quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

“Elephant” (XL Recordings, 2003), The White Stripes

 



No cenário da música pop durante a virada dos anos 1990 para os anos 2000, o grunge já havia se tornado coisa do passado. O britpop ainda dava as cartas com Oasis e Blur à frente, mas era um movimento em franco declínio. As boy bands como Backstreet Boys e NSYNC, estavam no ápice do modismo, enquanto que Britney Spears e Christina Aguilera, duas estrelas pop em plena ascensão, travavam uma rivalidade para ver quem seria a herdeira de Madonna. O rap, que nos anos 1990 havia crescido bastante em popularidade, seguia firme e forte para se tornar o gênero musical preferido do público jovem, disputando esse posto que por muito tempo pertenceu ao rock. 

E é nesse cenário que uma nova geração de bandas surge para injetar mais vitalidade ao rock, que naquele momento, parecia ser um estilo musical sem futuro, fadado à decadência. As tais bandas buscavam no passado a vitalidade que rock parecia necessitar. Houve um resgate do som e da estética do rock de garagem dos anos 1960, e da new wave e pós-punk dos anos 1980, porém passados por um processo de “reciclagem” e atualização. Capitaneada pela banda americana The Strokes, essa geração foi saudada pela crítica musical como a “salvação do rock”, e que contou com bandas como The Killers, Interpol, The Libertines, The Hives e The Vines,. Aquela geração logo foi batizada pela crítica musical de garage rock revival ou pós-punk revival. Entre aquelas bandas, o duo norte-americano The White Stripes, foi um dos maiores expoentes daquele seguimento.

Formada em 1997, em Detroit - cidade natal do MC5 e The Stooges - por Jack White (guitarra, voz e piano) e Meg White (bateria), a dupla atraiu a atenção para si por causa da estética visual baseada nas cores vermelha, preta e branca, pelo som cru e pesado que calcado no blues rock e punk, e pela intrigante relação entre Jack e Meg. No início, se pensava que eram irmãos, mas na verdade foram casados, entre 1996 e 2000.

O duo norte-americano ganhou visibilidade a partir do segundo álbum, De Stijl (2000), cujo título se refere ao nome do grupo de artistas holandeses de vanguarda liderado por Piet Mondrian (1872-1944) e Theo van Doesburg (1883-1931) que criou em 1917, um dos movimentos mais importantes da arte moderna chamado Neoplasticismo. Com o terceiro álbum, White Blood Cells (2001), veio o reconhecimento por parte da críticaO White Stripes se firmava como uma das mais destacadas bandas de rock de sua geração. Mas a consagração só chegou através do quarto álbum, Elephant, o trabalho mais aclamado pela crítica e o melhor sucedido comercialmente da discografia da banda.


Início de carreira: The White Stripes num show no Paycheck's Lounge,
em Hamtramck, em Michigan, Estados Unidos.

Diferente dos três álbuns anteriores, gravados em Detroit – exceto White Blood Cells, gravado em Memphis – Elephant foi gravado fora dos Estados Unidos. As sessões de gravação de Elephant ocorreram em Londres, Inglaterra, no Toe Rag Studios e no Maida Vale Studios. A produção foi conduzida pelo próprio Jack White. Todo o material do álbum foi gravado em abril de 2002, exceto a a faixa “Well It's True That We Love One Another”, gravada em novembro de 2001, no Toe Rag Studios. A faixa “I Just Don't Know What to Do With Myself” foi única faixa gravada no Maida Vale Studios.

Um dado curioso no processo de gravação de Elephant foi que nenhum computador foi utilizado. Todo os equipamentos utilizados nas gravações eram antigos, como um gravador de oito canais dos anos 1960. Inclusive, na ficha técnica da produção presente no encarte do álbum, fizeram questão de colocar um aviso destacando o não uso de computadores nas gravações.

Talvez por esse detalhe, a sonoridade crua da White Stripes soe em alguns momentos como a de uma banda de rock da virada dos anos 1960 para dos anos 1970. É bem verdade que o rock de garagem dos anos 1960 sempre foi uma das principais influências do duo de Detroit, assim como o blues rock daquela mesma época. Os White Stripes apenas juntaram essas referências e as “reciclaram”, dando uma cara mais contemporânea. E é o que se ouve em Elephant, onde a banda se mostra mais madura.

