sábado, 17 de setembro de 2022

O esquema de pirâmide musical que enganou 50 mil pessoas

 

O esquema de pirâmide musical que enganou 50 mil pessoas

No ano de 2007 chegava a tribunal um processo da Federal Trade Commission (FTC) que acusava a BurnLounge de fraude. Em causa estava um esquema de pirâmide que tinha enganado cerca de 50 mil pessoas e rendido dezenas de milhões de dólares. O que é um esquema de pirâmide? Como é que a empresa ganhava dinheiro? E porque é que o modelo de negócio era ilegal? Continue a ler e descubra a resposta para estas e outras questões.

Começando pelo princípio, importa primeiro perceber o que é um esquema de pirâmide. Com pelo menos um século de história, esta forma de ganhar dinheiro baseia-se em princípios semelhantes ao do marketing multinível. Ao contrário da última, os esquemas em pirâmide são normalmente ilegais e não vendem nenhum produto/serviço: em vez disso, recrutam pessoas que, por sua vez, recrutam outras. Para entrar no esquema é preciso pagar uma determinada quantia.

E o que leva as pessoas a entrar? De forma simples, na altura em que as pessoas são abordadas é-lhes dito que, por uma determinada quantia, podem também elas fazer parte desta estrutura e começar a ganhar muito dinheiro ao recrutar pessoas ou a vender qualquer coisa. Por outras palavras, é-lhes vendida a ideia de que, se fizerem um investimento inicial, no futuro poderão recuperar esse investimento e ainda ganhar mais.

esquema pirâmide

A partir daí, cada membro da pirâmide lucra com o recrutamento de outras pessoas para o esquema. Por cada pessoa recrutada, parte do dinheiro fica para o recrutador e para a pessoa que o recrutou, e assim sucessivamente. Como provavelmente está a imaginar, quem mais ganha é aquele que está na origem de todo o esquema, neste caso a empresa BurnLounge. Mas como é que toda a história se desenrolou?

O esquema de pirâmide da BurnLounge

Nascida em 2004, a nova-iorquina BurnLounge ganhou fama como empresa de marketing multinível na indústria musical. Até ao ano de 2007, os executivos e representantes promoveram um serviço segundo o qual todos os que quisessem abrir uma loja musical online poderiam fazê-lo como uma espécie de franchise da BurnLounge. Ao tomarem essa decisão estariam a optar por uma via que lhes permitiria enriquecer rapidamente.

A promessa não era totalmente mentira, já que de facto havia alguém que enriquecia: neste caso, os donos da BurnLounge, Alex Arnorld, Ryan Dadd and Stephen Murray. Em vez de vir da venda dos produtos, o dinheiro arrecado era maioritariamente conseguido ao aproveitarem-se da vontade dos empreendedores de serem bem-sucedidos. O seu objetivo era recuperar o investimento que tinham feito ao entrar para o esquema de pirâmide que os levava a acreditar na oportunidade imperdível de vender música online.

Os empreendedores que quisessem vender através das páginas customizadas teriam de pagar uma subscrição (ou pacote), cujo preço podia variar. A partir daí, estariam aptos a utilizar “sales points” (pontos de venda) que podiam ser trocados por produtos da própria BurnLounge. Se quisessem transformar pontos em dinheiro, teriam de pagar mais uma taxa. Feita a conversão, por cada venda de 99 cêntimos que fizessem apenas ganhariam uma comissão de 5 cêntimos.

De acordo com a empresa, a comissão mínima era de 50 cêntimos por cada álbum de 9,90 dólares. A juntar a isto, os utilizadores ganhariam bónus dos 10 aos 50 dólares por cada novo pacote vendido – que é como quem diz, por cada novo cliente angariado.

   

Apesar do engodo que agora nos parece evidente, a verdade é que o BurnLounge foi um sucesso. No ano de 2006, a empresa revelou que estava perto dos 30 mil utilizadores, que de livre-vontade tinham resolvido criar uma loja pessoal a partir da plataforma.

A prosperidade só durou até 5 de junho de 2007, altura em que a FTC, uma instituição norte-americana de defesa do consumidor, apresentou um processo contra o esquema de alegado marketing multinível.

O principal argumento era o de que o BurnLounge tinha recebido muito pouco dinheiro através da venda efetiva de música. Em vez disso, a grande maioria do lucro (cerca de 90%) era proveniente dos utilizadores que pagavam pelo direito a vender música via plataforma.

O caso chegou ao fim em 2008, num julgamento de 8 dias que acabou com a condenação da empresa a pagar 17 milhões de dólares pelos danos causados. Insatisfeita com o resultado, a BurnLounge resolveu recorrer e só recentemente, em julho de 2015, é que houve um resultado definitivo. A empresa foi novamente condenada e obrigada a devolver mais 1,9 milhões a todos os que tinham pago para se tornar moguls (nome dos utilizadores da plataforma).

Desde o primeiro processo que o website da BurnLounge continua ativo: lá ainda podemos encontrar a promessa de um velho novo serviço, o BurnLounge 3.0.

O desfecho do caso BurnLounge

Em tribunal ficou provado que cerca de 94% dos que aderiram ao BurnLounge acabaram por perder dinheiro. Ainda assim, houve quem conseguisse lucrar, cumprindo a promessa multimilionária que havia sido feita inicialmente pela empresa.

Em 2006, altura em que o caso mediático estourou, o CEO Juan Alexander Arnold deixou o seguinte exemplo “J.T. fez 50 mil dólares em duas semanas. Ele vai ganhar provavelmente 700 mil este ano e ele é um bom rapaz do Texas que não consegue ler”. De facto, John Taylor era um dos fundadores do projeto membro principal da estrutura do BurnLounge, ocupando um lugar cimeiro entre os moguls.

Apesar das acusações, o CEO estava convicto de que o processo não daria em nada, continuando a promove-lo: “somos pessoas de todo país à procura de uma renda”. Segundo o próprio, alguns ganhariam uns quantos dólares por mês, outros por semana e para outros bastaria um dia para ganhar o mesmo valor.


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