quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Review: Angra - Ømni (2018)

 



Nono álbum do Angra, Ømni marca também um novo capítulo na história da banda, já que é o primeiro disco do grupo sem o guitarrista Kiko Loureiro, que saiu em 2015 para integrar o Megadeth. Marcelo Barbosa, ex-Almah, é o seu substituto.

Ømni é o sucessor de Secret Garden e o segundo álbum do Angra a contar com o vocalista Fabio Lione. Gravado na Suécia, o trabalho foi produzido novamente por Jens Bogren (Kreator, Myrath, Babymetal), o mesmo de Secret Garden (2014). O disco vem com onze faixas e conta com as participações especiais de Sandy e Alissa White-Gluz (vocalista do Arch Enemy), ambas na faixa “Black Widow’s Web”, e do próprio Kiko Loureiro em “War Horns”.

Trata-se de um álbum conceitual construído através de pequenas histórias de ficção científica que se passam em diversas épocas do tempo de maneira simultânea. O ponto principal da trama é a ideia de que a percepção e a cognição humanas serão alteradas por uma inteligência artificial no ano de 2046, mudando assim a forma como vemos e nos relacionamos com o mundo e possibilitando que as pessoas transitem por diferentes momentos temporais. Dessa maneira, segundo a banda, Ømni (que em latim significa “tudo”) conecta as histórias e ideias apresentadas em Holy Land (1996), Rebirth (2001) e Temple of Shadows (2004).

Todo esse contexto por trás do álbum faz com que, em um primeiro momento, as canções de Ømni pareçam atirar para diversos caminhos distintos, causando a sensação de que falta uma certa unidade ao disco. No entanto, a audição mais apurada e, sobretudo, sem pressa do trabalho, revela que as coisas não são assim. Ømni é um trabalho que apresenta uma grande variedade musical, buscada de maneira consciente pelo quinteto. São canções fortes e bem construídas, embaladas em uma sonoridade moderna e atual. Tudo isso faz com que o disco seja, facilmente, o melhor trabalho do Angra deste Temple of Shadows.

Um dos pontos questionáveis não apenas em Ømni, mas na atual formação do Angra, é a presença do vocalista Fabio Lione, ex-Rhapsody. Ainda que o timbre e as interpretações um tanto exageradas do italiano soem realmente mais integradas ao som do grupo neste novo trabalho, em alguns momentos ele parece um peixe fora d’água na mistura, como em "Insania". Porém, como já dito, existe uma evolução em relação à Secret Garden, onde essa sensação incômoda era muito mais forte.

Musicalmente o Angra trilha diversos caminhos em Ømni, olhando para o passado e trazendo alguns dos ingredientes mais marcantes de sua sonoridade. A abertura com “Light of Transcendence” é metal melódico na essência, com as conhecidas influências clássicas da banda, porém com uma pegada atual. Em “Travelers of Time” temos outro ótimo momento, um prog com percussão sutil em sua introdução e grande variedade de melodias no seu desenrolar. A presença de harmonias entre as guitarras de Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa também é motivo de destaque.

Na sequência vem a tão comentada “Black Widow’s Web”, que traz as participações especiais de Sandy e Alissa White-Gluz. Sandy soa afinada como sempre, mas a sua participação só deve repercutir aqui no Brasil mesmo, porque ela pouco agrega à canção. O destaque na “música da Sandy” é mesmo Alissa e seu gutural demoníaco, que cria um interessante contraste não apenas com a voz limpa de Lione mas também com o intrincado instrumental onipresente no Angra.

A pegada clássica retorna em “Insania”, enquanto em “The Bottom of My Soul” temos Rafael assumindo os vocais em uma faixa com uma pegada mais contemplativa e com elementos de prog clássico. Já “War Horns” vem com Kiko Loureiro na guitarra e soa realmente como uma espécie de encontro entre o Megadeth e o Angra atuais, tanto pelos riffs pesados e agressivos quanto pelas generosas doses de melodia.

Um destaque imediato fica com “Caveman”, que retoma a aclamada sonoridade de Holy Land com um foco bastante percussivo e com direito a um trecho da letra cantado em português. Quando o Angra se aventura por essas explorações étnicas, inserindo a música brasileira no metal, invariavelmente o resultado é interessante, e aqui não foi diferente.

