quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Clássicos da MPB ao serviço da telenovela que ajudou a fazer do ‘windsurf’ um fenómeno pop

 Foi com a possibilidade de exploração do potencial de exposição da música incluída na banda sonora das telenovelas da Globo que, na viragem dos anos 60 para os 70, surgiu a editora Som Livre. Ao mesmo tempo que ia construindo um catálogo (pelo qual cedo surgiram nomes como os de Rita Lee ou Djavan), a Som Livre somava, ano após ano, verdadeiros momentos de sucesso discográfico nas compilações que juntavam as canções usadas nas novelas, muitas vezes surgindo para cada uma delas um disco com o repertório made in Brasil, cabendo a um outro as canções recolhidas entre discografias internacionais. Depois de, na década de 70, terem feito histórias as bandas sonoras de “O Bem Amado”, “Gabriela Cravo e Canela” ou “O Casarão”, entre outras mais, a chegada dos anos 80 fixou no álbum que juntou as canções brasileiras usadas em “Água Viva” outro raro episódio de grande curadoria.


O genérico, que visualmente fez história pela presença nas imagens de pranchas de windsurf (desporto que então gerou entusiasmos em ambos os lados do oceano), era feito ao som de “Menino do Rio”, que Caetano Veloso criara para Baby Consuelo (a voz feminina d’Os Novos Baianos). A canção, nascida num jantar em 1977 no qual estava o surfista José Artur Machado, sobretudo conhecido como Petit (figura que inspirou a letra), tinha surgido recentemente em “Pra Enlouquecer” que, editado em 1979, tinha representado o segundo álbum da carreira a solo da cantora e lhe dado um momento de sucesso maior em nome próprio. 

Mas, ao acompanharmos a história dos manos Fragonard (um deles cirurgião plástico, o outro um bon vivant que se vê metido em sarilhos) e de figuras como a socialite Estela Fraga Simpson (Tônia Carreiro), a “alpinista social” Lígia (Betty Faria) ou a “megera” Lourdes Mesquita (papel que definiu o rumo da atriz Beatriz Segall a um modelo de vilã que teria expressão maior, anos depois, como Odete Roitman em “Vale Tudo”), notamos que a música em “Água Viva” não se esgota no genérico (de abertura e fecho), envolvendo uma série de canções com origem em títulos recentes no universo da MPB por nomes como Maria Bethânia (“Grito de Alerta”),  Gilberto Gil (“Realce”), Gal Costa (“Noites Cariocas”), Elis Regina (“Altos e Baixos”) ou João Gilberto (numa magnífica versão de “Wave” de Tom Jobim), recuperando também peças já com história como é o caso do “Cais”, de Milton Nascimento, vindo do seu mítico “Clube da Esquina”. 

Quando David Lynch remisturou uma canção dos Duran Duran

A relação dos Duran Duran com David Lynch tem como prato principal, como é sabido, o filme-concerto “Duran Duran Unstaged” que na verdade nasceu de um projeto online. A ideia de juntar uma banda (ou um músico) a um realizador e, por uma noite, fazer um concerto transmitido em direto pela Internet tinha já juntando os Arcade Fire a Terry Gilliam, os Vampire Weekend a Steve Buscemi ou os The Killers a Werner Herzog… Em 2011 o Mayan Theatre, em Los Angeles, acolheu os Duran Duran, para mais um concerto da série Unstaged chamando à régie, olhando não apenas para as câmaras, mas para muitas imagens extra que antes tinha recolhido, nada mais nada menos do que David Lynch. Ao invés de outras parcerias nascidas deste projeto, o filme-concerto dos Duran Duran não esgotou a sua vida naquele “live” para consumo online. E no mesmo ano, entre festivais de cinema e sessões comerciais, uma versão para salas de cinema acabou por fixar este momento na filmografia de David Lynch que assim não só juntou um segundo filme-concerto à sua obra (o primeiro fora “Industrial Symphony – Vol. 1”, em 1990), como na verdade teve assim nesta parceria com os Duran Duran a sua derradeira longa-metragem a ter estreia comercial, já que a anterior, “Inland Empire”, data de 2006. O filme teve depois edição em suporte físico (DVD e Blu-Ray).

