sábado, 4 de janeiro de 2025

CAPAS DE DISCOS - 1959 Elvis' Gold Records Volume 2. 50,000,000 Elvis Fans Can't Be Wrong - Elvis Presley

 

 CD 2016 UE - Registros RCA - K2PP-2713.


 Contracapa.

Disco.



CAPAS DE DISCOS - 1959 Ritchie Valens - Ritchie Valens

 

 LP EUA - Del-Fi Records - DFLP 1201.


 Contracapa.

Marca os lados 1 e 2.




CAPAS DE DISCOS - 1959 Elvis Gold Records - Elvis Presley (E.P)

 

 Extended Play - Promo - México - RCA Victor - MKE-267.


 Contracapa.

 Disco, lado 1

Disco, lado 2.



CAPAS DE DISCOS - 1959 The Teddy Bears Sing! - The Teddy Bears

 

LP EUA • Imperial Records • LP-12010.


Contracapa.

Disco, lado 1.

Disco, lado 2.

Marca os lados 1 e 2.



“Crosby, Stills & Nash” (Atlantic, 1969), Crosby, Stills & Nash

 



Crosby, Stills & Nash foi formado em 1968, reunindo três vozes distintas da cena do rock americano: David Crosby (1941-2023), Stephen Stills e Graham Nash. A formação do trio marcou uma virada na história do rock, pois eles combinaram seus talentos únicos para criar uma mistura harmoniosa de folk, rock e pop, que ressoou profundamente com o movimento contracultural da época. 

Em 1967, David Crosby havia deixado o The Byrds, banda que cofundou e ajudou a moldar como um dos grupos mais influentes da década de 1960. Sua saída ocorreu após tensões dentro da banda, particularmente sobre sua direção artística e visões políticas, que frequentemente estavam em desacordo com os outros membros. Stephen Stills, por outro lado, era um membro-chave do Buffalo Springfield, uma banda californiana conhecida por sua mistura inovadora de rock, folk e country. No entanto, conflitos internos e a saída de Neil Young levaram à dissolução do Buffalo Springfield. Graham Nash, vindo da Inglaterra, fazia parte do The Hollies, uma banda de sucesso da Invasão Britânica conhecida por suas harmonias firmes e sensibilidades pop. Nash, no entanto, ficou desiludido com a direção comercial do The Hollies e buscou novos desafios artísticos. 

Os três músicos já se conheciam das turnês quando suas antigas bandas se cruzavam, mas foi em julho de 1968, numa festa na casa da cantora Joni Mitchell, que Crosby, Stills e Nash cantaram juntos pela primeira vez. Tudo ocorreu de forma improvisada, nada foi planejado. Porém, foi ali que os três perceberam que suas vozes se misturavam de maneira poderosa e única. 

A química entre eles era inegável, e rapidamente decidiram trabalhar juntos. Embora ainda fosse membro oficial do The Hollies, Graham Nash já se mostrava pouco estimulado em permanecer na banda. Em dezembro de 1968, deixou o grupo para dedicar-se com mais afinco ao novo projeto ao lado de Crosby e Stills. 

No início de 1969, o trio foi a Londres para uma audição na Apple Records, selo dos Beatles, numa tentativa de conseguir um contrato para a gravação de um disco, mas não tiveram sucesso. Ao retornarem para Los Angeles, Crosby, Stills e Nash assinaram contrato com a Atlantic Records, graças ao apoio de Ahmet Ertegun (1923-2006), presidente da gravadora, que tinha grande estima pelo Buffalo Springfield e ficou desapontado com a saída de Stills da banda. 

Para evitar ficarem presos à estrutura de um grupo tradicional, decidiram usar os sobrenomes dos três para nomear o trio, garantindo sua independência. 

Crosby, Stills & Nash gravaram seu álbum de estreia entre fevereiro e março de 1969, no Wally Heider Studios, em Los Angeles, com Bill Halverson como produtor. Apesar de recém-formado, o trio conseguiu criar um som tão coeso que parecia que tocavam juntos há muito tempo. Stephen Stills, em particular, assumiu grande parte das funções instrumentais, tocando guitarra, baixo, teclado e até percussão, o que adicionou uma camada de consistência ao som do álbum. O trio contou com o apoio de Dallas Taylor, baterista de estúdio que se tornaria intimamente associado ao grupo, fornecendo a base rítmica que permitiu que as harmonias do trio fluíssem. 