“Magic Mirror” vem com um tempero prog e agradará os fãs do Dream Theater. “Always More” é uma balada um tanto quanto esquecível cantada por Rafael e com participação também de Fabio, onde o excesso de sacarose não ajuda em nada na digestão. O contrário acontece em “Silence Inside”, outra com forte pegada prog em seus mais de oito minutos de duração e grande performance instrumental de todos os envolvidos. O encerramento se dá com “Infinite Nothing”, uma faixa clássica que traz melodias de diversas músicas do disco em uma conclusão adequada ao que a banda se propôs a explorar durante todo o álbum.

Ømni é um álbum que explora caminhos musicais variados, porém coerentes com a trajetória do Angra. O trabalho de composição é acima de média, com um ou outro deslize devidamente apontados no texto. Lione soa mais adequado ao universo da banda, ainda que esse processo possa (e deva) evoluir nos próximos anos. Marcelo Barbosa estreia muito bem, não deixando saudades de Kiko Loureiro. De modo geral, como já afirmei acima, é facilmente o melhor disco do Angra em quase 15 anos, desde Temple of Shadows.

Uma surpresa inesperada, e que me agradou bastante.






Review: Tribulation - Down Below (2018)

 



O occult rock tomou o cenário do metal de assalto em 2010 com o lançamento do primeiro disco do Ghost, Opus Eponymous. Na esteira do sucesso dos mascarados suecos vieram diversas outras bandas, algumas com trabalhos realmente bons e muitas apenas surfando a onda do momento.

O Tribulation se enquadra no primeiro caso. Também natural da Suécia, a banda nasceu em 2004 mas estreou apenas em 2009, com o lançamento do álbum The Horror. Porém, foi apenas a partir de seu segundo disco, The Formulas of Death (2013), que mais e mais pessoas começaram a prestar atenção no grupo, foco esse alavancado com a aclamação recebida pelo terceiro trabalho, o ótimo The Children of the Night (2015).

Isso deve ficar ainda maior com Down Below, quarto álbum do quarteto, lançado no final de janeiro pela Century Media. Com nove canções distribuídas em pouco menos de 47 minutos, o disco mostra que a evolução da banda segue firme. Mantendo as doses generosas de melodia que conquistaram apreciadores de outras vertentes do peso, o Tribulation entrega uma sonoridade ainda mais refinada harmonicamente, mas que consegue manter o clima sujo e sombrio dos discos anteriores, além dos charmosos timbres vintage.

Musicalmente as faixas seguem a escola padrão do occult rock e não são tão agressivas e pesadas, investindo mais nas já mencionadas melodias e na criação de atmosferas soturnas, seja através de passagens instrumentais fantasmagóricas ou trechos que bebem direto em trilhas clássicas de filmes de terror, como é possível perceber no piano de “Subterranea”, por exemplo. O uso de introduções climáticas é constante, porém jamais maçante. A banda conhece o poder deste recurso e sabe usá-lo bem. O som tem espaço para respiros, com todos os instrumentos soando bem, além de apresentar influências de ótimos nomes como Bauhaus e Sisters of Mercy.

O verdadeiro terror do Tribulation está nas letras, que exploram histórias de medo repleta de seres e situações medonhas, cantadas pelo gutural do vocalista Johannes Andersson. Suas interpretações, ainda que não sejam tão carregadas e teatrais quanto as de Papa Emeritus, compensam com uma doce agressividade, se é que esse termo existe.

E no meio de tudo a banda ainda encaixa uma linda faixa instrumental chamada “Purgatorio”, que um desavisado poderia confundir como algo composto por Danny Elfman.

Se você conheceu o Tribulation através de The Children of the Night, tenho certeza de que irá adorar o que a banda fez em Down Below.






Review: Fabiano Negri - The Lonely Ones (2018)

 



Por mais que algumas pessoas ainda insistam em classificá-la como “mimimi”, a depressão infelizmente faz parte do cotidiano do mundo moderno. A doença tem se espalhado em ritmo alarmante, com um número cada vez maior de pessoas apresentando quadros que se enquadram no seu diagnóstico e nem se dão conta disso.

