sexta-feira, 12 de maio de 2023

Crítica ao disco de Kayo Dot - 'Blasphemy' (2019)

 Kayo Dot - 'Blasphemy'

(6 setembro 2019, Prophecy Productions)

Kayo Dot - Blasfêmia

O trabalho do grupo KAYO DOT, um conjunto eclético e imprevisível que tem vindo a assumir nas últimas décadas um papel de extrema relevância na vanguarda americana. O álbum em questão é intitulado "Blasphemy" e foi lançado no início de setembro de 2019. Sob a orientação do líder e compositor Toby Driver [guitarra, baixo, sintetizadores, voz, percussão e efeitos eletrônicos], o grupo se completa com o guitarrista Ron Varod e a dupla de bateristas formada por Leonardo Didkovsky e Phillip Price. O uso permanente de dois bateristas é uma grande novidade dentro do rio musical heraclitiano do KAYO DOT. É um álbum conceitual que usa letras de Jason Byron (um colaborador frequente do Driver desde seus dias em MAUDLIN OF THE WELL e, claro, em alguns registros KAYO DOT), e sua narrativa analisa a ganância e o espírito de destruição que habitam o ser humano e a absorvente sociedade moderna, situando simbolicamente esta inspeção na história de três pessoas que lutam para encontrar um tesouro que inevitavelmente destruirá levará à sua queda: o tesouro em questão é uma menina adormecida que tem terríveis poderes sobre-humanos e tem justamente o nome de Blasfêmia. A blasfêmia é a única forma de libertar o espírito e a vida dos cânones da ganância, da megalomania e do mecanicismo que marcam nossa sociedade moderna? Ou isso é blasfêmia, melhor dizendo, um anseio pela criança interior que quer aproveitar o fluxo da vida longe das misérias e tensões criadas pelos vários mecanismos de desenvolvimento? Talvez esta ou aquela seja a mensagem central da parábola que dá a este registro seu conceito integral. Por enquanto, vamos agora olhar para os detalhes musicais de “Blasphemy”, que geralmente estão localizados em um emaranhado do energético e do etéreo.

Com quase 4 minutos de duração, 'Ocean Cumulonimbus' abre o álbum com um ar dramático (embora não patético) que é muito bem manejado dentro do jogo de síncopes que as duas baterias juntaram em conjunto ao longo do intervalo. As escalas arquitetônicas iniciais da guitarra logo dão lugar a uma pródiga exibição de riffs e orquestrações de sintetizadores que estão a meio caminho entre o raivoso e o sombrio: a música torna-se furiosa sem renunciar ao uso de cadências mais delicadas, as mesmas que parecem destinadas a realçar o prevalecentes ares de ousadia raivosa. 'The Something Opal' segue para exibir uma atmosfera mais graciosa, a mesma que encapsula um exercício altamente inspirado na psicodelia progressiva melódica que flerta levemente com o metal experimental, tudo através de uma engenharia rítmica elegante e complexa. Já temos um apogeu do álbum e ainda há um longo caminho a percorrer para aproveitá-lo. Com a dupla de 'Lost Souls On Lonesome's Way' e 'Vanishing Act In Blinding Gray', o conjunto se dedica a explorar nuances inovadoras dentro de seu bem definido esquema de trabalho. O primeiro destes temas mencionados segue, em grande medida, a faixa de 'The Something Opal', com uma dose extra de frescura. Quanto a 'Vanishing Act In Blinding Gray' – a peça mais longa do repertório com 8 minutos ímpares – ela começa com um clima lânguido e reflexivo, que é devidamente acentuado pelo caráter atmosférico do desenvolvimento temático. Mais tarde, com o aumento da musculatura do quadro rítmico e a entrada de grossos amálgamas de guitarras e teclados, os músicos gestam um clímax expressivo acinzentado e, ao mesmo tempo, majestoso. Dito clímax não é apenas o ponto de chegada da intensidade crescente elaborada desde o ponto de partida, mas também o núcleo central para a expansão das vibrações neuróticas que devem traçar o caminho sonoro dos últimos dois terços da canção. Outro zênite do álbum.