O álbum começa com o petardo chamado “Seven Nation Army”, música que foi o primeiro single de Elephant. “Seven Nation Army” possui um riff de guitarra tão incrível e avassalador que hoje figura na galeria dos maiores riffs de guitarra da história do rock. De tão incrível, virou até canto de torcidas de futebol em várias partes do mundo.


The White Stripes em cena do videoclipe de "Seven Nation Army".

A faixa seguinte, “Black Math”, possui a crueza veloz do punk, mas num dado trecho da música, a banda acrescenta o peso do heavy metal e emprega num andamento mais lento. Contudo, mais adiante, retoma a velocidade rítmica inicial. Alternando peso, leveza e solos sujos de guitarra, “There's No Home for You Here” é um rock balada que trata sobre fim de relacionamento carregado mágoas e ressentimentos.

“I Just Don't Know What To Do With Myself” é uma regravação de uma antiga canção de Burt Bacharach e Hal David, gravada pela primeira vez por Chuck Jackson, em 1962. A letra é romântica, em que o eu lírico se mostra completamente perdido, sem rumo, depois que a pessoa amada foi embora.

Em “In The Cold, Cold Night”, é Meg White quem canta sozinha, canção na qual ela é uma garota sedutora que se declara para um rapaz sem fazer rodeios, indo direto ao ponto, sem se importar com o que os outros pensam. A juvenil “I Want To Be The Boy To Warm Your Mother's Heart” é um rock balada sobre um garoto adolescente que tenta agradar a mãe de sua namorada, uma senhora que não parece ser nada agradável. “You've Got Her In Your Pocket” é uma balada folk à base de voz e violão em que Jack White dá conselhos para um amigo não perder a garota que ama.

“Ball And Biscuit” guarda fortes influência do blues rock do Led Zeppelin. Ao logo da música, o ritmo alterna uma levada blues calma com um som pesado e “sujo” de camadas de guitarras. Os versos da canção tratam sobre um sujeito presunçoso que acredita que nenhuma mulher resiste ao seu poder de sedução.

Terceiro single do álbum, “The Hardest Buttin To Button” é um dos grandes hits dos White Stripes. Este rock de garagem de som básico, cru e poderoso, tem como um dos principais destaques o som do bumbo fazendo a marcação em boa parte da faixa. Segundo Jack White, “The Hardest Buttin To Button” fala sobre um garoto que tenta encontrar o seu lugar numa família disfuncional com a chegada de um novo bebê.


Meg White e Jack White na sessão de fotos para a capa de Elephant.

“Little Acorns” começa com uma voz masculina narrando a história de Janette, uma garota que conseguiu superar os seus problemas pessoais após observar um esquilo carregando nozes. A voz da narração é de Mort Crim, ex-apresentador de noticiários de TV nos Estados Unidos. Depois da narração, entram os White Stripes com um peso sonoro que beira o heavy metal. As duas faixas seguintes, “Hypnotize” e “Girl, You Have No Faith In Medicine” são velozes e agressivas, e mostram o quanto o Whites Stripes bebeu na fonte do rock de garagem de bandas dos anos 1960 como The Sonics ou do proto punk dos Stooges e MC5 para compor a sua formação musical.

Encerrando o álbum, “Well It’s True That We Love One Another”, uma baladinha folk a base de voz e violão em que Jack e Meg White, cantam juntos, e contam com a participação especial da cantora inglesa Holly Golightly.

Aclamado pela crítica, Elephant vendeu mais de 3 milhões de cópias no mundo inteiro, pouco mais de 2 milhões apenas nos Estados Unidos. Ficou em 6º lugar na parada da Billboard 200, nos Estados Unidos, e 1º lugar nas paradas de álbuns do Reino Unido, da Suécia e da Noruega.

