quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

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Pianista e cantor, Luiz Otávio lança “Essa Maré”

 

Tecladista e cavaquinista da banda de Mart’nália, Luiz Otávio vinha se mostrando à vontade nos vocais que fazia de improviso nos shows. “Ele tem uma voz bonitona, fazia uns djubidjubi que não é qualquer músico que faz”, descreve a cantora, com sua irreverência característica. Atenta, ela o chamou para cantarem juntos uma música do roteiro e, não demorou, começou a provocá-lo com a ideia de um disco solo dele, soltando a garganta. Assim nasceu “Essa maré” (Biscoito Fino), que chega às plataformas de streaming com produção da madrinha Mart’nália.


Mergulhado numa sonoridade black suburbana, que remonta à elegância quente de bailes da Zona Norte e da Zona Oeste, “Essa maré” traz sete faixas. Três são releituras de canções de Djavan, Arlindo Cruz e Don Beto – pistas de algumas das filiações do artista. As outras quatro são composições próprias de Luiz Otávio – uma delas em parceria com Tom Karabachian.

Ambrosia Pianista e cantor, Luiz Otávio lança "Essa Maré"
Ambrosia Pianista e cantor, Luiz Otávio lança "Essa Maré" 7

Apesar de “Essa maré” ter sido concebido nos últimos meses, a partir da sugestão de Mart’nália, sua história começa bem antes. Na verdade, ela tem origem ainda na infância do músico, no subúrbio carioca (?) de Campo Grande, na década de 1990. O músico de 33 anos lembra: “Ganhei um tecladinho de brinquedo dos meus pais e, com 4, 5 anos já estava tirando músicas que ouvia no rádio”. Sua família ouvia muito samba e pagode, uma das influências centrais nesse primeiro momento. “Minha lembrança mais antiga sou eu tocando ‘Essa tal liberdade’, do Só Pra Contrariar”, conta.

Outros sons o interessavam. Deficiente visual desde o nascimento, mantinha os ouvidos atentos a tudo: o Raul Seixas que seu tio adorava e que ele passou a adorar também; o jazz do Sexteto Onze e Meia, banda que ele ouvia na TV entre as entrevistas do programa de Jô Soares; a MPB nas trilhas de novelas, em especial a bossa nova que acompanha as tramas de Manoel Carlos. Essas e outras referências entram no caldeirão que une qualidade musical e apelo popular e que Luiz Otávio revela agora em “Essa maré”.

O calor da rua que sua música traz não é um acaso. Luiz Otávio rodou diversos cantos do Rio, de Copacabana a São Gonçalo, para tocar – sem valorizar as dificuldades por ser deficiente visual e por morar num bairro afastado de onde apareciam as chances de trabalhar. “As pessoas falavam: ‘Infelizmente não posso te chamar pra tocar porque não tenho carro pra te buscar’. Eu dizia: ‘Não tem problema, eu vou de ônibus’. E ia, levando teclado, guarda-chuva, bengala…”, recorda.

Oportunidades aumentaram quando Luiz Otávio foi apadrinhado pelo pianista Fernando Merlino, seu professor, e pelo baixista Arthur Maia, com quem tocou por oito anos. Foi Arthur, amigo de Mart’nália, que o apresentou à cantora. Nos últimos anos, tocou com Marcelo D2 e gravou nos discos mais recentes de Martinho da Vila e Elza Soares (esse ainda inédito).

“Essa maré” é o segundo disco de Luiz Otávio, e o primeiro de canções. Sua estreia em álbum foi instrumental, e era esse o caminho que ele parecia que ia trilhar em sua carreira. Mas quando a ideia do disco começou a ganhar força, o músico achou que devia compor. Começou a escrever melodias e, numa noite de insônia, escreveu letra para duas delas. Gostou da brincadeira e fez uma leva, da qual selecionou as quatro autorais do disco.

Em seu método de compor, sempre faz a letra a partir da melodia, buscando as palavras que se encaixam melhor naquelas notas. A parceria com Tom Karabachian, “Custe o que custar”, é exceção – ele fez a música para os versos do parceiro.