'Turbine, Hook, And Haul' é uma música para a qual o quarteto conta com a participação do trompetista Tim Byrnes (membro ou colaborador de FRIENDLY BEAR, MR. BUNGLE, PAK, etc.). Esta música serve para trazer os ares sombrios de uma tendência goth-rock, já presente em várias passagens das canções anteriores, à luz de uma forma mais explícita, embora sempre sob um manto de requinte típico do art-rock. Algo como um cruzamento entre COCTEAU TWINS, TALK TALK da fase 88-91 e o projeto FRIPP & SYLVIAN, mais algumas nuances pós-rock à la DO MAKE SAY THINK. 'Midnight Mystic Rise And Fall' retorna parcialmente à densidade cadenciada e às vibrações do crepúsculo que desfrutamos na segunda e terceira músicas, mas com uma imponente parcimônia que marca a elaboração do clima envolvente que envolve e orienta as interações entre os instrumentistas. Em vez disso, pode-se dizer que a melodia está apenas no canto, enquanto o esquema temático é a própria atmosfera. Para a passagem final, o grupo cria um aumento do nervo expressivo para liberar toda (ou quase toda) a tensão interna com que o motivo central vem se expondo. Os últimos 9 minutos e meio do disco são ocupados pela sequência 'An Eye For A Lie' e 'Blasphemy: A Prophecy'. 'An Eye For A Lie' estabelece um registo inesperado de encruzilhadas entre os standards do post-rock e do free jazz, enquanto os impossíveis jogos de síncopes estabelecidos pelos dois bateristas conferem uma espessura cósmica ao desenvolvimento temático. Assim as coisas, o terreno está preparado para a exibição de uma garra visceral típica de um sonho perturbador: será que por um momento estamos voltando àqueles tempos de “Vitral” e “Faca Gama”? Quanto a 'Blasphemy: A Prophecy', temos uma peça ágil que parece carregar algumas auras fracas de serenidade em meio às emocionantes vibrações tribais definidas pelo bloco rítmico. Mais uma vez, o goth-rock parece ser o fator prioritário dentro do esquema sonoro. O final abrupto acentua plenamente o cerimonial reinante da canção, que basta com um espaço de pouco mais de 4 minutos para culminar o álbum com um brilho glorioso (não isento de certas tonalidades aflitas). Um grande encerramento de álbum, não temos dúvidas. Será que por um tempo estamos voltando aos tempos de “Stained Glass” e “Gamma Knife”? Quanto a 'Blasphemy: A Prophecy', temos uma peça ágil que parece carregar algumas auras fracas de serenidade em meio às emocionantes vibrações tribais definidas pelo bloco rítmico. Mais uma vez, o goth-rock parece ser o fator prioritário dentro do esquema sonoro. O final abrupto acentua plenamente o cerimonial reinante da canção, que basta com um espaço de pouco mais de 4 minutos para culminar o álbum com um brilho glorioso (não isento de certas tonalidades aflitas). Um grande encerramento de álbum, não temos dúvidas. Será que por um tempo estamos voltando aos tempos de “Stained Glass” e “Gamma Knife”? Quanto a 'Blasphemy: A Prophecy', temos uma peça ágil que parece carregar algumas auras fracas de serenidade em meio às emocionantes vibrações tribais definidas pelo bloco rítmico. Mais uma vez, o goth-rock parece ser o fator prioritário dentro do esquema sonoro. O final abrupto acentua plenamente o cerimonial reinante da canção, que basta com um espaço de pouco mais de 4 minutos para culminar o álbum com um brilho glorioso (não isento de certas tonalidades aflitas). Um grande encerramento de álbum, não temos dúvidas. temos uma peça ágil que parece carregar algumas auras fracas de serenidade em meio às emocionantes vibrações tribais criadas pelo bloco rítmico. Mais uma vez, o goth-rock parece ser o fator prioritário dentro do esquema sonoro. O final abrupto acentua plenamente o cerimonial reinante da canção, que basta com um espaço de pouco mais de 4 minutos para culminar o álbum com um brilho glorioso (não isento de certas tonalidades aflitas). Um grande encerramento de álbum, não temos dúvidas. temos uma peça ágil que parece carregar algumas auras fracas de serenidade em meio às emocionantes vibrações tribais criadas pelo bloco rítmico. Mais uma vez, o goth-rock parece ser o fator prioritário dentro do esquema sonoro. O final abrupto acentua plenamente o cerimonial reinante da canção, que basta com um espaço de pouco mais de 4 minutos para culminar o álbum com um brilho glorioso (não isento de certas tonalidades aflitas). Um grande encerramento de álbum, não temos dúvidas.

Tudo isso é o que o renovado staff do KAYO DOT nos deu com “Blasphemy” no último terço de 2019, um álbum que exibe um equilíbrio adequado entre a linha de trabalho dos dois primeiros álbuns – mais precisamente, a faceta lírica de “Chors Of The Eye” e “Dowsing Anemone With Copper Tongue” – e o colorido vitalismo de “Coffins In Io”. Esta experiência de trabalhar com tambores duplos funcionou muito bem ao permitir que o KAYO DOT desse um novo passo na sua evolução musical sob a ideia orientadora de recuperar o vigor e a energia obscurantista de tempos passados ​​ao mesmo tempo que proporcionava uma densidade florescente ao som abordagens exploradas a partir de 2014.



- Amostras de 'Blasphemy':


“Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player” (DJM Records, 1973), Elton John

 



Em 1972, Elton John começava a desfrutar prestígio no disputadíssimo mercado americano graças ao sucesso do seu quinto álbum de estúdio, Honky Château. O álbum havia chegado ao 1º lugar da Billboard 200, impulsionado pelas faixas “Rocket Man” e “Honky Cat” que ajudaram Honky Château a vender 1 milhão de cópias nos Estados Unidos.

E foi no rastro do sucesso de Honky Château que o álbum seguinte, Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player, veio ao mundo em janeiro de 1973. Mas se dependesse da gravadora, a DJM Records, ele teria vindo mais cedo. O contrato de Elton com a DJM Records, previa que o cantor deveria gravar dois álbuns por ano, numa média de um álbum a cada seis meses. Isso exigiria do artista uma criação absurda de canções para se ter material suficiente para dar conta de dois álbuns por ano.

No período que iniciaria as gravações de Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player, por volta de meados de 1972, Elton John contraiu mononucleose, que o deixou bastante fraco e indisposto. As gravações tiveram que ser adiadas e, consequentemente, o lançamento do álbum também.

Em outubro de 1972, foi lançado o single de “Crocodile Rock”, primeira amostra de Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player que estava em finalização. O single alcança o 1º lugar na Billboard 100, nos Estados Unidos e também o mesmo posto na parada de singles do Canadá.

Sexto álbum de estúdio de Elton John, Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player foi lançado em 22 de janeiro de 1973. O título curioso do álbum surgiu quando Elton John encontrou o ator e comediante Groucho Marx, (1890-1977) numa festa em Malibu, Califórnia. No encontro dos dois artistas, Groucho se referia ao cantor como “John Elton”, afirmando que a ordem do nome artístico do cantor deveria ser essa, e não “Elton John”. Num dado momento, enquanto Elton tocava piano para animar a festa, Groucho fez um gesto com a mão como se fosse um revólver apontando para cantor. Ao ver o gesto do comediante, Elton levantou as mãos e disse: “Não atire em mim, eu sou apenas o pianista!”. O cantor achou a própria frase que proferiu interessante e decidiu usá-la para batizar o seu sexto álbum.

