terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Sensation's Fix - Live in Italy 1974



Encontrei este raro bootleg do Sensation's Fix, simplesmente intitulado "Live in Italy 1974", em um dos inúmeros discos rígidos espalhados pela casa (também graças a alguns dias de descanso forçado devido à habitual gripe sazonal). O local e a data da gravação são absolutamente desconhecidos. A bota é composta por apenas 3 músicas instrumentais retiradas de duas gravações diferentes, e você pode entender isso porque a primeira faixa se destaca pela melhor qualidade sonora que as duas seguintes. As três músicas remontam às estreias musicais do grupo de Franco Falsini, justamente naquele longínquo 1974. Aqui acrescentarei algumas outras informações escassas. SF era uma banda principalmente eletrônica, com som baseado em teclado e uso limitado de vocais. O trio era liderado pelo tecladista e violonista Franco Falsini, um compositor muito prolixo. Prova disso é que só em 1974 lançaram três álbuns, sendo que um deles (o primeiro) foi lançado apenas em edição promocional e totalmente instrumental no mesmo estilo de muitos grupos alemães do gênero Cosmic Couriers. Seus álbuns foram todos autoproduzidos e gravados no estúdio do grupo, em uma casa de campo perto de Florença, muitas vezes com qualidade técnica totalmente amadora.

TRACKLIST:
01 Take 1
02 Take 2
03 take 3

FORMAZIONE:
Franco Falsini (chitarra, tastiere, voce)
Richard Ursillo (basso)
Keith Edwards (batteria)









BANDAS RARAS DE UM SÓ DISCO - Night Sun - Mournin´(1972)

 



Durante o início dos anos 70, praticamente em todo o mundo brotavam grupos de rock adaptados a tocar pesado, com muita distorção e também alguma técnica. Esses grupos foram classificados como hard rock, e deram origem ao heavy metal conhecido posteriormente através de nomes como Judas Priest, Iron Maiden e Saxon. 

Alguns desses grupos também foram influenciados por outro estilo que nasceu na mesma época, o rock progressivo. A adaptação da sonoridade hard com o progressivo, gerou canções que acabariam marcando época, e eu posso sem medo dizer que Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple foram os principais responsáveis por conceber algo nesse estilo. Se você discorda, o que me diz sobre “Child in Time” (Deep Purple), “Kashmir” (Led Zeppelin) ou “Megalomania” (Black Sabbath), isso só para citar alguns. Não são essas canções exatamente pequenas suítes progressivas complementadas pela dose hardiana que consagrou os monstros da Santíssima Trindade citados? 

Pois na Alemanha do início da década de 70 a situação não era muito diferente. O problema era que nesse país, algo estava muito além. Berlin, principal cidade alemã, estava rodeada de traficantes de drogas pesadas, prostitutas e sujeira, que se propagaram em uma Alemanha pós - Guerra, divida em Alemanha Oriental e Ocidental, e com uma enorme dificuldade de reconstruir a vida de seu povo, e principalmente, de re - estabelecer a sociedade na sua nação. Isso evoluiu fortemente durante a década de 70, tendo como consequência, uma enorme quantidade de jovens, adolescentes e crianças que tiveram o contato com as drogas e perderam suas vidas, como retratado (e muito bem) no famoso filme “Christiane F., Wir Kinden vom Bahnhof Zoo” de 1981 (no Brasil, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída). 

Nesse cenário decadente, com a Alemanha saindo do fundo do poço, alguns jovens buscaram no rock a solução para uma vida melhor. O Scorpions é o melhor exemplo de como esses jovens conseguiram chegar ao auge, nascendo nessa efervescente cena de drogas e prostituição. Porém, muitos grupos não tiveram a sorte que os irmãos Schenker, Kalus Meine e cia., como foi o caso dos membros do Night Sun. 

Suas origens vêm de um grupo de jazz que fez relativo sucesso na Alemanha durante os anos 60, o Take Five. Esse grupo era formado por Knut Rössler (órgão, piano, trompete, fagote, flauta e trombone), Werner Stephan (vocais), Edmund Seiboth (trompete), Hans Brandeis (guitarras, vocais), Torsten Herzog “Duke” (baixo, vocais) e Karl-Heinz Weber (bateria), e conquistaram seu espaço principalmente no sudoeste da Alemanha, em uma região conhecida como Rhine-Neckar. 