Intitulado simplesmente Crosby, Stills & Nash, o álbum de estreia do trio californiano é uma obra seminal que combina folk rock, pop e elementos de psicodelia, destacando as harmonias vocais complexas e a instrumentação acústica do grupo. As músicas exploram temas variados, desde amor e relacionamentos, como em "Suite: Judy Blue Eyes" e "Helplessly Hoping," até comentários sociais e políticos, evidentes em "Wooden Ships" e "Long Time Gone." Além disso, algumas faixas abordam a autorreflexão e o misticismo, como "Guinnevere," reforçando a qualidade introspectiva e quase mítica do álbum. 

David Crosby contribuiu para o álbum com uma qualidade introspectiva e mística, usando composições poéticas que combinam reflexão pessoal com temas sociais, além de utilizar afinações de guitarra abertas, empregando um tom quente e ressonante nas harmonias vocais do trio. Stephen Stills foi o principal instrumentista, demonstrando sua versatilidade ao tocar a maioria dos instrumentos, e seus vocais poderosos adicionam um toque de soul às harmonias. Graham Nash trouxe uma sensibilidade pop ao grupo, com composições diretas e acessíveis como "Marrakesh Express" e "Lady Of The Island", proporcionando leveza e otimismo ao álbum. Sua voz de tenor alto é crucial para as harmonias do trio, dando brilho e clareza ao som. 

"Suite: Judy Blue Eyes" é a faixa de abertura do disco e uma das mais icônicas do trio. Escrita por Stephen Stills sobre seu relacionamento com a cantora Judy Collins, a canção é uma suíte dividida em quatro seções distintas, cada uma com seu próprio ritmo e atmosfera. A primeira seção é uma melodia folk-rock otimista, que se transforma em uma parte mais lenta e introspectiva, focada nas harmonias vocais características da banda. Na segunda seção, a harmonia é dividida em três partes, com um solo vocal de Stills. A terceira seção é poética, com frases cantadas por Stills, Nash e Crosby, intercaladas por pausas instrumentais. O clímax da canção chega na quarta e última seção, com vocais em espanhol, encerrando com o famoso refrão "doo-doo-doo-da-doo". 

Stephen Stillls, Graham Nash e David Crosby no Wally Heider Studios, na sessão
de gravação do primeiro álbum do trio, em fevereiro de 1969.


Composta por Graham Nash, "Marrakesh Express" é uma canção pop vibrante, que originalmente foi rejeitada pelos Hollies. É um exemplo da influência psicodélica que dominava a música pop no final dos anos 1960, com uma letra que reflete a experiência de Nash em uma viagem de trem pelo Marrocos. A guitarra de Stills se destaca, trazendo um som exótico que remete ao sitar, característico do rock psicodélico da época. 

David Crosby, por sua vez, nos oferece "Guinnevere", uma canção etérea e introspectiva que mergulha nas profundezas da poesia e da mitologia. Os versos tratam de uma figura feminina misteriosa e encantadora, comparada a uma dama da realeza, com olhos verdes e cabelos dourados. A canção possui uma estrutura incomum e afinações alternativas, destacando-se pela ausência de percussão e pela delicada interação das guitarras. É uma pausa contemplativa que convida o ouvinte à reflexão, uma característica que permeia boa parte do álbum. 

"You Don’t Have to Cry", outra contribuição de Stills, é uma balada folk que se destaca pelas harmonias vocais perfeitas do trio. A simplicidade da melodia, combinada com letras sobre amizade e apoio emocional, cria uma faixa que é tanto acessível quanto tocante, capturando a essência do som do grupo em sua forma mais pura. 

O lado mais roqueiro e experimental do álbum é revelado em "Pre-Road Downs", onde Nash conduz uma faixa energizada por guitarras com efeitos de pedal e um baixo funky. Essa música adiciona uma camada de diversidade ao álbum, mostrando que o grupo não se limitava a baladas suaves, mas também era capaz de entregar uma performance mais vigorosa e intensa. A letra reflete sobre a ansiedade e os desafios que surgem antes de uma turnê, como a saudade antecipada e o desejo de voltar para casa após as viagens. Uma curiosidade é a participação de Cass Elliot (1941-1974), do Mamas & The Papas, nos vocais de apoio. 