O ator e comediante Groucho Marx, responsável indireto pelo título do álbum. 

Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player segue a mesma essência musical do álbum antecessor, Honky Château. A produção ficou por conta do produtor e arranjador Gus Dudgeon (1942-2002), que assim como o arranjador Paul Buckmaster, teve um papel importante na criação de belos arranjos que deram um acabamento refinado às canções compostas por Elton John e Bernie Taupin para Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player. Dudgeon foi responsável pelos arranjos de metais, enquanto que Buckmaster ficou a cargo da criação dos arranjos de cordas. 

Um certo clima nostálgico toma conta do álbum, a começar pela capa, que mostra um casal de namorados entrando num cinema bem ao estilo anos 1950. O letreiro na fachada do cinema traz o título do disco como se fosse o título do filme em exibição naquele cinema, e o nome de Elton John como se fosse o ator protagonista. Na entrada do cinema, se vê um pôster anunciando um filme dos Irmão Marx, Go West (1940), uma citação que foi uma homenagem a Groucho Marx como agradecimento pelo título do álbum.

Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player começa com a linda e melancólica “Daniel”, que por muito tempo, se imaginou que era uma canção gay em que Elton John cantava sobre algum amante seu. Segundo Bernie Taupin, letrista e parceiro de Elton, e que escreveu os versos da canção, “Daniel” é sobre um jovem que após lutar na Guerra do Vietnã, retornou para sua cidadezinha natal no interior do Texas, onde foi recebido como herói. Mas o jovem soldado não queria homenagens, apenas esquecer os horrores da guerra. Sutilmente, um dos versos da canção dá a entender que o soldado voltou cego da guerra: “Your eyes have died, but you see more than I” (“Os seus olhos morreram, mas você vê mais que eu”).

Bernie Taupin e Elton John.


Na sequência, o clima fica mais animado com “Teacher I Need You”, um rock em estilo retrô sobre a paixão juvenil de um garoto pela sua professora. A faixa “Eldeberry Wine” parece tratar de um homem que depois de ser abandonado pela mulher amada, foi afogar as mágoas bebendo vinho.

Em “Blues For My Baby And Me”, um casal de jovens parte para o oeste americano de ônibus para viver sua história de amor, desafiando a fúria e os xingamento do pai da garota. O destaque nesta canção fica para ótimo trabalho de Paul Buckmaster que fez um arranjo de cordas impecável. O lado A da versão LP do álbum, encerra com “Midnight Creeper”, onde o naipe de metais divide o protagonismo os solos da guitarra de Davey Johnstone.

“Have Mercy On The Criminal” abre o lado B do álbum, e que começa num ritmo contagiante de orquestra que logo é interrompido por um ritmo blues rock arrastado. Nesta canção, Elton canta versos sobre um criminoso que tentar fugir desesperadamente das garras de uma matilha de cães ferozes dos guardas que estão em seu encalço.

“I’m Going To Be Teenage Idol” é uma homenagem a Marc Bolan (1947-1977), líder da banda T.Rex, e ícone do glam rock, estilo que estava em voga naquele começo de anos 1970. Em 1972, quando a música foi composta por Elton John e Bernie Taupin, Marc Bolan estava no auge da carreira e era o ídolo do público adolescente. O que Elton não imaginava é que no ano seguinte, ele seria alçado a astro do rock de primeira grandeza em contraste ao colega Bolan, que começaria a declinar em queda de popularidade. A faixa seguinte, “Texan Love Song”, é uma balada country que apesar da bela linha melódica, traz em seus versos um eu lírico que seria um típico homem branco racista e xenófobo do sul dos Estados Unidos que destila todo o seu ódio e preconceito a quem é diferente.

Elton John e Marc Bolan em 1971: "I'm Going To Be Teenage Idol" é uma
homenagem ao líder da banda T. Rex.

Lançado antes do álbum em formato de single, o rock’n’roll nostálgico “Crocodile Rock” foi incluído em Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player, e se tornou uma das principais faixas do álbum. No refrão, Elton John canta em falsete um “laaaa, la, la, la, la, laaaaa” inspirado em “Speedy Gonzales”, grande sucesso de Pat Boone de 1962. Elton John emprega um tipo de vocal inspirado astros do rock da época da sua adolescência no início dos anos 1960, como os americanos Bobby Vee e Del Shannon. Na letra de “Crocodile Rock”, o personagem principal relembra os seus tempos de juventude quando dançava rock’n’roll coma namorada Susie. Além dos vocais de Elton, merece destaque o uso do órgão elétrico Farfisa tocado pelo artista, e que era muito utilizado por bandas pop dos anos 1960. O instrumento caiu em desuso com a ascensão dos sintetizadores, e só resgatado por algumas bandas new wave no final da década de 1970, como a B-52’s. 

Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player termina com a balada “High Flying Bird”, em que Bernie Taupin mostra toda a sua sensibilidade como letrista e Elton John o seu talento fantástico como melodista.

Ao mesmo tempo em que Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player era lançado, em janeiro de 1973, o single de “Daniel” também era lançado. O single fez um enorme sucesso em escala mundial, chegando ao 1º lugar no Canadá, 2º lugar na Billboard Hot, nos Estados Unidos, e 4º lugar na parada de singles do Reino Unido. Enquanto o lado A trazia a canção “Daniel”, o lado B do single trouxe uma nova e definitiva versão de “Skyline Pigeon”. A versão original, presente no álbum de estreia do astro inglês, Empty Sky, de 1969, foi gravada apenas com Elton cantando e tocando órgão e piano.

