sábado, 6 de janeiro de 2024

Discografias Comentadas: James Gang [Parte 1]

 

Discografias Comentadas: James Gang [Parte 1]
Joe Walsh
Jim Fox, Dale Peters e Joe Walsh

Uma das grandes e injustiçadas bandas do hard rock setentista, assim podemos definir o James Gang. Afinal, além, de ter revelado ao mundo nomes como Tommy Bolin, Joe Walsh e Jim Fox, o grupo lançou no mínimo cinco obras-primas em sua curta temporada em ativa (pouco mais de sete anos).

Em duas partes, vamos passear pelos nove álbuns de estúdio da banda, lançados entre 1969 e 1976, um período mágico, onde quase tudo que nascia na música era regado a altíssimas doses de criatividade, inspiração, técnicas arrojadas e belíssimas canções.


61TsUW5ariLYer’ Album [1969]

A estreia do power trio Joe Walsh (guitarras, teclados, vocais, piano), Tom Kriss (baixo, flauta, vocais, vibrafone) e  Jim Fox (bateria, vocais, teclados) é uma pequena amostra do que o grupo iria fazer nos anos seguintes. Descarte “Introduction” e as viagens de “Stone Rap”, as duas vinhetas que abrem cada um dos lados do LP, e prendam-se no que Yer’ Album oferece, canções que dividem-se em pauladas hard do mais alto calibre, faixas mais acessíveis e três fantásticos covers, das quais a esplêndida versão de nove minutos para “Lost Woman” é tão empolgante que até mesmo o pessoal dos Yardbirds (que gravou essa joinha em Roger the Engineer, de 1966) deve ter rendido-se aos solos de Walsh e cia, já que cada um ganhou seus minutos de fama para fazer o que bem entendesse, com Kriss despejando distorção no seu baixo. Aliás, é impressionante o que os garotos fazem em 1969, que além de gravar um álbum de cinquenta minutos, algo incomum para o final da década de 60, ainda mais para um grupo novo, faz o emprego certeiro do órgão hammond em “Fred” e “Take A Look Around”, ambas com lindos solo de Walsh, ou na acústica e emotiva “Collage”, a qual possui um lindo arranjo de cordas, presentes também na curta instrumental “Wrapcity in English”. Os outros dois covers do álbum também merecem destaque, no caso a pesada versão de “Bluebird”, originalmente gravada pelo Buffalo Springfield em Again (1967), e que foi totalmente transformada pela guitarra endiabrada de Walsh, e a mais que detonante “Stop!”, para mim uma das melhores canções da banda, que foi originalmente gravada no fundamental álbum de Al Kooper e Mike Bloomfield, Super Session (1968), e que aqui recebeu uma adaptação de doze minutos com muitos improvisos, os quais caracterizam o James Gang que conquistou milhares de seguidores, com suingue e peso em doses certas, e que também brota no embalo a la “Sly Stone” de “Funk #48”, e na vulgarmente Cream “I Don’t Have the Time”, bela parceria de Fox e Walsh. Foi o primeiro e único álbum a contar com Tom Kriss, que deu lugar para Dale Peters, criando assim a formação mais clássica do trio.


416f2kkeQnLJames Gang Rides Again [1970]

O segundo disco trio, agora com Dale “Bugsley” Peters no baixo, é uma continuação dos trabalhos iniciados em Yer’ Album, com uma variedade de estilos onde predomina embalo e inspiração. Começando pela sequência de “Funk #48″, obviamente intitulada #Funk #49”, com o mesmo embalo da faixa do disco anterior, mas com uma percussão muito mais envolvente, Rides Again é um show de musicalidade para agitar as noitadas com mulheres e farras, rivalizando com o que o Grand Funk Railroad fazia na mesma época. Temos influências country em “There I Go Again”, com a participação do Pedal Steel Guitar de Rusty Young, na instrumental “Asshtonpark” e na belíssima “Garden Gate”, apenas com voz e violão, peso embaladíssimo em “Woman” e predomínio do piano e do Hammond de Walsh na trabalhada “Tend My Garden”, trazendo um arranjo vocal digno dos grandes nomes da soul music. “Thanks” é uma linda faixa levada pelo violão. O grupo deixou o melhor para o encerramento de cada lado. No lado B, a introdução de “Ashes the Rain and I” nos prepara para uma canção que irá te deixar de queixo caído, seja pela interpretação de Walsh ou pelo emocionante arranjo de cordas de Jack Nitzsche, contrastando com os belíssimos dedilhados dos violões de Walsh e Peters. Ao mesmo tempo, uma das melhores canções do grupo, “The Bomber”, encerra o Lado A sendo dividida em duas partes, a pesadíssima “Closet Queen”, com uma performance toda especial de Fox, e “Cast Your Fate To The Wind”, onde Walsh brilha no slide guitar, fazendo uma viagem sonora que deve ter deixado Jimmy Page com um sorriso estampado na face, tamanha a semelhança do timbre da guitarra do loiro com a do guitarrista do Led Zeppelin. Um destaque adicional vai para a contra-capa do álbum, a qual mostra uma das mais famosas imagens do trio, andando de moto pela neve americana. Vale ressaltar que a versão original de “The Bomber” ainda conta com um trecho de “Bolero” de Ravel, a qual foi limada nas edições posteriores por que foi utilizada sem a autorização dos herdeiros do músico francês, tornando as edições iniciais bastante cobiçadas pelos colecionadores. O melhor dos três álbuns de estúdio que Joe Walsh gravou com a banda, e o isco que indico para quem quer conhecer os americanos.