"Wooden Ships", uma colaboração entre Crosby, Stills e Paul Kantner (1941-2016), do Jefferson Airplane, é talvez a faixa mais sombria e evocativa do álbum. Com uma narrativa pós-apocalíptica, a música mistura um arranjo instrumental complexo com letras que falam de sobrevivência e esperança em um mundo devastado pela guerra. É uma das faixas que melhor exemplifica a capacidade do grupo de tratar de temas profundos e pertinentes. 

No outro extremo do espectro emocional, "Lady Of The Island", de Nash, é uma balada suave e íntima que lembra o estilo de Simon & Garfunkel, com harmonias delicadas e uma abordagem lírica pessoal. É um momento de pausa e reflexão que equilibra o álbum, mostrando a habilidade do grupo em criar tanto momentos grandiosos quanto intimistas. Dedicada a Joni Mitchell, então namorada de Nash, a canção retrata um momento íntimo e sereno entre dois amantes, celebrando a conexão emocional e física em um ambiente de paz e amor. 

"Helplessly Hoping", outra joia de Stills, brilha pela simplicidade de seu arranjo e pela beleza das harmonias vocais. Stills canta acompanhado de Crosby e Nash nesta balada folk essencialmente acústica, apoiada apenas em vocais e no violão dedilhado por Stills. É mais uma canção de Stills inspirada em Judy Collins, presente no álbum após o fim do relacionamento do casal. Os versos tratam da complexidade e da incerteza em um relacionamento conjugal, explorando sentimentos de desamparo, confusão e a busca por uma conexão emocional entre dois amantes que lutam para se entender. 

A carga emocional e a profundidade lírica continuam com "Long Time Gone", uma composição de Crosby, escrita logo após o assassinato de Robert F. Kennedy (1925-1968) em junho de 1968. É uma das canções mais políticas do álbum, expressando a frustração e o desejo por mudanças em um mundo tumultuado. A combinação das harmonias vocais com o groove de Stills no baixo e no órgão cria uma atmosfera que é ao mesmo tempo reflexiva e esperançosa. A letra poderosa é um reflexo dos tempos turbulentos da década de 1960, tocando na luta pela paz e na desilusão com os líderes políticos. 

Para encerrar, "49 Bye-Byes", de Stills, é uma faixa que mistura rock, folk e jazz, explorando temas como a perda, a mudança e o adeus. É uma das músicas mais complexas do álbum, tanto em termos de estrutura quanto de arranjo, e exemplifica a ambição artística do grupo. As harmonias vocais são, como de costume, o destaque, e a instrumentação é rica e diversificada, mostrando a habilidade do grupo em mesclar diferentes estilos e influências em uma obra coesa. 

Após seu lançamento, Crosby, Stills & Nash foi um sucesso imediato, atingindo a sexta posição na Billboard 200 e eventualmente alcançando a certificação de platina quádrupla nos Estados Unidos. O álbum também foi aclamado pela crítica, que elogiou as harmonias do trio e a fusão única de folk, rock e pop. O sucesso do álbum estabeleceu Crosby, Stills & Nash como uma das forças mais influentes da música americana, e sua influência pode ser vista em inúmeras bandas e artistas que seguiram seus passos. 

O legado de Crosby, Stills & Nash é inegável. É um álbum que não apenas capturou o espírito de uma época, mas também ajudou a moldar o som do folk rock nas décadas seguintes. Suas harmonias intrincadas, letras poéticas e arranjos sofisticados continuam a inspirar músicos e ouvintes em todo o mundo, consolidando o trio como um dos pilares da música popular.

 

Faixas 

Lado 1

  1. “Suite: Judy Blue Eyes” (Stephen Stills)
  2. “Marrakesh Express” (Graham Nash)
  3. “Guinnevere” (David Crosby)
  4. “You Don't Have to Cry” (Stephen Stills)
  5. “Pre-Road Downs” (Graham Nash)

Lado 2

  1. “Wooden Ships” (David Crosby, Stephen Stills)
  2. “Lady of the Island” (Graham Nash)
  3. “Helplessly Hoping” (Stephen Stills)
  4. “Long Time Gone” (David Crosby)
  5. “49 Bye-Byes” (Stephen Stills)

 

Crosby, Stills & Nash: David Crosby (vocais e guitarra), Stephen Stills (vocais, guitarra, baixo, teclado e percussão), Graham Nash (vocais, percussão e violão).

