África é um continente com vários tipos de diversidade étnica, cultural e linguística. Uma descrição da música africana é quantidade de variedade de expressões. Existem semelhanças regionais entre grupos desiguais, assim como as tendências que são constantes ao longo do tempo do continente africano.
A música da África é tão ampla e variada como as muitas regiões da África.
Quem estudou nações de candomblé na Bahia, sabe que ele é fruto de descendentes de distintas nações e grupos étnicos africanos, quanto ao seu patrimônio musical específico. Reunindo dados históricos, etnográficos, linguísticos e confrontando-os com respeito à pertinência relativa a sua origem e às interpenetrações de civilizações, revela-se a existência de permanências e divergências, bem como de um número considerável de empréstimos e influências recíprocas tanto no plano etnográfico como no estritamente musical.
Sinteticamente, encontra-se 20 toques no candomblé: 8 são originários da nação Ketu; 7 originários da nação Jêje; 4 da nação Angola e um total de 15 empréstimos recíprocos. Análise similar tem sido feita nos grandes grupos etno-linguísticos africanos, bem como na música popular da África, correlacionando esta com a denominada música negra ao redor do mundo. É uma questão cultural, logo, os gêneros musicais que mais aprecio têm uma raiz africana: jazz, blues, rhythm and blues, rock, soul, reggae, dub, samba, bossa-nova, etc.
A África é um grande continente e as suas regiões e nações possuem distintas tradições musicais. A música do norte da África tem uma história diferente da musica da África Sub-saariana.
Norte de África é a sede da cultura mediterrânica que construiu o Egito e Cartago, antes de ser governado sucessivamente por gregos, romanos e godos e, de tornar-se, em seguida, o ocidente (Magrebe) do mundo árabe. Como os gêneros musicais do Vale do Nilo e do Nordeste africano, a sua música tem laços estreitos com música do Oriente Médio. Sugiro pesquisar no Spotify por palavra-chave minha playlist denominada “Música do Oriente Médio“.
África Oriental, Madagascar e ilhas do Oceano Índico são áreas ligeiramente influenciadas pela música árabe e também pela música da Índia, da Indonésia e da Polinésia. No entanto, nas populações indígenas as tradições musicais são principalmente em sua maioria típica da África subsaariana de línguas nigero-congolesas.
África do Sul, Central e Ocidental são regiões onde caracterizam-se também na ampla tradição musical subsaariana, mas também possuem influências vindas da Europa Ocidental e América do Norte. A música e as formas de dança da diáspora africana, incluindo a música afro-americana e muitos gêneros afro-caribenhos como soca, calipso, zouk (musica antilhana) e gêneros musicais latino-americanos como a salsa, rumba, e outros derivados do clave-ritmo (cubano), originaram-se com diversos graus de variação na música dos escravos africanos. Por sua vez, esses gêneros também influenciaram a música popular africana contemporânea.
Glossário dos Estilos Musicais Africanos:
Afrobeat é uma combinação de jazz americano, funk e batida [beat] nigeriano. Ele foi criado pelo artista o mais militante da África, o falecido Fela Ransome Anikulapo, da Nigéria, no início dos anos 70. Era justamente a época em que o rock britânico e soul music americana estavam dominando a maior parte da cena musical da África. Fela Kuti introduziu sua marca, com estilo próprio, para deter a invasão musical britânica.
Afropop é como certas pessoas chamam alguns dos novos gêneros da música popular da África que é temperada com elementos de ritmos africanos e ocidentais. Uma razão para os músicos dos países ocidentais terem sido capazes de reconhecer um pouco a influência de música africana é que, nos anos 70 e 80, muitos artistas e músicos africanos migraram para a Europa e a América a fim de seguir uma carreira profissional internacional. Ao fazê-lo, eles reintroduziram na World Music elementos da música africana, na sua forma contemporânea, com muitas variações e estilos. Utilizando toda uma nova tecnologia de gravação disponível para eles, foram capazes de criar novos sons.
Bikutsi: a adição tardia à música de dança popular em Camarões do estilo criado por cinco músicos desse país africano, na costa do Atlântico, ao reagirem ao estilo zouk de música de dança da Martinica. Esta tinha monopolizado as ondas dos rádios de Camarões, inteiramente, no início dos anos noventa.
Benga Beat é estabelecido pelas guitarras elétricas no som de Quênia, na costa do Índico, identificáveis pela cadência do tambor pesado e da harmonia vocal.
Chimurenga é a música da guerra de libertação do Zimbabwe. É uma mistura da música tradicional mbira com o uso da guitarra elétrica como um instrumento da luta de libertação pelo internacionalmente conhecido artista deste país: Thomas Mapfumo. Recomendo pesquisar esse nome no Spotify.
Fuji Garbage vem da Nigéria. É uma música Yoruba, baseada em tambores, com guitarras, acordeões e tambores falantes.