O duo White Stripes conquistou prêmios importantes pelo trabalho feito em Elephant. Em 2003, o videoclipe de “Seven Nation Army” conquistou o MTV Music Awards na categoria “Melhor Edição de Vídeo”. No ano seguinte, em 2004, Elephant conquistou o prêmio Grammy na categoria “Melhor Álbum de Música Alternativa”, enquanto que “Seven Nation Army” venceu na categoria “Melhor Canção de Rock”. Naquele mesmo ano, “Seven Nation Army” conquistou o NME Awards na categoria “Melhor Single”.

Além das premiações que disputou, Elephant já é reconhecido pela imprensa musical como uma obra de relevância na história do rock. Em 2012, o álbum ficou em 390º lugar na lista dos “500 Melhores Álbuns de Todos Os Tempos” da revista Rolling Stone. Foi eleito pela mesma revista como 5º melhor álbum dos anos 2000.

Faixas

Todas as músicas escritas por Jack White, exceto onde está especificado.
  1. "Seven Nation Army"   
  2. "Black Math"    
  3. "There's No Home for You Here"           
  4. "I Just Don't Know What to Do with Myself" (Burt Bacharach, Hal David)            
  5. "In the Cold, Cold Night"            
  6. "I Want to Be the Boy to Warm Your Mother's Heart"   
  7. "You've Got Her in Your Pocket"             
  8. "Ball and Biscuit"           
  9. "The Hardest Button to Button"             
  10. "Little Acorns" (Jack White, Mort Crim)
  11. "Hypnotize"     
  12. "The Air Near My Fingers"         
  13. "Girl, You Have No Faith in Medicine"   
  14. "Well It's True That We Love One Another" 

"Seven Nation Army"

"Black Math"

"There's No Home for You Here"


"In the Cold, Cold Night"

"I Want to Be the Boy to Warm 
Your Mother's Heart"

"You've Got Her in Your Pocket"

"Ball and Biscuit"

"The Hardest Button to Button"

"Little Acorns"

"Hypnotize"

"The Air Near My Fingers"

"Girl, You Have No Faith in Medicine"

"Well It's True That We Love One Another"

10 discos essenciais: Erasmo Carlos

 


Amigo de fé, irmão, camarada de Roberto Carlos, Erasmo Carlos nasceu em 5 de junho de 1941, no Rio de Janeiro. Seu nome de batismo é Erasmo Esteves, cresceu no bairro da Tijuca, onde na adolescência, nos anos 1950, teve os primeiros contatos com o rock’n’roll junto com outros amigos de sua mesma idade como Roberto Carlos, Tim Maia e Jorge Ben, amigos esses que anos mais tarde, assim como ele, se tornaram mais tarde grandes estrelas da música brasileira.

A carreira musical de Erasmo começa em 1957, quando formou a banda The Snakes com Arlênio Lívio, Edson Trindade e José Roberto, três dissidentes de uma outra banda juvenil, The Sputniks, que haviam acabado após um desentendimento entre dois outros membros do grupo, Roberto Carlos e Tim Maia. Os Snakes chegaram a lançar em 1961 um compacto (single) e um álbum, mas pouco tempo depois, o grupo se dissolveu. Através de Carlos Imperial, Erasmo entrou na banda Renato & Seus Blue Caps para ser vocalista. O grupo acompanhou Roberto Carlos em 1963 na gravação de “Splish Splash”, de Bobby Darin, cuja versão em português foi escrita pelo próprio Erasmo. A música na voz de Roberto se tornou um grande sucesso, e a partir de então, Roberto e Erasmo iniciaram a mais bem sucedida parceria da música brasileira. Nessa mesma época, Erasmo também se dedicava a escrever versões em português de sucessos do rock internacional.

Em 1964, Erasmo Carlos deixa o Renato & Seus Caps para iniciar carreira solo. Lança em 1965, pela gravadora RGE, o seu primeiro álbum solo, A Pescaria. Em setembro do mesmo ano, estreia na TV Record, em São Paulo, o programa Jovem Guarda. Comandado por Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa, o programa exibido nas tardes de domingo apresentando bandas e jovens cantores de rock, se torna um fenômeno popular televisivo. Conquista milhões de jovens em todo o Brasil e dita o gosto musical da juventude brasileira. O programa deu grande visibilidade a Erasmo, que no programa, recebeu o apelido de “Tremendão”.