Nas letras, Luiz Otávio explora o amor em diversas formas. “Quem disse” é uma cantada desencanada e alegre; “Já tô” faz pedido de desculpas sedutor; “Custe o que custar” destila o lamento e a superação pelo fim do amor; “Essa maré” declara a paixão e convida ‘Vambora, simbora comigo/ Agora não tem mais perigo/ Se deixe envolver/ e deixa acontecer”.

As três regravações, pérolas escondidas do repertório de seus compositores, seguem o mesmo espírito suingado e romântico. São elas “Pensando nela”, de Don Beto; “Não penso em mais nada”, de Arlindo Cruz; e “Meu”, de Djavan. Nesta última, Luiz Otávio tem a participação de Mart’nália, com quem faz um dueto.

A banda de alto nível que acompanha Luiz Otávio (voz, piano e teclados) no disco é formada por amigos com quem já toca há algum tempo – a intimidade e a qualidade transparecem no resultado. A formação tem Thiago Silva (bateria); André Siqueira (percussão); João Rafael e Alexandre Katatau (dividindo-se nos baixos); Julio Raposo (guitarra); Marcelo Martins (sax, flauta e arranjos de sopros); Diogo Gomes (trompete); e Rafael Rocha (trombone).

É o próprio Luiz Otávio que amarra a definição da sonoridade de “Essa maré”, usando o mesmo balanço com que toca e compõe: “É uma mistura muito natural de soul, samba, balada, MPB, pop, uma pitada de funk e rap…  Enfim, é um disco carioca”.

Claudio mergulha no amor tropical com single “Canga Estendida”


O entardecer de um amor vivido numa praia. Este é o ponto de partida de “Canga Estendida”, novo single do cantor, compositor e ator Claudio, que chega às plataformas digitais. 

A canção, composição própria, mergulha em elementos do Neosoul e nos violões da Bossa Nova para materializar o clima tropical em seu apogeu, o verão, nos instrumentos e em vocais já moldados pelas suas referências negras do Gospel. Este é o quarto single da carreira do cantor e inaugura uma série de lançamentos para o seu primeiro EP, “Pra Molhar”, previsto para este trimestre.

– Eu tenho um carinho por esse som porque ele foi construído minimamente, dos violões à percussão. Estou construindo positivamente uma imagem que só agora a mídia entendeu que deve fazer. O amor entre pessoas negras existe e eu quero contar essas histórias – conta.

Ambrosia Claudio mergulha no amor tropical com single “Canga Estendida”
Capa de “Canga Estendida”

A produção musical é de Pedro Guinu, que toca com Baco Exu do Blues e já realizou projetos em parceria com Russo Passapusso, da banda BaianaSystem. As imagens são do fotógrafo Cristian Maciel e a direção de vídeo é de Joyce Prado, premiada pelo WME em 2018 e 2021, com produção da Oxalá Produções, que assina trabalhos como “Bom Mesmo é Estar Debaixo D’Água”, de Luedji Luna.

Sentimentos invisibilizados

Carioca da Taquara, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, Claudio se lançou na música em 2019 e imprime em suas letras e melodias a fusão da música preta cosmopolita com os ritmos brasileiros. As suas composições têm presença marcante da percussão e do violão embalando letras românticas que exploram a subjetividade de um homem negro que fala de amor e criam espaços para refletir sobre a invisibilidade dos sentimentos de um homem negro LGBTQIAP+. Para isso, Claudio escolhe destacar trabalhadores da praia, negros em sua maioria, que têm suas histórias apagadas.

– Tenho feito música com a preocupação de eternizar minhas narrativas, não só seguindo o que é tendência, mas construindo a minha identidade. E isso tem acontecido de forma gradativa. Eu ainda sou um artista em início de carreira e tudo o que tenho disponível para minhas entregas é tempo. Não existe cobrança de lançamentos rápidos. Por isso, aproveito esse tempo para produzir com excelência – revela.

Carreira como ator

Formado pela escola pública de teatro mais antiga da América Latina, a Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna, Claudio teve um rico aprendizado integrando as artes dramáticas, canto, música, cenografia, figurino, história da arte, expressão corporal e muitas outras matérias.

