sexta-feira, 2 de maio de 2025

Habib Koité – Kharifa (2019)

 

Kharifa é o sexto álbum de estúdio de Habib Koité , considerado o "Eric Clapton" de seu Mali natal, um álbum no qual o guitarrista amadureceu e evoluiu, mantendo mais uma vez um pé firmemente enraizado em sua tradição musical. Gravado e mixado em Bamako, o som do país, suas ricas e diversas tradições e instrumentos musicais (ngoni, flauta, kora, dun dun...) permeiam as doze faixas que compõem este magnífico projeto.
Poderíamos dizer que em Kharifa , Habib Koité soa mais "maliano" do que nunca. Para tal, selecionou cuidadosamente os artistas que o acompanham tanto no palco como na gravação: Toumani Diabaté, o seu sobrinho M'Bouillé Koité (vencedor do Prix Découvertes RFI 2017), o seu filho Cheick Tidiane Koité, Amy Sacko (vocalista do grupo de Bassekou Kouyaté, Ngoni Ba) e o grande guitarrista guineense Sékou Bembeya Diabaté.

As composições que formam a espinha dorsal deste novo álbum refletem o espírito aberto do griot, sua disposição de viajar pela rica herança do Mali enquanto constrói as bases de uma música decididamente moderna, também influenciada pelo rock e folk ocidentais.
Sem nunca negar os problemas que afetam sua cidade e seu país (poluição, pobreza, ociosidade, insalubridade, doença, "A vida é uma luta diária", ele canta em "Wara"), Habib permanece resolutamente otimista, esperançoso, lutando contra a intolerância, a ignorância e o obscurantismo ("Djiguiya"). Enquanto "Mandé" fala da riqueza das culturas e povos do Mali, "Kharifa" apela à responsabilidade de cada pessoa de cuidar de si mesma. "Ntolognon" é a bela história do menino Bwa, "que sempre sorri e brinca com camaradagem" , e "A ignorância é uma fonte de intolerância, a abertura aos outros é uma fonte de tolerância", afirma ele com convicção em "Yaffa".
Seis álbuns, sem contar as gravações "ao vivo" e o dueto com Eric Bibb ( Brothers in Bamako , 2012), mais de 1.500 concertos pelo mundo, reconhecimento dos maiores nomes da música e um repertório imparável: Habib Koité não tem pressa e constrói, passo a passo, uma carreira exemplar enraizada na sua cultura.


tracklist :
01. Wara
02. iVazi
03. Kharifa
04. Hakilina
05. Forever
06. Mandé
07. Djiguiya
08. Ntolognon
09. Yaffa
10. Symbo
11. Tanatê
12. Fanta Damba





Anoushka Shankar – Love Letters (2020)

 

O novo álbum de Anoushka Shankar , Love Letters , aborda "o processo de se apaixonar, o desejo, ter o coração partido, o sentimento de perda e a cura por meio dessa perda ". Um álbum extraordinariamente belo como Traces of You , gravado em 2013 com sua irmã Norah Jones, onde o tema principal também era a perda: a morte de seu pai, Ravi Shankar.
Em várias entrevistas, ela explicou que é um processo pessoal que a levou a situações muito vulneráveis, mas o álbum "é realmente sobre o processo de emergir da dor, até mesmo de uma doença física, somatizando essa dor, em um movimento ascendente, em vez de um colapso " .
Escrever e gravar Love Letters foi catártico para Anoushka Shankar, um processo que a levou a colaborar quase exclusivamente com outros artistas. Durante o momento mais difícil de seu luto em 2019, Shankar descobriu que o apoio prático e emocional oferecido por seus amigos assumiu uma forma artística.
O apoio desse elenco rotativo de vocalistas, músicos e produtores evoluiu para sessões de composição. "Eu realmente vivenciei a maneira como as mulheres se apoiam umas às outras quando uma crise acontece. Havia essa doçura. Eu me senti muito cativada durante todo esse processo, e foi daí que surgiu a música: a experiência compartilhada de mulheres, segurando minha mão e me ajudando a encontrar um lugar seguro para expressar alguns dos meus sentimentos . "
O cantor turco-alemão Alev Lenz , um dos principais colaboradores do álbum, abre a primeira faixa cantando: "Ela é mais bonita do que eu? Ela está na sua cama agora? Ela é mais jovem do que eu? E a pergunta mais importante: você também a chama, como eu, de Olhos Brilhantes?" . Em seguida, a dupla Ibeyi (formada pelas gêmeas cubanas Lisa-Kaindé e Naomi Díaz) canta em "Lovable" "Sou linda mesmo que você não me veja, sou linda mesmo que você não precise mais de mim, sou adorável, sou ainda mais amável . "
E assim o álbum avança na sublimação das emoções, na história da recuperação pela qual Anoushka Shankar está passando. Um exercício de irmandade e transculturação ao qual chegam mais amigos: a cantora indiana Shilpa Rao canta "Those Words", uma bela peça em sânscrito com a violoncelista e cantora Ayanna Witter-Johnson ; Nina Harries empresta seus talentos ao contrabaixo em "Wallet". A engenheira de som egípcia Heba Kadry gravou o álbum, junto com outra engenheira de masterização, a britânica Mandy Parnell . E a artista persa Azeema Nur contribui com as ilustrações, da capa às páginas internas do encarte do álbum.
Por meio de sua performance e composição, Shankar expressa a tristeza, a confusão e a esperança que acompanham um coração partido. Love Letters é um hematoma que se transforma em algo musicalmente belo.