Depois de algum tempo, o Take Five separou-se, mas sua sonoridade influenciou diretamente o futuro de Rössler, que se apaixonou pelo jazz e decidiu investir no estilo. Enquanto isso, Weber, Stephan e Duke fundaram o Kin Ping Meh, que se consagrou na Alemanha através de álbuns como Kin Ping Meh (1971) e principalmente, III (1973). Voltando à saga de Rössler, sua ideia de ampliar os horizontes jazzísticos barrou quando passou a ouvir os novos sons da Inglaterra. Cream, Led Zeppelin e Deep Purple foram as principais portas de entradas de Rössler no hard rock, e assim, começou a se formar uma nova ideia na genial cabeça do tecladista: a de misturar jazz com rock pesado. 

Rössler fundou o Night Sun Mournin’ em 1970, consistindo de um grupo no qual passaram diversos músicos, e dificilmente chegou em uma formação fixa. Um ano depois, o nome mudou apenas para Night Sun, tendo na formação além de Rössler, Walter Kirchgassner (guitarras), Bruno Schaab (voz, baixo) e Ulrich Staudt (bateria). Sua inédita sonoridade chocou a região da Rhine-Neckar, e principalmente, aos fãs do Take Five. As linhas dos metais de Rössler, misturadas às distorções de Schaab e Kirchgassner, eram um pequeno veneno sonoro na veia do ouvinte, que depois de ouvir as canções, não podia segurar o debatimento com tamanha força das canções do grupo. 

Não demorou para que o selo Zebra (responsável também pelos discos do Kin Ping Meh, além de nomes como Abacus e Epitaph, e que pertencia a Polydor) entrasse em contato com o quarteto, levando-os para os estúdios em meados de 1972, onde registraram o fabuloso Mournin’. 

“Plastic Shotgun” abre o LP, com o riff da guitarra seguido pela marcação de baixo e bateria, com os teclados seguindo as notas da guitarra. A intrincada introdução traz os vocais de Schaab, acompanhado pela quebradeira de teclados, guitarra, bateria e baixo. Um piano com batidas fortes faz uma espécie de ponte, deixando a guitarra sozinha, puxando o ritmo que leva aos solos sobrepostos, voltando à letra. Após gritar o nome da canção, a guitarra passa a fazer barulhos diversos, que terminam a canção entre vozes estranhas. 

Um longo acorde de teclado abre “Crazy Woman”. Baixo, guitarra e bateria fazem o tema marcado, junto do órgão, e Schaab canta sobre a pesada levada do Night Sun, destacando os efeitos durante a virada de bateria na ponte central da canção. O órgão se sobressai executando um dançante solo na segunda parte da canção, enquanto as linhas de baixo de Schaab, junto com a guitarra e a bateria, evoluem para um veloz acompanhamento, similar ao que o Deep Purple costumava fazer em canções como “Speed King” e “Wring That Neck”, com Kirchgassner solando muito. Schaab volta à letra, e depois de mais uma curta sequência de viradas, os temas marcados retornam à introdução, que conclui a canção. 

A épica “Got a Bone of My Own” surge com tons macabros e assustadores na guitarra. As sinistras notas do instrumento vão ocupando o recinto, e aos poucos, notas mais claras saem das seis cordas de Kirchgassner. A densa introdução é mesclada com notas de órgão e guitarra, estendendo-se por malucos três minutos, e então, a guitarra puxa o tema central, com o baixo acompanhando as notas, e a bateria fazendo a marcação. Mais Black Sabbath impossível. Desse tema, Kirchgassner sola notas rasgadas e marcadas, executando temas variados junto com baixo e bateria, e principalmente, controlado pelo peso das distorções. 

O tema central é repetido, agora com a presença do órgão, e entre notas marcadas, Schaab passa a cantar. Os temas marcados entre baixo, bateria e guitarra, contrastam com o órgão, que passa a solar sobre outra bela levada do trio, e a comparação com o Deep Purple novamente é inevitável. Mais um tema marcado, e a letra continua, acompanhada pelo tema central e por intervenções da guitarra, que se prolongam até o fim da canção. 