Com o fim do programa Jovem Guarda, Erasmo redireciona a sua carreira ao tentar se desvencilhar do ídolo juvenil e tenta buscar um tipo de música mais madura. E essa busca se concretiza em 1971, quando é contratado pela gravadora Philips, onde ele vai conectar a sua vocação roqueira com a MPB. Naquele ano, lança pela Philips, o elogiado Carlos,Erasmo. A partir de 1972, os discos de Erasmo passaram a ser lançados pelo selo Polydor, subsidiária da PolyGram, grupo fonográfico criado naquele ano após fusão dos selos fonográficos da Philips com os da Siemens. Com Carlos, Erasmo, o cantor inicia a melhor fase de álbuns de canções inéditas de sua carreira que vai até o álbum Pelas Esquinas de Ipanema (1978).

Em 1980, lança Mulher (Sexo Frágil), o álbum mais vendido da carreira de Erasmo Carlos, e que traz sucessos como “Mulher”, “Pega na Mentira” e “Minha Superstar”. Durante toda a década de 1980, o cantor lança anualmente discos com apelo comercial, mas sem a qualidade artística dos seus álbuns da década de 1970. Nos anos 1990, a carreira de Erasmo sofre um declínio, o cantor lança em toda aquela década apenas dois álbuns, Homem de Rua (1992) e É Preciso Saber Viver (1996).

Mas nos anos 2000, a carreira de Erasmo começa a recuperar o prestígio. Em 2001, seu álbum Pra Falar de Amor emplaca a canção “Alguém na Multidão”, dueto do cantor com Marisa Monte. Vinte e sete anos depois de Erasmo Convida (1980), Erasmo Carlos lança em 2007 o Erasmo Convida II que traz novos e ilustres convidados como Chico Buarque, Lulu Santos, Zeca Pagodinho, Adriana Calcanhoto, Skank, Los Hermanos, Djavan entre outros. Em 2009, lança pelo selo Coqueiro Verde, o álbum Rock’n’Roll, produzido por Liminha, que apresenta Erasmo retomando a sua vocação roqueira. No ano seguinte, Erasmo Carlos lança a sua autobiografia, Minha Fama de Mau, pela Editora Objetiva.

Em 2014, Erasmo é agraciado com o prêmio Grammy Latino de “Melhor Álbum de Rock Brasileiro”, pelo álbum Gigante Gentil. No ano seguinte, é lançado o DVD Meus Lados B, trazendo apenas músicas pouco conhecidas de Erasmo. Na premiação do Grammy Latino em 2018, em Las Vegas, Estados Unidos, Erasmo recebe o Prêmio Excelência Musical, oferecido pela Academia Latina de Gravação, um justo reconhecimento pelo conjunto de sua obra. Em 2019, Erasmo Carlos lança Quem Foi Que Disse Que Eu Não faço Samba..., um EP com sambas, sambalanços e samba rocks compostos por ele ao longo de sua carreira.

Abaixo, confira dez discos que ajudam a compreender a carreira de Erasmo Carlos.


A Pescaria (RGE, 1965). Primeiro álbum da carreira solo de Erasmo Carlos, A Pescaria, foi lançado cerca de três meses antes da estreia do programa Jovem Guarda, na TV Record. Com um repertório baseado em rock’n’roll, surf rock e baladas românticas, A Pescaria emplacou alguns dos maiores clássicos da Jovem Guarda como movimento musical, como a faixa “Festa de Arromba” (um rock sobre uma festa reunindo os grandes astros da música jovem brasileira da época), “Terror Dos Namorados” e “Fama De Mau”.




Você Me Acende (RGE, 1966). Em seu segundo álbum, Você Me Acende, Erasmo já havia alcançado a fama de astro da Jovem Guarda. Já conhecido pelo apelido de “Tremendão”, Erasmo havia assumido a persona de “bad boy”, e isso fica evidente na capa. Você Me Acende dá continuidade ao rock juvenil e descontraído do álbum anterior, A Pescaria. Mas o álbum traz um Erasmo em sua primeira inovação em “O Carango”, antecipando o canto cheio de malandragem que se tornaria a marca registrada de Wilson Simonal (1938-2000). Porém, a baladinha “Gatinha Manhosa” foi talvez a faixa mais famosa do álbum. Você Me Acende traz outros bons e divertidos momentos nos rocks “Alô Benzinho”, “Você Me Acende” (versão de “You Turn Me”, de Ian Whitcomb), “Peço A Palavra” e “É Duro Ser Estátua”.