tracks list:
01. Bright Eyes (feat. Alev Lenz)
02. Those Words (feat. Shilpa Rao & Ayanna Witter-Johnson)
03. Lovable (feat. Ibeyi)
04. Space (feat. Alev Lenz)
05. Wallet (feat. Alev Lenz & Nina Harries)
06. In This Mouth (feat. Alev Lenz)





Témé Tan – Témé Tan (2017)

 

O álbum de estreia homônimo do artista Témé Tan , do multi-instrumentista e produtor Tanguy Haesevoets , é uma curiosa e imprecisa mistura de estilos sempre impulsionados pela música eletrônica. Nascido na República do Congo e criado entre Kinshasa e Bruxelas, Témé Tan pertence àquela geração de músicos inovadores que produzem uma síntese radical de sons e culturas de todos os continentes, e o faz com um entusiasmo contagiante.
Inspirado por suas viagens e recebendo influências do Congo, Brasil, Japão e Guiné, artistas como Jai Paul e MC Solaar, além de outros como Papa Wemba e Jorge Ben, são uma referência para ele. Témé Tan destila suas variadas melodias em seu estúdio em Bruxelas para criar uma coleção de composições livres de qualquer classificação.
Tanguy Haesevoets cresceu cercado pelo zouk e pela rumba de seus parentes congoleses, mas foi em Bruxelas que ele começou a fazer música. Suas músicas misturam grooves minimalistas, batidas eletrônicas e melodias sedutoras que refletem sem esforço o desejo de viajar de alguém que se sente em casa em quatro continentes e mergulha com profundo respeito nas tradições e identidades ancestrais.
Após sua estadia no Japão, continuando seus estudos em Literatura, ela descobriria sua identidade musical ao mergulhar no sofisticado pop eletrônico japonês de artistas como Cornelius e Tujiko Noriko. A essas sonoridades se somou a descoberta do álbum do grupo congolês Konono Nº 1, Congotronics (2004), sendo este o ponto de viragem onde se fechou o seu círculo, e atualmente todas essas influências viajam ligadas às suas primeiras memórias musicais. Ele foi batizado por seus amigos japoneses como Témé Tan. Um músico que conta histórias íntimas moldadas por uma atmosfera pop moderna misturada com elementos de soul, hip-hop e afro.
Témé Tan foi produzido por ele mesmo, com a ajuda de Justin Gerrish (Wampire Weekend) nas mixagens, um especialista em misturar neoafricanismo com indietronica. "Ça va pas la Tête" também apresenta um vídeo criado por Nene Oury Barry e Tanguy Azévu, filmado na Guiné, buscando mostrar que o país não era apenas o vírus ebola em 2014.
Tocante por sua simplicidade e música intimista, Témé Tan é um diamante bruto. Um caldeirão de sons que se unem em harmonia sedutora e energia positiva.

tracks list:
01. Améthys
02. Ça Va Pas La Tête?
03. Champion
04. Menteur
05. Coups De Griffe
06. Ouvrir La Cage
07. Le Ciel
08. Matiti
09. Olivia
10. Sè Zwa Zo
11. Tatou Kité
12. Hospital






Rockcelona - La Bruja (1979)

 

A música na transição das décadas de 1970 e 1980 estava sofrendo algumas mudanças, sendo impactadas por ebulições em todos os aspectos, propriamente sonoros e comerciais, principalmente. Embora algumas vertentes do rock n’ roll, por exemplo, sofria com o ostracismo, como o progressivo, com alguns figurões sumindo do mapa e outras bandas revendo sua música, outras padeciam com egos inflados de seus músicos e o uso demasiado de drogas que estavam decretando os finais de algumas icônicas bandas de hard rock.

