domingo, 14 de agosto de 2022

Interpol – The Other Side of Make-Believe (2022)


 

Sétimo disco da banda nova-iorquina, The Other Side of Make-Believe é melhor que os anteriores, mas ainda assim distante dos anos de pico dos Interpol.

A pergunta que se impõe é fácil de colocar – quem é que ainda vai ouvir um novo álbum de Interpol em 2022? Trata-se de uma banda com 25 anos de carreira, passaram já 20 anos desde o estrondoso Turn on the Bright Lights e desde 2007 que não faz um longa duração que mereça uma segunda audição. Mas vejamos os números de The Other Side of Make-Believe: a estatística spotifyiana é díspar – se os singles deste disco atingem os 3 milhões, o resto do álbum não chega às 300 mil audições. Em cima disto há a estatística percebida, de quem os viu actuar no Primavera Porto há um par de meses (fonte segura) – pouquíssima gente a vibrar com o seu concerto, mesmo nas alturas das músicas mais arrebatadoras da banda e que, na década passada, seriam cantadas em uníssono por um mar de gente. Sinceramente, foi constrangedor de assistir, mas, verdade seja dita, os Interpol nunca conseguiram criar em palco uma verdadeira ligação com o público, sempre distantes e pouco comunicativos. Ainda assim, o estatuto de banda de culto foi-se mantendo ao longo dos anos, e há que dar a Paul Banks e seus companheiros o devido crédito por manterem a vontade de lutar contra a corrente do tempo e a espuma dos dias.

The Other Side of Make-Believe tem (poucas) boas canções, casos de “Toni”, “Fables” e “Renegade Hearts”. Na primeira, que é em simultâneo o arranque do álbum e primeiro single, Banks partilha a convição de estar “Still in shape / my methods refined” e nós, por momentos (que é como quem diz duas canções), acreditamos que sim. Mas a crença desvanece-se passados uns minutos, a partir da terceira faixa parece tudo desinspirado, sem faísca, sem aquela garra de um “PDA” ou a delicadeza de um “Take You on a Cruise”, temos antes um esparso bolo alimentar insípido onte já foi tudo mastigado e digerido. Ainda assim, pareceu-me mais interessante que o anterior Marauder, para isso contribuindo o dedo do produtor Flood. Mas talvez o problema seja meu e o palato tenha mudado com o passar dos anos. Naturalmente que isso é uma variável a ter em conta na equação.

Apanhei há uns dias uma entrevista onde Banks partilha um certo sentimento de injustiça nesta forma de arte que é a música, onde é obrigatório estar constantemente a tocar as músicas antigas, enquanto que no cinema, na literatura, na pintura, os artistas quando se apresentam mostram apenas o trabalho mais recente. Não obstante ter alguma razão na sua perspectiva, agradar o público é uma parte crucial do métier que escolheu, e apesar da queixa, Banks aceita o seu “destino”. Vive confortável na costa Leste dos Estados Unidos, passeia na Pacific Highway, ou em Cozumel, ou no Panamá, ouve música (na mesma entrevista destacou o recente disco de Kendrick Lamar) e, de quando em vez, reune-se com os seus comparsas para dar concertos e fazer música nova. Vão dizer que faz mal?



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