Mas a parceria entre David Lynch e os Duran Duran, iniciada precisamente com este “Unstaged”, não se esgotou aqui. E quando, nesse mesmo 2011, surgiu em vinil uma edição (limitada e numerada) do single “Girl Panic!” (canção do álbum “All You Need Is Now”), uma surpresa surgia no lado B na forma de uma remistura assinada nada pelo realizador norte-americano que, sobretudo após “Inland Empire”, tinha a construção da sua obra sobretudo focada nas artes plásticas (um reencontro com uma paixão original) e a música. Canção co-assinada pelos Duran Duran, o guitarrista Dom Brown (que há anos os acompanha) e o produtor Mark Ronson, “Girl Panic!” Foi escolhida como segundo single do álbum que iniciara recentemente uma nova etapa na vida do grupo que se revelaria inclusivamente uma das mais criativas do seu percurso. A abordagem de David Lynch procura um caminho distante da luminosidade da canção original, acentuando tons de mistério, libertando espaço em torno da voz e revelando, afinal, outros caminhos… Afinal, nada senão o que a sua visão sempre havia levado aos ecrãs de cinema. Disponível no lado B deste single de 7 polegadas, lançado por ocasião do Record Store Day, a remistura de David Lynch está ainda incluída numa edição muito limitada que a Vinyl Factory criou do álbum “All You Need Is Now”, no formato de LP quádruplo em vinil. Há no Discogs uma cópia à venda por… 1999,96 euros. Pois… 

“Girl Panic” teve direito a teledisco, mas a realização foi assinada por Jonas Akerlund. O teledisco foi uma superprodução rodada no Hotel Savoy, em Londres, contando com as modelos Cindy Crawford, Helena Christensen, Yasmin Le Bon, Eva Herzigova e Naomi Campbell, assumindo elas a pele dos músicos da banda. 



 Quanto à David Lynch remix podem escutar aqui:




Elegância e pop: Quando os Pet Shop Boys trabalharam com Liza Minelli

 O final da década de 80 e a alvorada dos 90 assistiu a alguns episódios de reencontros de vozes veteranas com figuras da linha de novas gerações da cultura pop. Mas, ao invés de uma remistura de “Downtown” de Petula Clarke ou de um reencontro pontual com Tammy Wynette (com os KLF), o panorama pop teve com os Pet shop Boys epicentros para colaborações mais frutuosas. E, de facto, depois de um dueto em “What Have I Done to Deserve This” (1987), Dusty Springfield gravou em 1990 um álbum com o duo que, um ano antes, revelava outra nova frente de trabalho com outra voz veterana: Liza Minelli.

A ideia de uma colaboração entre Liza Minelli e os Pet shop Boys partiu da vontade da cantora que, com um novo contrato que a colocava a bordo da Epic Records, deu a saber que gostaria de experimentar um projeto na área da música pop. Tudo acontece numa etapa de consagração mundial dos Pet Shop Boys, então a viver aquela à qual a imprensa britânica chamaria depois a sua “fase imperial”. É por essa altura que Lisa escuta “Rent”, canção incluída no álbum “Actually” dos Pet shop Boys, abrindo-se então uma rota de curiosidade que a ela junta logo depois Neil Tennant e Chris Lowe, que aceitam o desafio não apenas de produzir o disco (na verdade em parceria com Julian Mendelssohn) mas de compor novas canções para a sua voz.

Nasce assim “Results”, disco que cruza de facto os universos de ambos os protagonistas, aliando um saber “clássico” e teatral na interpretação vocal à visão pop luminosa de uma das mais inspiradas forças que a pop viu nascer nos anos 80. Para a voz de Liza Minelli, além de um novo arranjo de “Rent” e também de “Tonight Is Forever” (vindo do álbum de estreia dos Pet shop Boys), Neil Tennant e Chris Lowe criaram de raiz os novos “Don’t Drop Bombs”, “So Sorry I Said”, “I Want You Now”, “If There Was Love” e “I Can’t Say Goodnight”, que fazem o grosso de um alinhamento no qual houve ainda espaço para revistar o mestre Steve Sondheim (em “Losing My Mind”, original do musical “Follies”, de 1971, que de resto deu a “Results” o seu single de apresentação), assim como uma canção recente de Tanita Tikaram (“Twist In My Sobriety”) e o universo do disco sound, neste caso revistando “Love Pains”, originalmente cantada por Yvonne Elliman em 1979 (e entretanto recriada, também em 1989, por Hazell Dean). 