O punk rock, subjugado e relegado aos guetos periféricos de Nova Iorque e outros punhados em Londres, ganhava, no final dos anos 1970, alguma notoriedade, graças a bandas “cabide” como o Sex Pistols, tendo os seus poucos anos de fama. O heavy metal já não tinha aquela visibilidade como em meados dos anos 1980, sob o aspecto sonoro, claro, dando lugar a uma cena andrógina do glam metal que proliferava em Los Angeles.

Apesar de algumas mudanças nas principais cenas rock terem acontecido, independentemente do período da história que o cerca, há sempre aquelas bandas marginalizadas que lutam contra o tempo, contra os modismos impostos pela indústria fonográfica, a principal mantenedora dessas mudanças, que, com a mola propulsora do marketing dissemina regras, dita “conceitos” também nos cenários musicais.

Bandas marginalizadas, mas que defendem, com unhas e dentes a verdade da sua música e desafiam a doutrina do tempo e mesclam com a dignidade da sua originalidade vertentes que, a priori, seria impossível para os “padrões” conservadores que permeiam no universo do rock há tempos. Os seus fracassos, para uma horda de alienados, podem parecer algo relacionado a capacidades dessas bandas de produzirem grandes trabalhos, mas a realidade é que não se curvam aos modismos e vai na contramão das tais famigeradas regras marqueteiras das grandes gravadoras e mais atualmente dos pasteurizados das redes sociais.

E um bom exemplo vem de Barcelona, na Espanha e se chama ROCKCELONA. Pois é, que raios de nome é esse? Ainda temos a intolerância, o escárnio dos idiotas atrofiados cognitivamente falando, que, em suas temíveis zonas de conforto, fazem galhofa dos nomes das bandas, de suas capas de disco e tudo o que valha, para depreciar o trabalhar e continuar nas suas mesmices existenciais. Mas o Rockcelona veio ao mundo em um período em que o hard rock estava meio em baixa, com bandas figuronas perecendo, mergulhadas em pendências judiciais entre seus rockstars ou estes mergulhados em drogas.

E nesse panorama nasce o Rockcelona. O seu nome pode ser a junção do rock n’ roll com parte do nome da região em que foi concebida. A banda foi formada em 1977, vindo mais precisamente de  L'Hospitalet de Llobregat, pelo vocalista Alfredo Valcárcel.

Rockcelona

E, como muitas bandas obscuras vindas da Espanha, o Rockcelona restringiu-se ao que costumo chamar ao “regionalismo”, que para o azar do mundo, não ganhou sucesso global. A banda lançou apenas um álbum, em 1979, chamado “La Bruja”, pelo selo “Columbia/Private Records” e tinha as suas arestas fincadas no voluptuoso e incendiário hard rock tipicamente do início dos anos 1970, mas que abraçou também algumas vertentes em voga na sua época como o punk rock. Diria sem medo que “La Bruja” é tão indulgente e sujo quanto alguns clássicos do punk ou até mais, ouso dizer.

O álbum é explosivo, é intenso, é volumoso, é pesado e pode ser comparado a bandas de seu país que surgiram e lançaram seus trabalhos muito antes do Rockcelona, tais como Leño, Asfalto, Burning ou ainda o The Storm. Sabe aquele típico “hardão setentista” lançado entre 1972 e 1974? Assim é “La Bruja”.

Aquele hard rock fuzzed, misturadas com guitarras ácidas, meio psicodélicas, em alguns momentos, outros momentos distorcidas e pesadas, com letras igualmente incendiárias, cantadas predominantemente em castelhano, bem como algumas em inglês.

Definitivamente “La Bruja” é um pilar do hard rock de sua época e, por conta disso, se configurou para o que era conhecido à época por “rock urbano”, com aquela guitarra suja, afiada, linhas de baixo marcadas e bateria pesada e muito, mas muito louca.