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A clássica imagem do trio com as Harleys na neve: Jim Fox, Dale Peters e Joe Walsh

R-1989262-1300318576.jpegThirds [1971]

Com uma formação consolidada, nasce o terceiro álbum da banda, que não apresenta tanto peso como seus antecessores, concentrando-se em canções com um trabalho mais importante nos vocais e no instrumental, donde “Things I Could Be”, cantada por Fox, ou a lindíssima balada “It’s All the Same” são bons exemplo da evolução musical que o trio obteve mantendo a formação, com a primeira destacando-se pelos arranjos vocais e a segunda enaltecendo os dotes de Walsh ao piano, além de um envolvente arranjo de metais. Outra faixa que mostra grandiosidade nos arranjos vocais é “White Man/Black Man”, divino blues concebido por Peters, com a participação vocal do grupo The Sweet Inspirations, quarteto vocal feminino que também mostrou do que é capaz em álbuns como Blowin’ Your Mind (Van Morrison, 1967) e Electric Ladyland (Jimi Hendrix, 1968), tornando essa facilmente a melhor faixa do disco, o qual, em comparação aos seus antecessores, é bem mais acessível, e por incrível que pareça, ainda mais diversificado. Temos country em “Dreamin’ in the Country”, com os vocais de Peters, jazz na instrumental “Yadig?”, outro grande momento do LP, com o vibrafone de Peters sendo o centro das atenções, e a leve “Live My Life Again”, canção para acender os isqueiros em arenas lotadas. Completa Thirds a melosa “Again”, tendo arranjo de cordas por Walsh, e as pops “Walk Away” e “Midnight Man”, essa última com as vocalizações de Bob Webb e com o vocal principal de Mary Sterpka ao lado de Walsh. No geral, são canções que não condizem com o que o grupo tinha de melhor, que era o peso e o suingue destacando um instrumental forte e com improvisos, e por esses motivos, posso dizer que esse é o mais fraco dos discos da fase Walsh, mesmo tendo sido o primeiro disco do trio a conquistar ouro nos Estados Unidos, levado pelo single de “Walk Away”, que entrou nas cinquenta mais das paradas americanas.

220px-JamesliveNesse mesmo ano saiu o excelente James Gang Live in Concert, um dos grandes discos ao vivo da década de 70, registrando a passagem do grupo no célebre Carneggie Hall de Nova I0rque, onde o grupo detona uma poderosíssima versão de “Stop” – que baixão Peters estoura nas caixas de som -, arrepiam com a linda “Ashes, Tha Rain & I”, ovacionada pelos presentes, mergulha nas profundezas de um bar sujo no interior dos EUA com o blues embriagante de “You’re Gonna Need Me”, a qual em um dia que você pegue despercebido, certamente irá achar que é o Cream quem está rolando na vitrola (o que Walsh toca aqui, pqp), e faz viajarmos em toneladas de LSD nos viajantes 19 minutos de “Lost Woman”, estendida em dobro para deleite dos fãs de Yardbirds. O álbum, cujo show completo pode ser encontrado para download facilmente na internet, trazendo mais dez canções, foi o que me apresentou a banda, e marcou a despedida de Joe Walsh, indo formar o Barnstorm ao lado de Joe Vitale (bateria) e Kenny Passarelli (baixo). Para seu lugar, Domenic Troiano é o contratado, e mais uma mudança surge na formação, agora não mais como um trio, mas como um quarteto, tendo como vocalista principal Roy Kenner.

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Jim Fox, Dale Peters, Domenic Troiano e Roy Kenner

straight-shooter-55c3392a3d229Straight Shooter [1972]

Os dois ex-membros do grupo canadense Bush fazem sua estreia no quarto disco dos americanos, marcando também o que os fãs chamam de segunda geração do James Gang. Apesar de uma nova formação, o som da banda não muda muito, continuando uma mescla de gêneros e tendo como principais diferenças a diminuição no peso e o aumento no swing. Para tal, Troiano mostra ser uma bela escolha para substituir Walsh, já que sua mão direita tem ainda mais malemolência do que o guitarrista loiro, e a voz de Kener parece ter saída de algum grande vocalista da Motown, tendo “I’ll Tell You Why”, “My Door Is Open” e “Kick Back Man” como atestados de que esse quarteto era afiadíssimo para o funk, mas por outro lado, também imponente para despejar toneladas de peso em distorções, com “Looking For My Lady” sendo o maior exemplo. Troiano também mostra seus dotes vocais na romântica “Getting Old”, levada pelo seu violão, pelo violino de Sheldon Kurland e pelo arranjo de cordas de Glen Spreen, e que tem uma irmã tão bela quanto, só que com os vocais de Kenner, batizada “Let Me Come Home”. Outra balada, “Get Her Back Again”, tem uma pontuação menor no compto geral do LP, que é fechado pelas influências southern na linha Lynyrd Skynyrd que abrilhantam “Hairy Hypochondriac” e as loucuras dançantes de “Madness”. Alguns torcem o nariz, mas acho Straight Shooter uma ótima virada de página na carreira do James Gang, e coloco-o em um Top 5 dos melhores discos de estúdio que a banda lançou.


