quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Review: Mastodon - Cold Dark Place (2017)

 



Já vou começar esta resenha com uma afirmação que alguns poderão achar polêmica: Cold Dark Place, novo EP do Mastodon, é bastante superior ao disco mais recente do quarteto norte-americano, Emperor of Sand. Esta é a minha opinião, e ela talvez não seja igual a sua.

O disco possui apenas quatro músicas - “North Side Star”, “Blue Walsh”, “Toe to Toes” e “Cold Dark Place” - e foi produzido por Nick Raskulinecz e Brendan O’Brien. Três das músicas vem das sessões que geraram o álbum Once More ‘Round the Sun (2014), enquanto “Toe to Toes” é fruto das gravações de Emperor of Sand, lançado no final de março.

O que torna Cold Dark Place superior a Emperor of Sand é a variedade de caminhos que o Mastodon tomou neste EP, experimentando sonoridades e soando muito mais aventureiro do que no seu mais recente disco de estúdio. Desde o início achei Emperor of Sand muito monocromático, com uma sonoridade que às vezes me soou cansativa. Isso não acontece aqui. Claro que o fato de termos apenas quatro músicas ao invés de onze contribui, mas sempre preferi o lado mais viajante e psicodélico da banda.

É claro que Cold Dark Place não é uma obra tão fora da curva quanto Crack the Skye (2009), mas apresenta uma sadia variedade instrumental que o torna bastante especial. As influências psicodélicas permeiam todo o disco, mas sem nunca tornarem a obra algo impenetrável. A banda sabe como revesti-las com uma atraente camada pop, o que torna tudo muito acessível e palatável já na primeira audição.

A estrela aqui é Brent Hinds. O vocalista e guitarrista dá o tom para onde seus companheiros de banda devem seguir, assumindo o protagonismo e levando o quarteto a um nível altíssimo. Inovador por natureza, Hinds soa mals solto do que nunca em Cold Dark Place. E ganha os luxuosos vocais de Troy Sanders e Brann Dailor como companhia, em variações que colocam músicas como "Blue Walsh" e “North Side Star” nas alturas. E quando canta sozinho faz algo absolutamente incrível como “Toe to Toes”, cheia de variações que mostram toda a sua versatilidade.

Apesar de curto, Cold Dark Place é um dos melhores momentos do Mastodon nos últimos anos. Espero que a banda retome essa atmosfera mais psicodélica e experimental nos próximos discos, já que é inegável que os caras conseguem se sair muitíssimo bem quando exploram esse caminho.






Review: Vuur - In This Moment We Are Free: Cities (2017)

 



O Vuur marca o retorno de Anneke van Giersbergen ao metal. Não que ela tenha se afastado do gênero, vide os discos que gravou ao lado de Devin Townsend, porém a banda é a primeira a contar com a liderança de Anneke a explorar o peso desde que ela deixou o The Gathering.

Mais de dez anos depois, a cantora está ao lado de um grupo formado totalmente por músicos holandeses, sendo eles Jord Otto (guitarra), Ferry Duijsens (guitarra), Johan van Stratrum (baixo) e Ed Warby (bateria). Além desses nomes, Anneke contou com a parceria de Mark Holcomb (guitarrista do Peryphery), Esa Holopainen (guitarrista do Amorphis) e Daniel Cardoso (multi-instrumentista, integrante do Anathema) na composição das músicas. Fechando, a produção deste primeiro disco foi assinada por Joost van den Broek, que também participou do processo de composição.

In This Moment We Are Free - Cities é o disco de estreia do Vuur e será lançado mundialmente no próximo dia 20 de outubro. O álbum sairá no Brasil pela Hellion Records algumas semanas mais tarde. Trata-se de um trabalho meio conceitual, com onze músicas que falam sobre liberdade e sua relação com diferentes cidades ao redor do planeta. As letras relatam as experiências e sensações de Anneke ao passar por estas metrópoles, incluindo o Rio de Janeiro em “Freedom - Rio”.