A formação do Rockcelona que concebeu “La Bruja” tinha, além do vocalista Alfredo “Freddy” Valcárcel, Alberto ”Albert” Balsells, na guitarra principal, Antonio “Tony” Cruz, na guitarra base, Javier A. Latorre (Javi) no baixo e Francisco “Kiko” Aparicio na bateria.

O álbum é inaugurado pela faixa título, “La Bruja” e já esfrega na cara do ouvinte riffs sujos e pegajosos de guitarra ao estilo proto doom, extremamente denso, com vocais de bom alcance. Logo ganha velocidade, ao estilo heavy rock e já com o vocal gritado e assim permanece até explodir um catártico solo de guitarra extremamente pesado, mudando ritmicamente, ficando mais arrastado o som, mas logo tornando a ficar veloz e poderoso. Não há como negar que a faixa “La Bruja” seria o farol para toda a estrutura sonora do álbum.

"La Bruja"

“Lovespell”, a segunda faixa, é a primeira do álbum cantada em inglês, e começa um tanto quanto bluesy, uma pegada meio blueseira, um blues rock, mas sem nenhuma pretensão de parecer tão blues assim, afinal a “veia” sonora do álbum está calcada no hard rock. Mas o destaque fica para a faixa mais cadenciada, com a bateria ditando o ritmo, concedendo tal textura a música, com um vocal mais límpido, mais melodioso. Solos de guitarra se estendem de forma competente, complexa, mas poderosa.

"Lovespell"

“Colt 45” retorna à proposta do álbum, com a introdução de riffs pesados de guitarra, bateria pesada e marcada, com baixo pulsante, fazendo uma “cozinha” extremamente entrosada e pesada. Mais uma vez solos de guitarra são destaque, trazendo mais e mais peso ao contexto sonoro da música.

"Colt 45"

A sequência traz “Magbalino” que não foge à regra, entregando os famosos e famigerados riffs de guitarra que abrem alas diretamente para solos de guitarra elegantes e potentes. A faixa é inteiramente instrumental e corrobora a destreza de seus músicos, com mais uma vez a “cozinha” destroçando em qualidade e sinergia. A faixa traz algumas mudanças de ritmo, mas sempre flertando com o bom e velho hard rock.

"Magbalino"

“Hombre Triste” segue com os já vivos e intensos riffs de guitarra, mas essa faixa traz uma curiosa e intensa pegada “punk”, sendo mais pesado, despretensioso e sujo, típico desta vertente. Uma mescla interessante e explosiva de hard rock e punk rock que muitas bandas praticariam nos anos seguintes ganhando, inclusive, notoriedade. A música é veloz, intensa e solar. Os solos de guitarra personificam essa condição. É verdadeiramente poderoso!

"Hombre Triste"

“La Tierra de Fuego” traz uma faixa cadenciada, ao estilo Black Sabbath, um genuíno hard rock, com pegada heavy rock, de atmosfera densa e soturna, que se assemelharia a uma dessas faixas de occult rock do início dos anos 1970 facilmente. O destaque aqui fica para o vocal que está mais cristalino, diria dramático, melancólico. A “cozinha”, mais uma vez, dá o seu recado, com baixo pulsante e bateria pesada, com solos de guitarra diretos, mas eficientes.

"La Tierra de Fuego"

“Buscándote Rock and Roll” soa atípico, tal como uma balada. O Rockcelona tira literalmente o pé do acelerador, mas os riffs de guitarra, sujos, meio doom metal, continuam lá, para certificar o DNA da sua sonoridade. Mas eis que logo assume o peso costumeiro que permeia o álbum, com aquela velocidade típica do heavy metal, com vocais gritados. É inacreditável o quanto, em apenas uma música, a banda flerta em vários estilos, sem soar deslocado ou fragmentado.

"Buscendote Rock and Roll"

E finalmente o álbum fecha com “Queen, Friend and Dread”, mais uma faixa cantada em inglês, que inicia, para variar, com aquela pegada hard com riffs de guitarra sujos e despretensiosos, com a velocidade do heavy metal e a indulgência do punk rock. E depois de um solo de guitarra de tirar o fôlego, a pegada veloz retoma com os riffs pegajosos novamente e assim a banda vai flertando com vertentes que revelam as distintas passagens rítmicas fazendo de som rico e cheio de recursos.