James+Gang+Passin+Thru+546883Passin’ Thru [1972]

O último disco da segunda fase do James Gang foi o último com a gravadora ABC Records, sendo mais um álbum versátil. O lado A é o mais sacolejante, com canções tendo muito embalo, onde a mistura da mão sacolejante de Troiano com belos arranjos vocais e muito groove no baixo e na bateria de Peters e Fox se sobressaem na ótima “Up to Yourself”, na qual você terá um panorama interessante do álbum, ou então o funk swingado da delirante “One Way Street” e de “Had Enough”. O lado B já é mais calmo, tendo canções amenas como “Out of Control”, o harpsichord de “William D. Smitty” Smith na baladaça “Things I Want to Say to You”, a qual conta com um bonito arranjo de cordas por Craig Sapphin, que também estão presentes na acústica balada “Drifting Girl”, com a participação de David Briggs ao piano. No mais, a mistura de estilos continua, com o ritmo southern de “Ain’t Seen Nothing Yet”, a leveza country de “Run Run Run”, com a participação de Charlie McCoy na harmônica e Weldon Myrick  no pedal steel guitar, e o grande funk pop de “Everybody Needs a Hero”, destacando o órgão de “Smitty” e um longo trecho instrumental onde o harpsichord duela com a guitarra, nessa que é a melhor canção do disco. Não é um dos melhores álbuns da banda, e dessa primeira fase, passa despercebido entre as grandiosidades que o cercam, no caso Straight Shooter e os dois próximos álbuns, que veremos daqui há quinze dias, quando um novo James Gang irá surgir, já que Troiano voltou para o Canadá, tornando-se membro do The Guess Who, sendo substituído por um jovem e talentoso guitarrista loiro, Tommy Bolin.


Discografias Comentadas: James Gang – Parte II

 

Discografias Comentadas: James Gang – Parte II
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Dale Peters, Jim Fox, Roy Kenner e Tommy Bolin

A saída de Domenic Troiano não afetou a personalidade do quarteto, que foi buscar na ensolarada Miami o novo dono das seis cordas, o exímio e novato Tommy Bolin, indicado pelo formador Joe Walsh. Com apenas 21 anos, o músico vinha de uma passagem soberana no obscuro grupo Zephyr, e assumiu a guitarra da James Gang com tanta personalidade que muitos fãs até desconfiam que houve uma carreira pré-Bolin com a banda.

Foram apenas dois álbuns, o suficiente para chamar a atenção do mundo, principalmente do Deep Purple, que o levou para substituir nada mais nada menos que Ritchie Blackmore, e que trarei agora, encerrando a segunda parte com os últimos lançamentos oficiais dessa gloriosa banda do hard setentista.


tumblr_inline_nrx7qjQH8a1sbrjwg_540Bang [1973]

A estreia de Bolin é um disco acima do comum, e na minha opinião, o melhor disco da carreira do James Gang. Tendo na formação além de Bolin o vocalista Roy Kenner, o baixista Dale Peters e o baterista Jim Fox, é o gurizão das roupas coloridas que toma conta, chegando com tudo ao anotar oito das noves composições de um LP sensacional. Quem conhece a curta carreira do guitarrista americano, ou apenas o álbum Come Taste the Band (gravado por ele junto ao Deep Purple em 1975), irá descobrir que as linhas de guitarra e os efeitos que tanto marcaram suas performances já se faziam presentes por aqui, seja na viajante introdução de “Standing in the Rain”, utilizando diversos efeitos na guitarra, ou no espetacular solo de “From Another Time”, onde ele desossa os dedos em uma faixa percussiva que deve ter agradado e muito ao chicano Carlos Santana. Bolin traz para a banda o uso do moog sintetizado, que abrilhanta o petardo setentista “Ride the Wind”. Dois fatores a mais para a entrada de Bolin é que a James Gang ganhou mais um incrível vocalista, pois poucos tinham a capacidade de colocar tanto açúcar na voz quanto Bolin, que derrete calcinhas na lindíssima “Alexis”, por incrível que pareça, ainda mais malemolência, como no sensual embalo da versátil “Must Be Love”, com Bolin estraçalhando com o slide na introdução e fazendo um solo de tirar o fôlego. Quem procura algo da James Gang dos discos anteriores, encontrará no embalo acústico de “Got No Time For Trouble”, na verdade uma canção muito mais Zephyr do que James Gang. Aqui comprovamos que Bolin levou suas características para o grande grupo inglês, com uma personalidade exclusiva de um dos poucos gênios da guitarra que apareceram na década de 70, e que acabou indo curtir outras bandas muito cedo. Exemplo maior dessa influência James Ganguiana no som do Purple está no riff de “The Devil is Singing Our Song”, pois duvido que você não imagine os vocais de David Coverdale ou Glenn Hughes. A única composição sem a mão de Bolin, “Rather Be Alone With You (Song for Dale)” é uma maravilhosa criação  vocal de Kenner, sem a participação de nenhum instrumento, apenas vozes e palmas mandando ver em um soul sensacional. O melhor ficou para o final, onde segurar as lágrimas com o lindíssimo arranjo de cordas de Jimmie Haskell na linda “Mystery” é missão impossível, ainda mais com os dedilhado do violão de Bolin fazendo cada molécula de seu corpo vibrar. Música linda, que encerra um álbum raro na história da música, pois afinal, desconheço outro onde um novato chegou com tanta personalidade em um grupo veterano e simplesmente assumiu a posição de maior destaque. Nota 11 em 10, e um dos melhores discos da história fácil fácil.


