domingo, 28 de setembro de 2025

Blind Guardian - Beyond the Red Mirror (2015)

 



Há muito tempo, era uma vez na cidade do veludo e da seda, quatro alemães que se tornaram lendas por conta de suas aventuras pelo mundo crepuscular. Por cenários fantasiosos que se tornaram cada vez mais complexos, desde epopéias sobre anéis, guerras até discussões religiosas e infinitas dimensões, o Blind Guardian se estabeleceu não apenas entre os maiores contadores de histórias do heavy metal, como se mantém há três décadas como um dos mais vanguardistas artistas de sua vertente e responsáveis por ainda manter o power metal interessante.

Beyond the Red Mirror é o décimo álbum da banda, e apresenta um conceito com relação direta ao clássico Imaginations from the Other Side (1995). Envolvendo realidades paralelas, fantasia e ficção científica em proporções épicas, é o primeiro desde At the Edge of Time (2010) e foi lançado pela Nuclear Blast no último dia 30 de janeiro, mantendo a tendência extremamente rebuscada e dramática dos últimos trabalhos.

Imagine-se sobrevoando uma paisagem que se estende por muito mais do que a vista alcança. Campos, vilarejos, lagos, montanhas, florestas, reinos, tudo é apresentado pelo coral de “The Ninth Wave” enquanto o sol se põe. Mas muito mais do que isso, esse universo também é formado por seres vivos, humanos e criaturas, política e fantasia, uma frágil paz, intrigas e revoluções complexas sobre um pano de fundo equilibrado de forma tênue entre o power metal no formato que apenas o Blind Guardian faz, a interpretação operística e os arranjos orquestrais com mais importância do que nunca. 

Twilight of the Gods” traz o abandono final dos deuses, uma combinação dos momentos mais épicos do At the Edge of Time com a sempre remanescente herança dos tempos de salões crepusculares e lugares distantes. O anúncio de tempos negros que estão por chegar ressoa em “Prophecies” através das dimensões ligadas pelo espelho na forma do híbrido entre o dinamismo musical recente dos alemães e a aura carregada de Nightfall in Middle-Earth.

A confusão incompreensível das visões em “At The Edge of Time” apresenta uma banda completamente orquestral, uma narração literal e musical que dá prosseguimento à história de forma muito mais grandiosa e funcional do que já havia sido apresentado em “And Then There Was Silence” ou “Wheel of Time”, com profundidade que a torna peça singular em toda sua trajetória. E tratando-se em singularidade, “Ashes of Eternity” remete a A Twist in the Myth com uma roupagem menos palatável e mais intrigante, em ritmo marcial que remete diretamente às tragédias, campos de batalha e consequências do desenrolar do conceito.

O momento da última luta e do sacrifício vem em “The Holy Grail”, o derradeiro suspiro do personagem é uma reverência a Imaginations From the Other Side e tudo o que levou a este momento, os ritmos frenéticos, de andamentos e mudanças de margens pouco definidas, mas sempre acompanhadas por aquela melodia extremamente característica. A ascensão rumo ao clímax épico continua com “The Throne”, praticamente um musical complexo, uma peça artística que depende de inúmeros fatores para funcionar da forma devida. Muito semelhante aos momentos mais diversificados e interpretativos de A Night at the Opera, trabalha em prol da narrativa de forma que apenas os bardos conseguem fazer.

Sacred Mind”, com sua letra corruptiva seria uma personificação do que poderia ter acontecido com o som do grupo em uma dimensão paralela, onde eles se enveredaram pela progressivo antes de terem se desgarrado tanto de suas influências primordiais, e talvez por isso remeta ainda mais àquela época mais crua. A balada “Miracle Machine”, conduzida pelo piano e acompanhada de um sutil arranjo orquestral, traz aquela reverência ao Queen, facilmente a mais marcante e com mais potencial composição do tipo desde o clássico intocável “The Bard’s Son – In the Forest”. Simples e no momento certo, precede o encerramento megalomaníaco de “The Grand Parade”, um epílogo digno de uma produção monumental em seus riquíssimos nove minutos.

