Logo aos primeiros instantes do novo single“A Primeira Noite Sem Ti”,notamos algo de diferente na sonoridade dosUHF.
António Manuel Ribeiro explica simplesmente “a resposta mais honesta é dizer: acontece. Quando estou na pele do autor – e estou sempre, mesmo inconscientemente –, quando agarro na guitarra e uma melodia se encosta às palavras, deixo-me ir, é como se um regato descesse a montanha escolhendo o caminho.”
Sabemos também, que este single estava guardado há anos no portefólio de António Manuel Ribeiro como nos diz o próprio “… esta canção foi escrita em 2004, sei a data porque a registei na SPA. Um dia, um técnico que trabalhava connosco e também com a Adelaide Ferreira, perguntou-me se podia escrever uma ou duas canções para o novo disco que a Adelaide ia gravar. Disse-lhe que sim. Um tempo depois telefonei-lhe a informar que tinha duas canções prontas. Nesse mesmo dia ligou-me a dizer que já não era preciso, o disco já estava gravado. Guardei as canções, mas de vez em quando A Primeira Noite Sem Ti aparecia-me no monte de folhas que reúnem os meus trabalhos. E a melodia, que não gravara, estava sempre lá.”
Mas as novidades não ficam apenas pela edição deste novo single “A Primeira Noite Sem Ti” e de um novo álbum de originais em janeiro de 2023. Existem outros lançamentos, neste caso de discos ao vivo, já a 18 de novembro…
OsEna Pá 2000acabam de lançar em vinil mais dois discos clássico da banda, “2001 Odisseia no chaço”e“A luta continua!”
“2001 Odisseia no chaço”
Anos volvidos da edição original deste álbum, mantém-se a característica que ao longo da carreira dos Ena Pá 2000 sempre os identificou, a ironia e o sarcasmo.
Agora em vinil numa edição dupla, em “2001 – Odisseia no Chaço” são recuperados os temas que demonstram a sua capacidade de criação única, que se por vezes são inócuos ou “non-sense” quanto ao conteúdo, outros só por si já se tornam verdadeiros hinos de popularidade, sempre acompanhados por uma orquestração actual em que não é de forma alguma desprezada a qualidade.
“2001 Odisseia no Chaço” é no seu conjunto um álbum com características invulgares de qualidade e no qual estão incluídos vários grandes êxitos.
“A luta continua!”
Em 2004, e após uma ausência de cerca de 5 anos sem editar álbuns, os Ena Pá 2000 reapareceram com o álbum intitulado “A Luta continua!”.
Aquele que foi o quinto trabalho discográfico da banda, conhece agora uma reedição em formato vinil (2 discos) onde reencontramos o estilo a que os Ena Pá 2000 sempre nos habituaram.
Desta edição especial fazem parte, entre outros, a canção, “Dr. Bayard”, um dos êxitos da banda, a música que abre as “hostilidades”, seguindo-se temas que todos recordam como “A Luta Continua (Folhas Caducas)”, “Tamagoxi”, “No meu Ford Capri” ou “Eu já mi vim”.
“Granito” é a mais recente edição com o seloJazzego. Uma compilação que junta nove projetos sediados na Invicta cidade..
Durante anos o Porto foi visto como uma espécie de segredo no seio da vida cultural “underground” europeia. Escondida atrás das pedras frias de granito da urbe jaz uma palpitante cena local que irrompe dentro do jazz nas suas diversas ramificações.
Esta é a premissa que motivou a Jazzego a juntar nove projetos da cidade para criar uma compilação. Mais do que uma montra desta cena, “Granito” pretende ser um roteiro sobre o que o Porto representa num futuro próximo.
Gravado no estúdio A da Arda Recorders em Setembro de 2021, pelo qual passaram 26 músicos e 8 técnicos, “Granito” está disponível a partir de hoje, 31 de outubro, para escuta e pré-reserva da edição física em vinyl no bandcamp da Jazzego.
Artistas participantes: Azar Azar, Pedro Ricardo, Hugo Danin, Geodudes (na foto), Bardino, Minus & MRDolly, Klin Klop, Johnny Virtus e SaiR.
Esse é um bootleg da turnê de 1991 e traz um apanhado dos três últimos álbuns do The Cult, que
são excelentes, ele foi gravado na Alemanha, em cd duplo. Embora com Ceremony, o Cult tenha encerrado um ciclo, o fez de forma brilhante, pois nessa turnê, juntou os singles de Love, Electric, Sonic Temple e Ceremony, num setlist matador e mesmo com Ian Astbury com problemas com a bebida, ainda canta muito e Billy Duffy é um guitarrista de primeira.