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A influência e importância de Bolin para a James Gang foi tamanha que sua cidade Natal foi responsável por batizar o sétimo álbum do grupo, o qual revela ainda mais a capacidade de um agora cobiçado Bolin, já que suas performances em Bang e no incrível Spectrum, lançado por Billy Cobham no outono americano de 1973, chamaram a atenção de todo o mundo. O disco possui de tudo um pouco, sendo bem mais versátil que Bang. Apreciadores de Deep Purple coloquem a agulha direto em “Do It”, e se apavorem com o que o guri faz na guitarra, despejando peso, velocidade e rifferama como poucos, ou então, chame a sua garota para mais uma vez derreter sua calcinha na bela “Spanish Lover”, uma das canções marcantes da carreira do guitarrista colorido. Outra baladaça, “Sleepwalker”, destaca a arrepiante interpretação de Kenner e o magistral slide guitar de Bolin, numa das peças mais bonitas do grupo, enquanto “Cruisin’ Down the Highway” mistura elementos southern com pesadas passagens de slide, presentes também em “Summer Breezes”, na qual eu diversas vezes penso ser uma faixa do Trapeze de Glenn Hughes que está saindo das caixas de som. Como sempre, temos espaço para canções mais swingadas, com “Wildfire” sendo a principal pepita a brilhar com essa característica, e se você quer curtir uma viagem, delire com as escalas jazzísticas de “Praylude”, pequena peça instrumental que é acompanhada pela pesadíssima e maluquete “Red Skies”, outra na qual Kenner mostra todos os seus dotes vocais. Para encerrar, temos a participação de Albhy Galuten com o sintetizador em “Head Above the Water”, canção suave que encerra outro belo disco, taco-a-taco com Bang candidato a melhor da banda. A capa é a versão negra de Rides Again, o que acabou marcando entre os fãs o apelido de “Disco Preto”.

Bolin acabou desiludindo-se com os problemas de drogas e álcool de seus companheiros – quem diria -, e foi gravar com Alphonse Mouzon, passeando pelas gélidas terras do Canadá na maravilhosa estreia do Moxy, fazendo Teaser, seu essencial álbum de estreia de 1975, e parando no Deep Purple para gravar o já citado Come Taste the Band. O James Gang deu uma pequena pausa, e em 1975, retornava com uma nova formação, tendo Fox, Peters, Bubba Keith (vocais e guitarras) e Richard Shack (guitarras).

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Richard Shack, Bubba Keith, Jim Fox e Dale Peters

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Para muitos esse é o disco mais fraco do James Gang. Não consigo concordar com essa opinião, mas concordo que a sonoridade da banda mudou bastante com a saída de Bolin, fugindo inclusive do que foi produzido na era Walsh ou no período Troiano. O interessante é que assim como aconteceu com Bolin, dessa vez o estreante Bubba anotou dez das onze canções do LP, sendo sete em parceria com o também novato Richard Shack, o que me faz pensar onde foi parar a criatividade de Peters e Fox. Independente disso, a voz de Bubba é agradável de ouvir, principalmente na linda “All I Have”, balada acústica onde o vocalista destaca-se com sobras, e na emocionante “Come With Me”, apresentando George Ricci no violoncelo e Donny Brooks na harmônica. Acredito que a cisma dos fãs com esse álbum é por que a guitarra de Shack não brilha como a de Bolin ou Walsh. O guitarrista é tímido e por poucas vezes consegue se destacar, como na pesada “Earthshaker”, grande canção que é fácil a melhor do disco, na pegada “Shoulda’ Seen Your Face”, sonzeira para balançar o pescoço sem dó, e na hardeira “Watch It”, onde o quarteto soa como o grande grupo que os fãs esperam. Gosto bastante do rockzão “Red Satin Lover”, onde o grupo rememora os arranjos vocais que se destacavam no início da carreira, mas não me agrada o ritmo country de “Cold Wind”, com a participação da steel guitar de Al Perkins e do piano de Tom Dowd. Falando em country, o pianista e organista David Briggs deu uma cara southern na leve “Gonna Get By” e em “Merry-Go-Round”, canção que abre o LP com o órgão sendo o destaque. Fox também usa o órgão como um dos instrumentos centrais de “Driftin’ Dreamer”, tendo o baixo de Fox estourando as caixas de som, assim como na pesada recriação do clássico “Heartbreaker Hotel”, imortalizada na voz de Elvis Presley. A formação não durou muito tempo, com Bubba e Shack dando lugar a Bobby Webb (guitarras e vocais) e Phil Giallombardo (teclados, vocais e piano).

Bob Webb, Phil Giallombardo, Jim Fox e Dale Peters
Bob Webb, Phil Giallombardo, Jim Fox e Dale Peters

603497982707Jesse Come Home [1976]

A despedida da James Gang não é um grande álbum, infelizmente. O retorno de Giallombardo (que havia feito parte do grupo no início da carreira da banda) gerou um LP pouco inspirado e carregado de sacarose, trazendo baladas em excesso, como “Love Hurts”, carregada na orquestração, ou a derretida “Peasant Song”, onde o piano de Giallombardo nos faz lembrar Guilherme Arantes em sua fase Global, mas pelo menos o bonito arranjo orquestral a salva. Webb lidera os vocais em “Another Year”, linda faixa comandada pelo bonito dedilhado de violão, e na qual a voz do tecladista casa muito bem com a suavidade que sai das caixas de som, e “Stealin’ the Show”, mais uma balada, só que essa bem viajante, com um brilhante hammond e muitos efeitos na guitarra. Outros bons momentos surgem na pegada rocker de “Hollywood Dream”, a ótima instrumental “Pick Up the Pizzas”, com seu riffzão pesadíssimo e a percussão de Nelson Flaco Pedron em destaque, o delírio hippie de “Feelin’ Alright”, última composição de Peters e Fox com a banda, os embalos funky de “I Need Love”, e na trabalhada “When I Was a Sailor”, mais uma balada trazendo cordas, metais, vocalizações e muitas variações de andamento.

Dale Peters, Joe Walsh, Jim Fox
Dale Peters, Joe Walsh, Jim Fox na reunião de 2006

O James Gang reuniu-se várias vezes após seu término oficial em 1977, mas infelizmente, nunca mais registrou algo novo. Porém, sua curta discografia mostra que grandes bandas não necessitam de muitos álbuns para fazer história. Espero que os fãs da banda tenham gostado das descrições aqui apresentadas, e para quem não conhecia, que as matérias os tenham feito buscar os álbuns de um grandioso e praticamente desconhecido grupo, principalmente os clássicos da era Walsh e Bolin.