Jit Jive e True Jit são outros estilos de Zimbábue, popularizada por um grupo de jovens músicos, logo após a independência deste país, no início dos anos oitenta. Os Bhundu Boys foram os primeiros embaixadores desse estilo. Foi criado após a guerra de libertação, quando muitos jovens, que migraram das aldeias para a capital Harare, encontravam-se sem dispor de quaisquer habilidades empregáveis. Então, eles formaram muitas bandas, em toda a cidade, para fins recreativos.
Highlife é a música de salão de baile de Gana e da Nigéria na África Ocidental. Este estilo de música de dança que introduziu pela primeira vez a música popular africana para a Europa e América. Entre os pioneiros estão King Bruce and his Black Beat, E.T. Mensah and his Ramblers Dance Band, Roy Chicago.
Makossa é outro gênero de música camaronês de dança popular “para dançar até cair”. O grande saxofonista Manu Dibango colocou o estilo no mapa com seu som jazzy lendário de “soul [alma] Makossa”, que tornou-se o tema principal da música africana na Europa e na América na década de 70. Há um grande número de artistas camaroneses que executam o novo estilo em suas verdadeiras cores e ritmos africanos, entre eles, o Prince Eyango, Guy Lobe, Charlote Mbango, Eppe & Koum, Moni Bile.
Mbalax que a música contemporânea do Senegal, o som percussivo altamente dominado pelo Sabar (tambor de pele de cabra). Melhor exemplo dessa música é Youssou Ndour, Baaba Mal, Ismael Lo e, ultimamente, muitos recém-chegados à cena da música senegalesa.
Mapouka é a mais recente mania da dança e estilo musical emitido da Cote d’Ivoire, na África ocidental. Originalmente dançado pelas mulheres da alta sociedade, na região sudoeste do país, Mapouka foi colocado em cena de clube popular, no final dos anos 90, por uma nova geração de mulheres jovens que transformaram-no em um estilo de dança erótica. Apesar de ser proibida pelo governo, a Mapouka continua a ser extremamente popular fora do seu país de origem. Um estilo não-tão erótico está sendo dançado por ambos gêneros, isto é, muitos grupos masculinos e femininos, em Cote d’Ivoire.
Mbaquanga é o nome dado à música negra sul-africana para dançar em Soweto. O estilo foi nomeado após uma pesquisa popular entre as pessoas do bairro negro. Serviu como a música da luta de libertação. Alguns artistas para apreciar são os Soul Brothers, Malatini and The Mahottela Queens, Juluka, Soul Ryders. Veja no Netflix o documentário “Música do Mandela”.
Soukous do Congo é a música e o estilo de dança hoje tidos como a mania mais popular em toda a África subsaariana. A música rumba lenta dos anos 50 e 60 desenvolveu-se em um ritmo eletrizante, elevado à oitava, tocada por alguns dos melhores guitarristas da África. O nome vem da palavra francesa “secouer“, que significa “tremer”. Ele foi traduzido para “soukous” nas ruas de Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo. O som nítido da rápidas guitarras e a harmonia vocal da música soukous são irresistíveis. Você pode ficar familiarizado com o som de Papa Wemba, Koffi Olomide, Wenga Music, Soukous Stars, Diblo Dibala, Kanda Bongo Man. Em meados dos anos 90, a música Soukous evoluiu para um novo estilo chamado Ndombolo, que se tornou o principal menu musical em muitas partes da África.
Taarab é a música da ilha temperada de Zanzibar na extrema costa leste da África. O nome taarab deriva da palavra árabe Tariba que significa “inquietação ou agitação”. O estilo reflete inegavelmente a combinação de ambas as raízes árabes e africanas.
Zoblazo é o estilo de dança lento da Costa do Marfim [Côte d’Ivoire] na maior parte da região costeira do país. O principal expoente e criador desse estilo é o extraordinário showman e grande intérprete Meiway.
Fonte: http://www.kubatana.net. Sob Licença Creative Commons.
Leia mais: Samba
Obs.: aprecio, especialmente, Ali Ibrahim “Farka” Touré (Kanau, Mali, 31 de outubro de 1939 – Bamako, 7 de março de 2006). Ele foi um cantor e guitarrista malinês e um dos músicos mais internacionalmente reconhecidos do continente africano. Sua música é amplamente considerada como representando um ponto de intersecção da tradicional música de Mali e o blues. Este último é, historicamente, derivado da primeira como reflete-se nas frequentes citações de Martin Scorsese, caracterizando a tradição de Touré como constituindo “o DNA do blues”.
Como uma excelente introdução à melodiosa sonoridade africana, ouça o ótimo album gravado por Ali “Farka” Touré e o músico norte-americano Ry Cooder, autor da extraordinária trilha sonora de “Paris-Texas“, dirigido pelo diretor alemão Win Wenders. Este é um músico eclético cujas composições musicais vão dos blues ao rock and roll, passando pelo reggae, tex-mex, jazz, country, folk, música instrumental, rhythm and blues e gospel. O característico som da sua guitarra, tem origem na técnica utilizada, designada por slide guitar. Participou do filme A Encruzilhada (1986), onde a maior parte das dedilhadas de Ralph Macchio foram gravadas por ele.
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