“Eu não achava que cantar era especial. Eu simplesmente não entendi", disse Amy Winehouse em entrevista sobre o que esse sucesso significou para sua voz, estilo e letras. Back to Black, lançado em 2006, é um álbum difícil de digerir, devido à sua complexidade, mas é uma obra-prima do artista inglês em todos os espectros.
"Eles tentaram me fazer ir para a reabilitação / eu disse 'não, não, não'" ("Eles tentaram me fazer ir para a reabilitação / Mas eu disse 'não, não, não'"), dizem os primeiros versos disso single intitulado "Rehab". A letra da música que abre essa longa duração veio de uma experiência que seu produtor Mark Ronson viveu de perto com o cantor. “Amy estava no hospital há alguns dias. Foi na época em que estávamos prestes a começar a gravar Back to Black. Fomos passear em Nova York para comprar um presente para o namorado dela e ela me contou que muitas pessoas sugeriram que ela fosse a uma clínica de reabilitação. E sua resposta era sempre 'não, não, não'. Eu simplesmente sugeri que ele escrevesse isso, assim como ele havia me dito. Havia uma ótima música lá", disse Ronson.
Esta faixa, uma das mais bem sucedidas da carreira da londrina, também foi quase uma visão do que aconteceu com ela no Grammy, quando ganhou as categorias de Canção do Ano, Melhor Performance Vocal Feminina e Melhor Gravação do ano, porque estava, precisamente, numa clínica de reabilitação em Londres, a desintoxicar-se, o que o privou de assistir à cerimónia de entrega de prémios e de celebrar os prémios que lhe foram atribuídos pela indústria da música.
“Você sabe que eu não sou bom” torna-se a canção de resposta a todos os seus males. Ela tem o fardo de responder a tudo que a magoa dizendo que está pior, mas com sutileza e um tom irônico com muito glamour. O alcance desta magnífica canção despertou os ouvidos transversais de toda uma geração. Do pop e do rock prestaram homenagem a esta peça. Uma das melhores versões foi do Arctic Monkeys, que o homenageou em uma apresentação ao vivo para as sessões do programa Jo Whiley's Radio 1 da BBC.
O álbum com todos os toques da era Motown, mas com uma boa passagem pelo próprio inferno, apresenta-nos "Me & Mr Jones", onde ataca directamente o seu antagonista e os seus fantasmas, mas com aquelas vicissitudes que sempre lhe estiveram ligadas e seu relacionamento conturbado com Blake Fielder-Civil. "Tears Dry On Their Own" é uma das grandes homenagens ao estilo de Marvin Gaye e Tammi Terrel, onde sampleou para o single que foi publicado em 10 de agosto de 2007 com um vídeo dirigido pelo polêmico fotógrafo David LaChapelle em La Cienega Boulevard em Los Angeles, Califórnia.
Quando Amy acabou de gravar a faixa-título do LP, ela disse ao produtor: “É meio triste no final, não é ? O refrão de Back to Black é inegavelmente dilacerante e corta muito fundo. Além disso, você sente cada batida do seu coração nas constantes batidas de piano que Ronson está criando. "Back to black" teve muitos conceitos e significados naqueles primeiros meses de sucesso da música. Por um lado, falava-se dos excessos de Winehouse com bebida e drogas e, por outro, eles tinham a ver diretamente com seus problemas amorosos com Blake. No entanto, este single é uma verdadeira simbiose de sua vida tortuosa.
"'Back to Black' é sobre estar em um relacionamento em que, quando você termina, você volta para o que sabe, exceto que eu não estava trabalhando, então não podia ir e voltar ao trabalho. E onde o homem obviamente voltou com sua ex-namorada. Eu realmente não tinha mais nada para voltar, então acho que voltei ao preto por alguns meses, sabe... Brincando, como você faz quando tem 22 anos e é jovem e apaixonado", cantor explicou em uma entrevista em 2007. .
Sobre a gravação do disco que já vendeu mais de 20 milhões de cópias e as críticas que recebeu por seus excessos, Ronson declarou que “gravar com ela foi uma daquelas coisas agradáveis. Como se ele a pegasse naquele momento mágico e ela estivesse pronta para seguir em frente. Por tudo isso, não entendia que tratavam esse artista como um problema”.
