Streaming e vinil, nada a ver? Tudo a ver!
Pode parecer estranho relacionar streaming de música com vinil, mas não é. Como dizem por aí, arrepare:
No dia 14 de abril deste ano a BBC lançou o resultado de uma pesquisa realizada no Reino Unido sobre o comportamento das pessoas perante o streaming de música e achou um número interessante: praticamente metade das pessoas que compram LPs escutam a música antes em plataformas digitais e adquirem o vinil após este tipo de experimentação. E diz a BBC: “O ressurgimento do vinil durante um período de declínio das vendas tem sido uma das histórias de sucesso mais surpreendentes da indústria da música.”
O fato é que o streaming realmente ajudou a impulsionar a venda de vinis e provoca uma opção de compra que, a princípio nos espanta, mas depois veremos que tem uma lógica, já que este comprador deixa a música digital em formato de CD de lado (o que seria uma constatação óbvia – digital escolher digital) e ao invés disso vai ao encontro da música analógica. Numa terminologia de siglas poderíamos dizer que o mundo AAA* encontra-se com o mundo MP3 e tira proveito dele! Edgar Berger presidente da Sony Music International indagado sobre o resultado da pesquisa disse: “Você vai encontrar pessoas que estão tendo uma assinatura de streaming pago e, ao mesmo tempo compra vinil e eu acredito que isso não é um padrão incomum. Eu acho que o streaming é para a conveniência e, para alguns fãs de música, o vinil é para a experiência.”
E qual o motivo que nos faz afirmar que não nos espanta o ouvinte de streaming escolher vinil? O disco de vinil é um objeto de desejo sonoro, tátil e visual! Portanto, a questão vai além da experiência sonora e recai, também, em outras experiências sensoriais.
A pesquisa da BBC nos mostra alguns dados que, num primeiro momento, podem soar estranhamente: metade destes que compram os LPs não têm toca-discos ou não os usam e adquirem os vinis pelo simples prazer em ter o objeto disco. O que podemos concluir sobre isso? Que o comprador pode não apenas querer comprar a música, ele pode querer colecionar o objeto! Este fato nos faz lembrar dos colecionadores de diecast ** que ao comprarem seus “carrinhos de ferro” sequer os tiram das embalagens para manterem “tudo original”. Isso pode parecer estranho aos olhos dos desconhecedores deste mundo de colecionadores, mas o fato é que até a embalagem faz a diferença! E uma constatação sobre isso é quase óbvia: o vinil não é apenas um meio para propagar a música no ambiente, ele é um conjunto de sensações que vão além do ouvir e passa pelo sentir e ver. O disquinho preto de plástico é audição, visão e tato e chego a dizer que para alguns é também olfato (quem nunca viu um amigo dizer que gosta de cheiro do vinil ao abrir um disco? Isso ocorre identicamente a alguns com livros… Já percebeu isso?)
Outro fato importante é que este mundo é mais masculino do que feminino. A BBC com sua pesquisa demonstra que a maioria dos compradores são homens e nós do UV concordamos que isso não é uma prerrogativa de um resultado de comportamento na Inglaterra, pois, nos mais de 11 mil curtidores da nossa página no Facebook a grande maioria é hoje pessoas do sexo masculino. E outro acontecimento marcante retirado da pesquisa é que menos de 1 a cada 10 pessoas é compradora de vinil.
Ora bolas, isso nos faz constatar outra questão óbvia: há muito chão ainda e muita gente para entrar neste mundo do vinil.
Se for pelos fabricantes de toca-discos e sistemas de som para vinil este número aumentará muito mais, visto que na última feira de aparelhos de som hi-tec na Alemanha nunca se viu tanto toca-discos e aparelhos de som fabulosos feitos especificamente para os bolachões.
Que a indústria fonográfica continue investindo no vinil, porque amantes do vinil é o que não falta!
* No início da Era dos CDs cada disco vinha com uma denominação DDD, ADD ou AAD. Ou seja, a primeira letra A ou D é referente ao tipo de equipamento que foi utilizado na gravação original, a segunda, que tipo de equipamento foi utilizado nas operações de edição e montagem e a terceira indica o tipo de equipamento utilizado para criar o máster e o A, é para dizer que é analógico e o D para o digital. AAA seria, portanto, todos os processos em analógico
** Nome atribuído a modelos de carrinhos em miniatura fabricados nas mais variadas escalas de metal. Os famosos “carrinhos de ferro”.
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