Discografias Comentadas: Elvenking

 

Discografias Comentadas: Elvenking

 

Elvenking
Aydan (guitarra), Raffahel (guitarra), Symohn (bateria), Jakob (baixo), Damna (vocais) e Lethien (violino) 

Não dá para negar que aquelas primeiras bandas que você conhece lá quando era criança ou adolescente, no meu caso ainda descobrindo o heavy metal após recém adquirir uma internet banda larga, continuam lá no fundo da memória volta e meia ressurgindo. Quando se fala ainda de fantasia medieval no heavy metal, logo já vem na memória de alguns as tradicionais bandas power noventistas que  causam repulsa. Esse subgênero fez parte da minha formação musical como ouvinte e nunca tive qualquer vergonha de expôr, elogiar e escrever sobre. Embora com o tempo fosse adquirindo outros gostos e abrangendo outros estilos em minhas playlists, eu jamais deixei de ouvir esse tipo de som. E volta e meia cá estou com mais uma do estilo que é o caso do Elvenking, banda italiana de folk/power metal.

O Elvenking começou tudo em 1997, ideia dos guitarristas Aydan e Jarpen. Depois disso logo recrutam o baixista Sargon e o baterista Anselmi. Após alguns ensaios, Anselmi cai fora e chamam outro baterista que novamente não permanece muito tempo chamado Diego Lucchese.

Sem vocalista, a banda anuncia em um jornal que estão em busca de um que queira cantar em uma banda de heavy metal. Damnagoras, com apenas 17 anos, responde e já no primeiro ensaio é efetivado. Mas Lucchese logo decide sair dizendo que ele não é o cara certo para a banda. A procura de um baterista, Aydan passa a vasculhar os jornais até que encontra um anúncio de uma banda dizendo que estavam em busca de um vocalista. De maneira bizarra, ele liga e a conversa se dá mais ou menos assim:

– Você é vocalista? – pergunta o membro da banda em questão.

– Não, mas eu estou interessado em seu baterista. – responde Aydan sem sequer conhecê-lo.

– Não, ele só pode tocar conosco. Mas venha no próximo sábado em nosso show. – convida o integrante do anúncio do jornal.

Aydan então pega o carro do pai e parte para o show em questão. Lá ele gostou do desempenho do baterista Zender. Então ele foi lá, puxou uma conversa com ele e… bem, o baterista foi “roubado” da banda em questão. Após a saída do baixista Sargon, Gorlan é chamado para substituí-lo e a primeira formação do Elvenking está feita. Lançam uma demo, enviam as gravadoras e a alemã AFM Records os convoca. Contrato assinado, hora de gravar!


HeathenreelHeathenreel [2001]

Apostando no folk metal ao melhor estilo dos pioneiros do Skyclad junto a uma influência das bandas do power metal, o Elvenking inicia sua trajetória com esse ótimo disco que é considerado por muitos fãs como o melhor da banda. Quem não a conhece já logo de cara pode estranhar a voz aguda de Damnagoras. Não, ele não é como Andre Matos e nem canta em falsetto. Seu tom de voz é assim mesmo, quase como o de um garoto. Eu gostei logo de cara justamente por parecer que é um personagem élfico digno de uma obra de Tolkien cantando por aqui, o que para quem gosta desse lado fantasioso só ajuda a entrar no clima. Independente disso, o Elvenking em nenhum momento deixa de lembrar uma banda de heavy metal, com os guitarristas Jarpen e Aydan riffando e solando muito bem e um bem vindo baixo audível, que costumeiramente acaba ficando ofuscado por tantos outros instrumentos nas bandas do estilo. A cantora soprano Pauline Tacey com vocais líricos e o violinista Elyghen volta e meia aparecem como músicos de estúdio em meio as composições. Destaco a bela faixa “The Regality Dance” com belos violinos e uma melodia agradável e alguns guturais de Jarpen, e “Skywards” que é a minha favorita do disco, parecendo que foi gravada diante de uma fogueira de um acampamento de estudantes europeus tocando canções folclóricas.

O álbum foi bem recebido pela mídia especializada e a banda começou a aparecer no cenário europeu. Porém, como disse Aydan em uma entrevista, o fato de serem jovens impulsivos fez com que surgissem certas rusgas entre eles e o vocalista Damna. Este acabou saindo e dando espaço ao novo vocalista Kleid. Elyghen também acabou efetivado como membro permanente.


WyrdWyrd [2004]

Este é um disco que dividiu os fãs. Por um lado, alguns dizem que o novo vocalista é muito melhor do que o estridente Damna e apreciam seus vocais um tanto mais maduros. Por outro, os que amaram o debut dizem que Damna era o que caracterizava o Elvenking e que este é o pior disco deles. Particularmente não acho nem um e nem outro. Apesar de gostar mais do anterior se comparado com Wyrd, este apresenta um foco maior nas guitarras sendo muito mais power do que folk metal. O disco é temático e baseado em um livro desconhecido no Brasil chamado The Way of Wyrd de 1983, do psicólogo britânico Brian Bates que trata sobre a espiritualidade da Inglaterra anglo-saxônica, que de acordo com o próprio autor, exigiu muita pesquisa em uma área ainda surpreendentemente pouco estudada. É um bom disco que, embora não se destaque totalmente aos meus ouvidos, apresenta canções agradáveis e facilmente digeríveis. Gosto principalmente de “Pathfinders” sendo esta com riffs e melodias dignos de um Helloween. Também aprecio a mais famosa faixa do disco “Jigsaw Puzzle”, a única canção aqui que sobreviveu durante muitos anos nas apresentações ao vivo e que as vezes os italianos inventam de tocá-la. Por fim, ainda destaco “Moonchariot” com uma musicalidade bem próxima do Skyclad, banda que também tenho um enorme apreço.