Independente se o power metal se tornou obsoleto em um mundo cada vez mais preocupado com a brutalidade da realidade, em que as pessoas parecem ter criado prioridades vazias e perderam o tempo para simplesmente pensar e imaginar. Independente se hoje todos aqueles coros, orquestras, dragões, reinos, espadas lendárias e guerras heroicas não passam de uma nostalgia agradável, uma lembrança de uma época de nossas vidas em que as coisas pareciam mais simples. Independente que tenhamos ficado mais velhos e desbravado outros mundos musicais universo afora. Algumas bandas continuam sendo de alguma forma relevantes para sempre, e o Blind Guardian é uma delas.

Em Beyond The Red Mirror os alemães não apenas agregam de forma equilibrada praticamente todas as influencias que os acompanham ao longo destas três décadas de atividade (impossível não citar os  álbuns a cada música analisada), como depois de todo esse tempo permanecem criativos dentro de sua proposta, intencionalmente agregando elementos que tornam a sua música algo cada vez mais completa e grandiosa dentro da conhecida singularidade, marcada por uma interpretação e uma dramaticidade que há muito não se ouvia.

Não apenas por conta dos arranjos orquestrais, muito mais reais e desempenhando papel mais importante do que nunca, e da noção de fugir das supostas amarras que o estilo havia ficado preso em seu ápice de saturação, mas também por todo o cuidado em escrever um conceito interessante, uma coerência entre cada uma das faixas e esmigalhar os limites entre suas dimensões de forma que cada segundo seja riquíssimo e inesperado.

O único porém permanece com relação à produção, novamente abafando o trabalho do percussionista Frederik Ehmke em detrimento das infinitas camadas de vozes e guitarras, tirando parte considerável do potencial em diversos momentos do álbum, principalmente no que diz respeito ao peso necessário para determinadas passagens. E infelizmente parece ter se tornado um vício difícil de ser corrigido.

Em todo caso, estamos diante de mais um capítulo de um legado histórico de clássicos indubitáveis da música, uma evolução que permanece intrigante e em ascensão a cada novo trabalho, explorando novos caminhos por um labirinto de espelhos que, se confuso no início, aos poucos se torna o seu próprio reino, de múltiplos e infinitos reflexos dentro deste mundo.

Um mundo onde o Blind Guardian reina sozinho.





Scorpions - Return to Forever (2015)

 



Após idas e vindas, turnês globais com duração de mais de 2 anos e um discurso de encerramento de atividades mais fajuto que nota de 3 reais, o Scorpions "ressurge" com Return to Forever, seu vigésimo disco, sucessor do bem recebido Sting in the Tail (2010). Agora, se esse ressurgimento valeu a pena ou se foi apenas uma bela de uma jogada de marketing devido à alta demanda dos fãs por material antes do prenunciado fim, é algo que merece uma análise.

Esteticamente, este disco soa semelhante a seu anterior, tanto no timbre das guitarras quanto na sonoridade: o hard rock mais simples com o qual ficaram famosos durante a década 1980, mas atualizado para os anos atuais. Tecnicamente, todos os instrumentistas estão em ótima forma e cumprem com perfeição suas tarefas. Klaus Meine demonstra muito vigor e técnica vocal apurada ao adaptar sua característica voz às músicas, sem abusar de agudos e alcances vocais não mais possíveis devido a sua idade.

Merece destaque à parte a dupla de guitarras. Os experientes Matthias Jabs e Rudolf Schenker ainda continuam muito bem entrosados, apresentando um leque muito interessante de bases e solos neste trabalho, não se limitando a reciclar melodias e fórmulas pré-estabelecidas por eles próprios anos antes. O restante da banda cumpre bem sua parte: James Kottak fazendo boas bases à frente da bateria, tornando as músicas mais desenvoltas, e Paweł Mąciwoda, o novato da turma, preenchendo as lacunas com o seu baixo sutil, mas eficiente.

Return to Forever começa forte e promissor com "Going Out With a Bang", com uma surpreendente pegada blues, riffs fortes e leve referência de ZZ Top em sua estrutura. "Rock My Car" faz as vezes do hard rock sisudo, com riffs diretos e refrão certeiro e marcante. "Rock n' Roll Band" possui um clima urgente por conta de seu ótimo refrão, também mais um dos destaques. Por fim, "Catch Your Luck and Play" remonta discretamente aos fraseados de guitarra de Uli Jon Roth sem soar pedante, aliada ao andamento cadenciado e riffs pegajosos, tornam-na a melhor música de todo o disco.

