Certamente que só alguns entendidos do fado (e mesmo assim só aqueles de uma faixa etária mais elevada) se lembrarão do nome de Dinora(h) Cármen. Afirmamos isto de forma categórica por duas razões: a primeira prende-se com o facto de Dinorah Cármen ter tido um percurso musical em terras lusas há já muitas décadas atrás e, por outro lado, pelo facto desse mesmo percurso ter sido relativamente efémero, na medida em que Dinorah ter-se-á radicado nos Estados Unidos ainda na década de 60, aquando do seu casamento com um cidadão norte-americano. Aliás, ao fazermos esta pequena incursão pela figura de Dinorah Cármen, pretendemos simultaneamente (re) lembrar alguns artistas portugueses que fizeram carreira fora de portas e que elevaram mundialmente o fado e a música portuguesa além-fronteiras quase como verdadeiros símbolos da nossa identidade nacional. Alguns desses exemplos são sobejamente conhecidos, tais como Francisco José e Alberto Ribeiro (no Brasil), António Rossano e Clara d'Ovar (em Paris) e no que aos Estados Unidos diz respeito, os nomes de Maria Marques ou Valentina Félix são incontornáveis, entre muitos outros.
Contudo, o caso de Dinorah Cármen é para nós muito mais interessante e enigmático, não só pelas razões que apontámos como também por ter sido a única artista portuguesa (que conhecemos) que cantou para o então presidente americano, J.F. Kennedy. É que embora conheçamos (até pessoalmente) alguns artistas portugueses que cantaram para presidentes e reis, o caso de Dinorah Carmen, por ter envolvido a figura do carismático presidente americano (ainda que como mero espectador) assume desde logo uma áurea com todo o simbolismo que não podemos olvidar, uma vez que na memória colectiva da história mais recente da Humanidade permanecerá durante muitos anos a celebre actuação e demonstração de afecto de Marilyn Monroe quando cantou os parabéns ao presidente Kennedy numa cerimónia oficial. Obviamente que, no que diz respeito a esta artista portuguesa, tal episódio foi um mero acaso, com pouca ou nenhuma expressão mas que mesmo assim merece ser registado.
Foto de Dinorah Cármen, constante na contracapa do disco. |
Sobre a vida e carreira de Dinorah Cármen conforme já aflorámos, pouco sabemos. No entanto, podemos adiantar que se estreou nos anos 50 num programa radiofónico do famoso Marques Vidal, no RCP, tendo ganho o primeiro prémio de um concurso de fados, organizado pelo poeta Francisco Radamauto. O famoso episódio com o presidente Kennedy, terá ocorrido em 1961 nas Bermudas, onde Dinorah actuou durante 6 meses, tendo sido nessa altura que cantou para o presidente americano, que se encontrava na assistência num espectáculo realizado num hotel local. Nesse mesmo ano, em Novembro e uma vez regressada a Portugal, voltou ao ambiente das casas típicas, onde actuava no Bairro Alto. Em Maio de 1965, depois de ter conhecido o seu futuro marido, num outro restaurante típico da capital, anunciou o seu casamento por procuração com um cidadão norte-americano no mês de Junho seguinte, tendo sido nessa altura que gravou o seu primeiro disco, aproveitando a sua estadia em Portugal. Desde então, não mais se ouviu falar de Dinorah Cármen E é tudo, para já, sobre esta fadista.
Não nos espantaria, contudo, se Dinorah Cármen tivesse abandonado por completo a vida artística (conforme era, aliás, sua vontade) após o casamento, tal como fizeram muitas outras artistas da época. Gostaríamos de recolher mais informações sobre esta fadista que tão curto legado nos deixou e cujas gravações (ainda que de má qualidade sonora) partilhamos com os nossos leitores, pelo que nos mantemos, como sempre, à espera dos comentários dos leitores.
Clique no Play para ouvir o tema "Não ameaçes"
Dinorah Carmen
Alvorada AEP 60728
Lado A1 - Não ameaçes (Túlio Pereira/ Carlos Conde)
Lado A2 - Alguém (Miguel Ramos/ Dr. Guilherme Pereira da Rosa)
Lado B1 - Eu sei (Alfredo Marceneiro/ Júlio de Sousa)
Lado B2 - Para que nasci, meu Deus (João Maria dos Anjos/ Armando Vieira Pinto)
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