Para encerrar o lado A, “Slush Pan Man” surge com mais outro grande tema marcado entre guitarra, baixo, bateria e órgão. O peso sabbathiano de guitarra e baixo vai afundando o ouvinte em seu quarto, e a voz de Schaab ocupa-se de auxiliar os instrumentos nesse afundamento. Solos de guitarra surgem na ponte que leva para a segunda parte da letra, com mais temas marcados. Novos solos aparecem, porém com um andamento mais acelerado, sendo Kirchgassner o centro das atenções com suas notas rasgadas, repletas de bends e arpejos, assim como a linha de baixo envolvente de Schaab.  

Uma assombrante voz abre o lado B com “Living with the Dying”, para o riff de guitarra, baixo, bateria e órgão trazer Schaab gritando o nome da canção. Um novo riff e a letra desenvolve-se, tendo um andamento quase marcial, com Schaab gritando muito. Os efeitos na bateria voltam a surgir durante o longo solo de Standt que surge no meio da canção, onde a sequência de batidas alterna-se entre rufadas nas caixas, viradas nos tons e uma marcação cronometrada do chimbal. Rossler aumenta a velocidade de seu solo, trazendo baixo, órgão e guitarra executando o riff inicial, e Kirchgassner passa a solar, dividindo o espaço com o órgão. A evolução dos solos se dá na mesma ordem, guitarra e órgão, para Schaab repetir a letra e encerrar a sinistra sensação que a canção passa ao ouvinte. Os acordes do órgão de Rossler abre “Come Down”, que com um tema clássico, traz os vocais de Schaab acompanhado pelo violão e pelo órgão, construindo uma bonita balada com a adição do baixo e da bateria. Kirchgassner passa a fazer a melodia do vocal junto com o mesmo, e a balada continua, emocionante, chegando no solo de Rossler, com viradas no órgão e com bateria, guitarra e baixo fazendo o tema marcado. A canção transforma-se, ganhando peso, e a balada inicial agora é uma estonteante sessão de temas marcados entre baixo, órgão e bateria, com Schaab gritando a letra, levando a mais um bom solo de Kirchgassner, O órgão aparece com mais destaque sob o solo de guitarra, e então, novamente “Come Down” transforma-se, com violões e piano voltando ao tema inicial, para Schaab encerrar a letra com a guitarra dividindo a melodia dos vocais, para Kirchgassner soltar mais agudos em um belo solo de conclusão. 

“Blind” volta aos temas purpleanos, em uma linha mais bluesística, destacando as sessões marcadas de baixo, guitarra, órgão e bateria, bem como o solo de Rossler no hammond, seguido pelo solo de Kirchgassner. Mais Deep Purple, impossível! Schaab retorna à letra, e mais um solo de Kirchgassner aparece, agora com mais virtuosismo, enquanto que o solo de Rossler no órgão é uma repetição de acordes em cima de uma mesma escala, concluindo com gritos e uma infernal barulheira da guitarra. 

A mais rápida das canções de Mournin’ é “Nightmare”, com um ritmo veloz, também muito purpleano, mas com uma diferença nos vocais de Schaab, quase punk-rock (se bem que o punk ainda não existia como hoje o conhecemos) e também nas intervenções da guitarra. As linhas melódicas da guitarra, cercada pelos complicados temas de baixo, órgão e bateria, levam ao agitado solo de hammond, e então, a sequência é repetida até o encerramento da canção, com um crescendo dos instrumentos, um longo grito de Schaab e mais barulhos. 

O LP encerra-se com “Don’t Start Flying”, a qual começa com um belíssimo solo de saxofone, tendo baixo, guitarra e bateria quebrando tudo ao fundo. A letra surge tendo o saxofone fazendo o riff e intervenções. As jazzísticas participações do saxofone, misturadas com o peso do baixo e da guitarra, são uma saborosa mistura. Os solos são divididos entre saxofone e guitarra, sempre com os dois instrumentos fazendo os temas entre os solos de forma muito bem trabalhada, e Schaab continua a letra, fechando o álbum com os temas marcados sendo interferidos pela guitarra de Kirchgassner. 