“Results” foi o primeiro álbum de estúdio de Liza Minelli em 12 anos (sucessor, portanto, de “Tropical Nights”, de 1977), surgindo na sua discografia após uma gravação ao vivo, de recorte mais clássico, em “At Carnegie Hall” (1987), onde abordara songbooks sobretudo ligados ao teatro musical. Apesar do seu nome dominar a capa, o álbum não esconde a presença dos Pet Shop Boys, revelando os arranjos uma sintonia para com os caminhos que a dupla então trilhava nos seus próprios discos, inclusivamente nos momentos em que se abre espaço à presença de uma orquestra ou no episódio de travo mais jazzy que fecha o alinhamento, em “I Can’t Say Goodnight”. Apesar do sucesso obtido no Reino Unido (onde três dos quatro singles extraídos do álbum chegaram mesmo a figurar no respetivo top), “Results” foi um episódio pop único na obra de Liza Minelli. Os Pet Shop Boys editaram, depois, como lado B, uma maquete (com a voz de Neil Tennant) de “So Sorry I Said”. 




John Williams “A Guerra das Estrelas” (1977)

 

Natural de Nova Iorque, onde nasceu em 1932, John Williams já fazia música para cinema desde finais dos anos 50 e tinha já dois Oscares e uma coleção de nomeações quando, em 1977, dois filmes em que colaborou fizeram história em vários sentidos. Por um lado tanto Star Wars de George Lucas (que entre nós estreou como A Guerra das Estrelas) como Encontros Imediatos de Terceiro Grau de Steven Spielberg, elevaram o cinema de ficção científica a novos patamares tanto na produção como na capacidade em chegar a grandes plateias globais. Por outro ambos levaram a música de John Williams a um estatuto planetário, fixando ambas na memória coletiva e inscrevendo-as como peças de referência na história da cultura popular.

Criada segundo um pensamento clássico, usando uma grande orquestra, cruzando heranças de várias escolas (desde o romantismo às visões de grandes criadores de música para cinema do século XX), usando leitmotivs para criar ligações evidentes com personagens ou ambientes específicos, a banda sonora de A Guerra das Estrelas foi uma das várias expressões de grande adesão que o filme conseguiu criar para além da experiência na sala de cinema.

A fanfarra de abertura cruzou, entretanto, os nove episódios da saga central, conquistando um espaço de longevidade na história do cinema que tem como paralelo poucas outras criações musicais (como o tema que abre os filmes da série James Bond). Os temas de Luke e Leia respiraram igualmente para além dos instantes em que ali nasceram, definindo de certa forma peças centrais na caracterização da história de todo o universo Star Wars. A sequência final, Throne Room, sublinha a dimensão épica que desenha toda a banda sonora (bem como as imagens). E em Imperial Attack estão já elementos da Imperial March que só seria escutada na sua forma definitiva em O Império Contra-Ataca.

Além desta dimensão sinfonista a banda sonora abre um instante de surpresa maior nos tons retro jazzísticos (piscando olho à música dos anos 20 do século XX, mas com arranjo com sabores diferenciadores, nomeadamente na presença de uma steel band) em Cantina Band, que se tornaria outro dos episódios mais vezes lembrados deste filme.

A edição original em Portugal apresentava a música no formato de um LP duplo, com o título traduzido para português na capa. 




ROCK ART


 

DJABE - BEFORE

 

 Djabe - 2022 - Before

Before
Could Have Been

Stars And Moonbeams
Teen Days

Tale
Silent Travelers
Franciska
Central European Time
Hurdy Minute
Che Mysterious Tower

Walking On Hot Asphalt
Dawn
Started Here
Mist
After





THE ROME PRO(G)JECT - V - COMPENDIUM OF A LIFETIME

 

Vincenzo Ricca 's The Rome Pro(g)ject - 2022 - V - Compendium Of A Lifetime

V 2:40
Compendium Of A Lifetime 13:45
Vesuvius 3:13
The Last Night In The World    5:16
Have Caesar! 5:30
Morituri Te Salutant 3:40
Gladiatores    5:15
Have Caesar! (Reprise) 3:23
Bonus Track   
Exegi Monvmentvm 2021 8:22
 

Destaque

Eric Holm - Andøya (2014)

  Sons massivos e reverberantes do produtor britânico Eric Holm. Ritmos estrondosos e drones carregados de estática ecoando por uma vasta ex...