A segunda versão foi gravada durante as sessões de gravação de Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player, em que Elton John canta, toca piano e é acompanhado por sua banda. Foi essa segunda versão a que fez mais sucesso, especialmente no Brasil, país onde talvez “Skyline Pigeon” tenha conquistado mais popularidade. A segunda versão fez parte da trilha sonora da telenovela Carinhoso, exibida pela TV Globo em 1973, o que contribuiu muito para que Elton John se tornasse conhecido pelo público brasileiro.

Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player teve um ótimo desempenho comercial. O álbum chegou ao primeiro 1º lugar da parada de álbuns de vários países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Canadá, Itália e Espanha. Nos Estados Unidos, o álbum vendeu 3 milhões de cópias, rendendo a Elton John um disco triplo de platina.

Porém, todo esse sucesso era só o começo. Mal Don't Shoot Me I'm Only The Piano Player escalava as paradas de vendas de discos, quatro meses depois do lançamento do álbum, Elton John já estava entrando em estúdio para gravar o seu próximo álbum, desta vez um álbum duplo e que consolidaria o cantor inglês como astro do rock: Goodbye Yellow Brick Road.

 

Faixas

Todas as canções foram escritas por Elton John e Bernie Taupin.

Lado A

  1. "Daniel"         
  2. "Teacher I Need You" 
  3. "Elderberry Wine" 
  4. "Blues for My Baby and Me"            
  5. "Midnight Creeper"

 

Lado B

  1. "Have Mercy on the Criminal"         
  2. "I'm Gonna Be a Teenage Idol"         
  3. "Texan Love Song"    
  4. "Crocodile Rock"       
  5. "High Flying Bird" 

 

Elton John (Fender Rhodes, mellotron , piano acústico, harmônio e órgão Farfisa)

Banda de Elton John: Davey Johnstone (violão, guitarra elétrica, guitarra Leslie, banjo, cítara, bandolim e vocais de apoio), Dee Murray (baixo e vocais de apoio) e Nigel Olsson (bateria, maracas e vocais de apoio).



"Daniel"

"Teacher I Need You"

"Elderberry Wine"

"Blues For My Baby And Me"

"Midnight Creeper"

"Have Mercy On The Criminal"

"I'm Going To Be A Teenage Idol"

"Texan Love Song"

"Crocodile Rock"

"High Flying Bird"

Faixas bônus

"Screw You (Young Man's Blues)"

"Jack Rabbit"

"Whenever You're Ready 
(We'll Go Steady Again)"

"Skyline Pigeon" 
(versão piano)


“2112” (Mercury Records, 1976), Rush

 


A situação do Rush não era das mais agradáveis depois do lançamento do seu terceiro álbum de estúdio, Caress of Steel, lançado em setembro de 1975. O álbum não foi muito bem recebido pelo público e pela crítica. As vendas de Caress f Steel foram baixas e a turnê promocional do álbum deu mais prejuízo do que lucro. Diante do fracasso das vendas de Caress of Steel, a gravadora Mercury Records exigiu que dos membros do Rush que o próximo álbum da banda fosse mais comercial e que não houvesse experimentalismos e nem faixas longas. A companhia acreditava que o fato de Caress of Steel ter duas faixas longas, como “The Necromancer” (mais de 12 minutos de duração) e “The Fountain of Lamneth” (quase 20 minutos) teriam sido a razão do fracasso comercial daquele álbum. Para se ter uma ideia do descontentamento da Mercury com o Rush, a gravadora estava considerando a possibilidade de demitir a banda, de não a ter mais no seu cast de artistas. No entanto, o empresário do Rush na época, Ray Danniels, conseguiu contornar a situação, e a gravadora decidiu continuar com a banda, desde que o próximo álbum fosse comercial.

Porém, os integrantes do Rush estavam dispostos a arriscar, e decidiram contrariar a Mercury. Por acreditarem no tipo de música que estavam fazendo, não estavam dispostos a ceder às exigências da Mercury Records, ainda que isso pudesse custar a demissão da banda naquela gravadora. Mantiveram para o próximo álbum o mesmo direcionamento musical de Caress of Steel, em que a banda transita entre o hard rock e o rock progressivo, aposta em música longa e dividida em várias partes. Coincidência ou não, o novo álbum, intitulado 2112, foi lançado em 1° de abril de 1976, exatamente no “Dia da Mentira”.

Fracasso comercial de Caress of Steel quase custou a permanência
do Rush na Mercury Records.

2112 é um trabalho que de fato, manteve musicalmente características do álbum antecessor, em que o Rush mescla o peso e a agressividade do hard rock com o experimentalismo e virtuosismo do rock progressivo. Mas se analisarmos um pouco mais a fundo, o Rush conseguiu em 2112 conciliar os seus interesses com os da Mercury Records. Ao mesmo tempo que traz uma faixa longa abordando um determinado tema dividido em várias partes tomando todo o lado 1 do disco, o álbum 2112 traz no seu lado 2 cinco faixas em formato padrão para tocar no rádio, como desejava a gravadora. O álbum foi gravado no Toronto Sound, em Toronto,no Canadá, com Rush e o produtor Terry Brown na produção.