Os pontos altos citados acima são realmente muito bons e nos levam a crer que esse retorno foi extremamente frutífero e benéfico para os fãs, mas a banda insiste em cometer os mesmos erros que fizeram com que, ano após ano, fossem perdendo sua relevância no cenário hard rock mundial. A insistência nas baladas radiofônicas tem suas consequências. ”We Built This House" apresenta um refrão grandioso embrulhado em uma balada elétrica que não convence. "House of Cards", por sua vez, é a típica balada acústica insípida, reciclada de ideias diretas do medonho Acoustica (2001). O pior, porém, ficou registrado em "Rollin' Home", disparada uma das piores músicas já registradas pelos alemães, que mais parece uma tentativa desastrosa de soar como grupos pop da atualidade, quase um cover de alguma música do One Direction.

As faixas que não comentei transitam entre o comum ("All for One"), baladas que não fedem nem cheiram ("Eye of the Storm", "Gypsy Life"), e outras que até são boas, mas não deixam de ser completamente insossas e servem para preencher espaço ("The Scratch").

Não posso afirmar que Return to Forever é um álbum ruim, pois os momentos bons contém realmente algumas das melhores composições do Scorpions em anos. Também não poderia dizer que o disco pede replay, pois os momentos ruins comprometem, e muito, a progressão do trabalho. Como saldo final, posso afirmar que Return to Forever é nada mais do que conveniente para o momento em questão. Merece ser escutado pelas qualidades que possui, mas está longe de ser um disco de peso frente ao que a própria banda já produziu no passado.






Torche - Restarter (2015)

 



Quarto álbum do TorcheRestarter traz a banda norte-americana aprimorando ainda mais o seu peculiar heavy metal. Com canções curtas (a única exceção é a faixa-título) e pesadíssimas, o grupo dá um passo além de seu último trabalho, o excelente Harmonicraft.

A principal característica que difere os dois  álbuns é o uso menor de melodias em relação ao disco de 2012. As novas canções são mais arrastadas, uma espécie de stoner com alguns sutis toques de doom (bem sutis mesmo) amparadas por uma parece espessa de guitarras, quase intransponível. A influência de Black Sabbath, presente em toda banda de metal, aqui é atualizada e transportada para os dias atuais, ficando quase irreconhecível mas, mesmo assim, perceptível.

Se em Harmonicraft haviam canções mais alegres e felizes como “Letting Go” e “Kicking”, aqui elas inexistem - e isso não é, necessariamente, um demérito. Cuspindo riffs em profusão, o Torche soa como uma esmagadora máquina que despeja toneladas de distorção nos alto falantes. O resultado é uma audição não apenas agradável, mas, sobretudo, necessária e indicada para qualquer pessoa que tenha o mínimo de interesse não só pelo heavy metal, mas pela própria música pesada.

Entre as faixas, destaques para “Annihilation Affair”, “Minions" (sim, eles gravaram uma canção com esse título), “Loose Men”, “No Servants” e a excelente faixa que dá nome ao álbum, um exercício de tensão contínua que evolui durante mais de oito minutos.

Restarter é diferente de Harmonicraft, e isso é ótimo. A banda explora novos caminhos sem perder a sua identidade, mostrando-se inquieta e criativa.

Como de costume, altamente recomendável.






King Crimson - Live at the Orpheum (2015)

 



Enquanto a maioria das grandes bandas de rock progressivo dos anos 1970 já encerraram as suas atividades - e as poucas que seguem se arrastam em lançamentos sofríveis, como o último do Yes - o King Crimson retorna, novamente, e continua provando a sua relevância na música. Um gigante de agora sete cabeças.

O grupo estreava em 1969 com In the Court of the Crimson King, pedra fundamental do prog e, para muitos, o mais icônico registro do gênero. A fusão de música erudita, jazz e heavy metal com um clima sombrio e experimental que abalou, e abala, até hoje quem ouve o registro.

O que diferencia a banda de qualquer outra que toca rock progressivo é a inquietação e a estranha desconstrução em relação a qualquer obra do passado. Basta notar as diferenças entre o introspectivo Islands (1971); a aproximação mais explícita com o heavy metal em Larks’ Tongues in Aspic (1973) e Red (1974); a fase new wave na década de 1980; ou quando traz influências de quem o próprio grupo influenciou - como Porcupine Tree e Tool - em The Power to Believe (2003). Com o guitarrista Robert Fripp sempre na liderança, poucas formações ficaram fixas, e a lista de músicos que já passaram pela banda tem lendas como Bill Bruford, Greg Lake e David Cross.