A partir daí, estrelou diversas peças e curtas, como “De Jangada, a Maresia”, filme exibido no Festival de Cannes. Na TV, foi um dos integrantes do programa Amor & Sexo, da Rede Globo, onde foi apadrinhado por Gloria Groove. A sua próxima empreitada na atuação será em “A Vida Pela Frente”, série que chega ao Globoplay em 2023.


Gabrielle Aplin lança “Skylight” em dueto com Zeeba

A cantora e compositora inglesa Gabrielle Aplin se une ao brasileiro Zeeba em uma nova versão de seu hit “Skylight”, trilha sonora da novela “Todas as Flores”, do Globoplay e faixa de abertura de seu recém-lançado álbum “Phosphorescent”. O pop alternativo e intimista da versão original ganha novos contornos de cumplicidade e aconchego ao se tornar um dueto. 


“Estou empolgada de voltar ao Brasil neste mês para um show e para lançar essa versão de ‘Skylight’ com Zeeba. Amei o que ele trouxe para a música e espero que as pessoas gostem tanto quanto eu fiz”, conta ela. Ao que ele conclui: “O que mais gostei neste projeto foi de termos ficado livres para escolher qual música seria esse dueto. A partir disso, nossa parceria fluiu demais, acabei escrevendo um verso novo para a ‘Skylight’, que já é uma música romântica, e ficou uma conversa bonita entre eu e a Gabrielle. Estou muito feliz de fazer parte disso”.

Com este lançamento, Gabrielle reforça sua conexão com o público brasileiro – a artista desembarca em São Paulo nesta semana para uma exposição de arte e um show intimista apresentando o universo de “Phosphorescent” para seus fãs.


Sabe qual é a música mais triste do mundo?

 

música mais triste

Aposto que se lhe perguntarmos qual a música mais triste que conhece nos vai sugerir meia dúzia de nomes de músicas realmente tristes, associadas possivelmente a momentos menos felizes da sua vida. Porém, neste post, não vamos falar das músicas que são mais tristes para si: mas sim daquela que é universalmente relembrada como a mais triste de sempre.

Curiosamente, é até à Hungria que viajamos para encontrar esta música. De todos os cantos do mundo, há quem continue a eleger este tema como como o mais deprimente de que há história. Chama-se Gloomy Sunday, foi composto por Rezso Seress e está associada a mais de 100 casos de suicídio em várias partes do mundo. Curiosamente, o próprio compositor pôs termo à sua vida.

Não acha que tudo isto já dá mais do que motivos para que Gloomy Sunday (Domingo Sombrio) possa ser considerada a música mais triste do mundo? Neste post, contamos a história desta música e do seu compositor.

A história da música mais triste do mundo

Começamos então por Rezso Seress, o compositor húngaro que compôs Gloomy Sunday. Nascido a 3 de novembro de 1899, aprendeu de forma autodidata a tocar piano. Estes primeiros passos pelo mundo da música acabaram por levá-lo a assumir um interesse pela composição.

Em 1933, depois de terminar uma relação com a sua namorada, ficou de tal forma deprimido que transpôs o que lhe ia na cabeça (e no coração) para a música Gloomy Sunday. Para este desabafo musical, que se tornou um sucesso anos mais tarde, contou com a ajuda dos seus amigos que lhe disseram como podia tornar alguns dos versos mais poéticos.

Hoje, alguns especialistas em música acreditam na possibilidade de Seress não ter composto a música para a namorada. A inspiração, acreditam, veio sim da tristeza que sentia para com toda a situação social do mundo, desde guerras às visões apocalípticas apontadas por alguns.

   

Como apontamos acima, esta foi uma música que se tornou popular na Hungria… apesar de ter levado o seu tempo. Passaram-se dois anos até Gloomy Sunday, então gravada novamente por Pál Kálmar, atingir uma certa popularidade. Mas eis então que acontece algo muito curioso: começam a acontecer suicídios na Hungria, todos eles associados de alguma forma à música de Seress.

