sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Creedence Clearwater Revival – Mardi Gras (1972)



O sétimo e último disco da carreira dos Creedence Clearwater Revival, Mardi Gras, é o espelho de uma banda batida e desintegrada. Com a saída de Tom Fogerty, estava claro que o grupo não tinha pernas para continuar.

De 1968 a 1971, os Creedence Clearwater Revival haviam lançado seis discos, todos de qualidade alta. No entanto, com o peso ditatorial de John Fogerty sobre os restantes elementos da banda, o grupo começou a dar de si. Tom Fogerty, irmão de John, e guitarra ritmo, fartou-se e deixou a banda após o lançamento de Pendulum. Tom, que tinha começado a sua carreira noutras bandas, sempre tinha sido vocalista principal, mesmo quando o seu irmão, John, já contando com o baterista Doug Clifford e o baixista Stu Cook, começaram a ser a banda de apoio a Tom, na altura chamados Blue Velvets. A banda foi-se transformando ao longo do início dos anos 60, primeiro como The Golliwogs, tendo, logo na altura, assinado pela Fantasy Records, que iria ser a sua editora até ao fim dos CCR. Com a evolução da banda, também John foi ganhando o seu espaço na composição das canções, começando a cantar em algumas delas. Quando chegaram ao seu estádio final, já John Fogerty se tinha autonomeado o líder da banda, cantando e escrevendo todas as canções originais.

Se, no início, o grupo estava confortável com a situação, pois tinham chegado ao estrelato, mais tarde, os restantes elementos, sobretudo Tom (relegado para a sombra de guitarra ritmo) começaram a pedir mais participação e decisão criativas. A tudo isto John respondia que em equipa que ganha não se mexe, pois o seu repertório de sucesso falava por si. Cansado destas atitudes, Tom Fogerty resolve deixar a banda, no início de 1971, ficando os CCR como um power trio para o futuro.

Esse futuro seria pouco brilhante e de vida muito curta. Mardi Gras, sétimo e último disco da banda é um disco triste, desconexo e de fim de festa, conseguindo, contudo, ter alguns momentos fortes.

Em jeito de vingança por Tom Fogerty ter abandonado a banda, John obrigou a que cada um dos elementos escrevesse um 1/3 do disco, negando-se a ter qualquer participação criativa em canções que não fossem suas, sendo a guitarra a sua única participação nelas. O resultado final, como se pode antever, não foi brilhante. Em dez canções, as melhores são, naturalmente as três escritas por John Fogerty.

“Lookin’ For a Reason”, faixa que abre o disco, a mais fraca das suas contribuições, é uma canção onde John procura justificar a sua futura saída dos CCR: “I’m looking for a reason not go, When the mornin’ comes, I’ll be on my way”. No entanto, “Someday Never Comes”, com toda a sua aura de saudosismo e amadurecimento, é, não só o ponto mais alto de Mardi Gras, como também uma das melhores criações dos Creedence Clearwater Revival, uma canção adulta e cheia de sentimento. A sua última contribuição de sempre nos CCR seria também a mais típica do conjunto, “Sweet Hitch Hiker”, com o seu cheiro a gasolina e pneus queimados, que tão bem a banda de El Cerrito sabia fazer. Uma excelente canção rock a fechar a carreira de uma banda incrível.

Quanto aos restantes 2/3 do disco, concebidos por Doug Clifford e Stu Cook, vítimas da vingança de Fogerty, não são memoráveis. No entanto, há que ser dado o desconto de estarem a competir, pela primeira vez, contra um dos grandes músicos dos anos 60/70. Não sendo canções que se equiparem à qualidade Fogerty, algumas são minimamente satisfatórias e, tendo sido lançadas num projecto a solo, seriam aceitáveis, sendo “Tearin’ Up The Country With a Song” e “What Are You Gonna Do” do baterista Doug Clifford e “Door To Door”, do baixista Stu Cook, as melhores das mais fracas.

Uma última canção, “Hello Mary Lou”, original de Gene Pitney e cantada por inúmeros músicos, ganha aqui, pela voz de John Fogerty, uma terna atmosfera sulista, em jeito de despedida.

A banda acabaria por se separar pouco tempo após a tour que acompanhou o disco, tendo John Fogerty começado uma carreira a solo que não foi muito memorável. Os restantes elementos, após passagens por outras bandas, resolveram, nas últimas décadas, criar uma banda de tributo aos CCR, chamada de Creedence Clearwater Revisited, com outros elementos. Após o corte abrupto, nunca mais foram reatadas as relações entre Fogerty, Stu e Doug, nem mesmo quando a banda foi empossada no rock ‘n roll hall of fame.

Mardi Gras, o disco que nem Fogerty assumiu, na altura, como digno de aparecer na discografia oficial da banda, e que não conta na capa, pela primeira vez, com nenhum dos seus elementos, é o patinho feio da banda californiana. Uma despedida pela porta pequena, mas com material suficiente decente para figurar ao lado dos outros.

 

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