Ao terceiro álbum, Melody Prochet traz-nos um trabalho límpido, melódico e impregnado do charme francês, com os habituais toques de psicadelismo
Muita coisa pode mudar em poucos anos. Há uma década, Melody Prochet apresentava-se ao mundo com o nome de Melody’s Echo Chamber e o seu disco de estreia homónimo, com a ajuda do seu então namorado, Kevin Parker, dos Tame Impala. Seguiu-se, em 2008, Bon Voyage, feito na sequência de um acidente que lhe provocou ossos partidos e um aneurisma, ainda que sem lhe retirar o bom humor e a elegância pop. Agora, Prochet já é mãe, mudou-se para os Alpes, e a sua música ganhou um novo fôlego.
O grande trunfo desta francesa sempre foi a utilização das referências certas e uma extrema elegância nos arranjos e na produção, uma certa pop tingida de cores de um suave psicadelismo. E em Emotional Eternal tudo isso está presente, talvez com mais foco e mais coesão que nos registos anteriores.
Tal como Serge Gainsbourg, Prochet cresceu numa curiosa mistura, estudando música clássica e apaixonando-se pela pop, e isso nota-se. Gainsbourg é, aliás, uma referência incontornável a cada esquina deste disco, o que para nós é óptimo. Vê-se na forma de compor e de gravar, no baixo melódico e proeminente, na sagacidade da utilização clássica das cordas, com um dinamismo muito próprio e sempre ao serviço da canção.
O arranque, com “Emotional Eternal” e “Looking Backward” diz-nos logo boa parte do que precisamos de saber, trazendo-nos de imediato o elo com o som dos Tame Impala, na sua fase de transição entre Lonerism e Currents. Depois desses dois primeiros temas em inglês, entra em cena a língua materna de Prochet, na exótica e oriental “Pyramids in the clouds” (todos os temas têm título em inglês, independentemente da língua em que são cantados).
Num disco que é uma delícia de canções pop do início ao fim, destacamos ainda “Alma_The Voyage”, a mais longa de todo o álbum, que representa uma dupla homenagem: à filha de Melody Prochet e, musicalmente, ao mestre Gainsbourg, sensível logo às primeiras notas.
Emotional Eternal podia ser um disco perdido de uns Tame Impala no absoluto feminino; podia ser o filho fortuito de uma aventura de uma noite entre os Air e Gainsbourg, na casa de Jean-Claude Vannier. É sobretudo, um bálsamo de leveza, elegância e óptimas canções pop. Perfeito para este Verão, sim, mas pressentimos que nos continuará a fazer companhia pelo Outono dentro.
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