No line-up atual estão nomes que acompanham Fripp há algumas décadas, caso do baixista Tony Levin e do baterista Pat Mastelotto; e há também quem foi uma adição recente ao grupo, caso de Gavin Harrison (Porcupine Tree) na bateria e percussão, Bill Rieflin (R.E.M., Nine Inch Nails, Ministry) também na bateria e percussão, e Jakko Jakszyk (21st Century Schizoid Band) na guitarra e vocal. O registro marca o retorno do saxofonista Mel Collins, que foi membro do King Crimson no início dos anos 1970.

Live at the Orpheum é uma curta  demonstração dessa renovação: são apenas 41 minutos com músicas tiradas dos shows de 31 de setembro e 1º de outubro no Orpheum Theater, em Los Angeles. E "Walk On: Monk Morph Chamber Music" inicia o álbum soando como uma estranha colagem de ritmos em dois minutos e meio. São algumas curtas improvisações que têm o intuito de ambientar o ouvinte. "One More Red Nightmare" traz o trio de bateristas se revezando e acentuado os pontos mais pesados, além de Collins solando livremente no sax.

Aliás, Collins agrega e muito aqui, sendo o elemento responsável por trazer um frescor em alguns momentos mais "duros". Exemplo disto é "The ConstruKction of Light", onde o saxofonista traz rajadas de harmonias extras em meio ao duelo de arpejos técnicos do baixo de Levin, contra as melodias de Jakko e Fripp nas guitarras.

"Banshee Legs Bell Hassle" é um interlúdio de solos de bateria que serve para expor a técnica dos três músicos, mas que não acrescenta muito. Já "The Letters" transmite bem a essência melancólica e dramática da canção original, enquanto a instrumental "Sailor's Tale” evidencia um lado mais jazz, cheia de ondulações no baixo, mudanças de andamento e uma selvageria de Fripp.

"Starless", talvez o único clássico da banda aqui presente, fecha o álbum. A introdução no mellotron continua linda e misteriosa, mas a voz de Jakko decepciona por não conseguir trazer um aspecto comovente como John Wetton fazia. O clímax construído ainda é envolvente, mas o
final não é tão impactante como outrora foi.


Faixas:
1. Walk On: Monk Morph Chamber Music
2. One More Red Nightmare
3. Banshee Legs Bell Hassle
4. The ConstruKction of Light
5. The Letters
6. Sailor’s Tale
7. Starless





Djavan – Vaidade (2004)


O décimo sexto álbum de Djavan , que, diferentemente de "Milagreiro" , que levou dois meses e meio para ser gravado, começou a ser gravado em novembro de 2003 e foi concluído em maio de 2004. É o primeiro de seus álbuns a ser lançado por sua própria gravadora, a Luanda Records .

O processo de produção foi bastante inusitado, visto que Djavan entrou em estúdio com apenas uma faixa finalizada: Celeuma”. Ele também tinha outras cinco músicas: Se acontecer”, “Sentimento verdaderoeiro”, “Dia azul”, “Bailarina e Dorme, Sofia ” .

Em "Vaidade ", Djavan enfatiza ainda mais seu lado musical. Ele é acompanhado por uma orquestra de cordas em cinco faixas, instrumentos de sopro em outras três e, nas demais, é acompanhado por sua banda: seus filhos João e Max Viana, Renato Fonseca e Serginho Carvalho.

O álbum em si é lindo, mas se incluísse apenas a versão de "Se acontecer ", essa faixa já valeria a pena. Uma melodia extraordinária com letras magistralmente executadas. Um álbum excelente do Djavan !

Músicos:

Djavan: guitarras
Bernardo Bessler, Michael Bessler, Daniel Guedes, José da Silva, José Rogério Rosa, Paschoal Perrota, Ricardo Amado: Violino
Jesuína Noronha Passaroto, José Ricardo Volker Taboada, Marie Christine Springuel: Viola de Arco
João Viana: Bateria
Marcelo Isdebski Salles, Márcio Mallard, Marcus Ribeiro Oliveira: Violoncelo
Max Frederico Viana: Guitarra
Renato Fonseca: Piano
Serginho Carvalho: baixo elétrico





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