A banda nunca declarou abertamente o que aconteceu, exceto que as sessões de composição de Wyrd foram um tanto quanto tumultuadas internamente e disseram apenas que as coisas não estavam funcionando como deveriam com Kleid nos vocais. Aydan teve que meter o rabinho entre as pernas e chamar Damnagoras de volta – que prontamente aceitou – selando a curta passagem de dois anos liderando os vocais do Elvenking.

Infelizmente, poucos meses depois do retorno do antigo vocalista, um dos principais fundadores do Elvenking deixa a banda. Alegando desinteresse no folk e querendo trabalhar com sonoridades mais modernas, Jarpen sai amigavelmente. Porém, ele ainda continua tocando guitarra em algumas canções e fazendo guturais em vários discos após a sua saída, agora como convidado.


The Winter WakeThe Winter Wake [2006]

Em termos comerciais, seu maior sucesso. Ainda hoje o disco mais tocado nos shows ao vivo. Não é para menos que logo após o fracasso comercial (e em agradar grande parte dos fãs) que foi Wyrd, os caras voltaram com gana e lançaram um ótimo trabalho. Meu segundo favorito, há um outro disco lançado adiante que me agrada ainda mais. O álbum aqui deixa claro que a sonoridade será um folk metal pesado mas com muita flauta, violino, coro de vozes e violoncelos. A pegada de “Trows Kind” já demonstra que os caras estão com tudo! “The Winter Wake” tem como convidado o surpreendente Schmier, vocalista/baixista do Destruction, duelando com Damna nos vocais. Quem diria que um alemão do thrash oitentista apareceria em um álbum de uma banda folk metal italiana? Realmente ninguém esperava, ainda mais que a canção surpreende por um jeitão meio eletrônico/alternativo logo de cara mas que depois retorna ao tradicional folk do qual a banda é conhecida. “The Wanderer” se tornou a favorita dos fãs e a mais pedida nos shows. É a canção que acaba se tornando um resumo de tudo que a banda representa. Ainda acrescento “On the Morning Dew” com a convidada Laura de Luca fazendo as vozes femininas e “Devil’s Carriage” mais veloz e pesada do álbum como ótimas músicas que com certeza agradariam fãs desse heavy metal mais medieval e fantasioso.


The ScytheThe Scythe [2007]

Há um ano, você acaba de lançar um disco elogiado pela crítica, pelos fãs, os shows aumentaram e tudo se encaminha para um crescimento ainda maior. Daí começa a surgir aquelas ideias escrotas na mente dos compositores da banda de que “vamos surpreender a todos”, “vamos mostrar que sabemos tocar outros estilos” e “vamos mudar radicalmente a sonoridade para sairmos da mesmice”. Aí você faz um disco meio metalcore, meio melodic death metal, meio new metal e acrescenta uns violinos para fingir que ainda é o Elvenking mas “mudado”. Não vou me estender muito, mas The Scythe é muito ruim. Não por ser diferente, mas pela banda não ter qualquer intimidade com o que estão tocando. Não faço ideia do que deu na cabeça dos caras lançarem esse disco logo após The Winter Wake. As faixas são fracas, o baixo parece mal equalizado, não há mais melodias ganchudas e Damna tenta fazer um vocal “agressivo” que não condiz com o que ele faz de melhor. Nenhuma faixa merece comentário aqui. Depois de ver a cagada que fizeram, felizmente, voltaram a se redimir com os fãs um ano depois.


Two Tragedy PoetsTwo Tragedy Poets (…And a Caravan of Weird Figures) [2008]

Ainda na vibe “vamos fazer diferente” mas desta vez acertando o caminho escolhido, o Elvenking lança um disco quase todo acústico com algumas pouquíssimas passagens de guitarra e alguns teclados. Apesar de muitas bandas já terem experimentado essa linha folk rock que a banda adota aqui, o álbum acerta em pegar a influência das faixas mais acústicas dos três primeiros lançamentos e criarem uma obra capaz de agradar pela beleza de várias belas melodias baseadas em violão, violino, piano e gaita irlandesa, mas sem esquecer a velocidade típica do rock que se demonstra em várias composições. As músicas que mais destaco aqui são “From Blood to Stone” uma música com uma estrutura mais pop e com uma roupagem moderna, mas que casa muito bem com o folk de influência celta que a banda adota por aqui. Outra muito boa é The Blackest of my Hearts” com Zender batendo forte na bateria e cadenciando a música que é bastante diferenciada das demais. O único ponto negativo fica com “Heaven is a Place on Earth” cover da cantora americana Belinda Carlisle, um hit famoso nas rádios americanas de 1987. Aqui ficou parecendo uma faixa rejeitada do Bon Jovi em formato folk rock. As revisões acústicas de “The Winter Wake” e “The Wanderer” do álbum de 2006 também ficaram bem legais. No geral, o disco vai muito bem, é de fácil digestão e dá para apreciá-lo sem maiores problemas.

Após esse trabalho, houve mais uma baixa: o violinista Elyghen disse que iria estudar por 6 meses na Irlanda e após este período, retornaria a banda. Depois esses 6 meses viraram 12 meses. E depois 18 meses… bem, Elyghen continua na Irlanda até hoje. Lethien foi chamado em seu lugar. Nesse mesmo período, o guitarrista Rafahel se junta definitivamente à banda após esta ficar algum tempo apenas contando com guitarristas contratados nos shows.