Erasmo Carlos E Os Tremendões (RGE, 1966). Último álbum de Erasmo Carlos pela RGE, Erasmo Carlos E Os Tremendões traz indícios dos caminhos que o cantor tomaria para a sua carreira pós-Jovem Guarda. Há flertes com a MPB (“Teletema” e “Saudosismo”) e o samba rock (“Coqueiro Verde”). Erasmo até se aventura num clássico de Ary Barroso (1903-1964), nada menos que “Aquarela do Brasil”. Gravada para a trilha sonora do filme Roberto Carlos E O Diamante Cor de Rosa (1970) e incluída no álbum Erasmo Carlos E Os Tremendões, a balada romântica “Vou Ficar Nu Pra Chamar Sua Atenção” tem uma letra que mistura inocência e malícia, e uma sonoridade que remete ao Erasmo dos tempos da Jovem Guarda.   



Carlos, Erasmo (Philips, 1971). Este álbum marca a estreia de Erasmo Carlos na gravadora Philips, na época composta por elenco de grandes estrelas da MPB, dentre as quais Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina e Gilberto Gil. O disco estreitou a aproximação do rock praticado por Erasmo com a MPB. Além de canções da dupla Roberto e Erasmo, o álbum traz canções de compositores da MPB como Caetano Veloso, Taiguara, Jorge Ben e dos irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle. No repertório, há um leque de estilos que passa pela MPB, samba rock, soul e claro, o rock. Os destaques ficam para “De Noite Na Cama”, “É Preciso Dar Um Jeito Meu Amigo” e “Agora Ninguém Chora Mais”. A curiosidade fica por conta de “Maria Joana”, composta por Roberto e Erasmo, e que traz uma letra que parece ser uma sutilíssima alusão à maconha.


Sonhos e Memória (1941-1972) (Polydor, 1972). Disco de teor autobiográfico e nostálgico, que já começa pelo próprio título, traz o ano de nascimento e o ano de lançamento do álbum. “Largo da 2ª Feira” é uma canção saudosista em que Erasmo relembra a infância e adolescência no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.  Em “Bom Dia, Rock’n’Roll”, Erasmo presta um tributo aos pioneiros do rock que ele aprendeu a admirar quando era adolescente, nos anos 1950. “Mané João” é um samba minimalista com inserções de piano rock’n’roll, que traz nos seus versos uma história trágica que remete a “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil. Erasmo faz uma releitura de “É Proibido Fumar”, que ganha aqui neste disco, uma versão mais pesada e agressiva do que a original gravada por Roberto Carlos em 1965. 


1990 - Projeto Salva Terra (Polydor, 1974). Após o ano de 1973 sem lançar álbum, apenas se concentrando em compactos, Erasmo Carlos retorna ao formato álbum com 1990 - Projeto Salva Terra, um trabalho em que o ex-ídolo da Jovem Guarda prossegue a sua experiência com a MPB e o samba rock, mas sem abrir mão do rock. Neste disco, Erasmo volta a regravar um antigo sucesso gravado por Roberto Carlos, “Negro Gato”, que aparece aqui numa versão mais pesada. O country rock “A Lenda de Bob Nelson” é uma homenagem de Erasmo ao seu ídolo de infância, Bob Nelson, cantor brasileiro que fez sucesso nos anos 1940 cantando canções em português inspiradas em filmes de faroeste. A faixa “1990 – Projeto Salva Terra” traça um futuro apocalíptico para o planeta Terra. O futurismo é tema também de “Haroldo, O Robô Doméstico”, um rock divertido sobre um robô humanizado, atrapalhado e apaixonado, que teve um final trágico. “Cachaça Mecânica” é claramente inspirada em “Construção”, de Chico Buarque. Mas sem sombra de dúvidas, a principal faixa do álbum é “Sou Uma Criança, Não Entendo Nada”, que se tornou um grande sucesso radiofônico.