A faixa-título é quem abre o álbum, e teve a sua letra escrita pelo baterista Neil Peart (1952-2020). Inspirada no livro Anthem (Cântico, no Brasil), da escritora, roteirista e filósofa russa, Ayn Rand (1905-1982), lançado em 1938, a música “2112” narra uma história dividida em sete partes sobre uma sociedade dominada pelos Sacerdotes dos Templos Syrinx, onde as vontades e desejos dos cidadãos são controlados por essa irmandade. Como é uma sociedade que funciona na coletividade, regime imposto pelos sacerdotes, é proibido aos cidadãos a individualidade, a liberdade e a criatividade. O planeta em que essa sociedade habita, é vinculado à Estrela Vermelha da Federação Solar, uma organização que exerce poder sobre todos os planetas da galáxia desde o fim de uma grande guerra espacial em 2062, e que a partir de então, teria começado um suposto período de paz. Mas a situação começa a mudar quando um jovem anônimo faz uma descoberta que poderá mudar tudo. 

O livro Anthem, da escritora russa Ayn Rand, foi inspiração para Neil Peart compor "2112".


O símbolo que ilustra a capa do álbum 2112 é um marca que representa a Estrela Vermelha da Federação Solar, e foi criada pelo designer gráfico canadense Hugh Syme. Na contracapa, onde está a foto da bateria de Neil Peart, aparece no fundo escuro, atrás do instrumento, o símbolo da federação galáctica com a figura de um homem nu de costas inserida. Ao longo do tempo, essa marca acabou sendo incorporada como logo do Rush. Um dado curioso é que além de designer gráfico, Hugh Syme participa do álbum também como tecladista em algumas faixas.

 A mini-opera rock espacial “2112” abre o álbum. É dividida em sete partes ao longo dos seus pouco mais de vinte minutos. Musicalmente, a banda alterna vários tipos de andamento, indo do hard rock à balada romântica, passando pelo experimentalismo do rock progressivo.

I-“Overture”, primeira parte da longa faixa, é um hard rock instrumental. Começa com sons eletrônicos que dão um caráter de filme de ficção científica. Os sons foram criados a partir de um sintetizador ARP Odyssey com pedal Echoplex Delay, executados por Hugh Syme, o designer gráfico que criou a capa do álbum 2112 e a logo do Rush na contracapa. Hyme foi o primeiro músico fora do Rush a tocar num disco da banda canadense. Ele ainda faria participação em discos futuros do grupo tocando sintetizadores.

II-“Temples of Syrinx”. Neste hard rock, os sacerdotes dos templos de Syrinx afirmam o seu poder e o controle sobre a vida dos cidadãos, desde o que ouvem até o que veem. Geddy Lee canta de maneira berrada e esganiçada, acompanhado por uma base instrumental pesada e agressiva.

III- “Discovery” começa com um som de água corrente, seguido por delicados acordes de guitarra. Nos versos desta parte, o personagem central e anônimo da história, encontra um instrumento musical antigo, talvez um violão ou uma guitarra. Ele toca o instrumento cujo som o deixa maravilhado. Decide então leva-lo para mostrar aos sacerdotes e compartilhar aquela descoberta com o seu povo.

IV-“Presentation”. O nosso herói leva o instrumento que descobriu para apresentar aos sacerdotes, e para eles toca uma música. A reação dos sacerdotes é de desprezo. Eles acham que aquilo é uma perda de tempo, que a nova realidade não precisava mais de coisas antigas. Nesta parte, merece destaque a maneira como Geddy Lee canta, em que ele faz dois personagens, cantando de maneira calma para representar o personagem protagonista, e aos berros encarnando os sacerdotes ditadores. Nesta parte, o trecho começa lento e termina num ritmo acelerado, com Alex Lifeson fazendo solos alucinantes na sua guitarra elétrica. 

Alex Lifeson (á esquerda), Geddy Lee (ao centro) e Neil Peart (na bateria ao fundo)
 na turnê promocional de 2112, em 1976.


V-“ Oracle: The Dream”. Frustrado após mostrar o instrumento musical aos sacerdotes, o personagem principal da música volta para casa. E no trajeto ele tem uma visão do passado e do que poderá ser o futuro como num sonho. Ele vê o que seria o passado, mãos habilidosas criando trabalhos de arte maravilhosos. A visão lhe mostra também a antiga raça que havia deixado o planeta há muito tempo, mas que um dia irá voltar para reivindicar o seu antigo lar e destruir os templos dos sacerdotes.

VI-“Soliquy”. Ao despertar do sonho que teve, o personagem percebe que a realidade em que vive é cruel, e que não suportará mais viver aquela vida “fria e vazia” naquele mundo. Esta parte da música sugere que o herói da canção, desiludido, teria tirado a própria vida.

VII-“The Grand Finale” é a parte que encerra a primeira e longa faixa do álbum. Esta última parte é um hard rock instrumental que chega ao fim com uma voz robótica anunciando repetidamente: “Atenção todos Planetas da Federação Solar / Atenção todos Planetas da Federação Solar / Atenção todos Planetas da Federação Solar / Nós assumimos o controle / Nós assumimos o controle / Nós assumimos o controle”. O anúncio dá a entender que a raça antiga teria retornado ao seu antigo planeta e destituído os sacerdotes, levando ao ouvinte concluir que o sonho profético do protagonista havia se tornado realidade.

O lado 2 de 2112, onde estão as músicas mais curtas, começa com “A Passage to Bangkok”, um hard rock com os vocais gritados de Geddy Lee. A letra faz um espécie de “roteiro turístico” da maconha, fazendo uma viagem por cidades como Bogotá, Acapulco, Marrocos e Bangkok, que faziam (ou ainda fazem) parte da rota internacional do tráfico da maconha. No entanto, a banda trata do assunto com uma grande sutileza, sem nem mesmo citar o nome da droga, mas fazendo uso apenas de metáforas.