Sem dúvida é um álbum que nos mostra a verdadeira personalidade de Amy, revelando do fundo suas intimidades, mágoas e excessos. Não é um álbum diferente, nem fácil, pois foi catalogado em determinado momento, impulsionado mais pelas afinidades quase irracionais da artista com drogas e álcool do que por seu talento. BTB é uma verdadeira obra de arte, extremamente feliz e com todas as nuances da cena de Detroit e afro-americana do final dos anos 50. Da direção artística do álbum, que ficou a cargo de Alex Hutchinson que o mostra com uma posição frontal , sem tanta parafernália, ela consegue perfeitamente o que Amy é junto com as letras comoventes e grandiloquentes. Isso é tudo o que é preciso para descrever o eminente Back to Black.
Em sentido horário: Luis Carlini, Emilson, Lee Marcucci, Rita Lee e Lucinha Turnbull
Trago aqui o período mais rocker da carreira de Rita Lee pós-Mutantes, aquele junto com o Tutti Frutti. São quatro álbuns de estúdio e um ao vivo, todos gravados entre uma guerra de egos gigante entre ela e o guitarrista Luis Carlini, mas que pariu clássicos atemporais do rock nacional.
Contextualizando a história, Rita sai (ou é despedida) dos Mutantes, e funda as Cilibrinas do Éden junto de Lúcia "Lucinha" Turnbull, considerada a maior fã de Mutantes do Brasil. Após apresentarem-se abrindo para os próprios Mutantes durante o Phono 73, no dia 10 de maio de 1973, que teve uma discreta reação da plateia, o projeto acaba sendo deixado de lado. Lúcia conhecia o pessoal do grupo Lisergia, composto por Lee Marcucci (baixo), Emilson (bateria) e Luis Sérgio Carlini (guitarras), e inspiradíssimos na versão Glam de David Bowie, transformam a união Cilibrinas + Lisergia no Rita Lee & Tutti Frutti, e assim começa a sequência de lançamentos.
A estreia da Tutti Frutti
A estreia de Rita ao lado da Tutti Frutti é Atrás do Porto ... Tem Uma Cidade, lançada em 1974, e uma das grandes joias da música nacional dos anos 70. A formação da Tutti Frutti aqui conta com Lucinha Turnbull (vocal de apoio, guitarra, violão de 12 cordas e palmas), Luis Carlini (guitarra, guitarra havaiana), Lee Marcucci (baixo), mais a adição dos músicos contratados pela Philips Mamão (percussão), Paulinho Braga (bateria) e Juarez (saxofone). O álbum abre com o manifesto rock 'n' roll de "De Pés No Chão", com Rita já mandando todo mundo longe, em uma das primeiras letras feministas da história do rock nacional, e com um show a parte da Tutti Frutti, destacando a guitarra de Luis Carlini. Mais rock 'n' roll raiz com pitadas progressivas surge em faixas como "Pé De Meia" e nos sucessos "Mamãe Natureza", canção ainda dos tempos das Cilibrinas, e "Tratos à Bola", com a letrinha da menina que cresceu e deu tratos à bola saindo por aí, em uma clara alusão à sua saída dos Mutantes. Falando nisso, se os Mutantes achavam que Rita não havia como tocar na fase progressiva, então impressione-se com o talento da menina tocando piano, moog e mellotron na sensacional "Yo no Creo Pero ...", uma das melhores canções de toda sua carreira, inclusive considerando os próprios Mutantes. O trecho do solo de Carlini é de chorar, com harmônicos de guitarra e violões fazendo a cama para a entrada do solo, complementada por mellotron e piano, no melhor estilo Yes.
Outra faixa com boas inspirações progressivas, e com uma letra muito interessante é "Eclipse do Cometa". As intervenções dos teclados de Rita nessa canção lembram até Gentle Giant. A ruivona emociona nos vocais da sensacional "Menino Bonito", acompanhada primeiramente apenas pelo seu piano, e depois, pelo lindo arranjo orquestral de Ely Arco Verde, mostrando que além de ser uma exímia vocalista, também é uma pianista de mão cheia. Ely também comanda os arranjos do maior sucesso do LP, "Ando Jururu", faixa swingante que antecipava a onda disco em quase 4 anos, e que posteriormente foi regravada por nomes como Raimundos e Kiko Zambianchi. Falando em dançar, tente se segurar (e ao mesmo entender) a completa "Círculo Vicioso", uma quebradeira swingada que faria Sly Stone se encantar. O instrumental dessa música é muito complexo, e a participação de Luis Cláudio nas guitarras jazzísticas, misturadas com flautas e moog, é um baque no cérebro. Os vocais sensuais de Rita e Lucinha no centro lembram muito o que a Blitz faria ano depois. Paulada de um disco excelente, na minha opinião tão bom quanto seu predecessor, o aclamado Fruto Proibido, que saiu no ano seguinte.