Musicalmente, o que temos é um metal com uma sutil pegada progressiva e abordagem bastante contemporânea. Os vocais de Anneke são o destaque óbvio, como não poderia deixar de ser. Apenas para comparação, há uma certa similaridade com o que Tarja Turunen vem fazendo em seus discos mais recentes, porém com bem menos vozes operísticas. O peso é constante e traz consigo um excepcional trabalho de guitarras, outro ponto que salta aos ouvidos durante a audição do álbum.

Alguns reviews gringos apontaram o fato de que o tracklist é bastante homogêneo e apresenta poucas variações. Isso realmente acontece, mas não chega a ser um problema, pelo menos no meu modo de vista. Gostei bastante do trabalho de composição, há uma proliferação de canções com andamento moderado e sempre calçadas em bons riffs, o que me agradou. Além disso, o Vuur ainda trilha caminhos mais calmos e contemplativos, e o principal exemplo dessa faceta é “Freedom - Rio”, uma linda canção que é um dos melhores momentos de In This Moment We Are Free. Na mesma linha, “Valley of the Diamonds - Mexico City” e “Reunite! - Paris” também diminuem o ritmo e andam por caminhos mais suaves.

Talvez o ponto que tenha levado alguns escribas norte-americanos e europeus a considerarem o disco apenas mediano seja justamente o vocal de Anneke. Ainda que isso possa parecer estranho, o fato é que a holandesa, reconhecidamente uma das mais belas vozes femininas do metal, não apresenta muitas variações não só no modo de cantar mas também nas próprias linhas vocais que cria ao longo do disco. Enquanto o instrumental vem com ideias diferentes a cada canção, Anneke parece repetir as mesmas soluções em diversos momentos do disco, e isso incomoda um pouco.

Entretanto, In This Moment We Are Free - Cities é uma boa estreia e mostra uma banda com enorme potencial para gravar discos ainda mais fortes no futuro. Este primeiro álbum vale a audição, e os próximos certamente valerão ainda mais.







Review: A Olívia - Jardineiros de Concreto (2017)

 



A Olívia é uma banda formada em São Paulo em 2013 e que conta com Luis Vidal (vocal e guitarra), Mateus Albino (guitarra), João Carvalho (baixo) e Murilo Fedele (bateria). A proposta do quarteto é tocar rock, ideia que o primeiro disco, Jardineiros de Concreto, entrega com sucesso.

São onze faixas que apresentam um trabalho de composição bem resolvido, resultando em canções sem excessos e momentos desnecessários. O grupo coloca influências brasileiras em sua sonoridade, mas sem cair na armadilha de batucadas e instrumentações exóticas. “Arruda" é um bom exemplo disso, onde a banda explora a riqueza musical do nosso país, mas sem exagerar na dose.

De modo geral, dá pra classificar o som d’A Olívia como indie rock, porém a banda não traz o ar pedante da maioria dos nomes do estilo. Os caras não querem revolucionar nada, apenas almejam fazer um som. E esse ar despretensioso acaba sendo um dos maiores acertos em Jardineiros de Concreto.

Entre as faixas, destaque para “Arruda”, “Carne Crua”, “Festa de Merda”, “Briga de Bar” e "Bartolomeu", todas com letras que exploram situações do cotidiano e mostram uma banda com grande potencial e os dois pés fincados no chão.

Boa estreia, vale a audição!






Review: Heavenless - Who Can’t Be Named (2017)

 



Formado em 2015 em Mossoró, no Rio Grande do Norte, o Heavenless está lançando o seu primeiro disco, Who Can’t Be Named. E, sinceramente, se você gosta de metal deveria olhar com atenção para o trio formado por Kalyl Lamarck (vocal e baixo), Vinícius Martins (guitarra) e Vicente Andrade (bateria).

