Se John Mayall acabou com a Decca, a gravadora inglesa não acabou com o cantor/multi-instrumentista. John Mayall pode ter se refugiado na Polydor, mas a Decca tem toda a intenção de recuperar os fundos investidos na era Bluesbreakers. É provável que John Mayall, então em turnê pelos EUA, ainda esteja sob contrato e, portanto, deva um último LP para a Decca.
Surge então a ideia de imprimir um disco que retraia este primeiro épico do nativo de Macclesfield onde teremos, portanto, prazer em encontrar Eric Clapton, Peter Green e Mick Taylor. Isto é para o violão. No baixo, John McVie, Jack Bruce e Paul Williams se sucedem. Na bateria estão Martin Hart, Hughie Flint, Aynsley Dunbar, Mick Fleetwood e Keef Hartley. No saxofone juntam-se Chris Mercer e Dick Heckstall-Smith. Em suma, a nata do boom do blues britânico do qual John Mayall é o chefão.
Intitulado Looking Back, chegou às lojas em agosto de 1969, então não é realmente um álbum. Mas não podemos realmente dizer que estamos lidando com uma compilação. Porque o disco reúne singles que não tiveram lugar nos LPs que se seguiram, tal como alguns músicos (Jack Bruce, Mick Fleetwood…).
Começamos esta viagem no tempo em abril de 1964 com “Mr. James” para uma homenagem a Elmore James, falecido recentemente. Eric Clapton, membro dos Yardbirds, ainda não se juntou aos Bluesbreakers. A guitarra é fornecida por Bernie Watson para um blues de Chicago mid-tempo muito agradável, modelado nos padrões americanos. Agradecemos a execução desta gaita travessa e deste piano de salão. Ainda não há Clapton para a próxima faixa, a instrumental “Blues City Shakedown”, que data de fevereiro de 1965. É Roger Dean quem segura o controle. Mas a estrela é a gaita melódica e edificante.
Agora vem a parte séria do inédito “Stormy Monday” de T Bone Walker gravado ao vivo em março de 1966. Com The God nas seis cordas elétricas de som pesado e agudo, subimos vários degraus. Um stoner blues onde Clapton é verdadeiramente o deus da guitarra tocando com um órgão celestial ao fundo. Certamente a atração deste disco apesar de um som digno de um bootleg mas que nos transporta para estes esfumaçados clubes ingleses. Só lamento: a única contribuição de Clapton neste álbum, mas a oportunidade de ouvi-lo no palco quando ele era membro dos Bluesbreakers.
Peter Green, com seu estilo incisivo, às vezes misterioso, é o mais polido com 7 músicas no relógio que nos levam de setembro de 1966 a dezembro de 1967. Começamos com a balada lânguida e desesperada “So Many Roads” com seus metais indiferentes. O título homônimo vem, uma parte de soul bem falado e atrevido seguido de perto pelo ragtime um tanto dançante “Sitting in the Rain”. Voltamos ao blues de Chicago em “It Hurts Me Too” popularizado por Tampa Red. Com este órgão cavernoso no comovente “Double Trouble” de Otis Ruch regressamos ao passeio desencantado. Mais adiante estão a vaporosa e estranha “Jenny” bem como a rústica “Picture on the Wall” concluindo no registro folk onde Peter Green toca maravilhosamente na guitarra de aço.
No que diz respeito a Mick Taylor com o seu sentimento transbordante, só temos direito a “Suspicions (Part Two)” de Setembro de 1967, um ritmo furioso e blues com festival de sax.
Popular, muitos conheceram John Mayall através deste disco que mostra a evolução dos Bluesbrakers. Um grupo que persegue os grandes nomes do blues afro-americano sem nenhuma originalidade, um combo onde a guitarra é rei.
Mas em agosto de 1969, libertado dos Bluesbrakers, o cantor multi-instrumentista inglês rumou para outro lugar, para a Polydor, onde se apresentou mais uma vez a oportunidade de desenvolver o seu blues britânico. Como esta magnífica capa onde John Mayall, como um cowboy cabeludo que pega um velho trem, olha para novos horizontes.
1. Mr. James
2. Blues City Shakedown
3. They Call It Stormy Monday
4. So Many Roads
5. Looking Back
6. Sitting In The Rain
7. It Hurts Me Too
8. Double Trouble
9. Suspicions (Part Two)
10. Jenny
11. Picture On The Wall
Músicos:
John Mayall: Vocais, Guitarra, Piano, Órgão, Gaita.
Eric Clapton, Peter Green, Mick Taylor, Bernie Watson, Roger Dean: Guitarra
John McVie, Jack Bruce, Paul Williams: Baixo
Martin Hart, Hughie Flint, Aynsley Dunbar, Mick Fleetwood, Keef Hartley: Bateria>
Chris Mercer, Dick Heckstall-Smith : Saxofone
Produzido por: John Mayall, Mike Vernon