O álbum "ao vivo" do festival Hollywood de 1975, com canções da Tutti Frutti
Discordando com a forma como a Philips interferiu na produção de Atrás do Porto ... Tem Uma Cidade, Rita sai da Philips e assina com a Som Livre, recebendo em abril de 1975 um contrato milionário (a época) para gravar um disco nos moldes mais profissionais possível. Pouco antes, em janeiro de 1975, se apresentam com sucesso no festival Hollywood Rock, deixando registradas as canções "Mamãe Natureza", "Minha Fama De Mau" e "E Você Ainda Duvida?" no álbum Hollywood Rock. Em seguida, ela e a Tutti Frutti ficaram semanas criando o novo álbum em uma casa a beira da represa de Ibiúna, o que permitiu parir um dos maiores discos da história do rock nacional, Fruto Proibido.
O mega clássico Fruto Proibido
Não é meu disco preferido de Rita Lee, mas é inegável a qualidade e o investimento que Fruto Proibido teve para alçar a ruiva para além dos patamares de ex-Mutante, alcançando assim o status de Rainha do Rock. A Tutti Frutti é reformulada, agora com Franklin Paolillo (bateria e percussão), Guilherme Bueno (piano e clavinete) e os vocais de apoio de Rubens e Gilberto Nardo. Aqui, a fusão rock 'n' roll com progressivo casa perfeitamente, ainda mais com a produção de Andy Mills. Faixas como "Dançar Para Não Dançar", "Fruto Proibido" e "Pirataria" trazem todo o vigor do rock, com letras muito críticas, embalo para dançar pela casa e refrãos grudentos. A última conta com a flauta de Manito, que também toca órgão na enigmática e progressiva "O Toque", com seu lindo momento central saindo das cavernas progressivas de Yes e King Crimson, e que foi co-escrita em parceria com Paulo Coelho. Paulo também colabora no excelente blues de "Cartão Postal", onde Carlini dá mais um presente para os ouvidos.
Tutti Frutti na época do Fruto Proibido
Falando em Carlini, claro, fechando essa obra prima, "Ovelha Negra", a faixa que melhor define Rita, mais um desabafo por sua saída dos Mutantes, e que eternizou um dos solos de guitarra mais conhecidos do rock nacional. Outros grandes sucessos ficaram para "Agora Só Falta Você", com a guitarra de Carlini marcando época, e mais uma letra bastante feminista, posteriormente regravada por Maria Rita e Pitty, e "Esse Tal de Roque Enrow", faixa também co-escrita ao lado de Paulo Coelho, com uma ótima presença do saxofone de Manito. E por falar em feminismo, que tal a linda homenagem para "Luz del Fuego"? Essa bela homenagem à vedete Dora Vivacqua é um rockzão para macho nenhum botar defeito, com uma letra fantástica que exalta todas as qualidades das mulheres, e que foi posteriormente regravada por Cássia Eller. Quem fazia isso no Brasil nos anos 70? Só Rita! Fruto Proibido vendeu mais de 200 mil cópias logo em sua tiragem inicial, e é considerado até hoje um dos melhores discos nacionais de todos os tempos.
Os compactos de Rita na era Tutti Frutti: "Corista de Rock" (acima) e "Lá Vou Eu" (abaixo)
Em 1976, saiu o compacto duplo com as inéditas "Lá Vou Eu" - "Caçador De Aventuras" e "Status", complementado por "Ovelha Negra", e o single de "Arrombou a Festa", faixa que esculhamba com os grandes nomes da música popular brasileira com muito bom humor, e tendo "Corista de Rock" no lado B.
O ótimo e subestimando Entradas E Bandeiras
Seria difícil manter nível de Fruto Proibido em seu próximo lançamento, mas Rita e a nova versão da Tutti Frutti, com o duo Carlini, Marcucci e os irmãos Nardo adicionados agora de Paulo Maurício (teclados, sintetizador, vocais) e Sergio Della Monica (bateria, percussão, Tubular Bells), lançaram ao meu ver o seu mais subestimado trabalho. Entradas e Bandeiras, de 1976, é um irmão mais novo de seu antecessor, com ótimos rocks, vide "Corista de Rock", com mais um maravilhoso sol de Carlini, "Superstafa" (e dê-lhe solos ácidos de Carlini) e o riff pesado de "Posso Contar Comigo", com mais uma grande letra feminista de Rita. Adoro o hardão de "Lady Babel", faixa bastante intrincada e surpreendente para quem conhece Rita apenas por seus sucessos ao lado de Roberto de Carvalho, e a paulada "Departamento de Criação", com Rita gritando que vai "dar trabalho à crítica" e um peso descomunal que alegrará os metaleiros de plantão, além de um mogg fantástico.