Mournin’ foi produzido por Konrad Plank (responsável por produzir material de grupos como Ash Ra e Kraftwerk), o que deu uma cara progressiva ao hard e pesado som do grupo. Após o lançamento de Mournin’, o grupo fez uma série de shows, mas a forte rigorosidade e o gênio de Rössler acabaram fazendo com que Schaab e Kirchgassner abandonassem o projeto ainda em 1972.Schaab acabou ingressando no Guru Guru, gravando o espetacular álbum Guru Guru (1973), um dos principais LPs do krautrock. Já Rössler dedicou-se a uma carreira solo e de músico de estúdio, participando de álbuns dos grupos Infinity & Alphonse Mouzon (Now – 1992) bem como gravando vários álbuns ao lado do violonista Johannes Vogt. 

Enquanto ao Night Sun, acabou  esquecido entre os grupos alemães, até que o selo Second Battle relançou Mournin’ na versão em CD, com formato digipack, e com os alemães virando mais um nome obscuro a ser descoberto pelos admiradores de boa música, principalmente fãs de Black Sabbath, Deep Purple e do chamado stoner rock em geral. 

Integrantes.

Bruno Schaab (Vocais, Baixo)
Walter Kirchgassner (Guitarra)
Knut Rossler (Órgão, Piano, Trompete)
Ulrich Staudt (Bateria)
 

Will Long – Acid Trax (2024)

 

Uma das melhores passagens de Health and Safety , o livro de memórias de Emily Witt sobre sua imersão no underground de Nova York, detalha sua primeira viagem ao Sustain-Release. Acordando com uma ressaca do tamanho de um festival após sua primeira noite, ela se arrasta para ver uma palestra com Terre Thaemlitz, mais conhecido como DJ Sprinkles.
A conversa centrou-se nas práticas musicais e políticas de Thaemlitz, durante as quais o músico ridicularizou o festival como um "Techno Sha Na Na". "Não entendi a referência, mas acho que entendi a ideia. Sprinkles estava dizendo que o que havíamos convocado era outro espiritualismo falso, um falso renascimento de uma era passada", escreveu Witt.
Sha Na Na era uma banda que fazia covers de doo-wop, um gênero que a juventude negra comandava durante…

MUSICA&SOM

…o auge de Jim Crow. O grupo tocou no Woodstock, mais tarde inspirando uma série de variedades onde a banda usava penteados pompadour enquanto cantavam sucessos dos anos 60 e esquetes cômicos. O grupo era o paradigma da gentrificação cultural, e Thaemlitz aponta que muito da mesma lógica está em jogo bem na Meca imaginada dos meios de Witt baseados no Brooklyn. Ela direciona sua crítica ao público, sublinhando que sua revolução imaginada pode ser apenas outra desculpa para usar drogas.

A filosofia musical de Thaemlitz é intransigente, tanto em seus próprios lançamentos quanto por meio de sua gravadora, a Comatonse Recordings. Faz sentido, então, que acid trax , a mais recente oferta da Comatonse pelo produtor Will Long, de Tóquio, nos leve de volta às raízes do acid. Hoje, o ícone do rosto sorridente do gênero é uma abreviação para a transformação que ocorreu quando o famoso Summer of Love de 1988 do Reino Unido transformou o trabalho dos produtores de Black Chicago em trilhas sonoras para o hedonismo carregado de pílulas. Long revive a história real da origem do gênero ao longo de duas horas de programação básica de 808 e um Roland 303. As músicas são estudos de caso sobre o quão eficaz uma linha de acid pode ser, passando da agressão do horário de pico para a observação introspectiva das estrelas.

