segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

"Carmina Burana" - Carl Orff (composição de 1937)


"... a música em si não comete pecados simplesmente por ser e permanecer popular. O fato de 'Carmina Burana' aparecer em centenas de filmes e comerciais de televisão é a prova de que ela não contém nenhuma mensagem diabólica..."
Alex Ross, crítico musical do The New Yorker




Os eruditos, os puristas ou os pedantes de plantão que me perdoem mas "Carmina Burana" de Carl Orff é a obra clássica mais pop que existe.
Bastaria citar a quantidade de vezes que vocês já devem ter ouvido a primeira parte, "O Fortuna" em comerciais, filmes, ou sampleado em outras músicas, mas se não for o suficiente pode-se observar outros elementos da cantata: apresenta em suas 7 partes 25 faixas relativamente curtas (com aproximadamente 4 minutos cada) modelo bem característico das composições cntemporâneas para rádio; é muito mais percussionada que a maioria das outras do seu gênero e estas marcações aparecem em ritmos mais regulares que o comum; há refrôes em várias destas "faixas" e estas apresentam, não raro, elementos repetidos e andamentos iguais entre eles. Quer mais? "Ego Sum Abbas" é praticamente um metal com aquele barítono solo com a resposta instrumental (literalmente) barulhenta; e "Estuants Interis" é daquelas coisas bem Pixies ou Nirvana com uma "base" segurando para uma explosão no refrão; e "In Taberna" então? Intensa, fortíssima, agrassiva.
Também tem o fato de a obra ter sido composta em 1937, ou seja já no século XX e entre movimentos modernos que explodiam pelo mundo afora, o que certamente já influenciava um composição muito mais ousada e de acordo com seu tempo; e como se ainda não bastasse as letras, adaptações de textos do século XIII, versam sobre vida mundana, beberagens, orgias, sexo. Quer mais rock'roll que isso?
Sim, tem mais que isso. Saindo desta parte que particularmente acho legal de ter essa cara tão contemporânea, as composições de Orff para o manuscrito, além da ousadia, da visão, são uma beleza e uma sensibilidade inegáveis e não à toa é considerado um dos maiores nomes da música clássica do século XX.
Infelizmente a obra "Carmina Burana" acabou caindo nas graças dos nazistas e acabou sendo a obra mais encenada durante o reinado do reich, o que de certa forma acabou jogando sobre Orff aquela 'nuvenzinha' de ligações com o nazismo, às quais na verdade nunca ficaram realmente comprovadas. Mas até isso é meio rock'n roll de certa forma, não é?
Ouvi quatro execuções desta ópera e particularmente gosto muito da tocada pela Filarmônica de Berlin, regida pelo maestro Seiji Ozawa que é a que recomendo, caso se interessem, mas de um modo geral todas são boas e não irão decepcionar a ninguém.

O Fortuna - Imperatrix Mundi



"CARMINA BURANA (Cantiones Profanae)"

Fortuna Imperatrix Mundi
1. O Fortuna
2. Fortune plango vulnera

I – Primo vere In Spring
3. Veris leta facies
4. Omnia sol temperat
5. Ecce gratum

Uf dem Anger On the Lawn
6. Tanz
7. Floret silva nobilis
8. Chramer, gip die varwe mir
9. a) Reie
9. b) Swaz hie gat umbe
9. c) Chume, chum, geselle min
9. d) Swaz hie gat umbe (reprise)
10. Were diu werlt alle min

II – In Taberna In the Tavern
11. Estuans interius
12. Olim lacus colueram
13. Ego sum abbas
14. In taberna quando sumus

III – Cour d'amours Court of Love
15. Amor volat undique
16. Dies, nox et omnia
17. Stetit puella
18. Circa mea pectora
19. Si puer cum puellula
20. Veni, veni, venias
21. In trutina
22. Tempus est iocundum
23. Dulcissime

Blanziflor et Helena Blancheflour and Helen
24. Ave formosissima

Fortuna Imperatrix Mundi
25. O Fortuna (reprise)

Captain Beefheart and His Magic Band - "Trout Mask Replica" (1969)


“Um dos mais criativos e corajosos álbuns de todos os tempos, décadas à frente do resto da música rock.
É, acima de tudo, uma colagem de pinturas abstratas, cada uma diferente da outra em intensidade, cor e contraste, mas todas homogêneas em sua ‘abstração’ ”
Piero Scaruffi


