terça-feira, 16 de agosto de 2022

Universo do Vinil

 

Disco usado? Anda sumindo das prateleiras

No Brasil o que embala o mercado de discos de vinil são os discos usados. Ao contrário de países como EUA, Inglaterra e outros, aqui, a venda de novos deixa a desejar. Não que os compradores sejam poucos e a vontade dos vendedores seja voltada para o usado, o que cria este fato é a pouca produção local, somada à importação cara que onera o produto final. Essa soma de fatores cria, realmente, um efeito bombástico: quem faz mesmo a festa do vinil são os discos usados. Estes sim, o maior e mais importante comércio brasileiro de vinil!

Mas, algo está acontecendo neste grande mercado!

Dia destes num dos grupos de vinil no WhatsApp que faço parte saí reclamando que os discos usados ofertados no grupo estavam cada vez mais caros. Sabem como é, os vendedores se defendendo e os compradores dando seus pitacos de concordância ou em cima do muro (nem todo comprador gosta de reclamar ou, pode ser que alguns achem justos os preços praticados).

Mas um fato que me chamou a atenção foi a resposta de um vendedor: os lotes* de vendas de discos estão escassos, praticamente inexistentes.

Fui checar o assunto em outros grupos e realmente existe uma certa unanimidade dos vendedores nesta afirmativa além de dizerem que quando aparece estão cada vez mais caros.

Bom, para mim, isso ainda não justifica o preço lá nas alturas, porém há um fato: o disco usado está sumindo das prateleiras, das lojas e vendedores online. Inclusive existem certos álbuns que faz tempo que sumiram (Clube da Esquina 1 e 2 usados, por exemplo, desapareceram e ainda bem que foram relançados).

Discos usados que a um ano ou até seis meses atrás eram fáceis de encontrar, hoje não os achamos mais com tanta facilidade. Obras de Chico Buarque, o próprio Milton Nascimento citado acima, Caetano Veloso e outros grandes da MPB parece que foram abduzidas das prateleiras, sem contar os clássicos do rock. Achar um Led Zeppelin ou um Pink Floyd usados? Só com muita sorte e quando acha, com preços bem elevados.

Esse fenômeno de encarecimento do usado com a falta nas lojas, com certeza, criará problemas e já está criando! Muitos vendedores (também com minha pesquisa por alto nos grupos do Whats que faço parte) disseram que passaram a ficar com discos encalhados – os mais caros estão difíceis de vendas. Acredito que este fenômeno esteja ligado ao tipo de comprador: aquele que é fã e veio para o vinil a mais tempo já os tem e, os recentes novos fãs do vinil pegaram a fase mais cara, por isso, tendem a pensar muito antes de adquirir.

E então? Cadê o vinil que estava aqui? O gato comeu? Não! Todo mundo comprou e guardou em casa!

Como diz um amigo, o vinil não circula, é objeto de desejo e, por isso, todos os guardam a sete chaves! E com isso começa outro fenômeno, aquele de encarecer o que jamais deveria ser caro, afinal, não tem muito valor na lógica da valoração de vinil (valor histórico e/ou cultural, alta procura X pouca oferta e etc). Por exemplo, podem acreditar mas vi um disco da Xuxa usado e em estado mediano (mais para melhor que pior) sendo vendido a R$50,00! Pode? Definitivamente, não pode!

Não sabemos o que virá pela frente, mas algo precisa acontecer neste universo do vinil brasileiro, do contrário teremos cada vez menos usados para venda e mais caros. Qual a saída? Que os novos venham contrabalançar a oferta. Com mais discos novos o interesse do usado cai, mas, para isso acontecer a importação precisa baratear e aumentarem a produção brasileira – abrirem novas fábricas (nos EUA isso vem acontecendo de montão!). É quase uma saída utópica, mas a esperança é a última que morre.

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