Desde que Long lançou o primeiro volume de sua série Long Trax em 2016, sua música sob seu nome de batismo se tornou sinônimo de loops esqueléticos prolongados e trechos de discursos políticos de figuras públicas como Jean-Michel Basquiat e H. Rap ​​Brown. A bateria é frequentemente fraca e leve, pois as músicas alcançam uma sensação tão profunda que parecem que podem afundar no fundo do oceano.

acid trax coloca Long em um novo curso. Acabaram-se os samples vocais e acordes ondulantes que ele usou anteriormente para adicionar narrativas políticas aos seus discos. Desta vez, ele injeta sua crítica social com a energia de alta adrenalina e o jack dos pioneiros de Chicago. A programação 808 em “R” é oscilante e funky, enquanto o 303 tem a ondulação de desenho animado de um chefe final de videogame dos anos 90. Long também reproduz os altos arranha-céus e os pads pacientes e suaves em sua série de discos Long Trax. “H” mostra uma pitada de psicodelia de Detroit, com um 303 preso em um ciclo de padrões alienígenas brilhantes que se desintegram como um castelo de areia na maré — apenas para ressurgir rapidamente.

Dois CDs completos de exercícios de acid podem ser exaustivos, mas a tensão entre as músicas de clube em ziguezague e as ruminações no estilo Acid Mt. Fuji muda o ritmo o suficiente para sustentar o engajamento. Long bate em Thaemlitz para dar suporte, criando o primeiro material de DJ Sprinkles desde 2018. Os dois colaboram em "S", onde duas linhas de acid concorrentes se sobrepõem — uma gorgoleja baixo na mixagem enquanto a outra explode em cores como o amanhecer. As duas contribuições restantes de DJ Sprinkles são remixes. Das duas, "Acid Trax B (All Alkalis Are Bases but All Bases Are Not Alkalis)" é o showstopper. Com acordes abafados e uma linha de baixo instável, ela transforma a claustrofobia do 303 original em curto-circuito em uma faixa deep house expansiva.

A música de Long, como a de Thaemlitz, é singular a ponto de soar insular. Ouvindo acid trax , parece que Long está tentando comungar com pioneiros de Chicago como DJ Pierre e Ron Hardy, em vez de qualquer um que faça acid hoje. Isso não é incidental. Como Long disse uma vez a Truants: "Não me sinto conectado de forma alguma a uma comunidade de house music ou música eletrônica, e também não estou interessado em tentar ser vanguardista". Em uma cena que tenta continuamente lucrar com a moeda da "comunidade", esta é uma abordagem provocativa. Mas também é um lembrete de que às vezes as melhores coisas na boate não precisam mudar. 40 anos depois de "Acid Tracks" de Phuture, você ainda não precisa de muito mais do que um 303 e 80

glebe – Gaudí (2025)

 

Poucos grupos de jazz têm um nome tão unicamente ligado à sua história compartilhada quanto Glebe. O nome da banda reflete seus primeiros dias vivendo em um apartamento compartilhado acima de uma loja de fish and chips em Glebe Place, onde o guitarrista Kieran Gunter e o pianista Chris Bland viveram depois de se conhecerem no Leeds College of Music (hoje Leeds Conservatoire). Desde então, eles construíram carreiras impressionantes, contribuindo para projetos no teatro musical e na cena jazzística de Londres, se apresentando ao lado de artistas renomados como Elliot Mason, Dennis Rollins e Bobby Shew.
Juntando-se à dupla em Glebe estão o baixista Jack Tustin, o saxofonista Dom Pusey e o baterista Filippo Galli. O álbum se chama Gaudi e leva o nome do arquiteto de La Sagrada Família, a famosa igreja católica inacabada em Barcelona.

MUSICA&SOM

O grupo é ainda reforçado pelo convidado Tom Smith (Reino Unido) no sax soprano e flauta, junto com as vocalistas Tara Minton, Clare Wheeler e Francesca Confortini. Há nove faixas, quatro compostas por Gunter e cinco por Bland.

Gunter e Bland compartilham uma admiração pelo guitarrista Pat Metheny e pelo pianista Lyle Mays e seu trabalho conjunto no Pat Metheny Group. Essa influência vem mais fortemente à tona em “As Blues As You Once Were”. O piano de Bland comanda a atenção desde o início e, junto com Gunter e Pusey, eles produzem um pouco da sensação cinematográfica de tela ampla que o PMG frequentemente criava. Tustin e Galli fornecem impulso rítmico e direcionam as mudanças de tempo, tornando esta uma abertura fantástica.