Um músico se trancafia em um casarão antigo, só ele e um piano. Ali, compõe 28 peças. Não, não estamos falando de algum pianista de jazz em abstinência de heroína nem de um concertista clássico precisando de isolamento e concentração para criar sua obra-prima. Estamos falando de um disco de rock, tocado com baixo, guitarra, bateria e, solando, clarinetes e saxofones. Tudo sem um acorde sequer de piano. Sim, estamos nos referindo a Don Van Vliet e seu “Trout Mask Replica”, o primoroso terceiro LP da Captain Beefheart and His Magic Band, de 1969. Talvez o trabalho que melhor tenha fundido rock, jazz, blues, folk e erudito, sustenta o status de uma verdadeira “obra de arte”, considerado pelo crítico musical italiano Piero Scaruffi como o melhor álbum de rock de todos os tempos e um dos 10 registros mais importantes da música contemporânea ao lado obras de Shostakovitch, Charles Mingus, Velvet Underground e Ligeti.

Com produção do maestro-maluco Frank Zappa, do qual Van Vliet (vulgo Captain Beefheart) é discípulo, “Trout Mask Replica” é de difícil assimilação, quase indecifrável: atonal, dissonante, polirrítmico, abstrato, desconexo. Lembra ora a música aleatória de John Cage, ora o “passaredo” farfalhante de Messiaen, ora os borrões de um quadro de Jackson Pollock, ora um filme experimental de Derek Jarman. Altamente influenciado pela vanguarda erudita, pelo free-jazz de Ornette Coleman e pelo blues do Mississipi, Van Vliet criou um disco que aponta para infinitas direções que não só musicais, mas também plásticas, cênicas e literárias, haja vista a loucura e a irracionalidade poética que suscita. Ele desmembra o estilo blues, base do rock ‘n roll, desestruturando ritmo, harmonia, tom e melodia, remontando depois as peças, ”algo entre o caos orquestral de Charles Ives e audácia de John Cage”, definiu Scaruffi.

Oblíquas e sem uma linha melódica estável, as músicas de “Trout...” são rocks sem riff. Tudo numa roupagem seca dada pela produção. É assim que começa o álbum, com “Frownlands”: toda descompassada, parecendo estar se desmontando. A voz rouca e rasgada de Van Vliet cospe versos enquanto os sons se debatem, tentando se encontrar em uma harmonia, o que nunca acontece – ou melhor, acontece de forma diferente do que se está acostumado a ouvir no rock. O arranjo, elaborado por Beefheart a quatro mãos com o baterista da banda (!), John French, é tão primoroso que a sonoridade do instrumento que originou as melodias se adéqua perfeitamente à nova instrumentação, dando a impressão de que tudo foi improvisado – e a ponto de tornar o piano dispensável no resultado final. Mas tudo, do início ao fim, está dentro de uma geometria composicional criada pela louca e excêntrica cabeça de Van Vliet, movida à base de muito LSD. O repretório foi composto por ele em apenas oito horas, porém, os ensaios levaram exaustivos meses de isolamento de todos os músicos até a gravação que, de tanta repetição, foi captada praticamente todo de uma vez só.

 Mutáveis e caóticas, as músicas vão se recriando dentro de si próprias através de novas células sonoras. "Moonlight on Vermont", “The Blimp” e “Dachau Blues”, das minhas preferidas, são exemplos claros dessa metalinguagem. A poética dadaísta das letras é outro ponto peculiar, pois não são mais do que meros esboços non-sense, neologismos imbecis (“fast ‘n bulbs”, “semen ‘n syrup ‘n serum”, "hobo chang ba") que servem apenas para apontar para o ouvinte o caminho – errado. Vê-se já no título sem sentido da tribal “Ella Guru”, outra genial, que traz vozes em falsete, síncopes incoerentes, hinos guturais e um riff de baixo hesitante.

 “Hair Pie”, “bakes” 1 e 2, são suítes instrumentais fabulosas, a ver a primeira, um jazz com uma longa introdução de dois sax alto que se retorcem e se entrecruzam um sobre o outro através de dissonâncias, muito ao estilo de Albert Ayler e Anthony Braxton. O blues, elemento base do disco, é tão desestruturado que chega ao ponto de... inexistir! É o caso de “The Dust Blows Forward 'n the Dust Blows Back" e "Orange Claw Hammer", à capela e montadas em estúdio por picotes colados em sequência, em que apenas se supõe o ritmo. Apreciáveis também: a excelente “China Pig”, um blues bruto; “Dali’s Car”, espécie de suíte para duas guitarras; e "When Big Joan Sets Up", constantemente variante dentro de si mesma, como uma pequena sinfonia em 4 atos rápidos.