Outros músicos: Dallas Taylor (bateria e percussão), Jim Gordon (bateria em “Marrakesh Express”) e Cass Elliot (vocais de apoio em “Pre-Road Downs”).


Ouça na íntegra o álbum 
Crosby Stills & Nash


Discografias Comentadas: Bruce Springsteen – Parte I




Quem diria que um garoto que teve como paixão primeira na música o heavy metal e começou devorando avidamente álbuns de bandas como Black Sabbath e Iron Maiden tornaria-se um extremo e incorrigível fã de Bruce Springsteen, a ponto de considerá-lo seu artista favorito em todos os tempos? Apesar de nunca ter abandonado os riffs de guitarra, a cozinha pesada e os vocais de cantores do porte de Ronnie James Dio e Rob Halford, fui sendo seduzido cada vez mais pelos rocks exuberantes, baladas dramáticas, épicos e folks urbanos produzidos por Bruce Frederick Joseph Springsteen, resultado de um verdadeiro caldeirão de influências personificado em um vocalista, guitarrista e, principalmente, compositor fantástico. Nascido em 1949 no estado de New Jersey (EUA), “The Boss” sempre se preocupou, junto à quase inseparável E Street Band, em centralizar suas letras no cotidiano do homem comum, retratando os desejos, dificuldades, angústias e alegrias de pessoas com as quais podemos facilmente nos relacionar. É praticamente impossível não encontrar na discografia de Springsteen ao menos uma música que nos remeta a um momento em especial vivenciado em nossa jornada pela Terra.

De jovem promissor a “futuro do rock”, passando por momentos difíceis e pela confirmação de seu gigantesco sucesso, Bruce manteve uma constância invejável tanto em se tratando de álbuns de estúdio quanto de performances ao vivo, configurando um caso raro de aprovação de crítica e público, fato que continua crescendo ano após ano. Fica difícil definir para os leigos no que constitui sua música e estabelecer rótulos. Mais que buscar diferenças e estabelecer descrições através de riffs, solos e melodias, sua música precisa ser sentida, esquecendo performances individuais e concentrando-se no resultado final.

Nesta primeira parte abordarei os discos lançados nas décadas de 70 e 80, coincidindo com o período de maior produtividade em sua carreira, e também de qualidade, segundo este que vos escreve, que tem Born to Run como disco favorito em todos os tempos.

Greetings From Asbury Park, N.J. [1973]

“Esse homem põe mais pensamentos, mais ideias e imagens em uma música do que a maioria das pessoas põe em um álbum”. Essa frase, retirada de um anúncio impresso da gravadora Columbia promovendo o primeiro disco de Springsteen, lança um panorama inicial da música aqui encontrada, abordando muito daquilo que rodeava o compositor em sua New Jersey natal. Greetings mostra um jovem cheio de ideias frescas, mas ainda em busca de identidade própria, deixando bastante explícitas suas influências, em especial de artistas como Bob Dylan e The Band, além dos roqueiros dos anos 50 e artistas negros de soul e rhythm ‘n’ blues, em especial da gravadora Motown. As dylanescas “Mary Queen of Arkansas” e “Does This Bus Stop at 82nd Street”, além de “The Angel”,  não negam a fonte da qual Bruce bebeu, revelando-se folks urbanos de qualidade, mas sem a mesma empolgação de duas faixas que, apesar da pouca repercussão na época, foram posteriormente regravadas por músicos de peso. “Blinded By the Light”, primeiro single da carreira de Springsteen, não obteve repercussão alguma quando de seu lançamento, mas ao ser gravada em 1977 pela Manfred Mann’s Earth Band, atingiu o primeiro posto das paradas norte-americanas. A outra foi “Growin’ Up”, conto adolescente conduzido pelo piano de David Sancious, gravada por David Bowie nas sessões para seu álbum Diamond Dogs (1974), mas lançada apenas em 1990 como bônus no disco de covers Pin Ups, original de 1973. O segundo single, “Spirit in the Night”, também não causou comoção alguma na época, mas com o passar dos anos transformou-se em um dos ápices dos concertos de Bruce e sua E Street Band, destacando o bom trabalho do saxofonista Clarence Clemons, integrante do grupo até hoje. “For You” e “It’s Hard to Be a Saint in the City” mostram todo um swing herdado da música negra, mérito do baterista Vini “Mad Dog” Lopez. Apesar de todas as qualidades ressaltadas nas faixas anteriores, “Lost in the Flood” revela-se o maior destaque, apresentando o primeiro épico dramático na discografia de Springsteen, abordando o ainda efervescente tema da Guerra do Vietnã, mas sem uma ótica generalista, focando em um personagem, no caso um soldado que voltara da guerra; e cantando sobre uma boa base construída no piano, com belas intervenções do órgão, ambos tocados por David Sancious. A produção ruim não fez jus a esse ótimo álbum, que vendeu apenas 25 mil cópias no primeiro ano de seu lançamento. Mas as coisas estavam por melhorar…