A faixa “The Twilight Zone” foi inspirada numa série americana de TV de mesmo nome produzida pelo canal CBS, e que fez muito sucesso nos anos 1960. Os membros do Rush eram fãs confessos da série. No Brasil, a série ficou conhecida como Além da Imaginação. A letra da música é bastante interessante e faz referência a fatos de alguns episódios da série. Na sequência, vem “Lessons”, música composta por Alex Lifeson, e que durante o seu andamento rítmico, alterna folk rock e hard rock.

Anúncio promocional do álbum 2112, em 1976. À esquerda, a imagem que
se tornou a logo do Rush.


O clima fica mais leve e calmo com a balada romântica “Tears”, uma canção que possui uma linda e delicada linha melódica. Geddy Lee canta de maneira doce e tranquila, e mostra que nem de longe parece o mesmo vocalista de voz esganiçada dos hard rocks do Rush. Merece destaque nesta música o som imponente do mellotron tocado por Hugh Syme, que é também o autor da capa de 2112. Na faixa, o instrumento simula sons de cordas e de sopros.

Finalizando o álbum, “Something for Nothing”, que embora seja um hard rock, começa com um som de violão de doze cordas. Em seguida, a delicadeza sonora cede espaço ao peso do hard rock que acompanha os vocais esgoelados de Geddy Lee. A letra celebra a força de vontade do ser humano e o direito do indivíduo ser dono do seu próprio destino.

2112 foi uma aposta arriscada do Rush, pois ignorou a exigência da Mercury Records que não queria mais um álbum com música longa. Se o álbum fracassasse nas vendas, significaria que a trajetória do Rush naquela gravadora chegaria ao fim. Porém, o álbum foi bem recebido pelo público, e por incrível que pareça, justamente a faixa mais longa e que dá nome ao disco, foi a mais aclamada. As vendas do álbum dispararam, e em 1977, 2112 chegou à marca de 500 mil cópias nos Estados Unidos, onde a banda ganhou disco de ouro. Dezenove anos depois do lançamento de 2112, em 1995, o Rush recebeu disco de platina triplo por 2112 ter alcançado a marca de 3 milhões de cópias vendidas no mercado americano.

As boas vendas de 2112 deram crédito ao Rush dentro da Mercury Records, a tal ponto de em setembro de 1976, a gravadora lançar um álbum duplo gravado ao vivo, All The World A Stage, que trouxe um registro de um show no Massey Hall, em Toronto, no Canadá. A apresentação fez parte da turnê do álbum 2112, que havia começado fevereiro de 1976 (dois meses antes do lançamento do álbum) e que se encerrou em junho de 1977. Aquela turnê passou pelos Estados Unidos, Canadá, e levou o Rush pela primeira vez à Europa.

O sucesso de 2112 deu projeção mundial ao Rush. Abriu uma sequência de álbuns importantes na discografia da banda muito bem avaliados pelo público e pela crítica, e que atingiu o ápice com Moving Pictures, em 1981, o álbum mais vendido da carreira do trio canadense.

 

Faixas

Todas as letras por Neil Peart, exceto onde indicado; todas as músicas por Geddy Lee e Alex Lifeson, exceto onde indicado.

Lado 1

1. "2112" - 20:34

I. "Overture" - 4:32

II. "Temples of Syrinx" - 2:13

III. "Discovery" - 3:29

IV. "Presentation" - 3:42

V. "Oracle: The Dream" - 2:00

VI. "Soliloquy" - 2:21

VII. "The Grand Finale" - 2:14

 

Lado 2

1."A Passage to Bangkok" - 3:34

2."The Twilight Zone" - 3:17

3."Lessons" (Letra: Lifeson) - 3:51

4."Tears" (Letra: Lee) - 3:31

5."Something for Nothing" (Música: Lee) - 3:59

 

Créditos

Rush: Geddy Lee (vocais e baixo elétrico), Alex Lifeson (guitarra, violão), Neil Peart (bateria, percussão)

Músico adicional: Hugh Syme – ARP Odyssey na introdução de "2112", mellotron em "Tears"


Ouça na íntegra o álbum 2112


“Sticky Fingers” (The Rolling Stones Records, 1971), The Rolling Stones

 


O final dos anos 1960 foram um tanto quanto traumáticos para os Rolling Stones. Em julho de 1969, um dos membros fundadores da banda, o guitarrista Brian Jones, foi encontrado morto na piscina de sua casa, aos 27 anos, uma morte que até hoje é cercada de muitos mistérios. Em dezembro do mesmo ano, no fatídico concerto dos Rolling Stones no Festival de Altamont, na Califórnia, nos Estados Unidos, um jovem negro foi esfaqueado e espancado até a morte por integrantes dos Hell’s Angels, gangue de motociclistas que estava fazendo o serviço de segurança para aquele festival. A tragédia chocou os membros da banda.

No ano seguinte, em 1970, o contrato dos Rolling Stones com a Decca Records chegava ao fim, e foi então que a banda decidiu criar um selo próprio, e assim ter mais liberdade e maior controle nas suas gravações.

Com o fim do contrato com a gravadora Decca, os Stones tiveram uma desagradável surpresa. Descobriram que o antigo empresário, Allen Klein (que também estava cuidando dos negócios dos Beatles), havia registrado todo o material lançado pelo grupo pela Decca como propriedade da ABKCO, empresa da qual ele era dono. Iniciou-se uma batalha judicial que se arrastou por anos.