O disco termina com "Veteran's Day Poppy", que dá a impressão de desfechar, enfim, do modo consonante e agradável da tradição clássica até que, depois de um breve fade out/fade in, a música retorna consonante, mas... peraí! Está numa notação totalmente enviesada, dando a impressão de que está sendo executada ao contrário! Um final magistral para um disco que, bastante influenciador do rock alternativo (Tom Waits, Meat Loaf, Residents, Jah Wobble) e do pós-punk (P.I.L.Gang of Four , Polyrock e Sonic Youth que não me deixam mentir), continua, quase 45 anos de seu lançamento, uma audição desafiadora e instigante. Propositadamente desconfortável, desacomoda positivamente nossos ouvidos já tão saturados da métrica em três tempos da música pop, criticando, em decorrência, toda a sociedade moderna e seus padrões massificadores há muito esgotados.

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 FAIXAS:
1. "Frownland" - 1:41
2. "The Dust Blows Forward 'n the Dust Blows Back" - 1:53
3. "Dachau Blues" - 2:21
4. "Ella Guru" - 2:26
5. "Hair Pie: Bake 1" - 4:58
6. "Moonlight on Vermont" - 3:59
7. "Pachuco Cadaver" - 4:40
8. "Bills Corpse" - 1:48
9. "Sweet Sweet Bulbs" - 2:21
10. "Neon Meate Dream of a Octafish" - 2:25
11. "China Pig" - 4:02
12. "My Human Gets Me Blues" - 2:46
13. "Dali's Car" - 1:26
14. "Hair Pie: Bake 2" - 2:23
15. "Pena" - 2:33
16. "Well" - 2:07
17. "When Big Joan Sets Up" - 5:18
18. "Fallin' Ditch" - 2:08
19. "Sugar 'n Spikes" - 2:30
20. "Ant Man Bee" - 3:57
21. "Orange Claw Hammer" - 3:34
22. "Wild Life" - 3:09
23. "She's Too Much for My Mirror" - 1:40
24. "Hobo Chang Ba" - 2:02
25. "The Blimp (mousetrapreplica)" - 2:04
26. "Steal Softly thru Snow" - 2:18
27. "Old Fart at Play" - 1:51
28. "Veteran's Day Poppy" - 4:31


 

Capital Inicial - "Capital Inicial" (1986)

 

"Porque pobre quando nasce com instinto assassino
Sabe o que vai ser quando crescer desde menino
Ladrão pra roubar, marginal pra matar
'Papai eu quero ser policial quando eu crescer' "
da letra de "Veraneio Vascaína


