Noah Lennox voltou aos discos e veio na companhia de Peter Kember. O mesmo é dizer que Reset, o álbum, resulta das mentes criativas de Panda Bear e de Sonic Boom. E resulta airosamente bem.
Comecemos pelas apresentações, apesar de poderem ser escusadas para a maioria de quem nos lê. Dito de forma simplista, Noah Lennox apaixonou-se por uma portuguesa há já alguns anos e resolveu vir viver para Portugal, mais concretamente para Lisboa. Em seguida, perdeu-se de amores pela cidade e pelo Benfica, o que não é de estranhar. Deixou a sua América natal e continua a jogar nesse duplo tabuleiro Animal Collective / Panda Bear. Quanto a Peter Kember, adota o nome de Sonic Boom quando está em modo artista e fundou, com Jason (J Spaceman) Pierce, os míticos Spacemen 3, no início dos anos oitenta. Vive em Sintra, segundo julgamos saber. Já colaborou, por exemplo, com os Stereolab e com os Yo La Tengo, o que não é para todos. Não é a primeira vez que esta dupla trabalha em conjunto, como bem se sabe. Posto isto, vamos ao disco.
Em traços largos, podemos dizer que Reset é talhado para o verão. Não tanto por ser alegre e festivo, muito menos por revelar quaisquer empatias pelos sons dançantes das pirosas festas da periódica silly season. Nada disso, como é óbvio. Vindo que quem vem, tal coisa seria impossível. O que aqui se passa é outra coisa. Reset puxa o filme atrás e dá-nos um banho de nostalgia. A evocação dos anos cinquenta e sessenta é mais que muita e assenta que nem uma luva em qualquer final quente de tarde, numa qualquer praia onde se esteja bem, cantarolando alguns doo-wop, doo-wop de cervejinha na mão e pés na água. É mais ou menos esse o feeling de Reset, embora com os loops e as elegantes texturas que nos habituámos a ouvir nos álbuns de Panda Bear. Há muito mais substância beariana do que dos Spacemen 3 neste álbum. O título, como se percebe pelo que vamos dizendo, resulta bem por ser indicador de uma vontade de ir ao passado, redefinindo e atualizando o som que aqui mais se evoca, o dos Beach Boys, com o seu pop-rock carregado de mar salgado e de ondas para surfar. Tudo isto de forma algo distorcida e bem trabalhada.
“Edge of The Edge” é a grande canção mais orelhuda do álbum. Dá vontade de a trautear durante horas. É mesmo bonita e inocente, parecendo uma canção com décadas de existência, embora com requintes sonoros das coisas atuais. A linha melódica e o coro em tom grave sabem a perfeição. Mas há outras bonitas canções, embora mais introspetivas, como “In My Body” e “Everyday”, esta última tão circular e repetitiva nos seus padrões hipnotizantes. Reset é, como se começa a perceber, um álbum bastante eclético, embora com uma coerência transversal que não escapará ao ouvinte menos atento. Os arranjos levam a isso, como se as nove canções do disco fossem um bem conseguido ramalhete de ritmos e sons concordantes, como se rimassem umas com as outras, mesmo que, por vezes, de maneiras mais esdrúxulas, digamos assim. Nesse sentido, as que nos obrigam a um pouco mais de atenção serão, eventualmente, “Whirlpool” (há algum kraut maroto por ali que sabe muito bem ouvir) e “Everything’s Been Leading To This”, que parece nascida de algum videogame da Atari. É, na nossa opinião, a faixa menos conseguida de Reset, e a que coloca um ponto final aos trinta e oito minutos e meio do disco.
Reset não é Person Pitch, um dos álbuns mais intensos e interessantes feitos na primeira década deste século. Mas também não tinha de ser, convenhamos. Ao artista caberá, essencialmente, inovar, não repetir-se. Por isso, embora exista sobre os discos de Lennox a sombra desse gigante de 2007, Reset soa muito bem, e é mais uma boa parceria com o amigo Kember. Assim venham outras, que nós agradecemos.
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