A praia da banda é o thrash metal, agressivo, rápido e cheio de variações. Com influências que vão de nomes clássicos como Exodus e Destruction e passam por ícones conterrâneos como o Sepultura, o Heavenless mostra em seu primeiro disco um trabalho digno de nota.

Who Can’t Be Named traz nove músicas, todas bastante diretas e extremamente agressivas - a exceção é “The Reclaim”, que inicia com um andamento mais calmo e meio doom para a partir de sua metade cair na pancadaria habitual. 

Baseando a sua música nos bons riffs construídos por Vinícius e na criatividade percussiva de Vicente (perceba a inserção das viradas de bateria na linha do que Iggor Cavalera fez no clássico Roots, por exemplo), o Heavenless consegue mostrar uma personalidade própria, ainda que em evidente construção. O vocal de Kalyl soa sempre caótico e amedrontador, característica muito bem-vinda em uma banda com a proposta musical do trio. Percebe-se uma certa influência do black metal norueguês em algumas passagens de guitarras, o que dá um toque ainda mais macabro à música do Heavenless.

Distante dos principais centros consumidores de heavy metal do Brasil, o Heavenless mostra um trabalho sólido e muito competente, com força para evoluir muito e que, mesmo assim, já deixa clara a capacidade criativa do trio potiguar.

Se você é fã de thrash metal e quer conhecer uma boa banda nacional do estilo, vai curtir pra caramba o trabalho do Heavenless.




Beggars Opera - Pathfinder

 



Este é um dos dois melhores álbuns que o Beggasr Opera fez. Às vezes me lembra Deep Purple e outras vezes Caravan ou Camel. A faixa de abertura, "Hobo", é mais um número de rock comercial, depois um ótimo cover de "Macarthur Park", onde a versão do Beggar's Opera brilha e parece ser o principal destaque do tecladista Alan Park, a faixa-título é um grande destaque e "From Shark To Haggis", onde a primeira parte tem uma sensação sinistra, mas monótona, e a segunda parte consiste mais em uma série de danças de rock. A única parte decepcionante do álbum é seu clímax: a última faixa começa bem, mas descamba para uma execução furiosa e sem objetivo.

Ouvi isso rapidamente e não resistiu ao teste do tempo.

Pathfinder me parece uma produção muito sugestiva e uma obra injustamente desvalorizada, então, para lhe fazer justiça, vou resgatá-la do esquecimento e dar-lhe o valor que ela merece, porque me parece uma obra digna de ser considerada dentro de tudo o que se geria naquela época; Nos remotos anos 70 muitas bandas começaram a se consolidar e mergulhar nas ondas progressivas, Beggars Opera começou sua jornada por essas planícies com ACT ONE um álbum poderoso que adaptava peças clássicas a pastiches de prog rock conseguindo que toda aquela essência explodisse de uma forma fabulosa, era interessante e emocionante ouvir esse álbum. Algum tempo depois, com um terceiro lançamento (Pathfinder), a banda optou por uma postura mais "pesada" dentro do que queria mostrar, essa pretensão progressiva não era mais perceptível mas o som se mantinha em forma e isso lhe dava um toque ainda mais especial, era um álbum mais simples mas efetivo e cada música dentro do que dava conseguia conectar bem com o ouvinte e isso vale a pena valorizar e reconhecer. A Beggars Opera sempre soube estar no mesmo nível.