The Wild, The Innocent & The E Street Shuffle [1973]

Contando com uma produção um pouco mais esmerada e com a entrada do organista Danny Federici para reforçar o time (que, além dos músicos descritos mais acima, contava também com o baixista Garry Tallent), nesse álbum há um atenuamento forte das influências dylanescas, ressaltando as bases rhythm ‘n’ blues e alguns aspectos jazzísticos, que podem ser percebidos logo na primeira faixa, “The E Street Shuffle”, em especial em sua grooveada seção final. “4th of July, Asbury Park (Sandy)” retrata, através da ode a uma garota, um panorama romantizado da vida praiana de New Jersey. Seus vocais sussurrados e o acordeão tocado por Danny Federici lhe emprestam uma identidade toda especial. A jazzística “Kitty’s Back” traz linhas vocais exóticas  e o órgão em primeiro plano, enquanto “Wild Billy’s Circus Story” faz uma conexão com o álbum anterior na forma de uma canção trovadoresca, contando com Garry Tallent na tuba. Mas o filé do álbum foi reservado para as três últimas canções: “Rosalita (Come Home Tonight)” é uma apoteose roqueira com tempero latino que, contando com um dos melhores trabalhos de saxofone na carreira de Bruce, não à toa se transformou, ou na música a fechar o show, ou na última a ser tocada antes do bis, sendo executada em centenas de concertos dali em diante. Já “Incident in 57th Street” e “New York City Serenade” demonstram que Springsteen era muito mais que um artista solo, e contava com uma banda talentosíssima, destacando nestas duas o trabalho do pianista David Sancious. Duas devastadoras baladas épicas, formato no qual as composições de Bruce tomaram contornos mais exuberantes. The Wild, The Innocent & The E Street Shuffle foi ignorado na época de seu lançamento e não rendeu sequer um single, mas representa o que de mais fantástico Springsteen já produziu, devendo somente a um álbum que logo estava por vir…

Born to Run [1975]