Red Silent TidesRed Silent Tides [2010]

Este é o meu disco preferido da banda e a principal razão pela qual resolvi escrever esta discografia comentada. Depois de dois álbuns mais experimentais, o Elvenking volta a fazer o heavy metal pelo qual ficou conhecido. Porém, este retorno teve ainda algumas diferenças com relação aos discos antigos. Agora a banda se foca ainda mais nas guitarras e seu instrumental lembra mais o Gotthard do que o Skyclad, com claras influências do hard rock em praticamente todas as faixas. Explica-se pelo fato de ter sido produzido por Dennis Ward, baixista do Pink Cream 69, famoso por tocar e produzir discos do estilo como por exemplo, os alemães do Axxis. Temos energia, solos inspirados, boa velocidade, alguns teclados e peso. De folk mesmo há pouco. É o disco mais direto da banda. O hard rock fica bem claro já na segunda faixa “The Last Hour” em que melodias rockeiras se misturam com teclados típicos do power e os violinos do folk. Outra que vai nessa mesma veia é “Those Days”, sendo ainda mais próxima daquelas bandas sleaze com algo próximo do The Cult nos álbuns mais recentes, uma das músicas mais diferenciadas de toda a discografia do Elvenking. “This Nightmare Will Never End” é uma canção bem hard/heavy moderna, sem um pingo de resquício do antigo folk. Há de se notar uma evolução dos vocais de Damnagoras. Agora estão muito melhores do aquela infantilidade ouvida no primeiro álbum. Sua voz me lembra agora a de Edu Falaschi do Almah, de quem eu gosto bastante. O disco todo te entrega um power/hard rock excelente, impressionante para alguém não esperava ouvir isso dos italianos. Eu gosto muito desse álbum e recomendo a todos que se interessaram em conhecer a banda a começar por ele.

Porém, infelizmente mais dois membros importantes anunciam suas saídas: o baixista Gorlan deixa a banda após 10 anos devido a este querer ter mais tempo com sua esposa e uma vida menos corrida de viagens e turnês. Já o baterista Zender busca seguir outros projetos aos quais não consegui encontrar nenhuma informação por onde anda. Em seus lugares entram o baixista Jakob e o baterista Symohn, lineup que continua até hoje.


EraEra [2012]

E o Elvenking mudou de novo, mas desta vez a banda foi mais suave. O folk volta a aparecer mais nas canções, mas o foco de agora é uma linha mais do heavy metal tradicional e do metal sinfônico. “I am the Monster” se tornou indispensável no setlist ao vivo com seu peso, uma linha hard rock e um refrão grudento daqueles além da participação do conhecido Jon Oliva (ex-Savatage) nos vocais. O disco é bom em um saldo geral, tendo ainda “We, Animals” e “The Time of Your Life” como exemplo de duas ótimas faixas extraídas aqui, porém, a banda dá uma esfriada nos ânimos com canções como “Midnight Skies, Wind Sighs” e a fraca “Poor Little Baroness” sendo a primeira uma composição que o folk fica completamente deslocado do restante da canção que soa muito mais como um heavy metal tradicional e a segunda como um filler bem genérico. Uma melhor polida nas composições e o descarte de algumas passagens comuns e o disco poderia ser um grande destaque na discografia. Boas ideias tiveram, faltou apenas um tanto mais de esmero.


The Pagan ManifestoThe Pagan Manifesto [2014]

O último álbum lançado até então demonstra que os italianos Damna e Ayden evoluíram muito como compositores. Já tendo sua base de fãs confortável e não precisando provar mais nada a ninguém, o Elvenking aqui soa mais maduro, naquela fase da banda em que tudo o que precisam é escrever nada mais do que boas composições, sem grandes surpresas ou querendo almejar serem gigantes do metal, mas que faz aquilo faz para manter o seu pão à mesa. Conheço muitos ouvintes que amam ser surpreendidos com novidades e tal e para os fãs dos italianos, eles trouxeram bastante no decorrer dos anos. Mas também admiro banda que sabe o lugar de si própria e que dificilmente atingirá um novo auge, por isso, se mais fãs vieram tanto melhor, porém seus fiéis continuam lá em seus shows. É o sentimento que se tem ao ouvir The Pagan Manifesto. Um folk metal amadurecido é o que se ouve por aqui. A segunda parte do álbum é melhor do que a primeira. As canções que mais gosto são “Towards the Shores” uma balada medievalesca que há tempos a banda não fazia, “Twilight of Magic” é bem a cara do Helloween atual, daquelas canções bem humoradas que os alemães são conhecidos por gravar e “Black Roses for the Wicked One”, uma canção mais sinfônica contando com uma estrutura mais pop e um certo resquício do hard rock de discos anteriores. É um disco feito na medida certa para agradar fãs do tradicional folk metal.


Diante de todas as trocas de membros que a banda sofreu, o núcleo principal formado pelo vocalista Damna e o guitarrista Aydan continua lá firme e forte compondo e levando o Elvenking a tocar em vários festivais pela Europa. Atualmente acabou de voltar após 5 meses de descanso e está ensaiando para tocar no Wacken Open Air e em mais shows a serem anunciados. O Elvenking nunca será uma banda para todos os gostos, mesmo para quem gosta de folk/power metal devido suas constantes mudanças de sonoridades e suas diversas influências registradas em álbuns diferentes, mas creio que os italianos tem cancha para ser uma banda líder de seu subgênero junto aos americanos do Agalloch e os suecos do Falconer. Desejo boa sorte a carreira deles e que venham mais discos.

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Vox Populi! ‎- Half Dead Ganja Music (1987)

 


Núcleo de um grupo muito fluido, aproximando-se de uma espécie de etno-industrial parisiense, His Name Is Alive: uma mistura sedutora de experimentação estranha, desvios estilísticos excêntricos e beleza sublime entregue por um elenco giratório de personagens.