Um dos ilustres representantes do rock de Brasília e um dos tentáculos do Aborto Elétrico, embrião que também originou a Legião Urbana, o Capital Inicial em seu excelente disco de estreia fazia um pop altamente acessível e palatável sem, no entanto abrir mão da veia punk que o originara. Mesmo hits como “Música Urbana”, por trás de uma competente produção que lhe enfeitava com metais e com uma linha de teclado simpática e marcante, traziam a sombra do caos cotidiano e da indignação social característica do punk rock. “Fátima”, o outro grande sucesso do álbum, também um pop, porém um tanto mais grave, mais tensa, mais séria, com suas sugestões religiosas, filosóficas e pitadas de alfinetadas contra a ditadura numa letra de Renato Russo, interpretada com notável competência e intensidade por Dinho Ouro-Preto. Já “Psicopata”, outra de boa execução radiofônica, era um punk comportamental agressivo e sem concessões. Básico, rápido, violento e forte. Uma pedrada! Pedrada? Bomba mesmo era “Veraneio Vascaína”, punk até a alma sob todos os aspectos, em sonoridade, letra e atitude, responsável direta pela proibição peremptória e incondicional do álbum, numa letra pra lá de detonante na qual rotulam a polícia de “assassinos armados uniformizados”.
“Cavalheiros” é outra com características punk, pegada e acusativa;  a acelerada “No Cinema”, embora tratando de um tema banal guarda sua dose de agressividade sonora; e  a boa “Leve Despespero” pende mais para o lado do darkismo dos anos 80, mais cadenciada e com uma letra intimista e depressiva, mas nem tudo é ‘ferro-e-ferro’ e o álbum tem momentos mais leves como “Tudo Mal” e “Linhas Cruzadas”, que apesar de retratarem relações infelizes, dão um toque um pouco mais descontraído sonoramente.
É bom que se diga e não se esconda a verdade que as melhores letras deste primeiro disco do Capital, "Múasica Urbana", "Fátima" e "Veraneio Vascaína" eram de autoria de Renato Russo, frutos ainda do finado Aborto Elétrico, mas não é fato suficiente que deslustre o mérito desta competente banda que soube dar personalidade a estas canções, imprimindo sua marca e conferindo-lhes interpretações marcantes através de seu vocalista.
Outro dos ilustres representantes do rock de Brasília e dos grandes pilares do BRock dos anos 80. Que metade de década foi aquela que nos proporcionou entre 85 e 86 álbuns como "Cabeça Dinossauro""Dois""Vivendo e Não Aprendendo""Revoluções por Minuto""Nós Vamos Invadir Sua Praia" e este “Capital Inicial” de 1986!
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FAIXAS:
  1. "Música Urbana" 3:30 (Fê Lemos, Flávio Lemos, André Pretorius, Renato Russo)
  2. "No Cinema" 2:56 (Fê Lemos, Flávio Lemos, Loro Jones)
  3. "Psicopata" 2:49 (Fê Lemos, Flávio Lemos, Pedro Pimenta, Loro Jones)
  4. "Tudo Mal" 3:12 (Fê Lemos, Rogério Lopes de Souza, Loro Jones)
  5. "Sob Controle" 3:31 (Flávio Lemos, Dinho Ouro Preto, Loro Jones)
  6. "Veraneio Vascaína" 2:15 (Renato Russo, Flávio Lemos)
  7. "Gritos" 3:27 (Fê Lemos, Dinho Ouro Preto, Loro Jones, Guta)
  8. "Leve Desespero" 3:53 (Fê Lemos, Flávio Lemos, Dinho Ouro Preto, Loro Jones)
  9. "Linhas Cruzadas" 3:36 (Fê Lemos, Flávio Lemos, Dinho Ouro Preto, Loro Jones)
  10. "Cavalheiros" 3:25 (Fê Lemos, Flávio Lemos, Dinho Ouro Preto)
  11. "Fátima" 3:49 (Renato Russo, Flávio Lemos)



Roland Kovac New Set - The Master Said 1971

 

O Roland Kovac New Set  surgiu no início dos anos 70, basicamente uma colaboração entre Kovac e o guitarrista  Siegfried "Sigi" Schwab . Este último usou seu fuzzbox em uma tentativa eventualmente fracassada de abafar o primeiro baterista  Charly Antolini , depois  Keith Fisher . O tecladista  Brian Auger , nada desleixado, juntou-se ao segundo esforço deste grupo. Em 1981, Kovac gravou Piano Symphony -- Selected Sound 92 para o selo Deutsche Austrophon. 


















The Allman Brothers Band - Idlewild South 1970

 

Se você for ouvir os Allman Brothers, certifique-se de ter os quatro primeiros discos. A banda fez  The Allman Brothers Band , Idlewild South,  At Fillmore East e três quartos de  Eat a Peach  com sua formação original, antes  do acidente fatal de motocicleta de  Duane Allman em 1971. O Idlewild South, produzido por Tom Dowd , seu segundo álbum, sai com um pouco menos de ferocidade do que sua estreia — o que talvez seja o resultado de buscar novos sons na segunda vez. "Revival", a abertura do álbum, apresenta  Dickey Betts  como compositor. O sabor caipira de suas canções dá uma indicação de para onde a banda irá na era pós- Duane  .  A outra contribuição de Betts para Idlewild South é o instrumental "In Memory of Elizabeth Reed", uma peça central das  gravações de Fillmore East  .  "Please Call Home" e "Midnight Rider" de Gregg são construídos em torno de piano e violão, respectivamente, e têm uma sensação diferente do som gêmeo Les Paul e Hammond da banda. Esse som é exibido no equilíbrio das  músicas de Gregg , no entanto: o blues funky de "Don't Keep Me Wonderin'" (com  Thom Doucette  na gaita) e "Leave My Blues at Home". O álbum também é notável pela versão animada de  "Hoochie Coochie Man" de Willie Dixon , com o único baixista vocal  Berry Oakley  (que morreu em um acidente de moto um ano depois de  Duane ) já gravado com o grupo. Embora no geral tenha menos impacto do que  The Allman Brothers Band , Idlewild South é ainda mais impressionante por sua mistura de grooves robustos e texturas sofisticadas