A Tutti Frutti em 1976
Fãs de Raul Seixas irão reconhecer no country-rock de "Bruxa Amarela" as origens do que se tornou "Check-Up" anos depois. Claro, a canção é mais uma parceria de Rita com o guru Paulo Coelho, que depois adaptou a letra para Raulzito gravar. Outra faixa que os fãs mais ávidos irão reconhecer uma certa "semelhança" com algo que já se ouviu é "Com a Boca No Mundo (Tico-Tico)", com seus acordes de C, G, A saídos de um Velvet Underground "Sweet Jane", mas com uma virada embalada muito sensual e impactante pelo peso do funkzão/disco que a Tutti-Frutti entrega, bem como o tesão da voz de Rita. Fecha o disco a experimental "Troca-Toca", com vocalizações e um embalo desconcertantes. E ainda, temos até uma nova "Ovelha Negra", através da linda "Coisas da Vida", uma das faixas mais motivacionais da carreira de Rita. Um álbum muito bom, que conseguiu encobrir os problemas internos que já rolavam entre Rita e Carlini.
O álbum que registrou a turnê de Rita ao lado de Gilberto Gil e sua Refavela
A turnê de Rita e Tuffi Frutti com Gil e sua Refavela entre outubro e novembro de 1977 culminou no excelente ao vivo Refestança, em 1977, que marca a estreia de Roberto "Zezé" de Carvalho como guitarra base e teclados, em uma Tutti Frutti contando ainda com Carlini, Mariucci, Sérgio Della Monica (bateria), Wilson Pinto "Willi" (vocais) e Naila "Scorpio" Mello (percussão). O contexto da turnê surgiu um ano antes, quando a imagem de Rita ficou manchada ao ser presa por porte de drogas, assim como o baiano Gil. Então, os dois criaram o projeto para poder reerguer suas carreiras, e assim nasce um álbum espetacular, que fez questão de colocar "É Proibido Fumar" de Roberto Carlos no set list, uma forma de contar o que aconteceu um ano antes, e que conta com os dois grupos no palco. Eles também atacam ao mesmo tempo a revisão de "Get Back" dos Beatles, aqui batizada "De Leve", o rockzão "Refestança", com a Refavela trazendo toda sua pimenta percussiva nas costas de Djalma Correia, um dos maiores nomes da percussão mundial, mas Naila não ficando nada atrás.
A Tutti Frutti se apresenta junto de Rita e Gil em canções do segundo, dando bons ares roqueiros para "Back in Bahia", "Giló" e "Arrombou a Festa". Já a Refavela, composta além de Djalma por Moacir Albuquerque (Baixo), Pedrinho Santana (Guitarra), Milciades Teixeira (Teclados), Carlos Alberto Chalegre (Bateria) e Lúcia Turnbull (vocais) abrilhanta a linda introdução de "Odara" (Caetano certamente vibrou ao ouvir sua canção na voz de Gil), "Eu Só Quero Um Xodó", interpreta a "Ovelha Negra" da "comadre", com grande tempero progressivo, e a melhor canção do álbum, o resgate de "Domingo No Parque", fazendo Rita novamente os backing vocals deste clássico que revelou os Mutantes para o Brasil lá no Festival da Canção da TV Record de 1967, e que aqui ganhou um final apoteótico. Um ótimo disco inclusive em termos de qualidade na produção.
O derradeiro disco de Rita com o Tutti Frutti
Na sequência, gravado entre muitas brigas de Rita e Carlini, Babilônia (1978) é o derradeiro disco de estúdio de Rita Lee com a Tutti Frutti é mais um álbum recheado de ótimos rocks, e abre com o grande sucesso, "Miss Brasil 2000", para sacolejar a casa sem piedade, e com Roberto brilhando no piano. Outros grandes sucessos ficaram e "Eu E Meu Gato", que entrou para a trilha da novela O Pulo do Gato, e é um bom rock comandado pelos teclados de Roberto, além das participações mais que especiais de Guto Graça Mello (tumba), Lincoln Olivetti (sintetizadores) e os gatos de Rita (Ziggy Stardust e Martha My Dear) e do cachorro Anibal. Outra para sacolejar é "Agora É Moda", que me lembra muito o que o Som Nosso de Cada Dia faz no lado A do álbum Som Nosso, sendo uma faixa muito dançante, e com uma letra muito atual, principalmente para os brasileiros que acreditam no desgoverno, com frases como "pegar alguém pulando o muro", "inquisição da idade média", "Culpar o mercado estrangeiro", "economizar a gasolina", "tentar salvar a natureza" entre outros. Não à toa, acho essa a melhor faixa do disco.