Se nos dois discos anteriores o pouco tempo  disponível em estúdio e o orçamento reduzido resultaram em uma sonoridade um tanto magra, em Born to Run Bruce resolveu arriscar. Apesar do fraco desempenho nas paradas, o músico conseguiu um orçamento substancial da gravadora Columbia, o que permitiu um esmero muito maior na produção do álbum. Em um processo que incluiu mudanças na formação do grupo, a obsessão em registrar uma sonoridade grandiosa chegou a raias quase insuportáveis, resultando em uma maratona que durou 14 meses, sendo seis apenas na gravação da faixa-título. Infinitos overdubs de guitarra, instrumentos exóticos, solos de saxofone repetidos dezenas de vezes, atenção aos mínimos detalhes… Mas tudo valeu a pena quando o disco foi lançado. Única a contar com o baterista Ernest “Boom” Carter, que substituiu Vini Lopez mas logo cederia lugar para Max Weinberg, “Born to Run” constitui o extremo ápice de uma carreira recheada de pontos altos. Sua urgência, análoga à temática cheia de referências a automóveis, uma constante na carreira de Springsteen, pode também se relacionar à sua gana por fazer as coisas acontecerem em sua carreira, dado que o álbum era sua última chance de atingir algum sucesso comercial. A canção também foi a última a contar com os préstimos de David Sancious, substituído por Roy Bittan, e, talvez mais importante ainda, a derradeira colaboração do empresário e produtor Mike Appel com Bruce, sinalizando a chegada de Jon Landau, ex-crítico musical que, extasiado com suas performances ao vivo, ofereceu-se para ocupar os cargos. Uma característica importante de Born to Run é como as músicas ganharam concisão sem jamais perder a pujança e a exuberância, vide as épicas “Backstreets”, um dramático conto sobre amizade conduzido pelo piano, instrumento onde todas as músicas do disco foram compostas, e “Jungleland”, que possui uma belíssima introdução ao violino e um dos mais reconhecíveis solos de saxofone de Clarence Clemons, além de uma performance vocal extasiante. “Night” revela uma urgência semelhante à da faixa-título, em um ritmo acelerado impresso pelo piano e pelo baixo, enquanto “She’s the One” possui um andamento atípico, dominado também pelas fantásticas linhas tocadas ao piano, além de demonstrar com propriedade as sobreposições vocais presentes nesse disco. A jazzística “Meeting Across the River” conta com a participação especial de Randy Brecker no trompete e de Richard Davis no contrabaixo, e traz, além desses instrumentos, apenas piano e voz. A faixa de abertura do disco, “Thunder Road”, honra a citação a Roy Orbison em sua letra e ressalta a magnífica interpretação de Springsteen em mais um grande clássico perpetuado. Outra mudança na formação da E Street Band foi a entrada do guitarrista Steven Van Zandt, antigo conhecido, que chegou a tempo de gravar “Tenth Avenue Freeze-Out”, canção orientada pelos metais, que versa a respeito da formação da própria E Street Band de uma maneira bem humorada. Born to Run atingiu a terceira posição na Billboard e recebeu um trabalho de promoção massivo por parte da Columbia. A crítica o exaltou como o “futuro do rock”, enchendo-o de elogios e estampando seu rosto na capa das importantes revistas Time e Newsweek na mesma semana. Bruce finalmente atingira o estrelato. Mas ele sobreviveria ao hype?

Darkness on the Edge of Town [1978]

Quando as coisas estavam começando a ir bem, Bruce teve que passar mais de um ano entrando e saindo de tribunais resolvendo pendengas contratuais com seu antigo empresário, Mike Appel. Isso atrasou o processo de composição e o lançamento de Darkness on the Edge of Town, e refletiu diretamente em sua sonoridade, que demonstra aqui um tom mais sombrio e menos comercial que seu antecessor. As letras, mais compactas, começaram a abordar aspectos mais negativos da vida sofrida dos personagens retratados, pessoas com poucas alternativas, a não ser trabalhar e buscar algum escapismo nas ruas, principalmente atrás de um volante de automóvel. Esse pessimismo é especialmente ilustrado em “Something in the Night”, na faixa-título e mais ainda em “Racing in the Street”, que remete aos épicos de Born to Run, mas com um tom muito mais depressivo, em especial nos segmentos onde a voz de Springsteen é acompanhada apenas pelo piano e pelo órgão. Mesmo os rocks mais tradicionais demonstram uma agressividade sem precedentes em sua carreira, vide a raivosa “Adam Raised a Cain”. Em “Streets of Fire” Bruce sola como se sangrando pelos dedos, e em “Candy’s Room” canta com uma urgência digna de “Born to Run”. Nesse álbum, alguns refrões em formato mais tradicional aparecem com força, contrapondo-se ao estilo adotado no início da carreira, em músicas como “Badlands” e “The Promised Land”. Mas a que possui o mais viciante entre todos, que funciona à perfeição ao vivo, é “Prove It All Night”, que, com sua memorável introdução feita ao piano junto do glockenspiel (um tipo de xilofone), tem o poder de cravar na mente do ouvinte e jamais sair. Darkness on the Edge of Town pode não ter obtido a mesma repercussão de Born to Run, mas serviu para afirmar que Bruce Springsteen não era apenas uma sensação passageira, mas um artista com aspirações de grandeza buscando provar seu valor através de sua música, sem qualquer outro artifício.

