nacional. Um grupo infelizmente marcado por um hit que em nada condiz com a grandeza de sua obra, e que teve a sabedoria de encerrar as atividades no auge do sucesso, permitindo assim que a cada dia, mais e mais pessoas passem a admirar suas canções.

 

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