Banda dos Contentes (Polydor, 1976). Neste álbum, nota-se uma menor influência da MPB em relação aos álbuns anteriores, e um maior protagonismo do rock. “Filho Único” foi a faixa de maio sucesso do álbum, graças à sua inclusão na trilha sonora da novela Locomotivas, da TV Globo, em 1977. A bela “Queremos Saber”, de Gilberto Gil, traz indagações sobre os avanços tecnológicos. “Terra de Montezuma”, de Ruy Maurity, é uma canção com ritmo musical andino sobre a cultura asteca antes da chegada dos colonizadores espanhóis nas Américas. Banda dos Contentes trouxe aquela que seria a primeira versão de “Paralelas”, gravada antes mesmo de seu autor, Belchior, e ainda com a letra original, que foi modificada posteriormente na versão gravada por Belchior e Vanusa. O álbum termina em clima de filme de faroeste com a boa “Billy Dinamite” que conta a história de amor de um cowboy e da índia Pão de Mel.


Erasmo Convida (Polydor, 1980). A ideia de gravar um álbum recheado de convidados fazendo dueto com Erasmo Carlos em regravações dos seus grandes sucessos, surgiu durante um almoço entre o diretor artístico Guti, o produtor Jairo Pires e o próprio Erasmo. Porém, a ideia de gravar um disco com convidados ilustres parecia ser uma tarefa difícil. Contudo, Erasmo encarou o desafio, listou o repertório, e em pouco tempo, conseguiu reunir um elenco estelar de convidados. Dentre os duetos, merecem destaque o dueto de Erasmo com o eterno amigo Roberto Carlos (“Sentado À Beira do Caminho”), com Rita Lee (“Minha Fama de Mau”), com Tim Maia (“Além do Horizonte”) e com Caetano Veloso (“Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”).



Mulher (Sexo Frágil) (Polydor, 1981). Desde a chegada de Erasmo Carlos à Philips, Mulher (Sexo Frágil) foi o maior sucesso comercial de Erasmo Carlos. Na época de seu lançamento, o álbum causou polêmica por causa da capa que mostra Erasmo supostamente amamentado pela sua então esposa, Narinha. A faixa de maior sucesso radiofônico foi “Mulher”, composta por Erasmo e Narinha. Outras faixas que também se tornaram sucesso foram “Minha Superstar” (balada que Erasmo dedicou a Narinha) e a bem humorada “Pega Na Mentira”, em que Erasmo conta as mais absurdas mentiras, e inaugura a fase em que o cantor passou a incluir a cada disco uma canção com apelo cômico.


Rock’n’Roll (Coqueiro Verde, 2009). Nos anos 2000, Erasmo Carlos promoveu o renascimento da sua carreira, e este álbum, Rock’n’Roll, ajudou a resgatar a imagem roqueira do ex-astro da Jovem Guarda. É um disco com um repertório com canções de arranjos simples, rock’n’roll básico, sem firulas. “Cover” é um rock’n’roll divertido em que Erasmo brinca ao dizer que gosta de ser cover de si mesmo. “Jogo Sujo” parece tratar a vida como um jogo, onde sempre temos que apostar. A balada “Chuva Ácida” é uma canção sobre um relacionamento que chegou ao fim: “Canções de amor servem pra chorar as mágoas e esconder a dor”. O rock balada “A Guitarra É Uma Mulher” traz uma guitarra deliciosamente chorosa tocada brilhantemente pelo guitarrista Billy Brandão. Destoando de todo o álbum, “Celebridades” é uma faixa em que Erasmo faz uma rara inserção no ska.


Elisa C. Martin resgata o vigor espanhol no recém-lançado álbum “Nothing Without Pain”


Eu sou Elisa C. Martin, ‘La Guerrera’, e eu voltei para ficar!

A espera dos fãs da cantora Elisa C. Martin finalmente chegou ao fim. Recentemente, a reconhecida cantora espanhola lançou o emocional e autobiográfico álbum de estúdio “Nothing Without Pain”.