Esta coincidência conduziu por isso a medidas mais drásticas: à censura da música na Hungria. Como é natural, a censura provocou exatamente o efeito oposto: o aumento da popularidade da música. Em 1936, Gloomy Sunday tinha sido traduzida para inglês e gravada pela voz de outros artistas. Foi assim que, em 1941, Bille Holliday interpretou o tema… apesar da BBC ter considerado meses mais tarde que era triste demais para ser reproduzido na rádio!

O mais triste de toda esta história será, provavelmente, o facto de Seress se ter suicidado anos mais tarde. Antes desse fatídico dia, em novembro de 1968, a vida de Seress provou ser complicada e dramática, chegando a ser levado para um campo de concentração nazi do qual fugiu. Anos depois, quando foi finalmente reconhecido pelo seu trabalho musical, Seress tentou reconciliar-se com a sua ex-namorada… Que se tinha suicidado através de consumo de veneno.

Terá sido este um dos traumas a motivar que saltasse da janela do prédio onde vivia, em Budapeste. Mesmo que a queda não tenha sido fatal, o compositor foi levado para o hospital onde acabou por se enforcar com uma corda que encontrou.


Tordo Eremita: o pássaro que consegue reproduzir a escala musical

 

tordo eremita

Todos os músicos sabem que a escala musical começa a partir de uma nota base às quais se sucedem outras notas que, gradualmente, aumentam de tom, partindo sempre da nota original. Foi a partir do conceito de escala musical que uma equipa de investigadores da Smithsonian comprovou que cerca de 70% das canções de um certo pássaro, o tordo eremita, seguem a escala musical.

tordo eremita do sexo masculino (Catharus guttatus) consegue cantar entre 6 a 10 tipos de música, que tendem a contar com sons mais agudos e rápidas. Além do mais, estas músicas começam normalmente com um assobiar muito baixinho que vai aumentando gradualmente. A partir desta primeira análise, a Dra. Emily Doolittle, compositora do Cornish College of the Arts em Seattle e  o biólogo Tecumseh Fitch, da Universidade de Vienna, iniciaram uma investigação que é no mínimo interessante.

No total, esta dupla de investigadores analisou 144 tipos de músicas diferentes produzidas por 14 tordos eremitas masculinos. A partir desta análise meticulosa, os investigadores concluíram então que 70% das músicas do Tordo Eremita podiam ser associadas à escala musical humana, ou seja, tais composições criadas pelos pássaros eram semelhantes às composições que podiam ser de facto feitas por compositores humanos.

“Ouvindo as músicas à velocidade normal, percebemos que eram muito atraentes, mas não tínhamos qualquer indício de que pudessem beber da escala musical”, disse a Dr. Doolittle, referindo-se à fase que antecedeu à investigação.

Uma vez que iniciaram a análise, começando então por abrandar as músicas, os especialistas  conseguiram então detetar padrões da escala musical que eram, na verdade, bastante claros. Apenas 5% das músicas analisadas parecia ser composta meramente por notas aleatórias.

Os investigadores estão agora curiosos para saber por que razão consegue o tordo eremita cantar melodicamente, uma vez que o trato vocal de um pássaro não é especialmente concebido para produzir notas específicas de uma escala musical.

Na mesma investigação, a Dr. Doolittle enfatizou que os pássaros, ainda que componham as suas músicas deliberadamente usando escalas musicais, costumam no entanto usar intervalos e pausas que podem ser também encontradas na música humana.

Por exemplo, investigações anteriores mostraram que galinhas domésticas costumam usar notas consonantes – uma combinação de notas que parecem agradáveis quando tocadas ao mesmo tempo.

“A escala musical é, acima de tudo, um fenómeno físico, não uma construção culturalmente específica, por isso faz sentido que possa ser encontrada em canções de uma variedade de espécies diferentes”, escreve a Dr. Doolittle na investigação.

A investigadora acredita ainda que, uma vez que os seres humanos partilham características musicais com outras espécies, pode haver algo na nossa biologia que faz com que certas combinações de notas sejam de facto mais atraentes que outras.

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