Willy, Marcucci, Carlini, Rita, Roberto, Naila Scorpio e Della Monica
Falando em Som Nosso, Manito da o ar da graça mais uma vez, agora no rockzão de "Jardins da Babilônia", mais um grande sucesso que lembra bastante "Esse Tal Roque Enrow". Importante lembrar, que a formação da Tutti Frutti é a mesma de Refestança. "Modinha" é uma parente próxima de "Vida de Cachorro" (Mutantes) e mais uma fantástica letra de Rita, acompanhada apenas pelos violões dela e Carlini, bem como uma tímida percussão feita por Naila e Sergio, e com Rita também na flauta doce. Há única faixa aquém, "O Futuro Me Absolve", apesar da boa letra, e com a participação de Chico Batera no gongo chinês. As brigas eram tantas que somente uma canção da dupla está em Babilônia, o ótimo rock de "Sem Cerimônia". Carlini também compôs sozinho o rockaço "Que Loucura", um parente próximo de "Agora Só Falta Você". Aqui está também a primeira parceria de Rita e Roberto, no caso a balada rocker "Disco Voador". Considero este o mais fraco dos álbuns aqui apresentados, mas mesmo assim, muito melhor do que muito do que Rita fez posteriormente, principalmente durante os anos 90 e 2000.
As brigas entre Rita e Carlini ganharam força (as baixarias e confusões deixo para o rapaz do "ok! ok!"), assim como o relacionamento entre Rita e Roberto se consolidou, e então, a cantora tocou sua carreira ao lado do marido, lançando outros clássicos atemporais para a música nacional, e deixando para a história esses cinco álbuns com a Tutti Frutti que foram os responsáveis por hoje ela ser considerada nada mais nada menos do que a Rainha do Rock Nacional.
Completou-se 45 anos de A Farewell To Kings, quinto disco de estúdio dos canadenses do Rush. O álbum por si só é considerado o primeiro da fase mais progressiva da banda, que seguiu ainda comHemispheres(1978),Permanent Waves (1980) eMoving Pictures(1981). Afinal, depois de namorarem por dois anos com o progressivo, o trio canadense, aqui formado por Geddy Lee (baixo, violão de doze cordas, mini-mooh, badd pedal synthesizer, vocais), Alex Lifeson (guitarras, guitarra de doze cordas, violões, violão de 12 cordas, violão clássico, bass pedal sinthesizer) e Neil Peart (bateria, sinos, tímpano, tubular bells, Wind Chimes, triângulo, Bell Tree, Vibraslap) resolveu assumir a relação (basta ver a quantidade de instrumentos que o trio está tocando), e o casamento ocorreu em 1977, gerando quatro filhos geniais citados acima.EmA Farewell to Kings, o trabalho dos canadenses é praticamente perfeito. Aliás, o que Lifeson faz em todo o álbum é de tirar o chapéu, e deixar aquela dúvida de por que ele nunca está entre os dez mais nas listas de melhores guitarristas de todos os tempos. Mesmo as canções mais simples, no caso a clássica "Closer to the Heart" e a lindinha "Madrigal", o homem está impressionando. Nas demais músicas, ouvimos a pura perfeição, seja nos extasiantes cinco minutos da faixa-título, destacando o violão clássico de Lifeson e seu solo de guitarra fora do comum, no hard simples de “Cinderella Man” ou nas maravilhas prog “Xanadu”, trazendo uma das mais apreensivas e perfeitas introduções criadas pelo trio, e “Cygnus X-1″, diamante bruto que foi lapidado um ano depois, tornando-o fácil um dos melhores da carreira dos caras.
Alex Lifeson, Geddy Lee e Neil Peart em 1977
Então, seguindo a série de lançamentos em comemoração aos 40 anos de seus discos, já apresentado aqui com 2112e Hemispheres, volto no tempo para comentar a versão de A Farewell To Kings, que foi lançada em 2017. A versão aqui apresentada é a Deluxe Edition, com três CDs, deixando a edição box Super Deluxe, com quatro LPs, três CDs, e mais um Bluray, apenas para o sonho de conquista de um colecionador (mas citarei o diferencial do box ao final). Já comentei sobre o álbum nos parágrafos acima, e o que posso acrescentar aqui é que as faixas estão com a mixagem feita para o relançamento, em CD de 2015, chamada de Abbey Road Mixes, então, vamos aos extras.