Em uma preparação técnica para esse momento, Elisa lançou diversos singles que receberam ótimas críticas do público e da imprensa especializada em heavy metal no mundo inteiro.

O álbum foi produzido e gravado na Espanha e em Los Angeles, com suporte do músico e produtor Damien Rainaud (Dragonforce, Baby Metal, Fear Factory, entre outros) e do reconhecido guitarrista brasileiro Bill Hudson (Doro, Dirkschneider, Northtale, Trans-Siberian Orchestra), que participa das faixas como guitarrista.

“A Guerreira”, como é popularmente conhecida na cena rock, compilou em 11 faixas o resultado de anos de trabalho. Nessas músicas, ela canta seus medos, dores, superações, paixões e amores. Agora, o público pode viver essa experiência sonora de altíssima qualidade.

O álbum digital completo está disponível nas principais plataformas de áudio e a música de trabalho é a energética “No Fear”, que reflete sobre a persistência e garra de sua própria intérprete. A faixa conta com um videoclipe, que está disponível no canal da cantora no YouTube. Assista:

Sobre o álbum, a cantora espanhola comenta: “‘Nothing Without Pain’, sem dúvida, é o álbum mais especial de toda a minha carreira. Em cada uma das músicas que escrevi, você encontrará um pedaço da minha vida: alegria, medo, tristeza, luta, amor e, principalmente, muita sinceridade. Vieram do fundo do meu coração, sem nenhuma censura e sem pensar em um estilo em particular”.

A artista ainda adiciona: “É um álbum muito inspirador. Tenho certeza de que quando você o ouvir, a música e a letra farão você sentir que pode lidar com qualquer coisa. Que você tem que tentar mais uma vez. Que você merece uma segunda chance e, acima de tudo, que você tem que seguir em frente quando recebe os golpes da vida. Nada se conquista sem dor”.

Eu sou Elisa C. Martin, ‘La Guerrera’, e eu voltei para ficar!”.

RUA DAS PRETAS COM NOVO SINGLE… “LISBOA, LISBOA”

 

RHYE, NOVOS RELAXANTES!

 


Depois do álbum "Home" e da respectiva digressão que passou pelo Hard Club em Junho, Mike Milosh aka Rhye regressou ao conforto do lar e azáfama do estúdio para a composição de um novo EP a sair em Março pela Secular Sabbath Records. De "Passing" conhece-se "A Quiet Voice", uma das variedades da nova categoria de relaxantes sonhadores... Atenção, pode provocar dependência!

DAVID SYLVIAN, PRECIOSIDADES!
















A vida de David Sylvian continua, por estes dias, uma misteriosa jornada afastada da ribalta e que a chegada de uma doença, assumida em 2012, estreitou na visibilidade e mediatismo. 

A rara entrevista, melhor, as histórias que contou em nome próprio em Outubro passado no programa de Mary Ann Hobbs da BBC Radio6 são, por isso, uma pequena janela aberta sobre alguma da escuridão dos seus dias pela América concentrada na faceta artística - a fundação de uma editora, a contínua propensão pela composição, as tournées antigas, as novas tendências ou as colaborações são narradas de forma seleccionada e tão motivacional que merecem audição obrigatória para um qualquer dos muitos fãs da sua milagrosa música. 

Não virando costas nunca às canções, Sylvian vai, aos poucos, colocando novidades ou autorizando reedições que é preciso percorrer em várias plataformas e que requerem atenção e paciência. Seguem-se algumas dessas preciosidades...

 

Os discos "Manafon" (2009) e "Blemish" (2003) foram repostos em versões de vinil melhoradas por Tony Cousins no Metroplis Studios de Londres e encontram-se, três meses depois, praticamente esgotadas, o mesmo tendo acontecido à reedição da compilação "Sleepwalkers" (2010) que a Groenland publicou recentemente

Nesta última, cabe um par de inéditos - "Modern Interiors" e "Do You Know me Now?", tema que recebeu video a cargo de Yuka Fujii, parceiro noutros projectos conceptuais, e que será também o título de uma nova caixa em CD que a sua editora Samadhisound publicará em parceria com a Universal no final do corrente ano com design do habitual colaborador Chris Bigg.