The River [1980]

Com seu amadurecimento como compositor e letrista, também amadureceram os personagens aqui retratados, enfrentando problemas ligados à vida adulta, em especial ligados a relacionamentos, como a relação pai e filho e o casamento, ilustrados, respectivamente, nas melancólicas “Independence Day” e na faixa-título, talvez as mais emblemáticas do álbum. A primeira, praticamente autobiográfica, toca na relação delicada entre Bruce e seu pai durante sua juventude. A faixa-título, com sua antológica introdução na harmônica, é um lamento na forma de uma balada sombria, que se tornaria uma das mais antológicas canções de sua carreira. Mesmo assim, The River não possui o tom angustiado de Darkness on the Edge of Town em todo seu track list. LP duplo, trata-se provavelmente do mais variado em sua discografia, contrastando faixas como as descritas anteriormente com rocks energéticos como “The Ties that Bind”, “Two Hearts”, “Out in the Street” e “Cadillac Ranch”, além de “Ramrod” e “You Can Look (But You Better Not Touch)”, que demonstram influências do rock dos anos 50. A confirmação do status de Springsteen como muito mais que um hype passageiro veio na forma de seu primeiro hit single, “Hungry Heart”. Escrita originalmente para o Ramones e dotada de cativantes linhas vocais, a faixa atingiu a quinta posição na Billboard. Refinada e dotada de belas linhas de piano, “Point Blank” é um dos destaques do disco, assim como as baladas “Fade Away” e “The Price You Pay”. O lado mais épico do álbum fica por conta de “Drive All Night”, destacando novamente o ato de dirigir um automóvel como uma alternativa de fuga aos problemas triviais. Essa canção, junto a “Stolen Car” e “Wreck on the Highway”, já adiantariam o estilo apresentado no álbum seguinte, marcando um movimento ousado na carreira de Springsteen.

Nebraska [1982]

Conquistando cada vez mais a credibilidade de público e crítica e tornando-se uma das mais disputadas atrações ao vivo nos EUA, o esperado seria mais um disco na linha dos anteriores, contrastando baladas melancólicas com rocks energéticos, mas nunca deve-se esperar o óbvio de Springsteen. Ao invés de apresentar as demos das músicas compostas para a E Street Band e dar corpo às canções, o vocalista e guitarrista resolveu lançar as próprias demos, que, contando na maioria dos casos apenas com voz e violão, algumas com harmônica, guitarra ou mandolim, além de pouquíssimos overdubs, apresentam um repertório que, de longe, é seu mais pessimista até então. Histórias de renegados, assassinos… Pessoas que enfrentam desafios e não têm perspectiva de redenção em suas vidas. É muito difícil apontar destaques, pois o disco possui uma grande uniformidade, mas as obscuras “Nebraska”, baseada em uma série de assassinatos cometidos por dois adolescentes em 1958, e “Highway Patrolman”, dona de uma das melhores letras de Springsteen, que viria a inspirar o filme “The Indian Runner”  (1991), são dignas de menção. A multiplamente coverizada “Atlantic City”, assim como as folks “Mansion on the Hill” e “Johnny 99” também se destacam, tornando-se dali em diante bastante comuns nos set lists, geralmente em versões diferentes, contando com banda completa. Os únicos momentos menos desoladores encontram-se na rockabilly “Open All Night” e em “Reason to Believe”, mesmo de uma maneira um tanto irônica. O impacto de um trabalho desafiador como Nebraska não refletiu apenas em gerações posteriores, mas influenciou músicos consagrados, como Johnny Cash e The Band, que registraram versões de algumas canções. Além disso, Nebraska também recebeu um álbum-tributo especial, onde todo seu track list foi coverizado.

Born in the USA [1984]