Além do piano e do órgão, Bland expande a paleta sonora com Wurlitzer e sintetizador, mais notavelmente exibido na fusão rápida de “You Can't Write Tears”. A faixa brilha com a interação bem entrelaçada de saxofone e guitarra, pontuada pela bateria nítida de Galli. A banda atinge seu auge com “Il Regno Della Tomba”, onde uma corrente musical brasileira fornece uma tela expansiva para Tustin, Gunter e Bland entregarem performances solo excepcionais. O repertório instrumental do álbum continua com a inventiva e edificante “Kirkstall Abbey” (nomeada em homenagem a um monastério em ruínas em Leeds) e “Gaudi's Blues”, uma faixa caracterizada por suas mudanças rítmicas não convencionais, trabalho de guitarra envolvente e uma seção de fechamento dinâmica que permite a Galli liberar sua proeza percussiva completa.

Tara Minton acrescenta vocais, harpa e letras à música de Gunter no pessoal e comovente “Haflinger”. Seu calor e clareza combinam com as atmosferas de sintetizador bem julgadas de Bland e a exploração hábil do clarinete baixo de Pusey para criar um charme folk e hipnotizante. Junto com Wheeler e Confortini, ela também fornece vocais no balanço do estilo do final dos anos 1960 do estendido “Ruby” e vocais sem palavras em “L'Iseran”. A influência de Metheny e Mays é evidente mais uma vez nesta música e a jornada da faixa é elevada ainda mais pela flauta de Smith e pelo fino sax soprano.

O grupo mistura improvisação, apelo melódico e arranjos habilidosos com sucesso para criar uma ampla gama de estilos musicais. O álbum oferece muito para aproveitar e se beneficia de audições repetidas para revelar suas variações rítmicas, fraseado criativo e musicalidade incrível



Willow Avalon – Southern Belle Raisin’ (2025)


Em 1952, Kitty Wells se tornou a primeira mulher solo a estrear uma música no topo das paradas da Billboard . "It Wasn't God Who Made Honky Tonk Angels" alterou a trajetória de Wells e a levou a colocar 81 músicas nas paradas durante o curso de sua carreira, embora "Honky Tonk Angels" se tornasse seu padrão de assinatura e por um bom motivo.
Devido em parte às letras oportunas de JD Miller, foi na verdade a performance vocal consciente de Wells que se conectou com as massas, elevando o corte ao status lendário. Com isso, Wells criou, sem saber, uma faixa diss da perspectiva de uma mulher antes mesmo que o estilo fosse um grampo no cânone.
Os ecos da influência de Wells podem ser ouvidos em toda a tão esperada estreia de Willow Avalon, uma coleção de ruminações desafiadoras e retumbantes...

MUSICA&SOM

…na jornada de uma jovem desafiando as expectativas sociais. A produção fundamentada ignora as armadilhas sem brilho do rádio moderno, em vez disso, escolhe uma rica mistura de country tradicional, rock e sons americanos para se adequar ao estilo clássico de Avalon. No entanto, o poder inegável de Southern Belle Raisin' Hell é centrado na voz inconfundível de Avalon, que lembra a Dolly Parton inicial e, claro, a própria Wells.

A brincadeira inebriante de dois passos, 'Something We Regret', serve como um aviso para um ex-amante prestes a se tornar um. Enquanto Avalon sedutoramente rola razão após razão para ele ir embora, é fácil ver por que o pobre idiota decide ficar. Você quase sente pena do cara... quase. A defesa cadenciada de 'Homewrecker' no tribunal deslumbra com convicção, guiada pelo feitiço influente de infusões de faroeste spaghetti. Além de sua produção soberba, também é um excelente exemplo da habilidade afiada de composição de Avalon.

Isso não significa que ela não tenha senso de humor, no entanto, como evidenciado por "Yodelayheewho", que estende uma frase padrão de yodel para resultados hilários de repreensão. A combinação cristalina de Avalon e sua colega estrela de strass Maggie Antone é uma escolha estelar que certamente precisa acontecer novamente. Com a brilhante habilidade de complementar o alcance um do outro, ela implora pelo desenvolvimento de um novo supergrupo. A pisada forte "Hey There, Dolly" é um cartão de visita irônico para a própria rainha que certamente chamará a atenção de Parton com menções hilariantes e casuais dos amplos atributos de ambas as artistas. Da mesma forma, no sucesso viral "Gettin' Rich, Goin' Broke", ela usa seu vibrato surpreendente para listar as demandas familiares de sua fama recém-descoberta em uma batida esfumaçada e neon.