Nos CDs bônus, o lançamento resgata o show dos canadenses no dia 20 de fevereiro de 1978, no Hammersmith Odeon de Londres. Parte deste show saiu como CD bônus no ao vivo Different Stages (1998), com onze canções deste show lançados naquela época. Agora, o show vem completo, trazendo além das onze de Different Stages (a saber "Bastille Day", "By-Tor And The Snow Dog", "Xanadu", "A Farewell To Kings", "Something For Nothing", "Cygnus X-1", "Anthem", "Working Man", "Fly By Night", "In The Mood" e "Cinderella Man"), estão somadas quatro canções: "Lakeside Park", "Closer to the Heart", "2112" e "Drum Solo", totalizando 35 minutos a mais. O CD 3 também traz alguns extras, que comento na sequência.
O trio e toda sua parafernália ao vivo
Pegando a apresentação no Hammersmith, após a abertura com "Nights Winters Years", de Justin Hayward e John Lodge, entre muitas explosões, o Rush entra detonando com "Bastille Day", apropriadamente utilizada para abrir a turnê de um álbum chamado A Farewell To Kings. Essa paulada de Caress of Steel é tocada sem tirar uma nota em relação ao original, e logo, o trio acalma os ânimos com a suave "Lakeside Park", de 2112, onde já podemos perceber o uso do bass pedal synthesizer por parte de Lee e Lifeson, com pequenas intervenções entre as pontes da canção. Voltamos para a pancadaria com "By-Tor & The Snowdog", de Fly By Night, e um show à parte de Peart, e encurtada pela metade, abrino os trabalhos para "Xanadu". Essa é uma das grandes atrações do show no Hammesrmith Odeon, já que podemos conferir cinco das seis canções de A Farewell to Kings sendo apresentadas ao vivo, e claro, os doze minutos de "Xanadu", com o trio utilizando praticamente todos os instrumentos possíveis em uma única canção (os famosos double-necks de Lee e Lifeson e a incrível parafernália de instrumentos percussivos de Peart, além do já citado bass pedal synthesizer) é sempre um momento especial. A versão de "Xanadu" é bem próxima ao original e ao que ouvimos em Exit ... Stage Left, mas não por menos encantadora, mostrando que o Rush não era uma banda muito adepta à improvisos, sempre primando pela excelência de suas apresentações. Que grande som!
A versão aqui tratada
Seguimos pela linda "A Farewell To Kings", com Lifeson no violão clássico e mais uma série de empregos de novos instrumentos, seja o mini-moog de Lee ou os diversos apetrechos percussivos de Peart, em outro grande som deste álbum, passamos por "Something For Nothing" (2112), com Peart empregando os sinos tubulares, e encerramos o primeiro CD com "Cygnus X-1", simplesmente perfeita, em toda sua integridade e grandeza, ao longo dos seus 11 minutos dos quais é difícil dizer qual dos músicos está na melhor performance. Uma das canções mais fantásticas da carreira do Rush, simples, e ao mesmo tempo extremamente complexa, e que permitiu posteriormente a sequência para "Cygnus X-1: Book Two - Hemispheres".
O segundo CD traz as outras duas canções de A Farewell to Kings, mas começa com a paulada "Anthem", de Fly By Night, para mim a melhor faixa para abrir um show do Rush, mas que aqui vem abrindo o segundo CD. Passa por "Closer to the Heart", muito fiel ao original, e tem seu auge com os vinte minutos de "2112", a emblemática faixa que mudou a vida dos canadenses, como tratado aqui, e que nesse show do Hammersmith Odeon, ganhou mais uma interpretação visceral. Os agudos de Lee são impressionantes, o vigor de Peart é de perder o fôlego com quatro minutos, e toda a técnica de Lifeson nos seus solos e riffs são para colocar o guitarrista em um pedestal muito acima de alguns nomes consagrados do instrumento. Acho bem legal também que Lifeson resgata o tema de Contatos Imediatos de Terceiro Grau no momento em que o personagem central da suíte descobre a guitarra. Outra coisa interessante é a interpretação vocal de Lee no momento da conversa do personagem com os sacerdotes do Templo de Syrinx, mudando a forma de falar, e inclusive adicionando drama na voz da personagem quanto os sacerdotes menosprezam-o pela primeira vez. Rush inovando aqui!