"Queen, Friend and Dread"

O Rockcelona teria uma precoce vida, de cerca de dois anos, mas realizou alguns shows apenas em Barcelona se tornando uma banda regional. Tocou no Instituto Jose María de Calasanz, ainda em 1977, ano de sua fundação com bandas como Elektra e Mortimer e também nas 12 horas de Rock de Barcelona, no Centro Juvenil Meridiana, em 1978, com bandas como Zen, Detonation, Calocha, Hermaneys, Krisis, Mitgdia, Stigma, Ekber e Fruint.

Após o lançamento do seu único álbum, “La Bruja”, a banda se desfez misteriosamente. Talvez o seu som estivesse deslocado no tempo, um tempo que já não era interessante para a indústria fonográfica o hard rock, para o público que, como uma ovelha que segue, alienada, as tendências geridas pelo marketing perverso, estava interessado em outras vertentes. O fato é que o Rockcelona pereceu mas deixou um álbum que, por ser raro e ter caído no ostracismo, não ter sido referência, mas que pode e deve servir de ponto fundamental para a música pesada em todas as suas vertentes.

Atualmente ou melhor, desde sempre, sobretudo nessas últimas duas décadas, com o ressurgimento do interesse pelos discos de vinil, o álbum original lançado pelo Rockcelona, lá em 1979, está em uma condição de raríssimo artigo que hoje está em uma faixa de 30.000 pesetas (180 euros). Entretanto há informações que dão conta de que “La Bruja” trafega no mercado consumidor na faixa dos 300 a 400 euros! É a condição que fomenta o status de banda “cult”.




A banda:

Alfredo “Freddy” Valcárcel nos vocais

Alberto ”Albert” Balsells na guitarra principal

Antonio “Tony” Cruz na guitarra base

Javier A. Latorre (Javi) no baixo

Francisco “Kiko” Aparicio na bateria

 

Faixas:

1 - La Bruja

2 - Lovespell

3 - Colt 45

4 - Magbalino

5 - Hombre Triste

6 - La Tierra de Fuego

7 - Buscándote Rock and Roll

8 - Queen, Friend and dread


MUSICA&SOM ☝


Epizootic - Daybreak (1976)

 

Por que os anos 1970 é o melhor período do rock n’ roll em termos de qualidade sonora? Tudo bem, estimados leitores, que essa frase, essa pergunta tem um caráter de opinião, afinal há de ter outras pessoas que contestarão dizendo que os anos 1960 foram prolíficos ou ainda os anos 1980.

Mas é inegável que a década de 1970 deixou uma marca indelével para o rock n’ roll descortinando vertentes tão especiais para os nossos ouvidos e alma, como hard rock, rock progressivo, jazz rock, blues rock entre tantos outros.

A resposta? Era a capacidade de algumas grandes bandas de flertar, com grande facilidade, com várias vertentes sonoras em um álbum ou mais arrojadamente ainda, em uma música. Tantas nuances, tantas mudanças de ritmo que confesso me arrebatamento a cada audição desse tipo.

E aí eu preciso retomar a importância dessa década para o rock! Somente ela foi capaz de nos proporcionar esse momento singular. Os estilos estavam nascendo, eram embrionários, as doses de experimentalismo eram cavalares, não havia, ouso dizer, nomenclaturas identificando tais vertentes, não havia rótulos, nada.

As bandas ousavam, experimentavam, a criatividade era latente, não havia receios, medos, o que comandava as pretensões musicais era pura e simplesmente o amor pela música, a verdade que ela trazia personificadas nos músicos e primordialmente, a criatividade. A subserviência era por ela, sem preocupações com o mercado fonográfico.

E muitas dessas bandas padeceram pelo simples fato de não sucumbirem ao glamour e facilidades do sucesso comercial e suas músicas plásticas com prazo de validade. Não é à toa que essas muitas bandas caíram no limbo do esquecimento, nos escombros da obscuridade, mergulhadas em um fracasso comercial. Mas são únicas, singulares, importantes para um nicho de fãs que sempre apreciaram tais músicas de vanguarda.

Podemos elencar inúmeras bandas que se enquadram nessa condição, mas gostaria de falar de uma banda que conheci recentemente e que veio da sempre surpreendente Suécia chamada EPIZOOTIC e que, para variar, lançou apenas um álbum, em 1976, chamado “Daybreak”.