Nesse turbilhão de confusões, houve coisas positivas como a chegada de Mick Taylor em substituição a Brian Jones, que foi demitido dos Rolling Stones, em junho de 1969, um mês antes de sua morte. Embora jovem, com apenas 20 anos quando entrou na banda, Taylor era um guitarrista habilidoso, técnico, e vinha da legendária banda britânica de blues, a John Mayall's Bluesbreakers. A outra coisa positiva desse período foi a já citada criação da Rolling Stones Records, o selo criado pelos Stones, em 1970. Para fazer a distribuição dos discos nos Estados Unidos, o selo dos Stones firmou uma parceria com a gravadora Atlantic Records, enquanto que no Reino Unido, a distribuição ficou a cargo da WEA.

Rolling Stones em 1969, da esquerda para direita: Charlie Watts, Mick Taylor,
Mick Jagger, Keith Richards e Bill Wyman.

O primeiro álbum a ser lançado pela Rolling Stones Records foi o aclamadíssimo Stick Fingers, lançado em 23 de abril de 1971. No entanto, o álbum começou a ser germinado ainda no início de 1969, durante o intervalo da turnê americana, quando os Rolling Stones gravaram no Muscle Shoals Sound Studio, no Alabama, nos Estados Unidos, quatro músicas que foram incluídas no repertório de Sticky Fingers: “Brown Sugar”, “Wild Horses” e “You Gotta Move”. O restante do álbum foi gravado mediante os intervalos das turnês ao longo de 1970 e início de 1971, no Olympic Studios e Trident, ambos em Londres, e no estúdio móvel dos Rolling Stones, que na época foi deslocado para a Stargroves, luxuosa casa de campo de Mick Jagger, em East Woodhay, no condado de Berkshire, sudeste da Inglaterra. Ao contrário das gravações no Muscle Shoals, nesta etapa as sessões contaram com a presença do produtor Jimmy Miller.

A arte gráfica de Sticky Fingers é uma atração à parte. O álbum possui uma das capas de discos mais icônicas do rock. Aparece a imagem fechada na virilha de um modelo vestido numa calça jeans apertada, realçando o volume do órgão sexual masculino. Os primeiros exemplares de Sticky Fingers, tinham um zíper de verdade, que quando puxado, mostrava a cueca de algodão do modelo. A criação da montagem da arte foi do artista plástico, Andy Warhol, um dos principais nomes da Pop Art. Billy Name fez a fotografia e o projeto gráfico da capa foi do designer gráfico John Pasche.

E foi o mesmo John Pasche quem criou a tongue & lips, a famosa logo da língua e que virou a logo oficial dos Rolling Stones. Foi no álbum Sticky Fingers que pela primeira vez, os Rolling Stones mostraram a sua logo da língua, que também é chamada de hot lips. A ideia da logo da língua teria sido uma sugestão de Mick Jagger queria algo inspirado na deusa hindu Kali, que é retratada com a língua para fora. Na época em que concebeu a logo, Pasche era estudante do último ano da Royal College Of Art, em Londres, em 1970, quando Jagger o procurou na escola após ter visto alguns dos seus trabalhos. Se por um lado, a arte da logo teve como ponto de partida língua da deusa hindu, por outro, visivelmente, a arte após concluída remete aos lábios e à língua de Mick Jagger. O resultado final foi uma logo que une a irreverência e o apelo sexual dos Rolling Stones. Para a criação do logo, Pasche recebeu apenas 50 libras esterlinas. Mal sabia John Pasche que anos mais tarde, a logo que ele criou se tornaria a logo de banda de rock mais famosa de todos os tempos. 

A inspiração, a obra e o criador: a deusa hindu Kali (à esquerda)
foi a inspiração para a  tongue & lips, logo criada pelo designer John Pasche
para os Rolling Stones.


Sticky Fingers começa em grande estilo com “Brown Sugar”, um dos maiores clássicos do repertório dos Stones, e claro, do próprio rock. Logo de cara, a música começa com um riff de guitarra marcante, que por incrível que pareça, foi criado por Mick Jagger e não por Keith Richards. Além do riff, merece destaque os solos de saxofone executados por Bobby Keys, que a partir de então, faz uma parceria com os Stones, tocando em discos e shows da banda até a morte do saxofonista em 2014. A controversa letra de “Brown Sugar” fala de tráfico de negros escravizados para Nova Orleans e, ao mesmo tempo, de sexo, em que uma negra escrava é usada como objeto sexual pelo seu senhor, daí o título da música “Brown Sugar”, que também é descrito como “açúcar mascavo”. Outras interpretações afirmam que a expressão “Brown Sugar” seria uma referência à heroína.

“Sway” é um blues rock lento, que surpreende ao trazer Mick Jagger tocando guitarra base e Keith Richards apenas nos vocais de apoio. Mick Taylor faz um incrível solo de guitarra slide, mostrando ao ouvinte o seu domínio técnico do instrumento.

A faixa seguinte, “Wild Horses”, é outra música presente no álbum que se tornou um clássico dos Rolling Stones. Nesta balada country folk sobre as dores da desilusão amorosa, os Stones conseguiram integrar muito bem a sonoridade acústica dos violões com a eletricidade das guitarras.

“Can’t You Hear Me Knocking” seria uma canção como outra qualquer não fosse o rumo que a música toma da seu metade para o fim, ao se transformar numa fantástica jam session e na faixa mais longa do álbum, apoiada por Rocky Dijon (congas), Bobby Keys (saxofone) e Billy Preston (órgão).

Fechando o lado 1 do álbum, “You Gotta Move”, única música do álbum que não é da banda. Trata-se de um velho delta blues da década de 1940 que foi regravada por uma série de artistas desde então. A versão dos Rolling Stones é totalmente baseada na versão gravada pelo veterano bluesman Fred McDowell, em 1965. Embora ingleses, os Stones conseguiram empregar na canção toda uma aura mística transportando o ouvinte para os primórdios do blues praticado pelos negros nos rincões rurais americanos.