O LP teve a graça de se desdobrar e virar um mega pôster

Minhas impressões com o Pathfinder sempre foram de vê-lo como bom, o álbum nunca me passou uma sensação ruim ou pareceu algo chato, mesmo tendo perdido um pouco daqueles ares pomposos - isso já era perceptível desde o começo do segundo álbum - ainda mantinha a centelha de magia, por isso sempre considerei esse álbum mais CULT que o Act One, na verdade esse é o verdadeiro álbum CULT da banda porque o Act One supera tudo e se projeta como uma VERDADEIRA OBRA-PRIMA. Voltando ao álbum, posso dizer que o considero muito correto, digerível, envolvente, encantador e que não decai nem perde a graça, as composições estão em um nível médio e conseguem ter um bom ritmo, músicas como From Shark to Haggis ou The Witch são obras brilhantes da época e peças incríveis de prog rock. A execução vocal está como sempre no topo, nem muito forçada, nem muito extravagante, embora haja coros e elementos que fazem de tudo um espetáculo a ser considerado, músicas como Madame Doubtfire são experiências deliciosas cheias de toda aquela onda borbulhante da Beggars Opera com coros, risos e progressões de poder, tudo uma loucura que chega a 1000. A base instrumental aqui permanece impecável, o som é refinado, poderoso e carrega bem, talvez no nível de estruturas e composições eles sejam um pouco fracos, mas podem ser bem manuseados a ponto de o ritmo recompensá-lo bastante, cada músico sabe como carregar bem o swing, e como sempre aqui os teclados são peças-chave e o melhor suporte, pois não decaem, os outros instrumentos se encaixam bem e conseguem criar peças muito dinâmicas e esse é o valor agregado. Um álbum muito poderoso e encorpado, um pouco distante da pompa progressiva, mas 100% eficaz.

Há aqueles que descrevem este álbum como um absurdo, outros o consideram o melhor álbum da banda, e outros simplesmente o apreciam em um nível padrão. De minha parte, considero este álbum como uma nova entrada em um campo de evolução onde pouco se perde, mas muito se ganha . Estou entre aqueles que consideram o trabalho um trabalho padrão com potencial porque é o que é, um ÁLBUM CULT de ponta a ponta.

Mini fatos:
*Este é o último álbum do Beggar's Opera a apresentar Martin Griffiths (vocalista) e Raymond Wilson (baterista), pois Martin Griffiths (depois que o álbum foi lançado) teve uma hérnia em um show enquanto eles tocavam Poet and Peasant, e decidiu deixar o grupo. E Raymond Wilson também saiu mais tarde.
 
*No álbum, eles fizeram um cover de uma música escrita por Jimmy Webb, mas tocada por Richard Harris, MacCarthur Park, e é a faixa mais longa do álbum, a música dura oito minutos e vinte segundos.
 
*Beggar's Opera para este álbum teve um som mais forte, adaptando-se a uma ligeira mudança para Hard rock com mais elementos de música progressiva. Foi gravado em 1970 com músicas calmas e de estilo clássico como MacCArthur Park. Músicas de hard rock como From shark to haggis, Madame Doubtfire e The Witch, e mudanças constantes na tonalidade, ritmo e atmosfera musical como Stretcher, Hobo e Pathfinder.


01. Hobo
02. MacArthur Park
03. The Witch
04. Pathfinder
05. From Shark to Haggis
06. Stretcher
07. Madame Doubtfire      






Socrates - Phos

 




Se você se considera um "conhecedor de heavy prog dos anos 70", pare de elogiar bandas superestimadas e cansativas como Uriah Heep ou Atomic Rooster e grave uma cópia desta obra-prima!... Uma verdadeira obra-prima do rock clássico!!!!...

Se eu tivesse que escolher um disco para representar a cena de rock grega dos anos 70, esse disco seria "Phos"... Isso é o que eu chamo de "art rock"...