Epizootic

O nome da banda, meio doido, atípico, entrega, com seu álbum, uma sonoridade vivaz, cheia de recursos sonoros, que vai do peso do hard rock, a sofisticação do rock progressivo, a lisergia do psicodélico. Uma sonoridade arrojada, mesmo não apresentando nada de revolucionário surgia na segunda metade dos anos 1970 que estava despertando para o punk rock que, mesmo não gozando de tanta popularidade, estava atraindo olhares interessados da indústria, deixando de lado as bandas que privilegiavam uma sonoridade mais rebuscada e complexa.

As origens do Epizootic remontam de meados dos anos 1970 na cidade sueca de Gotemburgo, quando quatro garotos decidiram se juntar e formar uma banda de rock com viés sinfônico, cantando em inglês e com certas conotações pesadas, de hard rock. O desejo incondicional de jovens, ávidos por ganhar o mundo, era evidente na sonoridade do Epizootic. As letras em inglês, com a intenção de atingir o mercado externo, parece que tudo estava meticulosamente calculado para o sucesso ou será que tudo não passou de um sonho febril? Pois é, o desfecho parece revelar o segundo cenário.

“Daybreak” foi concebido de uma forma totalmente independente, por um selo que parecia pertencer aos próprios músicos, de nome “Fejl” e, apesar de ser um álbum com dez faixas complexas e arrojadas, nota-se clara falta de produção. Mas isso não parece ser nenhum demérito, pelo contrário, bandas e álbuns obscuros de “formato garageiras”, quando lançam trabalhos com essas características, passam a se um charme, algo que agrega a sua sonoridade.

Aqui cabe uma curiosidade referente ao nome da gravadora: “Fejl”. Tal termo é uma grafia sueca da palavra inglesa “fail” que significa “falha”, “falhar”. Sinceramente não conseguir interpretar o motivo pelo qual leva esse nome, mas, licenças poéticas à parte, talvez seja pelo fato do álbum não ter atingido o status de sucesso.

Não podemos negligenciar o fato de que “Daybreak” é um ambicioso trabalho, mesmo que "artesanal", por conta da produção. Ah são jovens e como tal querem ganhar o mundo, serem donos deles, custe o que custar. E não há como se render a essa crueza que entrelaça com uma complexidade e nos deixa um tanto quanto perdidos quando tentamos classificar uma sonoridade. Então, caros leitores amigos, esqueça as formalidades da nomenclatura e se deixe levar pelo som de Epizootic.

E como não apreciar essa “dúvida”: guitarra pesada, elementos de jazz fundamentado pelo tecladista e toques de música progressiva evidentes na flauta. O vocal, embora não seja um primor, dá o seu recado e mostra um trabalho de banda muito firme, coeso e complexo, porém orgânico. A formação que gravou “Daybreak” traz: Pär Ericsson nos vocais, baixo, flauta, Bengt Fischer na guitarra, Lars Liljegren no piano, sintetizadores e vocais e Lars Johansson na bateria e percussão.

“Daybreak” é um hard prog que lembra mais uma produção de porão do que uma gravação propriamente dita. Mas a música é poderosa e extremamente cativante e interessante, com excelentes ideias instrumentais, extremamente arrojadas, complexas e orgânicas. Um trabalho obscuro que merece reverências, que merece crédito pela sua sonoridade.

O álbum é inaugurado com a faixa “Epizootic”. Um som de águas agitadas no início, mas que logo irrompem em solos rápido e pesados de guitarra trazendo o prenúncio de um hard rock cadenciado com teclados em uma sequência animada, que volta a guitarra, com riffs duros, sombrios e agressivos. Segue com “Sunset, Emotion” que tem, mais uma vez, o destaque dos riffs pesados e solos curtos e diretos da guitarra. É igualmente cadenciado pelos teclados enérgicos e uma seção rítmica bem coesa, com bateria marcada e baixo pulsante. Mas o que mais estimula na faixa é a salutar “rivalidade” entre teclados e guitarra.

"Sunset, Emotion"

“Eye Ball” os teclados inauguram a faixa e remete a uma pegada mais progressiva sinfônica aliada ao hard rock que se mostra presente do início ao fim do álbum. O vocal é mais rasgado, direto. Os riffs de guitarra são destaque e traz uma textura mais pesada e suja à música. E a doce “rivalidade” entre a guitarra e o teclado, mais uma vez, ganha destaque também e no meio termo, o baixo fica mais galopante ainda. “Fantacy” começa mais branda, mais leve. Dedilhados de guitarra e vocais mais doces trazem uma balada, com momentos mais pesados protagonizados por riffs de guitarra e assim vai alternando com um solo mais elaborado da guitarra no meio.

