Qualquer setubalense conhece o nome de António Severino. Alguns porque assistiram aos seus concertos e outros, mais novos, porque ouviram falar no fadista lá em casa. O setubalense, agora com 78 anos, foi um dos maiores fenómenos da sua geração.
Durante vários anos, foi um dos nomes mais pedidos para passar nas rádios locais. Gravou mais de 300 temas, entre eles “Abraço a Setúbal”, “Senhor Natal”, “ Montanha Azul”, e atuou nas melhores salas do País. O seu sucesso entre a comunidade portuguesa era tão grande que foi convidado para tocar em vários países, como França, Holanda ou Estado Unidos.
A New in Setúbal falou com os músicos Vítor Pereira (guitarra clássica), Custódio Magalhães (guitarra portuguesa) e Vítor Pereira Júnior (viola baixo), que acompanharam o percurso do fadista ao longo dos anos e que têm várias histórias para contar.
Severino nasceu em Setúbal e morou no bairro Afonso Costa. A sua família não tinha ligações ao fado, mas tanto a mãe como o seu irmão Lenito Abreu chegaram a cantar juntos e até foram a um programa de televisão. O fadista começou a cantar desde cedo e fez parte de alguns conjuntos da cidade, como o Vera Cruz Setubalense, onde era vocalista. “Recordo-me dele ir aos bailes cantar supostamente para as pessoas dançarem ao som da sua música. Mas o que acabava por acontecer é que elas paravam de dançar só para ouvi-lo”, conta Vítor Pereira, de 71 anos.
Já Custódio Magalhães, 69 anos, refere que “António Severino não era um indivíduo qualquer em termos de instrução. Chegou mesmo a tirar um curso comercial e ficou com um grau muito superior à sua classe naquela época”. O fadista dividiu sempre os palcos com a sua profissão de distribuidor de gás na empresa Gazcidla, daí a sua famosa alcunha de “miúdo do gás”.
A juntar ao fado, a outra grande paixão era o atletismo. “O Severino participou em vários campeonatos e ficava sempre bem classificado. Um traço característico que me lembro é que quando ia correr, usava um lenço na cabeça atado com quatro nós. E nos próprios concursos da empresa do gás, que consistiam em transportar duas bilhas em cada mão na maior distância possível, ele também ganhava quase sempre”, lembra Vítor Pereira.
A maioria dos temas do seu repertório eram dedicados às comunidades piscatórias, como é o caso de “Abraço a Setúbal”, daí que os seus trabalhos se tenham transformado em grandes sucessos no litoral do País, com destaque para Peniche. Em algumas entrevistas a jornais locais, António Severino referiu que gostava de ver os barcos chegar ao cais da lota, e que naquele momento sentia que lhe crescia uma “alma nova”.
Segundo os músicos, a canção “Senhor Natal” foi o tema que deu mais visibilidade a António Severino, que teve sempre o apoio do autor e produtor José Crispim, entre outros compositores e letristas.
Num dos concertos no Coliseu dos Recreios, segundo o guitarrista Vítor Pereira: “O Severino começou a cantar perto das oito da manhã e mal começou a atuação levantou o pavilhão inteiro. Quando o apresentador José La Feria, irmão do Filipe La Feria, ia dar por terminado o espetáculo, houve pessoal a atirar garrafas de água para o palco e a gritar para o Severino voltar a cantar um último fado”.
Antes dos concertos, António Severino gostava de fazer um pré-ensaio mais informal. “Ele costumava dizer que estava rouco antes do espetáculo, mas bastava entrar e receber um elogio do público, que ganhava logo aquela injeção de energia que precisava para continuar”, afirma Custódio Magalhães.
Vítor Pereira Júnior, 41 anos, começou a tocar mais tarde com António Severino, mas diz que foi “um grande cantor e dos mais famosos entre as comunidades piscatórias”, tendo recebido uma medalha de honra da cidade de Peniche, Setúbal e Porto.
O último concerto que António Severino deu foi há cerca de três anos, em Peniche. Desde essa altura que se afastou definitivamente dos palcos por motivos de saúde. Tem dois filhos e atualmente está a morar perto de Palmela.
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