Chave de Vidro
Sérgio Godinho
Luar de Agosto
quem queimará
chave de vidro
em que porta partirá
luz de Setembro
quem cegará
comboio azul
em que estação parará
Longe da vista
longe do brinquedo
que o poeta chamou então
o coração
Pobre do coração
sempre aceso e sem sequer poder
carregar no botão
mudar de canal cortar o som
e olhar como quem quer olhar
enredos simples de paixão
tudo no seu lugar
e o coração, enfim, meu Deus
a bater e a descansar
Chuva de Inverno
quem banhará
chave de vidro
em que porta partirá
sol de Dezembro
quem secará
um de Janeiro
com que pé se entrará
Longe da vista ... etc.
Pobre do coração ... etc.
Luar de Agosto
quem lembrará
chave de vidro
em que porta partirá
praia deserta
quem esconderá
corpo dorido
que disfarce usará
Longe da vista ... etc.
Pobre do coração ... etc.
Chuvas de Cabo Verde
Sérgio Godinho
Há quantos meses não chove
parece que nove
parece que nove
se chover nos três que resta
parece que há festa
parece que há festa
Beleza de Cabo Verde
não se vê do avião
país que é novo tem sede
do que faz fazer o pão
este socalco foi milho
e aquelas pedras, feijão
ensinava a mãe ao filho
repete o filho ao irmão
Há quantos meses não chove...etc
Beleza de Cabo Verde
está na maneira de olhar
árvore que tinha sede
foi-se também emigrar
nela encostado, o emigrante
trinca do fruto da morna
não há nenhum que não cante
a vez em que à terra torna
Beleza de Cabo Verde
está na razão de cantar
música não mata a sede
mas se pudesse matar
com água por melodia
e por batuque irrigado
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