"Eye Ball"

O álbum segue com a faixa título, “Daybreak”, instrumental, ganha, mais uma vez, protagonismo a guitarra. Solos pesados, arrastados, em alguns momentos, e outros com uma pegada hard blues, tendo a “cozinha” dando uma textura mais bluesy também, sem deixar de lado, o agora discreto teclado. “What Mercy is This” já começa intensa, pesada! Os riffs de guitarra são pesados, agressivos, mas que ficam cadenciados com a bateria, cheia de groove e o baixo vívido e igualmente pesado. É extremamente animado a “batalha” entre os solos de guitarra e os teclados.

"What Mercy is This"

“Indian Reservation” começa introspectiva, contemplativa. Os dedilhados de guitarra reaparecem. Os vocais sussurrados, mas o peso já assume a dianteira da música. Bateria agressiva, os pratos parecem fazer a música levitar. Os teclados tocados com uma energia incrível, o baixo é esmurrado! Todo esse roteiro pesado logo devolve o posto para o ambiente anterior, de balada, com flautas. Repleta de recursos sonoros, de mudanças rítmicas. “Pictures of an Ordinary Life” começa pesado. A bateria dá o tom, o ritmo com os teclados em uma pegada sinfônica, mas descamba para uma sonoridade curiosamente radiofônica, meio dançante, inclusive. As flautas aparecem ao estilo Jethro Tull, com vivacidade. Mais uma faixa cheia de mudanças rítmicas mostrando a versatilidade da banda.

"Indian Reservation"

A penúltima faixa se chama “Pluto” que inicia curiosamente com um riffs que me remeteu ao heavy metal, pesado e rápido! O típico, porém, ousado, hard rock com uma evidente pegada heavy metal que ainda era embrionário. Mas as ousadias do Epizootic não param por aí. O peso inaugural dá lugar, mais uma vez, a flauta que, juntamente com a seção rítmica entrega um groove, algo dançante, mas que logo dá lugar ao peso capitaneado pela guitarra. E fecha com “Sinbad” já começa revelando o que foi o álbum: riffs agressivos de guitarra “rivalizando” com o teclado. Mas essa música retrata também o que foi o álbum na reta final: músicas pesadas e muito mais agressivas.

"Sinbad"

Embora o Epizootic não tenha atingido o sucesso comercial o seu único álbum ganhou “nove estrelas”, uma classificação de raridade na "Enciclopédia da Música Progressiva Sueca". São esses fatos que fazem de determinadas bandas e álbuns atingiram o status de “cult”, ou seja, um nome bonitinho para esquecemos de você no passado e envergonhados decidimos atribuir um status de importância para você.

E falando em sucessos e fracassos, após a experiência curta e precoce com o Epizootic o vocalista e baixista Pär Ericson e o guitarrista Bengt Fischer alcançaria o sucesso com a famosa banda de heavy metal EF Band, durante os anos 1980, quando se mudaram para o Reino Unido, gravando uma boa quantidade de álbuns. Infelizmente, em 2001 Fischer morreria devido a complicações com o câncer. O pianista Lars Liljegren mais tarde tocaria com Ragnarök e Triangulus. 

Além, claro, do lançamento original de "Daybreak", em 1976, pelo selo sueco, dos próprio músicos, Fejl, há alguns poucos relançamentos, como um de 1999, no formato CD, na Alemanha provavelmente não oficial e outro, no formato LP, pelo selo germânico "Long Hair", de 2020. O fato é se tratar de um clássico obscuro!





A banda:

Pär Ericsson nos vocais, baixo, flauta

Bengt Fischer na guitarra

Lars Liljegren no piano, sintetizadores e vocal

Lars Johansson na bateria e percussão

 

Faixas:

1 - Epizootic

2 - Sunset, Emotion

3 - Eye Ball

4 - Fantacy

5 - Daybreak

6 - What Mercy is This

7 - Indian Reservation

8 - Pictures of an Ordinary Life

9 - Pluto

10 - Sinbad


"Daybreak" (1976)

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