Southern Belle Raisin' Hell é uma introdução memorável a uma artista com um senso de identidade destemido e uma infinidade de talentos diversos para expressá-lo. Em toda a coleção de 14 músicas, Avalon homenageia sem esforço aqueles que vieram antes dela, ao mesmo tempo em que adiciona sua perspectiva muito necessária ao gênero. Em algum lugar lá em cima, o anjo honky tonk original está radiante de orgulho, sabendo que seu legado está em mãos muito capazes

Crys Matthews – Reclamation (2025)

 

…Crys Matthews não foge da política, como muitos artistas fizeram, nem se esquiva de nomear questões sociais específicas e criar músicas pensativas sobre elas. (Deixamos muitos artistas escaparem escrevendo músicas vagas sobre "se dar bem" e "ver uns aos outros" e chamar essas declarações de corajosas.)
Em Reclamation , Matthews aprofunda seu talento característico para unir o pessoal e o político com empatia, compreensão e construção de pontes.
Ajuda que Matthews tenha recrutado alguns dos melhores artistas — e as melhores almas — em sua comunidade de Nashville: os cantores e compositores Kyshona, Melody Walker e Chris Housman, e os músicos Megan Coleman, Megan Elizabeth McCormick,…

MUSICA&SOM

…Ellen Angelico, Ryan Madora, Jen Gunderman e Michael Majett. O amor desses artistas pelas músicas de Matthews e um pelo outro faz de Reclamation uma experiência alegre e reconfortante. Heather Mae – parceira de Matthews e cantora e compositora – gera uma química maravilhosa em canções de amor como “The Good Stuff”.

Essa combinação permite que Reclamation represente muitas dimensões de Matthews mais do que qualquer um de seus álbuns anteriores. O álbum começa com “The Difference Between”, uma exploração das maneiras como certas pessoas (que pretendem seguir certas religiões) encontram maneiras de semear divisão e ódio, mesmo quando acusam aqueles com quem discordam de fazer o mesmo. Com a voz calorosa de Matthews – nunca longe de um sorriso – podemos sentir sua raiva, mas também sua convicção de que as pessoas podem mudar. Essa empatia permite que “My Skin”, sobre as experiências de Matthews enfrentando o racismo, penetre um pouco mais em seu coração. (Os vocais de apoio de Kyshona certamente ajudam.) “Suit and Tie”, enquanto isso, ilustra graciosamente a batalha que as pessoas trans e não-conformes de gênero enfrentam agora, enquanto proclama a própria identidade butch orgulhosa de Matthews.

Mas nem toda luta é, necessariamente, política. “The Bigger Picture” é uma música sobre montar quebra-cabeças, ou sua mãe, ou sua vida, dependendo de como você queira ler. “CA GA” é uma adorável canção de estrada sobre a bela angústia de um relacionamento à distância. “Oklahoma Sunset” nos lembra de apreciar as coisas boas sobre as pessoas que encontramos em casa, assim como aquelas ao nosso redor.

Quando chegamos a “Waking Up the Dead”, a meditação de Matthews sobre os muitos ativistas da abolição que nunca viveram para ver sua promessa, temos um retrato de Matthews como alguém que se dedica ao longo e lento processo de mudança. Suas canções não apenas nos mostram como o mundo poderia ser, mas também a paciência e a graça necessárias para nos levar até lá, mesmo quando tudo parece perdido.