O novo álbum do vocalista Fabiano Negri, The Lonely Ones, é justamente sobre o tema. Segundo o vocalista, o disco fala sobre a depressão e também a respeito de pessoas com dificuldades de socialização, tudo a partir de experiências pessoais e do contato com outras pessoas.

Para quem não sabe, Fabiano foi durante muitos anos vocalista do Rei Lagarto e possui uma longa carreira. The Lonely Ones é o seu vigésimo-segundo álbum, incluindo na conta os discos de suas ex-bandas. O trabalho foi gravado em apenas sete horas durante os dias 18 e 19 de janeiro deste ano no estúdio Minster, em Campinas. Com lançamento marcado para o próximo dia 10 de março, The Lonely Ones será disponibilizado nos formatos físico e digital.

O que temos aqui é um disco bastante intimista, apenas com Negri, seu violão e suas letras. Em certos aspectos, o trabalho aproxima-se da obra de nomes como o inglês Nick Drake e o norte-americano Tim Buckley, trovadores que cantaram seus anseios, medos e sonhos durante o final dos anos 1960 e início da década de 1970.

Doído e carregado de emoção, The Lonely Ones é um álbum para ser ouvido sem pressa. Suas letras são bastantes sinceras e deixam transparecer a alma de Negri sem maiores filtros, o que só torna todo o projeto ainda mais verdadeiro e autêntico.






Review: Therion - Beloved Antichrist (2018)

 




Após passar três semanas ouvindo o novo lançamento da banda sueca Therion, a ópera Beloved Antichrist, que chegou no dia nove de fevereiro último, aquilo que inicialmente para mim soou como um longo e dificílimo quebra-cabeça musical a ser explorado agora soa como uma obra deveras e prazerosamente familiar.

Primeiramente devo dizer que se você leitor não tem afeição alguma por música clássica, fuja. Porém, se aprecia uma obra contendo peças musicais imersas em vozes e orquestrações magistrais aptas a levá-lo ao mais alto grau de contemplação, então aqui você encontrará seu paraíso.

Possuindo pouco mais de três horas de duração em quarenta e seis canções entoadas por trinta vocalistas entre tenores, barítonos, baixos e sopranos que se revezam entre as faixas que discorrem sobre a história baseada no livro A Story of Antichrist, de Vladimir Solovyov. O livro conta com vinte e sete personagens onde o protagonista é o médico greco-russo Seth Thanos, que de tão aprofundado em seus estudos científicos e teológicos começou a crer que ele sim seria também um filho encarnado de Deus, o segundo, com a missão de conduzir a humanidade à redenção. O trabalho foi instrumentalmente composto pelo guitarrista e líder do Therion, o esplêndido Christopher Johnsson, e todas as letras baseadas na temática acima descrita ficaram a cargo de Per Albinsson.

Resolvi não destacar quaisquer canções aqui, embora confesse que algumas tenham sobressaltado aos meus ouvidos e infestado minha mente, felizmente. Com algum tempo de seguidas audições, todas as partes começam a parecer somente um lindo todo. Outra coisa a que me propus foi abandonar aqui os usos de termos como ópera-rock ou ópera metal, pois Beloved Antichrist é, por excelência, uma ópera lírica feita com esse fim, tudo sendo conduzido dentro de um esqueleto rítmico de metal, com bateria, teclado, guitarra e baixo, tendo este último o maior destaque dentre os instrumentos convencionais. Digo isso porque em praticamente todo o trabalho não se percebe floreios de virtuosismo de guitarras com riffs ou "soleiras", tampouco grandes variações de bateria. A banda literalmente aqui serve ao papel de entregar a base e andamento para que os cantores e orquestra brilhem erudita e eruptivamente. E nessa solene cozinha as linhas de contrabaixo são notoriamente elegantes, inclusive abrindo a ópera.

Alguém pode surgir e dizer: “Ah, mais isso já foi feito antes em álbuns do Ayreon ou do Avantasia”. E a resposta é "não", pois diferentemente dos supracitados, que fizeram trabalhos enfocados no metal progressivo com partes de sonoridades e temáticas clássicas, aqui o objetivo foi realmente criar uma ópera, com cem por cento de preocupação com o eruditismo, com toques sutis de heavy metal. É como pingar gotas de leite num café preto.