Sea Level - Sea Level 1977

 

O tecladista  Chuck Leavell  formou o quarteto Sea Level em 1976, após a  primeira separação dos Allman Brothers dos anos pós- Duane Allman  , e como dois outros membros do Sea Level também estavam nos  Allmans  — o baixista  Lamar Williams e  o baterista   original  dos Allmans , Jaimoe  — era tentador considerar a banda como um  spinoff dos Allman Brothers  , mas essa não era exatamente a história completa.  Jaimoe  e  Williams  tocaram juntos antes  da  formação  dos Allmans , e o guitarrista do Sea Level, Jimmy Nalls ,  fez parte da  banda de Alex Taylor — que também incluía  Leavell  — antes de  Leavell  e  Williams  se juntarem  aos Allmans  após as mortes de  Duane e  do baixista   original  dos Allmans , Berry Oakley , então os quatro músicos do Sea Level podem ser vistos como simpáticos, mesmo fora da  narrativa dos Allman Brothers  .  Claro, o  som dos Allmans  foi uma grande pedra de toque para o Sea Level; certamente,  o pianismo de Leavell havia alcançado seu maior público com seu sucesso solo em "Jessica", e ele traria estilos semelhantes ao álbum de estreia homônimo de seu quarteto em 1977. Mas o Sea Level não precisava ficar na sombra de nenhum outro grupo, como o álbum de estreia deixou claro. A faixa de abertura,  "Rain in Spain", escrita por Leavell , é tão impulsionadora e melódica quanto qualquer  instrumental dos Allman Brothers  , mas também possui uma sofisticação harmônica jazzística além do que  os Allmans  poderiam ter tentado na introdução ao seu primeiro rompimento, e o mesmo vale para outras faixas instrumentais como  "Tidal Wave" de  Leavell , a composição de Neil Larsen  "Grand Larceny" e certamente a leitura melancólica e sensível de  "Scarborough Fair" de  Simon & Garfunkel . Leavell  também escreveu a pantanosa e funky "Nothing Matters But the Fever", com slide guitar wah-wah de  Nalls , efeitos tontos e desorientadores no piano e uma bela interpretação vocal de  Leavell  , um grito blueseiro da alma que nunca cruza a linha do histrionismo. Outro prazer deste álbum deriva do papel de  Jaimoe como único baterista/percussionista; para aqueles que só o ouviram como metade da poderosa dupla de bateria dos  Allman Brothers com Butch Trucks, sua inventividade, extraindo do jazz, blues, rock, soul e expressões idiomáticas do funk, destacou-se em Sea Level de uma forma que foi reveladora para muitos ouvintes. Sea Level foi uma ótima estreia de um quarteto matador, e com a adição do cantor/compositor e saxofonista  Randall Bramblett , do guitarrista  Davis Causey e do baterista  George Weaver  à formação para a gravação do segundo álbum  Cats on the Coast , não parecia irracional supor que as possibilidades futuras desta banda eram quase sem limites




Marlena Shaw - Out of Different Bags 1967

 

O primeiro álbum de Marlena Shaw – e embora não seja tão totalmente justo quanto alguns de seus trabalhos posteriores, ainda é um disco realmente único que rapidamente colocou Marlena cabeça e ombros acima do resto do grupo! O disco é uma mistura de números vocais jazzísticos e melodias soul mais pesadas – arranjadas por Richard Evans com um som de swing hip que conecta modos muito bem – e que oferece uma abordagem mais profunda e sofisticada do tipo de território explorado por Nancy Wilson na Capitol durante os anos 60. As melodias são uma mistura real de material, mas todas transformadas muito bem neste cenário – de modo que melodias de sessão de destaque como "Ahmad's Blues", "I've Gotten Over You" e "Nothing But Tears" ficam muito bem ao lado de números mais familiares como "Matchmaker Matchmaker", "Alone Together" e "The Eyes Of Love". Também inclui uma ótima leitura de "Somewhere In The Night"! Crítica do site do Dusty Groove