Morena De Azul
Rui Veloso
Essa morena aí sentada
Não dança mas que pena
Dizem que é complexada
Por ter óculos e ser pequena
Ei morena que é que importa
Não dá mesmo para cismar
És tu que fechas a porta
E não deixas ninguém entrar
Morena de azul
Eu tenho comigo a cura
Se aí ficares até o baile findar
Eu não meço pela altura
Nem pelo alcance do olhar
E quando o nosso olhar se cruzou
Mandei-lhe uma piscadela
E quando o meu solo chegou
Ela soube que era para ela
Morena de azul
Chamam-lhe a roda vinte e quatro
Esses galitos de lata
Mas ela para mim esta noite
Tem a medida exacta
Essa morena tem um quê
Que não se vê aqui de fora
Uma vez que se lá entre
Não se pode vir embora
Morena de azul
NãO Há Estrelas No CéU
Rui Veloso
Não há estrelas no céu a dourar o meu caminho
Por mais amigos que tenha sinto-me sempre sozinho
De que vale ter a chave de casa para entrar
Ter uma nota no bolso pra cigarros e bilhar?
A primavera da vida é bonita de viver
Tão depressa o Sol brilha como a seguir está a chover
Para mim hoje é Janeiro, está um frio de rachar
Parece que o mundo inteiro se uniu pra me tramar!
Passo horas no café, sem saber para onde ir
Tudo à volta é tão feio, só me apetece fugir
Vejo-me à noite ao espelho, o corpo sempre a mudar
De manhã ouço o conselho que o velho tem pra me dar
A primavera da vida é bonita de viver
Tão depressa o Sol brilha como a seguir está a chover
Para mim hoje é Janeiro, está um frio de rachar
Parece que o mundo inteiro se uniu pra me tramar!
Hu-hu-hu-hu-hu, hu-hu-hu-hu-hu
Vou por aí às escondidas, a espreitar às janelas
Perdido nas avenidas e achado nas vielas
Mãe, o meu primeiro amor foi um trapézio sem rede
Sai da frente por favor, estou entre a espada e a parede
Não vês como isto é duro, ser jovem não é um posto
Ter de encarar o futuro com borbulhas no rosto
Porque é que tudo é incerto, não pode ser sempre assim
Se não fosse o Rock and Roll, o que seria de mim?
A primavera da vida é bonita de viver
Tão depressa o Sol brilha como a seguir está a chover
Para mim hoje é Janeiro, está um frio de rachar
Parece que o mundo inteiro se uniu pra me tramar!
Não há-á-á estrelas no céu
Não Invoquem O Amor Em Vão
Rui Veloso
Amar é o verbo revelado
Pela boca da divindade
Só deve ser invocado
Em caso de necessidade
Esse verbo não se explica
Á luz crua da razão
Ele é a jóia mais rica
Da arca da criação
Podem-no pôr no altar
frívolo duma canção
Praticá-lo até gastar
Mas não o invoquem em vão
Não invoquem o amor em vão
Não invoquem o amor em vão
Podem-no usar com rendas
Ou enfeites de algodão
Para tapar bem as fendas
Por onde sopra a solidão
Podem dá-lo ao desbarato
Podem-no até vender
Metê-lo no guarda-fato
E dá-lo à traça a comer
Podem-no usar no chão
Como capacho dos pés
Mas não o invoquem em vão
Não o sujem com clichés
Não invoquem o amor em vão
É pecado como deitar fora o pão
Não invoquem o amor em vão
É pecado como deitar fora o pão
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