Edição original da versão americana de Sticky Fingers, que traz o título
no cinto da calça do modelo. Destaque para a logo do Rolling Stones
no encarte do álbum, a sua primeira aparição num álbum da banda. 

O lado 2 de Sticky Fingers começa com o riff hipnótico de guitarra de “Bitch”, e que ganha um apoio fenomenal do naipe de metais, que juntos, são a alma da música. A faixa seguinte desacelera com o ritmo arrastado de “I Got The Blues”, uma incrível balada blues com forte influência de soul, cujo naipe de metais remete às canções de Otis Redding, cantor de soul music por quem os Rolling Stones tinham uma profunda admiração. Destaque fica para a arrepiante performance de Billy Preston no órgão Hammond.

Gravada antes por Marianne Faithfull, em 1969, “Sister Morphine” é uma canção sombria a respeito de um viciado que está no leito do hospital à beira da morte. Para aliviar o seu desespero, ele implora ajuda à “Irmã Mofina” por ajuda: “Por favor, Irmã Morfina, transforme meus pesadelos em sonhos”. Provavelmente poderia ser os sintomas da abstinência do viciado. Em determinado trecho da letra, há uma citação à cocaína: “Doce Prima Cocaína, repouse sua mão refrescante na minha testa”. Em 1994, Marianne Faithfull venceu uma batalha judicial afirmando ser coautora da canção, e desde então, seu nome passou a ser creditado na autoria da música ao lado de Mick Jagger Keith Richards.

“Dead Flowers” é um country rock interessante com uma linha melódica agradável. Possui um belo entrosamento entre violões e guitarras elétricas, destacando a participação de Mick Taylor nos solos de guitarra slide. A letra trata sobre um homem amargurado e desprezado por uma mulher rica por quem foi apaixonado, e que agora se vê na sarjeta. Enquanto a mulher ostenta a sua fortuna e poder, o sujeito procura fuga nas drogas como uma forma de suportar a sua dor: “Bem, quando você está repousando em seu Cadillac cor-de-rosa / Fazendo apostas no dia do derbie de Kentucky / Ah, eu estarei no porão com uma agulha e uma colher”. Há uma clara alusão ao uso da heroína por parte do homem amargurado.

Pôster promocional de Sticky Fingers.

Sticky Fingers chega ao fim com “Moonlight Mile”, uma bela e melancólica balada folk a respeito da vida na estrada de um astro do rock. Um naipe de cordas dá um toque especial ao final da música, obra do maestro e arranjador Paul Buckmaster, que se notabilizaria pelos arranjos de cordas dos discos de Elton John nos anos 1970.

O desempenho de Sticky Fingers nas paradas de álbuns foi muito bom. No Reino Unido, o álbum dos Stones chegou ao 1º lugar, onde permaneceu por quatro semanas, e ao retornar ao primeiro posto, ficou por mais uma semana. Sticky Fingers alcançou o primeiro lugar também na parada da Billboard 200, nos Estados Unidos, por quatro semanas. Naquele país, Sticky Fingers vendeu cerca de 3 milhões cópias, sendo o primeiro álbum dos Rolling Stones a atingir essa marca em vendas no mercado americano.

Após o lançamento de Sticky Fingers, os Rolling Stones anunciaram que estavam deixando a Inglaterra para se mudarem para uma mansão em Villefranche-sur-Mer, próximo a Nice, sul da França. Foi uma tentativa que a banda encontrou para escapar das altas taxações de fortuna impostas pelo governo inglês. E foi naquela mansão, outrora ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, que os Rolling Stones gravaram de maneira improvisada, aquela que seria considerada a sua grande obra-prima: o álbum duplo Exile On Main St.

Faixas

Todas as canções foram escritas por Mick Jagger e Keith Richards, exceto as marcadas.

Lado A

  1. "Brown Sugar"
  2. "Sway"
  3. "Wild Horses"
  4. "Can't You Hear Me Knocking"
  5. "You Gotta Move" (Fred McDowell - Gary Davis) 

Lado B

  1. "Bitch"
  2. "I Got the Blues"
  3. "Sister Morphine" (Jagger - Richards - Marianne Faithfull)
  4. "Dead Flowers"
  5. "Moonlight Mile"

 

Todas as canções foram escritas por Mick Jagger e Keith Richards, exceto as marcadas.

 

The Rolling Stones:

Mick Jagger (vocais, violão em "Dead Flowers" e "Moonlight Mile"; guitarra em "Sway"; percussão em "Brown Sugar")

Keith Richards (guitarra; violão em "Brown Sugar", "You Gotta Move", "I Got the Blues" e "Sister Morphine"; violão de 12 cordas em "Wild Horses"; guitarra em "Wild Horses", na primeira parte de "Can't You Hear Me Knocking" e "Bitch"; guitarra em "Dead Flowers"; e vocais de apoio)

Mick Taylor (guitarra; violão em "Wild Horses"; guitarra na primeira parte de "Can't You Hear Me Knocking" e "Bitch"; guitarra slide em "Sway" e "You Gotta Move"; e guitarra em "Dead Flowers" "Can't You Hear Me Knocking" "Moonlight Mile" e "Sway")

Bill Wyman (baixo; teclado em "You Gotta Move")

Charlie Watts (bateria)

 

Ouça na íntegra o álbum 
Sticky Fingers


"Brown Sugar"
(ao vivo, Texas, 1972)

"Dead Flowers"
(ao vivo, Texas, 1972)

Destaque

Sun Walk and The Dog Brothers

  Por volta de 93/94, os irmãos Alexandre e Frederico liam Nietzsche, escutavam muita música e escreviam letras e poesias. Às vezes passavam...