O trio de ouro do rock canadense
A sequência final, com o Bis, é aquela conhecida, com "Working Man", "In The Mood" e o solo de bateria, porém acrescentando "Fly By Night" no meio delas. O solo de Peart já é bem próximo ao que depois ficou consagrado em "YYZ" de Exit ... Stage Left, porém adicionando diversos instrumentos. Para surpresa geral, no segundo Bis, a banda apresenta a última canção de A Farewell To Kings, "Cinderella Man", uma rara oportunidade de ouvir essa bela faixa ao vivo, já que depois disso ela participou pouca vez dos set lists dos canadenses. Ficou apenas "Madrigal" de fora, o que convenhamos, é bem pouco perto da grandiosidade do álbum. Fechando o segundo CD, temos uma série de cinco canções bônus.
A primeira é uma (na minha mais honesta e sem paixão visão) desnecessária versão de "Xanadu" feita pelo Dream Theater. Não entendo a lógica de gravar um cover tocando todas as notas igual ao original, apenas com a bateria soando diferente primeiro por que é Mike Mangini quem está tentando ocupar o posto de Neil Peart e segundo por que as peles sintéticas de hoje em nada se comparam ao som das peles dos anos 70. Os caras parecem adolescentes que estão aprendendo a tocar, que tentam imitar igualzinho os seus ídolos, e quando conseguem vão mostrar faceiros para as tias o resultado. Está tudo certinho, tudo bonitinho, mas é muito mecânico para o meu gosto. Para piorar, James LaBrie nunca foi um bom cantor, e ver ele destruindo na interpretação desse clássico é mais vergonhoso do que ver eleitor do Bolsonaro defendendo o mito com a famosa frase "E o PT?". Ridículo, muito ridículo esse cover aqui. Depois vem "Closer to the Heart" na versão do Big Wreck. Confesso que não conhecia a banda, mas aqui não se preocuparam em fazer algo idêntico ao original, o que ficou interessante, como uma espécie de hard pop que lembra Extreme nos anos 90, bem divertido. O solo foi totalmente renovado, e acho que é o mínimo que poderíamos esperar de algo assim. Não fiquei fã da banda, mas curti a revisão que eles apresentaram.
O box Super Deluxe de A Farewell To Kings
Os canadenses do The Trews (belo nome) revisitaram "Cinderella Man", que apesar de pecar como o Dream Theater, reproduzindo fielmente as notas originais, os vocais aqui encaixaram muito bem, e é agradável ouvir a canção com essa nova perspectiva vocal. O último cover vem de Alain Johannes, músico famoso por sua passagem no Queens of the Stone Age que fez uma viajante revisão para "Madrigal", recheada de sintetizadores. Para fechar os bônus, "Cygnus X-2 Eh", faixa que serviu para fazer os sons incidentais que abrem "Cygnus X-1".
Acompanha ainda um livreto de 44 páginas, das quais 20 são dedicadas a contar a história de A Farewell to Kings, bem como esmiuçar cada canção do álbum de uma forma tão detalhada em minutagem, e conceitos técnicos, que até fiquei com vergonha dos meus textos dos tempos de Maravilhas do Mundo Prog. Para se ter uma ideia, a faixa-título recebeu quatro páginas de avaliação, enquanto "Xanadu" são cinco páginas de detalhes feitos por Rob Bowman. Também no livreto há as letras do álbum, algumas imagens do trio e uma bela arte de recriação tanto da capa (que apresenta uma interessante charada com três "hobbies" pertencentes cada um a um membro da banda) e com uma bonita arte que acompanha as letras, ambas feitas por Hugh Syme, que criou a capa original.
O box Super Deluxe contém as mesmas canções deste box, porém, no Blu-Ray, além do áudio das canções originais de A Farewell to Kings, temos também os vídeos promocionais para "A Farewell To Kings", "Xanadu" e "Closer To The Heart", tornando-se realmente um fetiche para os colecionadores completistas. Daqui uns meses trarei o que está na versão de 40 anos de Permanent Waves, lançada ano passado, e aguardo o que virá para Moving Pictures.
Contra-capa da versão tratada aqui
Track list
Album - 2015 Abbey Road Remaster
1. A Farewell To Kings
2. Xanadu
3. Closer To The Heart
4. Cinderella Man
5. Madrigal
6. Cygnus X-1
CD 2 Live At Hammersmith Odeon - February 20, 1978
1. Bastille Day ( Features A Performance Of Justin Hayward & John Lodge " Nights Winters Years " )