Durante a digressão "Slow Fire" de 1995, Sylvian escreveu o tema "I Do Nothing" que chegou a tocar em algumas das noites de concertos. Propôs-se melhorá-la, arranjada, para o disco "Dead Bees on a Cake" (1999) mas o inédito acabou perdido num computador avariado até que foi encontrado numa cassete pelo referido Yuka Fujii. O achado, captado ao vivo, mereceu alguns retoques e está, desde o início do mês, oficialmente disponível via Soundcloud.
  

Outra maravilha indispensável é "Grains (Sweet Paulownia Wood)", versão incluída no disco, já por aqui recomendado, de homenagem ao amigo Ryuichi Sakamoto saído em Dezembro e que por si só vale o tributo. Do álbum faz ainda parte uma variação electrónica de "Forbidden Colors", outro original de Sylvian ao lado de Sakamato (1983), a cargo de Gabriel Wek.   
   

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Resenha Марення Осені Álbum de Morkt Tre 2022 EP/Single

 

Resenha

Марення Осені

Álbum de Morkt Tre

2022

EP/Single

O MORKT TRE (ou MØRKT TRE) outro bom nome oriundo da cena black metal do leste europeu, lançou no finalzinho de 2022 um curto, mas ótimo registro. 

Disponibilizado de forma independente e virtual, o EP “Марення Осені” (2022), sucessor do impronunciável “Земля забута богом і людьми” (2020) chama atenção pela sua fúria, bom uso de teclados e passagens mais viajantes.

Quanto ao grupo, não há muitas informações a passar aos leitores: MORKT TRE, apesar de ser um grupo ucraniano, significaria o equivalente em norueguês a “árvore escura” ou “madeira escura”. A formação no Bandcamp indica quatro membros, mas sua página no Facebook, indica que seria uma dupla - e ainda assim, os nomes não coincidem. A habitual aura de mistério do black metal...

“Марення Осені” (2022) contém apenas nove faixas, sendo que quatro delas aparecem como “mix” das versões originais - particularmente, gostei mais das faixas originais, seu som soa mais denso e combina melhor com o estilo do grupo. “Мить Nіта” é uma linda música, com andamento lento e uma linha de baixo espetacular; “Зима” é uma típica música de black metal: pesada, com passagens rápidas e batera a milhão alternando com trechos mais viajantes, além de teclados bem carregados; “Стихія” tem toques de thrash metal, mais teclados e termina magistralmente com um furioso e matador solo; “Мряка” é a faixa mais bruta do disco e a instrumental “Присутній”, tocada pelo músico sueco SWARTADAUÞUZ (esse cara tem tanta banda ativa e participações em outros grupos que faltaria espaço aqui para citar sequer a metade deles), é a única que não aparece duas vezes.

Dois fatos curiosos: “Марення Осені” (2022) foi “improvisado e gravado durante um dia, em novembro de 2020”, sendo que seu lançamento só ocorreria em primeiro de dezembro de 2022, Todas as suas letras e a voz da faixa de abertura são de Yuriy Ruf, poeta, escritor e cientista ucraniano morto aos 41 anos durante combate na guerra contra a Rússia, em abril de 2022. Pode ser que o EP tenha sido lançado como uma homenagem a Yuriy...pode ser, pois tudo sobre o grupo é nebuloso e vago. 

Recentemente, o MORKT TRE anunciou sua participação no tributo “Echoes Of Wizard's Chamber” dedicado ao norueguês MORTIIS com a faixa “Імператор незвіданого світу".

Formação:
Ercld
Emperor
Sttng
Basic Muse

Faixas:
01 Мить Nіта
02 Зима
03 Стихія
04 Мряка
05 Присутній (SWARTADAUÞUZ cover)
06 Мить Nіта (agressive mix)
07 Зима (agressive mix)
08 Стихія (agressive mix)
09 Мряка (agressive mix

Destaque

Burt Bacharach & Elvis Costello - "Painted From Memory" (1998)

  “Burt é um gênio. Ele é um compositor de verdade, no sentido tradicional da palavra; em sua música você pode ouvir a linguagem musical, a ...