Concluindo, o Therion esbanjou categoria ao mostrar que acima de qualquer peso ou celeridade está a música em sua mais linda e lírica essência, não importando mais se ela é leve ou pesada, contando que seja feita com esmero e encante os bons ouvidos.

Quer um conselho? Ouça Beloved Antichrist com tempo e tranquilidade. Quer outro? Repita isso inúmeras vezes e verá como ela começará a integrar a sua vida.





Review: Disaster Cities - Lowa (2018)

 




Na ativa há pouco mais de um ano e meio, o Disaster Cities surpreende o ouvinte. O trio, natural de Chapecó, é formado por Matheus Andrigui (vocal e guitarra), Rafael Panegalli (baixo) e Ian Bueno (bateria) e acabou de lançar o seu primeiro disco, Lowa.

A sonoridade é um stoner bem pesado, com influências que vão desde o Black Sabbath e sua turma dos anos 1970 até referências mais recentes como Kyuss, Monster Magnet e afins. Cantando naturalmente em inglês, os catarinenses conseguem soar universais e, antenados com o mundo, contemporâneos e dentro do seu próprio tempo.

O principal destaque da banda vem do ótimo trabalho de guitarra de Andrigui, que entrega constantes riffs criativos. A melodia, ingrediente essencial de uma boa canção - pelo menos no meu modo de ver as coisas -, é onipresente, o que torna a pancadaria do trio ainda mais eficiente. A dupla Panegalli e Bueno segura as pontas com um ótimo trabalho na cozinha, que é densa e soa com uma solidez absurda, como deve ser.


Lowa foi gravado no Estúdio Costella, em São Paulo, e tem produção de Gabriel Zander. Suas oito faixas não se prendem a limites geográficos, o que faz com que o Disaster Cities possa ser confundido, sem esforço, com uma banda sueca, inglesa ou do interior dos Estados Unidos. Esses são fatores que apenas deixam o trabalho do trio ainda mais forte, pois a banda mostra um nível altíssimo em seu disco de estreia, fazendo com que o queixo teime em ficar no lugar.

Entre as faixas, minhas preferidas são “Brave New Heart”, “Heartbroken Robot” e o single “Right Next to You”, exemplos claros do poder de fogo do Disaster Cities.




Spin Doctors - 1992-10-27 - CW Post, Brookvillw

 



Spin Doctors Grupo de rock americano fundado em 1988 na cidade de Nova York. Eles são conhecidos por suas canções "Two Princes" e "Little Miss Can't Be Wrong", que alcançaram os números 7 e 17, respectivamente, nas paradas musicais pop da Billboard.

Spin Doctors - 1992-10-27

CW Post University

Brookville, NY

MUSICA&SOM

01. What Time Is It

02. Refridgerator Car

03. Sister Sysaphus

04. Cleopatra's Cat

05. Turn It Upside Down

06. How Could You Want Him

07. Shinbone Alley

08. Big Fat Funky Booty

09. Jimmy Olsen's Blues

10. Freeway Of The Plains

11. Off My Line

12. Bags Of Dirt

13. 40 Or 50

14. Two Princes

15. More Than She Knows

16. Little Miss Can't be Wrong

17. Yo Mama's A Pajama

18. Piece Of Glass

19. House




Kansas - Tulsa Fairgrounds Pavilion, Tulsa 1976

 





Track List:

01 - Carry On Wayward Son (intro cut)

02 - Icarus - Borne On Wings Of Steel

03 - Down The Road

04 - Mysteries And Mayhem - Lamplight Segment

05 - The Wall

06 - Lonely Wind

07 - Miracles Out Of Nowhere

08 - Kerry & Rich Guitar Jam

09 - Child Of Innocence

10 - Magnum Opus

11 - Song For America

12 - Violin Solo

13 - Hungarian Dance No.5

14 - Cheyenne Anthem





Destaque

Geronimo Black - Geronimo Black (1972)

"Geronimo Black foi uma banda formada, em 1970, pelos ex-integrantes do Frank Zappa and the Mothers of Invention: o baterista Jimmy Car...