Hoje abordamos um álbum CULT que tem um peso histórico na Grécia, já que o "trinômio do poder" formado por Antonis Tourkogiorgis, John Spathas e George Tradalidi se une ao mítico Vangelis para dar vida a uma criatura chamada Phos (terceiro álbum de "Socrates Drank the Conium", também conhecido naquela época como Sócrates), o que é uma produção muito marcante. Vangelis participou aqui como um apoio importante dentro das estruturas do álbum. Ele se torna produtor, percussionista, tecladista e compositor da música "Every Dream Comes To An End", portanto a presença do músico consegue produzir um plus interessante dentro da performance do álbum. O Sócrates já vinha fazendo seus "truques" desde os tempos do "germe psicodélico" então a banda tinha um conceito muito amplo dentro das posturas ácidas, das abordagens lançadas em direção ao Rock/Blues e também transitava por muitos terrenos, mas com o Phos a nova proposta consegue ser uma aproximação a um tipo de rock progressivo muito efetivo ainda que às vezes um tanto simplista, porém as contribuições de Vangelis e a efetividade da banda conseguem fazer uma boa alquimia e nela se pode apreciar uma aura muito positiva. O álbum faz muito bem o seu trabalho, e te envolve com o que oferece e de certa forma se torna uma boa experiência. Talvez ele erre em algumas coisas e não se projete de forma mais radical ou pesada, mas sua performance tem algo de mágico.

Na minha opinião, é um álbum delicado que traz sonoridades muito próximas do folk, da música eletrônica antiga e da música sinfônica, por isso o ecletismo é absoluto e o álbum se torna uma obra de caráter camaleônico que de certa forma é eficaz com sua proposta. Sem ir muito longe e sem ser uma obra-prima, ela alcança um bom status, por isso quem escuta Phos poderá ter uma boa viagem, já que ela não fica lenta, nem piegas ou cafona. É uma obra de boa qualidade que captura paisagens sonoras e melancolia. Os arranjos estão à altura e a performance instrumental é perfeita. Vangelis se projeta muito bem com o que toca, cada instrumento vibra com ele e de alguma forma consegue dar personalidade ao álbum. Sem dúvidas, este é um daqueles álbuns "estranhos e obscuros" que merecem ser ouvidos com a devida atenção de vez em quando. Não é uma obra para todos, mas aqueles que conseguirem chegar perto de Phos terão algo para lembrar em suas mãos. Até mais.

Minidados:
*Socrates, assim como Aphrodite's Child, gravou para Vertigo e Polygram, e foi provavelmente lá que a banda entrou em contato com Vangelis. Mais tarde, devido ao destino, ambos se tornariam parte de Phos.

*Naqueles anos (75/76) o estúdio de gravação de Vangelis ainda estava sendo construído, então o músico reservou um tempo no Orange Studios, o estúdio era pequeno, mas tinha uma localização central. Foi lá que ele conheceu Keith Spencer-Allen, um engenheiro de som no Orange Studios que mais tarde se tornaria seu assistente no Nemo Studios (centro de gravação de Vangelis). Vangelis não só produziu este álbum no Orange Studios, mas também um álbum com a cantora grega Mariangela intitulado simplesmente Mariangela.

*Embora o álbum tenha sido gravado em 1975, o LP foi lançado pela primeira vez em 1976 na Grécia e nos EUA. A capa dos EUA tinha uma capa amarela com uma imagem da cabeça de uma estátua, enquanto a grega tinha uma capa diferente e simples, era uma colagem de fotos dos três membros da banda. Nenhum single foi lançado. O primeiro CD foi lançado na Grécia em 1993 pela Vertigo e mais tarde relançado na Coreia do Sul pela Si-Wan Records. Ambos têm a capa de colagem. Em 1998, a Vertigo relançou uma edição remasterizada do álbum, apresentando a arte da capa da estátua. Um single do álbum aparentemente também foi lançado na Grécia.


01. Starvation
02. Queen of the universe
03. Every dream comes to an end
04. The bride
05. Killer
06. A day in heaven
07. Time of pain
08. Mountains





Pappo's Blues - Triangulo



O quinto álbum de blues de Pappo, "Triángulo", é uma coleção de hard rock dark e baseada em blues, incluindo seis faixas, ou cinco, se considerarmos ambas as partes do pretensiosamente intitulado "Hubo distancias en un curioso baile matinal" como uma única música (o que realmente é, é claro). As capas frontal e traseira do álbum (incluindo um texto pseudofilosófico e hermético sobre triângulos) dão ao disco uma aura enigmática, que é confirmada com a estrutura impenetrável, tipo jam band, da maioria das músicas, e coroada por "El buzo", um instrumental acústico com vocalizações fantasmagóricas e tintura barroca. "Triángulo" provavelmente não é o melhor álbum de Pappo, mas definitivamente é um dos fascículos mais intrigantes de sua carreira singular, configurando um cenário quase astral ao longo de seus 34 minutos, noturnos, previamente visitados.