Não houve turnê para promover Nebraska. Ao invés disso, Bruce juntou-se à E Street Band e começou a trabalhar incessantemente em novas composições e em algumas que não haviam entrado no álbum anterior. Se desde o processo de criação para Darkness on the Edge of Town Springsteen havia criado o hábito de compor dezenas de canções a mais que o necessário, dessa vez a cifra foi ainda mais assombrosa: cerca de 80 músicas foram não apenas apresentadas, mas trabalhadas com o resto dos músicos.  O resultado disso foi uma grande dificuldade em definir quais entrariam em Born in the USA. De qualquer maneira, a decisão final se mostrou mais que acertada quando, após seu lançamento, o álbum atingiu a primeira posição na Billboard, e o primeiro single, “Dancing in the Dark”, galgou o segundo posto, marcando a primeira aparição proeminente de sintetizadores em sua carreira, que conduzem essa dançante faixa, maior êxito de sua longa carreira. No entanto, o sucesso não se limitou a isso: sete das 12 músicas presentes no álbum atingiram o Top 10 da parada de singles, igualando o desempenho de Thriller (1982), de Michael Jackson. Da abertura com a mal-interpretada faixa-título, versando sobre as dificuldades encontradas pelos veteranos da Guerra do Vietnã em seu retorno para casa, até a finalização com a nostálgica “My Hometown”, conduzida por suaves arranjos de órgão, trata-se de um disco nivelado por cima. Liricamente, os personagens presentes nos discos anteriores parecem encontrar, em meio às dificuldades, alento nos ombros amigos e alguma saída através da determinação. Isso influiu diretamente no direcionamento musical do álbum, resultando em um tom mais otimista, exemplificado em músicas como “Cover Me”, “Darlington County”, “No Surrender” e “Glory Days”. Apesar do grande número de faixas que obtiveram destaque nas paradas, destaco justamente duas canções não lançadas em single como minhas favoritas: uma delas é “Downbound Train”, composta originalmente para Nebraska, e que conta com o mesmo feeling melancólico desse disco, com a diferença de apresentar-se aqui com banda completa, destacando o órgão de Danny Federici. Arrisco dizer que, apesar de existirem diversos clássicos subestimados na discografia de Springsteen, “Downbound Train” é o maior deles, delimitando a diferença entre fãs e verdadeiros aficionados por sua música. O outro destaque evidente é “Bobby Jean”, homenagem ao guitarrista Steven Van Zandt, que estava deixando a E Street Band, cedendo o posto para Nils Lofgren. Seu solo de saxofone só não é mais memorável que sua introdução ao piano e ao glockenspiel, que estabelecem o ritmo da canção. Born in the USA pode não ser meu favorito, honra pertencente a Born to Run, mas certamente é tão bom quanto. Além disso, marcou a entrada da vocalista de apoio e violonista Patti Scialfa, que viria a se tornar esposa de Bruce alguns anos depois.

Tunnel of Love [1987]

Em uma atitude semelhante à ocorrida com Nebraska, mas não tão extrema, Bruce gravou Tunnel of Love praticamente como um álbum solo, contando com participações esparsas dos músicos da E Street Band. Dessa maneira, músicas com um tom mais introspectivo dominam o track list, refletindo a realidade de Springsteen na época, em vias de encerrar seu casamento com a atriz Julianne Phillips e iniciar um relacionamento com Patti Scialfa, tema recorrente direta e indiretamente nas letras, versando especialmente sobre relacionamentos de um ponto de vista realista (ou pessimista, dependendo de quem julgar). Essa tensão está especialmente presente no videoclipe para “Tougher Than the Rest”, minha faixa favorita. Outro indubitável destaque é “Brilliant Disguise”, que, além de Springsteen ao violão, traz apenas piano, órgão e percussão, soando contudo grandiosa, além de ser dona de um videoclipe inovador, filmado em uma única tomada. Em Tunnel of Love há um especial atenção às sutis texturas, denotando bom gosto no uso dos sintetizadores, além de preciosas intervenções do organista Danny Federici. Muitas das canções expressam melancolia semelhante à de Nebraska, mas abordando aspectos menos amargos da vida, como em “Cautious Man”, “Walk Like a Man”, “Two Faces”, “When You’re Alone” e, em especial, na magnífica “One Step Up”. O único momento rock ‘n’ roll mais cru está em “Spare Parts”, mas ele também aparece, com mais parcimônia, na acústica “Ain’t Got You”, em “All that Heaven Will Allow” e na faixa-título. “Valentine’s Day” encerra o disco com Springsteen cuidando de toda a instrumentação, sem participação alguma da E Street Band, em um prenúncio do que ocorreria na década seguinte.

Destaque

1962 - Amália Rodrigues - Busto

  01 - Asas fechadas 02 - Cais de outrora 03 - Estranha forma de vida 04 - Maria Lisboa 05 - Madrugada de Alfama 06 - Abandono 07 - Aves ago...