Na verdade, a formação de VP varia até mesmo ao longo deste álbum, já que a primeira metade é dedicada às gravações de estúdio de Mithra e Axel (com uma pequena ajuda de Arash e Pacific 231), enquanto a segunda metade é selecionada de uma série de apresentações ao vivo com Francis Manne. Normalmente não sou fã de álbuns ao vivo, mas este é uma exceção agradável, já que o material ao vivo é praticamente indistinguível do material de estúdio. Além disso, essas onze peças de alguma forma se unem em um todo bastante surreal e coerente que é geralmente considerado um dos melhores lançamentos de VP pelos fãs (e provisoriamente por mim também, embora eu ainda não tenha absorvido totalmente sua discografia de três décadas).

Curiosamente, as 11 músicas do Half Dead Ganja Music são todas bastante breves, com apenas uma com mais de 4 minutos. Na maior parte, foi uma grande jogada, pois significa que as peças experimentais mais bizarras de Axel terminam antes de começarem a parecer indulgentes. No entanto, essa brevidade é um pouco exasperante para peças de drone exuberantes e oníricas como “Schmacht” e “Gole Mariam”, pois elas terminam antes que eu possa ficar totalmente imerso nelas. Eu suspeito que a estética do esboço provavelmente foi intencional, já que passar de um estranho interlúdio para outro é uma grande parte do que torna este álbum uma experiência tão única e atraentemente alucinatória, mas teria sido bom se Mithra e Axel tivessem se permitido tempo esticar um pouco quando encontrarem algo particularmente bonito ou marcante. Felizmente, eles se depararam com esses momentos com uma regularidade surpreendente – parece que eles tinham mais do que um álbum de ótimas ideias, mas mesmo assim as condensaram em um único álbum.


O destaque claro do álbum é “Fassle”, gravada durante uma apresentação em Ravensburg, Alemanha, em 1987 (absolutamente ninguém arrasa na Alta Suábia como VP). Construído sobre pouco mais do que um padrão de sintetizador misterioso e pulsante e os vocais melancólicos e sagrados de Mithra, ele encapsula tudo o que há de bom em Vox Populi! em apenas 3 minutos: sentido melódico forte, mas discreto; beleza de outro mundo que parece assombrada; simplicidade organizada; e algo que parece muito com gravações altamente processadas (e vagamente ameaçadoras) de alguns patos. "Golnessar" também atinge alturas semelhantes com componentes semelhantes, combinando um drone denso e enjoadamente cintilante com vocalizações mais etéreas e gritos de animais primitivos. Quanto aos pontos baixos, eles basicamente não existem: embora algumas peças sejam certamente mais melódicas e compostas do que outras, o álbum inteiro é essencialmente uma foda mental bem orquestrada e apropriadamente fantasmagórica.

Minhas únicas críticas são bem menores. A primeira é que não há muito desenvolvimento nas músicas individuais, já que cada peça é basicamente um único tema que começa, continua por alguns minutos e depois termina. No entanto, essa mesma acusação poderia facilmente ser levantada contra quase todas as grandes bandas pós-industriais do período e os temas do Vox Populi! são muito melhores e mais eficazmente realizados do que a maioria. Minha outra reclamação é que a sequência poderia ter sido um pouco melhor, já que a trilogia abstrata final de “Taghmanantes/Gin Gina/Un Jour” parece um anticlímax sinuoso após o brilhantismo de “Fassle”. No entanto, para um álbum retirado de uma mistura de gravações de estúdio e três apresentações ao vivo separadas, Ganja Music ainda é sequenciado de forma notavelmente eficaz.

Se for ouvido, este álbum deverá percorrer um longo caminho para estabelecer tardiamente o Vox Populi! como uma das melhores e mais originais bandas a emergir do obscuro meio cassete pós-industrial dos anos 80, o que é ótimo, já que eles ainda estão ativos e por aí para apreciá-lo. Na verdade, é muito fácil imaginar uma realidade alternativa onde Vox Populi! assinou contrato com a 4AD e se tornou enorme, já que alguns dos melhores momentos da Ganja Music soam como This Mortal Coil ou Dead Can Dance mais experimental e industrial (talvez eles devessem ter considerado fazer alguns covers de Big Star para chamar a atenção de Ivo). Felizmente, há alguns rumores sobre uma possível retrospectiva do Vinyl-on-Demand no futuro, mas esta é uma introdução tão excelente à estética de Axel e Mithra quanto qualquer um poderia esperar. 



Akpatok - Through the spruce gate into the snowy forest (2015)

 


Dawid Adrjanczyk é um intérprete, compositor e artista sonoro de vanguarda. Os seus trabalhos centram-se frequentemente na interação entre música e natureza, formas arcaicas de experiência sonora, vazio e quietude. Enraizado no minimalismo, ele interpreta o idioma das formas musicais contemporâneas e o potencial meditativo da música antiga e da modalidade do Leste Europeu. Suas composições e performances são principalmente eletroacústicas. Ele combina instrumentação tradicional, guitarra preparada, órgãos de sopro vintage com som eletrônico, gravações de campo e fitas. Ele também se concentra na preparação de instrumentos para explorar esquemas de afinação únicos e harmonia baseados em microtonalidade e relações orgânicas de intervalos.

Fundador e líder do Akpatok Ensemble. Colabora com o The Magic Carpathians Project, o projecto Tundra e com a sua esposa Nina, com quem interpreta canções arcaicas da Europa de Leste, bem como composições folk experimentais.



Destaque

Annie Lennox – A Christmas Cornucopia (2010)

Sabemos que é uma espécie de tradição rara que artistas de vários países e estilos musicais publiquem, em algum momento de suas carreiras, u...