A própria demonstração de Pappoland. Inacessível para o usuário de blues, isso é magia negra Pappo!!!

No final de 1974, Pappo's Blues entrou em estúdio para gravar uma aventura de ritmo acelerado chamada "Triángulo" . Este quinto álbum da banda abraça uma postura um tanto experimental, na qual você pode apreciar os traços de seus trabalhos anteriores, MAS agora seu Hard Blues apresenta uma leve atmosfera progressiva manchada com psicodelia. Essa nova postura da banda me parece apropriada para a época; era natural buscar aquelas pegadas vanguardistas e experimentais/improvisadas. No Triangulo você pode apreciar 3 pontos importantes: 1) mudanças de ritmos , 2) engenhocas psicodélicas e 3) improvisação ácida . Com esses 3 pontos o álbum ressoa bastante e adquire uma nova dimensão, diferentemente de seus trabalhos anteriores Triangulo soa mais aventureiro e sua evolução e maturidade são perceptíveis, aqui se aprecia um conceito mais puxado para o som PESADO e embora eu possa estar errado, sinto que este trabalho está à frente de seu tempo (Pappo sempre esteve à frente de seu tempo) portanto adquire um valor agregado que o catapulta para se tornar uma obra CULT.

Triangulo foi um álbum que chegou até mim em um estágio bastante "frutífero" em minhas incursões musicais, talvez   por isso a magia que encontrei aqui tenha sido produto de um prelúdio chamado "PAPPO'S BLUES: 71-75" e é por isso que me apaixonei por essa performance poderosa e ácida, é um álbum mais pesado e menos inclinado ao lado do Blues; Aqui, abrem-se caminhos pelas veias da psicodelia pesada e surgem alguns lampejos que cheiram a futuro. Como eu disse, a performance deles é mais focada em uma postura mais psicodélica, embora ecos do blues estejam presentes e de certa forma dão bastante substância ao álbum. A obra em si é muito emocionante e repleta de toda a lisergia da época. Este álbum é, sem dúvida, uma odisseia e um rico beta para mergulhar nos fundamentos dos ecos do futuro. Minhas impressões são boas, é uma boa experiência, e a sessão não quebra muito, talvez o final do álbum seja um pouco pesado, sua linha psicodélica e sua proposta insurgente saturam, mas no resto é suportável, músicas como Malas Compañías ou Mírese Adentro são grandes clássicos que fazem da viagem uma experiência bastante agradável e prazerosa, sem dúvida o melhor do álbum para mim. Um álbum altamente recomendado, pois apresenta boas mudanças de ritmo, guitarras afiadas e uma ótima performance instrumental. Até mais.  

Minidados:
*Para Triangulo, Daniel Eduardo "Fanta" Beaudoux estaria no baixo e Eduardo Garbagnati no bumbo duplo.

*Após terminar as gravações, Pappo viajou de volta para a Inglaterra, onde ficou por dois anos. Em Londres, ele trabalhou como lavador de vidros e descobriu um porão que servia como espaço de ensaio. Embora não tivesse dinheiro para alugá-lo, ele ficou depois de concordar com o proprietário em manter o local. Lá ele testemunhou a formação do Motörhead.

01.Malas compañías
02.Nervioso visitante
03.Mírese adentro
04.Hubo distancias en un curioso baile matinal (Parte I)
05.Hubo distancias en un curioso baile matinal (Parte II
06.Buzo







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