Ben Chapman – Downbeat (2024)

 

O artista country de LaFayette, Geórgia, Channing Wilson, desempenhou um papel considerável em Ben Chapman (também nativo de LaFayette), seguindo seu sonho de se tornar um músico estabelecido; Chapman se lembra de ter 16 anos e Wilson lhe dizer: "Você tem o que é preciso para ser um músico de sucesso se quiser fazer isso, mas não pode fazer isso aqui. Quando fizer 21 anos, terá que ir para Nashville". Chapman seguiu devidamente o conselho e se mudou para Nashville, aos 21 anos, no entanto, naquela época ele já havia começado a tocar em bares de mergulho, bares VFW (Veterans of Foreign Wars) e "restaurantes mexicanos".
Enquanto Chapman se mudou para Nashville para escrever músicas, algo com o qual ele teve bastante sucesso, seu objetivo é se estabelecer...

MUSICA&SOM

…como artista. Antes de escrever e gravar “Downbeat”, Chapman ouviu extensivamente o trabalho da The Band e isso fica evidente ao ouvir “Downbeat”; Chapman achou a música deles uma inspiração, afirmando “The Band me lembrou que eu tenho uma voz, então é melhor eu usá-la e dizer o que eu quero”. Chapman coescreveu cada uma das músicas do LP, com exceção da música final, incluindo quatro coescritas com sua namorada de longa data, Meg McRee, que também canta no álbum. Chapman descreve sua música como “essa coisa de jam band country de funk sulista”.

O disco foi produzido por Anderson East, que também contribui com guitarra elétrica e teclado. O LP foi gravado principalmente "ao vivo" no estúdio. Dando início aos procedimentos em boa forma está "Almost Home", uma música que conta as tribulações de um músico em turnê, "Dirigindo a noite toda Dormindo até o meio-dia, Se eu estivesse em casa amanhã, Não seria muito cedo, Beba um café, Para passar o tempo, Tome um gole de uísque, Então eu subo no palco". "Don't You Dare" é um pouco mais lento; foi escrito rapidamente na varanda da frente, é sobre um casal que foi feito um para o outro "Nós quase conseguimos a perfeição, Mas tivemos nossas noites, Onde não vamos dormir, Até fazermos tudo certo".

'Downbeat' traz uma mudança de estilo; é um pouco funky. A inspiração para a música foi tirada de uma apresentação em um bar de motoqueiros em Chattanooga, onde todos os tipos de atividades nefastas aconteciam; no entanto, uma vez que a música começou, toda a atmosfera no clube mudou; "Este lugar fica assustador depois de escurecer, Comprando cocaína no estacionamento" e "Quando o downbeat chega, tudo fica bem".

'Temporary High' tem Chapman adotando um estilo vocal que soa um pouco como Chris Stapleton; inclui um proeminente pedal steel tocando por Shaun Richardson. 'If I Was You' é outra mudança de estilo, mais rock, mas com um som soul, apresentando um baixo bacana de Gregg Garner e um solo de guitarra de East. 'Finish What You Started' é um pouco mais lento e cobre o fim de um relacionamento; "Não me deixe meio de coração partido, Se você realmente vai acabar com isso, Então, baby, termine, Termine o que você começou".

'Baby Don't Cry It's Saturday Night' é um dos destaques do disco, apresenta uma ótima execução de guitarra, enquanto 'America's Sweetheart' traz uma visão um tanto negativa do mundo e de sua população. A motivação de Chapman para escrever esta música veio após uma turnê pela Costa Oeste dos EUA, vendo um grande número de moradores de rua e como eles eram tratados pelos outros; isso o deixou triste. O refrão diz "Agora até a Queridinha da América está amarga, Acontece que quase tudo que brilha não é ouro, Prometida demais e entregue de menos, Nunca vi um único centavo em todos os anos que ela vendeu, Agora ela está apenas ficando velha, Queridinha da América".

O LP chega à sua conclusão com um cover de 'Tonight I'll Be Staying Here with You' de Bob Dylan (do LP "Nashville Skyline" de Dylan de 1969). McRee entra em cena, dividindo os vocais principais com Chapman, tendo contribuído com os vocais de apoio para a maioria das outras músicas aqui. East toca um solo de guitarra saboroso, a música fechando com o refrão de Chapman e McRee: "Tonight I'll Be Staying Here with You". Claro que esta é uma música clássica e seria melhor do que a original de Dylan, com Dylan acompanhado por luminares como Johnny Cash, Norman Blake e Charlie Daniels; no entanto, Chapman, com McRee a reboque, faz um trabalho mais do que decente

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